Na manhã seguinte, acordo com um certo peso na consciência, talvez eu tenha sido duro demais com Ryan ontem. Mas ainda bem que temos o dia de hoje para consertar os possíveis erros. Desço as escadas para tomar café, mas logo percebo que estou nervoso demais para isso. Minhas mãos estavam tremendo, eu sequer conseguia segurar a xícara. Qual é o motivo de tanta ansiedade? Era como se eu pressentisse que alguma coisa extremamente ruim fosse acontecer.  Decidi sair sem tomar café, afinal, eu poderia pedir algo pra comer na Starbuck's mesmo. Estava ameaçando chover quando pus os pés pra fora de casa, e não deu outra. Senti os primeiros pingos de chuva baterem contra meu rosto. Apressei-me até a garagem e entrei no carro antes que a chuva piorasse. Odeio dirigir com chuva. O caminho era longo, e o trânsito também não estava ajudando, fiquei preso em um congestionamento gigantesco. E a chuva havia piorado tanto, que não se podia ver nem bem um palmo a frente do carro. Meus pobres para-brisas não estavam dando conta do volume de água que descia sobre o vidro. Toda vez que eles tentavam tirar a água, formavam-se mini-ondas.  Estava novamente atrasado, preso em meio a chuva e aos carros, e assim que me dei conta disso, meu celular começou a vibrar. Era Spencer.  - Brendon, você vêm ou não? - Pelo barulho ao fundo , presumi que todos já estivessem lá.  Pude ouvir a voz de Ryan ao fundo exclamando um audível: " É claro que ele não vêm, nem se importa com a banda". Aquilo fez meu sangue ferver. - Escute Spencer, eu vou sim, mas tive uns imprevistos, a chuva e o engarrafamento ... - Se você tivesse saído mais cedo de sua casa, a chuva não teria te alcançado. E saiba que o noticiário aqui do café acabou de informar que o engarrrafamento se deve a uma ponte que caiu por causa do grande volume de chuva no local. Sendo assim, presumo que você não vai comparecer hoje aqui, certo? - Provavelmente não vai dar, uma vez que a passagem está interditada. -Então Brendon , depois nós te passaremos o que for discutido, é realmente uma pena que você não possa vir. A gente se fala cara, tchau! - Tchau Spen! Peço desculpas á todos. Não acredito, é muita falta de sorte para uma pessoa só em um único dia. Agora, o que quer que seja decidido lá, terei que aceitar calado. Ótimo, pensei comigo, realmente ótimo. O jeito foi esperar a chuva baixar e, finalmente, a ponte foi liberada. O trânsito ainda estava lento, mas pelo menos estava saindo do lugar. Quando chegou minha vez de passar pela ponte, a tensão tomou conta de mim, achei que o peso de meu carro fosse demasiado forte para uma ponte recém-concertada. Felizmente, tudo correu bem. Fiz o retorno logo mais a frente e tomei o caminho de casa novamente. Foram 6 horas inúteis dentro do carro, sem fazer absolutamente nada, e para nada também.  Guardei as chaves no bolso, abri a porta, e os empregados me olharam com expressões de riso. Era como se soubessem o que ocorrera, mas como poderiam?  O copeiro me contou que Spencer ligara, avisando que talvez eu demorasse a chegar, e contou toda a historia. Pelo menos estava explicado o porque do riso. - Podem rir, podem rir, vou tomar banho, esse dia não pode ficar pior mesmo. - Sorri para eles e me retirei. Subi novamente as escadas, eles continuavam comentando o acontecido. Tudo que eu queria era tomar um banho quente bem caprichado. Amanhã eu pretendia ligar para alguém que pudesse me por a par das decisões da reunião de ontem. Por hoje, dei o assunto por encerrado. Pouco antes de me deitar, peguei meu violão e começei a tentar compor algumas músicas, só para matar o tempo. Esse era um passatempo bom para mim. Depois, ainda sem sono, terminei de ler um livro que começara ano passado. Deixei o livro na mesa de cabeçeira, apaguei as luzes e adormeci instantaneamente.