Dakota Lessons escrita por Nebbia


Capítulo 6
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/177488/chapter/6

Um búfalo.

Um búfalo dentre uma manada de outros búfalos.

Um búfalo pequeno, provavelmente filhote, ainda. Não desgrudou da provável mãe durante os vários minutos em que fora observado.

Arthur nunca havia visto um búfalo antes, nem em meras imagens. Como os índios, só ouvira descrições. Um bicho grande, corcunda, marrom e cheio de pelos. Podia ficar muito agressivo se se sentisse ameaçado e era a principal fonte de alimento dos índios. Por isso seu pai deu ordens aos vaqueiros para matarem todos os búfalos que vissem.

Mas ele imaginava simplesmente um boi marrom de cupim grande que esqueceram de tosar.

Aquilo à sua frente, porém, aquilo era um monstro! Algo horrendo que sequer olhos tinha... Ou parecia não ter. Não deveria enxergar bem com aquele monte de pelo na testa.



Observar aquele grupo tão perto, a poucos metros da moita de galhos secos onde ele se escondia, era considerado pelo inglês uma verdadeira aventura.

E aquele pequeno búfalo em especial, ele estava relativamente perto de Arthur. Se esticasse a mão, poderia tocar em seus pelos macios de filhote.

Era nisso que ele pensava naquele momento.

Porque o pequeno búfalo poderia se afastar a qualquer momento, junto com sua provável única chance de tocar naquela espécie tão bizarra.

Bizarra quando adulta, porque aquela miniatura de búfalo era simplesmente adorável. Não havia qualquer chance de que ela pudesse machucá-lo, oferecer qualquer tipo de ameaça.

Ficou pensando nisso por um tempo enquanto o animal pastava – não se sabe o quê, no meio do deserto – tranquilamente a centímetros de si.


O olhar de Alfred varria cada mínima parte do deserto à procura da silhueta já conhecida de Arthur. Estava caminhando com Ohitika há apenas alguns minutos, mas sua face já adquirira uma expressão preocupada, um tanto triste, resultado de sua ansiedade. Não queria perdê-lo.

Help!!”

Alfred virou-se para onde ouvira o som. Ao longe via alguém... Alguém correndo... Correndo de... O que era aquilo?!

“ Alfred!! Help!!”, Arthur gritava aterrorizado, quase sentindo a respiração dos búfalos furiosos em sua nuca.

Alfred não acreditava no que via.

“ A-Arthur...?”, gaguejou em volume baixo, inaudível por causa do barulho que aquela manada de pelo menos 60 búfalos fazia. Tinha que manejar bem as rédeas do cavalo para que não ficasse tão inquieto diante daquela movimentação toda.

“ Alfreeeed!!!”, berrava o de olhos verdes já quase sem fôlego.

O índio então saiu de seu transe, virando seu cavalo de modo que ficasse no mesmo sentido dos búfalos... E de Arthur.

O barulho aumentava à medida que os animais selvagens se aproximavam dele, e mais habilidade era requerida para manter seu assustado cavalo em um galope curto, permitindo que o outro pudesse alcançá-lo.

Alfred estendeu o braço para Arthur, os búfalos a poucos centímetros de ambos. Arthur também esticou seu braço para agarrar o dele. Foi puxado com força extraordinária para cima do cavalo.

“ Segure-se!”, gritou o índio, pressionando as pernas contra a barriga do cavalo, que imediatamente apertou o passo. Arthur quase caiu para trás com o impulso, mas agarrou-se ao tórax nu do outro.


“ O que você fez para ficar naquela situação?”, perguntou o de olhos azuis, sentando-se à sombra de uma árvore junto de um Arthur ofegante. Custou para que a fúria daqueles animais diminuísse, levando-os a desistir da perseguição. Seu cavalo suado agora aproveitava seu merecido descanso não muito longe dos dois.

“ Não queira saber.”, Arthur afundou o rosto nas mãos, fazendo o outro rir.

“ Não se pode chegar perto desses bichos. Eles atacam.”

“ Percebi.”

“ ... Mas eu consigo caçar um sozinho!”, ele abriu um grande sorriso convencido. O inglês olhou-o visivilmente não convencido.

“ Ah, é?”

“ É!”, o outro fez um beicinho, parecendo desapontado. “ Você não acredita em mim...”

“ Não mesmo.”, respondeu Arthur, rindo.

“ Mas aquela carne que eu te dei para comer na primeira vez que nos encontramos, ela era de um búfalo que eu cacei.”

Os olhos do outro fitaram-no mais impressionado. Ele se lembrava da noite em que o encontrou, ao se perder no deserto. Havia hesitado em comer o que lhe foi oferecido, temendo ser carne humana. Naquele momento se sentiu realmente ridículo por ter pensado naquilo.

“ Oh... Um búfalo.”, comentou consigo mesmo.

Alfred abriu outro sorriso ao ver que estava conseguindo convencê-lo.

“ Eu posso te provar agora mesmo, também!”

“ Eh?! Como assim?!”

O índio levantou-se, colocando as mãos na cintura e estufando o peito em uma pose heróica.

“ Vou pegar as armas e matar um na sua frente!”

“ Hah! Nem um pouco convencido, você é.”, Arthur também se levantou, olhando o parceiro que já caminhaava para perto do cavalo, afastando-se dele.

“ Você quem duvidou!”, ele gritou em resposta.

Repentinamente passou pela cabeça de Arthur a seguinte palavra-chave: Armas. Outra parte importante de seu plano. De seus inimigos deveria conhecer as armas.

“ Hey, Alfred!”, chamou, vendo-o se jogar com facilidade em cima do cavalo.

“ Quê?!”

“ Seria legal ver suas outras armas... Quer dizer, se você puder trazer... Porque eu não posso ir com você.”, ele deu de ombros, falando em tom vago como se fosse um pedido modesto. Internamente se castigava por aquela tentativa claramente imbecil e cara-de-pau, mas precisou inventar algo na hora.

Para sua sorte, porém, o outro apenas sorriu em resposta, nenhuma desconfiança pairando sobre sua mente inocente.

“ Tudo bem!”, e galopou para longe com seu animal.


Arthur sorriu, satisfeito consigo mesmo. Alfred confiava demais nele, era fácil de ser manipulado. Sob a sombra da árvore, já criava trechos de mais um pequeno texto que escreveria sobre ele e seu povo em seu bloco de notas, quando chegasse em casa.

Uma águia pairou sobre ele, acordando-o de seus devaneios com seu grito imponente. Olhando seu vulto negro a voar contra a luz do sol, lembrou-se de quando viu aquele animal – seria o mesmo? – pela primeira vez, junto de Alfred.

Wanbli.

Sorriu novamente consigo mesmo, sorriso que desapareceu depois de uns instantes.

Estava traindo Alfred. Alfred salvara sua vida.

No fundo ele sabia que aquilo não estava certo. Quando obter informações o suficiente, seu pai atacará seu povo. Matará, escravizará, destruirá. Alfred não sabia disso. Sequer desconfiava porque confiava nele...

Mas, afinal, retrucava a si mesmo, não poderia considerar aquilo “traição” quando praticada contra alguém que também a pratica, poderia? Pois fora seu pai quem lhe dissera que não se podia confiar em índios de qualquer forma, porque eles também traíam. Porque fingiam ser amigos até que os brancos acreditassem, e então os matavam e até comiam suas carnes.

Alfred não era seu amigo; era apenas uma parte importante de seu plano, totalmente descartável quando seu objetivo fosse atingido. Não poderia confiar nele também, pois fora seu pai quem lhe dissera que não se podia confiar em índios.

Não podia confiar nele.

Precisava prosseguir o plano com um coração frio, como seu pai tinha.


“ Por que demorou tanto?”, perguntou ao índio, quando este finalmente retornou.

“ Muita gente na aldeia. Deu trabalho sumir com tudo escondido.”, respondeu enquanto descia do cavalo.

Ambos se ajoelharam na terra seca. Alfred despejou suas armas no chão, algumas que carregava no cinto ou cruzado no peito, outras que segurava com as próprias mãos.

Arthur pegou da pequena pilha de armas – todas manuais, feitas artesanalmente de madeira, pedra e outros materiais abundantes no deserto – uma lança.

“ É com ela que eu caço!”, explicou o índio, um sorriso orgulhoso estampado em sua face. “ Eu que fiz!”

O outro examinou-a mais de perto. A madeira era lisa, provavelmente foi modelada antes, e não havia detalhes entalhados nela. Sua ponta era feita de pedra, igualmente esculpida para adquirir uma forma triangular, afiada. Uma parte dela estava enfiada dentro da madeira, amarrada de modo apertado com tiras de couro. Um pouco de pelo cinza de algum animal que ele desconhecia envolvia a parte superior da arma, perto da lâmina, e três penas preto-e-brancas pendiam de partes diferentes da madeira, semelhantes às do cocar que o índio sempre usava. Era bonita, sim.

“ Você caça búfalos com isso?”, Arthur perguntou em tom incrédulo.

Alfred cruzou os braços.

“ É mais fácil em grupo... Sozinho dá mais trabalho, mas eu caço sim! E usamos para guerrear também, mas isso não acontece com frequência.”

“ Hm.”, deixou a lança de lado, pegou um machado de tamanho médio, feito praticamente do mesmo material que a lança, porém com a madeira terminando em um arco ogival e adornada com detalhes entalhados nela, deixando-a cheia de desenhos bege. No meio do cabo havia uma faixa de couro grossa tingida de diversas cores, formando outros tipos de desenho com formas geométricas. Duas penas marrons pensiam dessa tira.

“ Eu ainda não sei usar esse...”, Alfred fez seu beicinho característico, desanimado.

“ Por que não?”

“ Muito complicado! Precisa medir a força e calcular certo para que a lâmina acerte o alvo e ainda se deve cuidar para que se jogue no lugar certo!”

“ Novato.”

“ Não sou não!”, o índio olhou-o com a maior cara de injustiçado do mundo, “ Eu sei usar arco-e-flecha, tá?!”

Arthur pegou o arco-e-flecha, montou e apontou para o céu.

“ Isso até eu.”

“ Você já está segurando errado, idiota.”, riu, tomando a arma das mãos do outro. “ Eu te ensino um dia desses.”

Arthur então pegou a última arma do chão; algo que demorou a compreender. Era uma longa e grossa tira de couro com um metal pesado na ponta, pontiagudo em várias partes.

“ Eu gosto desse!”, exclamou Alfred, “ Mas também não sei usar direito...”

“ Como se usa isso?”

“ Você roda e joga com força no alvo! Machuca e prende! É útil com presas menores ou em guerras. Com animais grandes precisa ser usado em grupo...”

“ Eu ainda quero ver você caçando um maldito búfalo.”

“ E você verá! Só que tem umas coisas muito grandes que eu não pude trazer. Escudos, facas e a lança enorme que é melhor para atingir o bicho. Mas eu consigo até com arco-e-flecha, se você quiser!”, ele cruzou os braços novamente, lançando ao outro um olhar superior de propósito.

“ Vai, então!”, Arthur estava se divertindo com aquilo.

“ Vou mesmo!”, ele riu, pegando a arma que usaria e se levantando.

Arthur jogou-se ofegante na cama. A caçada havia durado mais do que esperava e quando ambos notaram, o sol já se punha atrás das montanhas.

Pegou o bloquinho da gaveta e logo começou a escrever, colocar com agilidade as frases já formadas no papel com agilidade e conectando-as com palavras que vinham instantâneamente à sua mente, produto da excitação. Descreveu cada arma, suas devidas utilidades, como cada uma era manejada. Falou também sobre a caça aos búfalos, demorando-se mais nessa parte, ficando as imagens da caçaca a aparecerem diante de seus olhos.

“ Alfred... Você tem certeza de que irá conseguir?”, perguntou o de olhos verdes ao índio montado no cavalo, um bando de búfalos a alguns metros dos dois.

O outro apenas riu de sua preocupação.

“ Eu sei o que faço!”

Dizendo isso, começou a galopar em direção ao grupo de animais que bateu em retirada assim que percebeu o cavalo se aproximar. Alfred largou as rédeas e pegou uma flecha do estojo em suas costas com tamanha facilidade que parecia estar fazendo tudo parado, no chão – lembremos qe seu povo desconhecia a sela -.

Escolheu um búfalo e acertou seu lombo com uma precisão perfeita, e logo depois seguiram-se outras flechas que ele pegava, preparava e atirava enquanto galopava em volta da presa – sabe-se lá como, se ele não segurava a maldita rédea -, assim deixando-o sem ter para onde fugir.


E aquele sorriso vitorioso que ele direcionou ao inglês quando o animal finalmente caiu, nunca vira um ego maior que o dele. Seu peito subia e descia e o suor escorria de sua pele avermelhada pelo sol e, talvez, pelo sangue que corria em suas veias junto da adrenalina.

Ahne!!”, exclamou, e não entendeu o que aquilo significava, mas deixou isso de lado.

Sim, escreveu sobre a caça.

E passou o resto da noite relendo seus registros, aperfeiçoandocada um com um sorriso quase malicioso estampado em seu rosto.

Alfred se esgueirou pela aldeia com as armas, cuidando para não ser notado. Deixou-as em um canto da tenda específica para armazená-las e saiu da tenda.

“ Alfred, que eu saiba não saímos para caçar hoje...”, seu pai apareceu de repente ao lado dela, fazendo-o sobressaltar-se.

“ O-o que você quer dizer?”, respondeu com uma voz levemente tremida, nervosa.

“ Há sangue em sua roupa, Alfred.”

“ A-ah... Mas eu fui sozinho...”, deu um sorriso sem graça, tentando não encarar o olhar sério do mais velho. “ Só para praticar. Eu nem levei ele para cá.”

“ Carne ainda não está em falta e ninguém ordenou que você treinasse. Você não precisava ter feito isso.”

“ Eu sei, mas...”

“ Não mate animais sem necessidade. Isso é coisa de homem branco.”

O outro nada pôde fazer a não ser olhar para o chão, aceitando a bronca que acabara de levar.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Após um tempinho, finalmente tive saco para passar a fanfic pro Word e_e' Nao sei por que tive essa repentina queda nos reviews da fic, mas só falando... Desculpem por nao responder os reviews deixados ultimamente, folks ;_; O Nyah bugou nas atualizacoes e quando eu clicava nunca direcionava para o review em si, e como recebo muitos na This Is War acabei me confundindo com... Todas. Mas isso já foi consertado e a partir de hoje estarei respondendo review de todos, okay? u3u
Ahne - exclamacao de auto-satisfacao



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dakota Lessons" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.