Milagre De Ano Novo escrita por Lua, March Hare


Capítulo 9
Alfred is back in The Big Apple.




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Quando voava, Alfred sempre prestava atenção em todas as paisagens. Conhecia vários prédios que lhe serviam de referencia em diversas cidades. Quando estava no ar, ele nunca se perdia.

O estadunidense não usava os pontos famosos como referencia, mas sim prédios comuns, quase desconhecidos, que passam despercebidos pelos outros na correria urbana. Então, quando chegou à cidade sua cidade natal não foi a estatua da liberdade que o deu a sensação de estar de volta ao lar e sim um prédio alto, mas quase desaparecendo na grande metrópole. Estava em casa agora.

Chegou ao aeroporto e desceu do seu avião. Começou a correr até chegar ao telhado do lugar. Quando era criança e voltava junto com seu pai eles sempre iam para aquele lugar assim que chegavam. Lá dava para ver grande parte da cidade. Nessa hora seu pai segurava sua mão e dizia:

“- Olhe bem filho. Não importa o quão longe fiquemos daqui, ou o quanto gostamos de outro lugar, essa é a nossa casa. Mesmo que rodemos o mundo inteiro é pra cá que vamos sempre voltar. Bem vindo de volta à Nova Iorque! Bem vindo de volta a nossa casa!”

Sentiu seu coração acelerar e um sorriso tomar conta de seu rosto. A cidade sempre estava diferente, cada vez que voltava para lá parecia ter passado uma eternidade longe. Dessa vez tinha sido menos de um mês, mas para Alfred era muito tempo. Seu sorriso aumentou.

–Estou de volta!

Passou uns dez minutos só olhando para sua cidade. Tinha muito carinho por aquele lugar, seu pai o tinha “contaminado” com seu estremo patriotismo. Lembrando-se do pai Alfred levantou rápido e começou a correr para casa.

Correndo pelas ruas, aproveitando o ar poluído de cidade grande, pegando o caminho mais longo por acabar se perdendo algumas vezes... Alfred estava realmente feliz.

Chegou a sua casa e bateu na porta. Depois de uns 5 minutos ela foi aberta por Matthew que recebeu um abraço de urso do irmão mais velho.

– Oi irmãozinho!

– Olá Alfred... Você ta me machucando...

Apesar de reclamar, Matthew estava sorrindo. Ele adorava quando o irmão voltava para casa e não queria que ele parasse de vir só por que tinha um apartamento em Londres e passaria as férias lá.

– Não reclame, não vai dizer que não sentiu minha falta?

Nessa hora Alfred afrouxou o aperto e olhou para seu irmão. Ele fingia uma cara de cão sem dono e faz o sorriso de Matthew aumentar.

– Claro que senti.

Matthew se soltou do irmão e deu espaço para ele passar.

– Pai! Mãe! O Alfred chegou!

Logo os dois adultos estavam na sala abraçando e paparicando o filho mais velho. Alfred sorriu quando recebeu o abraço da madrasta.

– Filho! Je vous manques, mon amour.

– Também senti sua falta mãe.

– Hey garotos, vamos fazer o que hoje? Meus garotos estão em casa, podemos aproveitar para ir ver um jogo. Há muito tempo vocês não passam um dia com o paizão aqui.

–Nem vem John, você não vai roubar os garotos só pra você. Vamos fazer um passeio em família, nós quatro, nada de dia dos garotos.

– Sim, querida...

Alfred e Matthew riram. Béatrice sempre mandou no Senhor Jones e na casa inteira. Mesmo o pai deles dizendo que quem manda é ele e que a ultima palavra sempre pertence ao “Homem da Casa”. Os garotos sabiam que a tal ultima palavra sempre é algum derivado de “Sim, senhora”.

Alfred abraçou seus pais e sorriu. As coisas nunca mudam na casa dos Jones-Williams, tudo está sempre feliz e perfeito. O estadunidense tinha certeza que tinha a melhor família do mundo inteiro.

– Pai, Mãe, Matt, vocês vão passar o natal comigo lá em Londres?

– Alfred, querido, não é melhor você vir pra cá?

– Isso mesmo, filho, seu velho pai aqui já viajou demais em toda a vida dele. Eu quero passar mais tempo aqui em Nova Iorque.

– Você vir ficar aqui com a gente é mais pratico, irmão. Por que quer que a gente vá pra lá?

– Eu não queria deixar o Arthur sozinho esse ano de novo no natal.

Desde que a família do Francis voltou para a França ele vem passando todos os natais sozinho. Mas se vocês não querem ir, tudo bem, eu venho ficar aqui com vocês.

O mais estranho em Alfred é que certas horas o sorriso dele não diminui ou muda. Ele pode estar falando eu “gosto de sorvete” ou “meu cachorro morreu” que vai continuar sorrindo do mesmo jeito. São as horas que ele sente coisas diferentes demais, sentimentos demais no coração infantil do garoto.

Como nessa hora que ele esta triste e feliz ao mesmo tempo. Não queria deixar Arthur sozinho em mais um natal, mas não deixaria de passar com sua família por causa disso.

Depois de alguns minutos de conversa sobre o que eles estavam fazendo da vida, Béatrice decidiu que eles iam ao Central Park para não quebrar a tradição de domingo deles. Depois decidiriam onde iriam comer e o que fazer depois. Ela tentava seriamente fazer os Jones desistirem de almoçar Fast food... De novo. Um piquenique parecia uma ótima idéia.

Saíram todos juntos rindo. Todos que olhavam para eles viam que eles eram uma família muito feliz.

Depois que não deixaram Alfred ir pelo caminho errado, eles chegaram ao parque. Béatrice arrumou um bom lugar para colocar uma toalha de piquenique e sentou-se com Matthew para assistir os outros dois jogando baseball

– Não vai jogar querido?

– Não mãe, não é uma boa idéia. Eles... Empolgam-se demais quando jogam.

No jogo, o taco quase quebrava quando a bola batia nele. Nunca entendi esse jogo.

– Nunca entendi esse jogo. Prefiro jogar Hóquei

– Também não.

Era um dia lindo, mesmo eles estando no inverno do norte. Um dia perfeito para se passear com a família. Alfred se sentia muito bem e feliz, desde pequeno sempre adorou ficar com o pai, seja jogando baseball, ou futebol americano, ou conversando, ou voando juntos. Só ficar perto do pai já bastava. O senhor Jones sempre foi o verdadeiro herói do estadunidense.

Alfred jogava com o pai enquanto Matthew e a mãe tentavam entender o sentido do jogo. Passaram algumas horas assim, até que os canadenses resolveram parar de ser esquecidos e tirar os estadunidenses do seu jogo.

– Alfred! John! Parem de se isolar, isso é um passeio de família, nós quatro juntos!

– Desculpa querida, estamos indo!

Matthew sorriu ao ver o padrasto e o irmão correndo para perto deles. Os dois pareciam crianças. Começou a arrumar as comidas no pano. Tinha tudo que eles poderiam querer ali.

Comeram, fizeram guerra de comida, brincaram mais que todas as crianças que estavam lá juntas. Depois de comer, apostaram uma corrida até a saída do parque. Matthew ganhou e Alfred chegou por ultimo. Ele disse que tinha parado no meio do caminho para fazer um “ato heróico”, mas todos ali sabiam que ele tinha se perdido no meio do caminho.

Alfred realmente tinha se perdido, mas no meio do caminho ele tirou um gatinho da árvore, então realmente fez um “ato heróico”...

Eles se jogaram na grama. Alfred ficou deitado ao lado do seu irmão, meio afastado dos pais que estavam abraçados com cara de casal apaixonado. Lembrou-se que sempre deitava do lado de Francis e Arthur quando os três faziam esse tipo de passeio e ficava olhando as nuvens e a cor do céu.

– Matt, você acha que aquela nuvem parece com o que?

– Um cachorro.

– Nada disso, é igual a um dinossauro!

– Dinossauro? De onde você tirou isso Alfred?

– Ali, os braços de tiranossauro, a cabeça, os dentes afiados...
Matthew virava a cabeça de um lado pro outro tentando enxergar o mesmo que o irmão. Tentando sem nenhum sucesso.

– Ainda vejo um cachorro.

A gargalhada escandalosa de Alfred encheu o ar, fazendo um sorriso brotar no rosto de seu irmão.

– Você não tem imaginação bro! Sabe irmão, quando eu estou com aqueles dois eles ficam brigando sobre qual céu é mais bonito, o de Paris ou de Londres. Eu nunca entendo o que o céu tem de diferente de um lugar para o outro, mas agora eu percebo que acho o de Nova Iorque o mais bonito do mundo.

– É o carinho que se tem para com a cidade Alfred. Quando você ama mesmo um lugar, tudo nele parece o melhor do mundo. O céu parece mais bonito, as pessoas mais felizes, o mundo parece melhor. Na briguinha deles eles mostram o quanto amam a sua cidade natal.

–Faz sentido. Acho que vou começar a me meter no meio das brigas deles. Sabe, pra defender o orgulho nova-iorquino.
Matthew riu, Alfred realmente falava serio.

O estadunidense parou para pensar um pouco. Matthew nunca falava de sua cidade natal, ou de nada relacionado ao Canadá. Pelo menos não em inglês e para ele, não sabia o que Matthew falava em francês com a mãe.

–Irmão, você sente falta do Canadá?

– Muita.

O tom de fim de conversa na voz de Matthew fez Alfred ficar quieto e voltar a olhar para o céu.

O canadense não gostava de falar de sua terra natal. Sentia falta demais de lá. Mais ou menos duas vezes por ano ele e a mãe vão Quebec para olhar como as coisas estão por lá, falar com a mãe de Béatrice e ver os antigos vizinhos. A cada ano que passava os colegas de Matthew diziam que o francês dele tinha cada vez mais sotaque.

Isso deixava Matthew meio triste. Ele não queria começar a perder suas raízes, e a cada dia que passava uma palavra ou expressão em francês parecia sumir de sua cabeça. Como era mesmo aquela gíria que ele sempre usou?

Uma vez ele já teve até que perguntar para um de seus amigos de Quebec o que uma palavra significava.

Alfred nunca teve uma capacidade muito grande de perceber o que as outras pessoas sentiam. Mas ele viu as lagrimas encherem os olhos do irmão se enchendo de lagrimas e o abraço.

– Como diz “está tudo bem” em francês?

– Tout va bien , eu acho…

–Então imagine que eu disse isso ai pra você, por que acho que eu não consigo repetir.

Matthew riu. Alfred tinha o dom de fazê-lo se sentir bem. O sorriso dele é contagiante, ele pode fazer qualquer um sorrir junto com ele.

Passaram mais uns minutos compartilhando histórias e conversando sobre banalidades. Depois de um debate sobre “quem ganharia numa luta o Wolverine ou o Capitão America e se eles destruiriam a cidade ou o mundo inteiro nessa luta” e “outro debate sobre por que céu é azul e as nuvens têm formas de coisas aleatórias” eles foram chamados pelos pais para irem embora.

No caminho, os Jones fizeram questão de comprar um lanche pra viajem num desses Mcdonald da vida. Um lanche de quase dois bois inteiros.

– Como esses dois comem, tenho sorte que você se alimenta normalmente filho.

– Concordo mamãe.

Isso ignorando o fato de Matthew colocar “maple syrup” em quase tudo que come. Sim, em quase tudo mesmo, isso inclui as comidas normais que não deveria se adicionar doces.

Chegaram em casa já de noite. Alfred foi arrumar suas coisas para tomar um banho e ficar jogando vídeo game ou vendo um filme com seu irmão até ambos não agüentarem mais e caírem no sono. Já tinha um pacote de doces preparados em sua bolsa para essa hora, e sabia que Matthew também tinha. Era outra tradição de domingo naquela casa.

Béatrice já estava conformada que seu marido e seu enteado não jantariam hoje. Ela cozinhava para ela e seu filho enquanto amaldiçoava mentalmente o inventor do fast food. Poderia ter um jantar em família pelo menos uma vez na vida?

Matthew e Béatrice jantaram na mesa, conversando em francês enquanto Alfred e John viam um jogo de futebol americano na TV e devoravam todos aqueles hambúrgueres.

Quando terminaram de jantar eram umas 23 horas. Os pais foram para seus quartos e seus filhos fizeram o mesmo, depois de um educado boa noite.

O quarto dos garotos era gigante, tão grande que poderia ser dividido em dois e ainda ficaria grande. Tinha duas camas, uma em cada parede e vários pôsteres e brinquedos espalhados pelo quarto, desde ursinhos de pelúcias de quando eram crianças até os caros bonecos de ação de super heróis. Uma coleção de soldadinhos de brinquedo dividia uma grande estante com vários livros, CDs, jogos e DVDs.

Na frente das duas camas, uma televisão gigante que tinha os melhores consoles de vídeo gemes conectados nela. Alfred e Matthew poderiam fazer o que quisessem naquele lugar.

Matthew foi tomar banho enquanto Alfred respondia a mensagem de Arthur, pouco ligando se acordaria os dois ou não. Um sorriso de orelha a orelha enfeitou o rosto do estadunidense. Sim, agora as coisas estavam certas.

Foi pro banho logo depois que Matthew voltou. Quando terminou, a maratona de vídeo game foi iniciada.

Às quatro da manhã, Béatrice entrou no quarto deles e os encontrou jogados no chão, dormindo em cima do tapete, sujos de doces e ainda com a TV, o jogo e a luz ligados. Sorriu,apagou a luz e desligou os aparelhos. Cobriu os dois e colocou travesseiros em baixo daquelas cabecinhas loiras. O tapete estava no chão exatamente por que os dois sempre acabavam dormindo lá.

Ela sorri, apagou a luz e disse, uns minutos antes de fechar a porta.

– Boa noite meus filhos.


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Notas finais do capítulo

1 minuto antes da meia noite!! Ainda estou no prazo!