Dakota Lessons escrita por Nebbia


Capítulo 5
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que a eterna espera de vocês seja compensada com esse capítulo gigante.
Enjoy o.o'



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No dia seguinte, Arthur esperou ansiosamente que o pai saísse, com o ouvido grudado na porta do quarto. Quando se certificou de que estava sozinho, abriu-a e desceu as escadas de dois em dois degraus. Bebeu um leite como café da manhã e saiu, como fazia todo o dia.

Alfred saiu de sua aldeia um pouco mais tarde. Queria procurar o homem branco novamente e tentar fixar amizade com ele antes que seu pai decidisse por-lhe logo para trabalhar como um homem. Dois dias se passaram depois de sua volta à aldeia e ele já começava a perceber que seu pai não mais o deixaria descansar por muito tempo, o que automaticamente significava que ele teria menos tempo livre.~

Sorriu quando, após alguns minutos de caminhada, avistou-o sentado perto de uma árvore, aparentemente falando sozinho.

Hau.”, falou a certa distância. Poder-se-ia dizer que estava com um pouco de medo de que quer que seja que estivesse conversando com Arthur, e que ele não conseguia ver.

Arthur deu um sobressalto e olhou em volta.Seus olhos encontraram os do índio.

Hau...

O outro sentou-se ao seu lado e ficaram ambos em silêncio por um tempo. Como usualmente, o local estava quente, mas uma leve brisa soava e refrescava ambos os garotos. Não era o suficiente para fazer barulho, mas vez ou outra ouviam-se gritos da vida selvagem do deserto; aves e, vez ou outra, o rastejar de alguns répteis. Tão quieto estava para poderem perceber aquilo. Um farfalhar de asas súbitamente foi ouvido pelos dois, não muito distante. De fato, nada distante. Eles se entreolharam. O inglês percebeu no rosto do outro um sorriso infantil.

“ Arthur!”, Alfred apontava para cima, para a copa da árvore sob a qual estavam. Ao seguir uma linha imaginária partindo de seu dedo, se deparou com uma imponente ave de porte grande, corpo marrom e cabeça branca. Bico e patas eram amarelas, tanto quanto uma gema de ovo, e suas longas garras negras brilhavam sob o sol forte. Seus olhos arregalados de espanto se encontraram com os do animal, e este soltou um guincho alto, agudo, que fê-lo se assustar e quase cair para trás.

Wanbli!

What?!”, Arthur não sabia se olhava para o bicho ou para o índio. Aquele pássaro parecia que ia avançar para cima dele a qualquer momento, tirar-lhe o olho com o bico e dar de comida para os filhotes. Não lhe importava se o outro agia tão normal quanto se houvesse perto de si um cachorrinho. Não era para ele que o demônio alado olhava, encarava, arrancava a alma com aqueles olhos alvos ameaçadores.

Wanbli, Arthur, wanbli!”, ele repetiu, sem deixar de apontar. Ele então compreendeu que aquele era o nome do animal.

Wanbli?”, repetiu.

Wanbli!

De repente, a ave abriu suas majestosas asas e saltou do galho, chegando tão perto de Arthurao fazê-lo que este praticamente sentiu suas penas tocarem seus fios dourados. Ela afastou-se com velocidade dos dois garotos, desaparecendo atrás de uma cadeia de montanhas em segundos.



Wapi!”, exclamou Alfred, ainda mais animado.

Wapi?

Wapi! Luck!

Arthur piscou e então assentiu, mostrando que finalmente compreendera. Ficaram ambos quietos por mais algum tempo, olhando com curiosidade para o céu no desejo de avistar mais uma águia.

Depois de um tempo, Alfred apontou para o sol, cutucando o outro para chamar sua atenção.

Wi!

Wi.”, O outro respondeu.

O índio então apontou para as montanhas.

He!

He!

Ambos riram juntos.

Ficaram até o final da tarde em tentativas de conversa, até a claridade começar a faltar. Arthur conseguiu despedir-se em Dakota, o que fez o índio lançar-lhe um grande sorriso enquanto se afastava.

Arthur ouviu de seu quarto a porta abrir-se e fechar-se novamente com um estrondo, quase cinco minutos depois de ele mesmo ter chegado em casa. Sorriu consigo mesmo.

Logo seria o filho do xerife o herói da cidade.

Alfred voltou para a aldeia ainda com o mesmo sorriso formado nos lábios. Não comentou nada com o pai ou amigos sobre o homem branco nem lhes disse o que fazia quando saía. Sabia que iriam reprovar e não os culpava por isso; era a única visão que tinham dos “invasores”.

Mas ele não queria ser afastado de Arthur. Gostava dele, poderia quase arriscar já considerá-lo um “amigo”. Nâo conseguia enxergá-lo como o resto dos homens brancos.

Não queria enxergar.

Essa história se repetiu várias vezes, Alfred ensinando Arthur a cada dia um pouco mais de sua língua, conseguindo desenvolver conversas cada vez melhores com ele. Houve uma certa hora em que Arthur tentou introduzir o outro à língua inglesa, mas desistiu ao ver que ele a evitava.

Enquanto que, na área familiar, o inglês sequer falava com seu pai durante o dia inteiro durante as raras horas em que este estava em casa, esperando ansioso pela hora certa para que pudesse encher o peito à sua frente e falar “Eu sei dos segredos deles”. E Alfred era cada vez mais suspeito entre seus iguais, se fechando em um casulo de silêncio e palavras falsas quando lhe perguntavam – cada vez com mais frequência -, o que fazia todos os dias sozinho no deserto.

O que não importava nada a ele, pois tudo o que queria era se encontrar com seu amigo branco que secretamente apunhalava a ele e a tuda a sua tribo pelas costas.

Mas, como eu dizia, um mês se passou desde que ambos se viram pela primeira vez, tempo o suficiente para que pudessem ficar íntimos um do outro – ou, pelo menos, era o que pensava o índio -. Mas isso não incluia o principal alvo de Arthur: O resto da aldeia.

Mas isso mudaria naquele dia.

Como normalmente, ambos se encontraram de manhã sob uma das únicas árvores daquele deserto, seca, aquela mesma árvore em que ambos viram a bela ave marrom e branca. Há quase 40 dias atrás.

“ Escuta, Arthur...”, Alfred começou, sentando-se ao seu lado e apoiando as costas contra o tronco, “ Acho que você não vai gostar muito disso... Mas estou me sentindo obrigado a te levar para lá...”

Arthur franziu o cenho.

“ Como assim ‘obrigado‘? De que lugar está falando?“

Depois de um bom tempo aprendendo Dakota por dias seguidos com uma vasta carga horária, o inglês chegou ao ponto em que poderia ser considerado “intermediário”. Conseguia até ser fluente, mas seu acento e vocabulário não eram perfeitos.

Alfred mordeu o lábio.

Era fácil saber quando ele se preocupava ou se chateava. Alfred era uma pessoa falante, daquelas cheias de energia e que gostam de gritar. Foi a primeira característica notada por Arthur, principalmente depois que começou a desenvolver conversas com ele.

“ Você vai precisar conhecer a minha tribo.”

Arthut aproveitou o fato de Alfred desviar o olhar para o chão para esboçar um leve sorriso.

“ Ah, é?”, replicou, fingindo desapontamento, “ Não é tão ruim...”

“ É que... Eu não falei nada de você para ninguém.”

O outro arregalou os olhos, dessa vez espantado de verdade. Abriu a boca para protestar, lembrando do que o pai lhe falara sobre o que os índios faziam com seus inimigos. Canibalismo, escravidão...

Mas, claro, não podia mencionar isso na frente dele, por isso ficou parado ali de boca aberta como um idiota.

“ Eu não vou deixar eles fazerem nada, prometo.”, Alfred parecia ter lido seus pensamentos de qualquer jeito.

Arthur ficou durante longos minutos pensando, sob o peso do olhar nervoso do outro.

Mais cedo ou mais tarde, teria que fazer isso. Teria que correr o risco de se infiltrar neles. Era crucial, e se não o fizesse todos os seus esforços seriam em vão. Para salvar sua cidade, teria que cometer sacrifícios.

Acabou por assentir, lentamente.

“ ... Certo...”

Alfred abriu um grande sorriso.

“ Obrigado! Tirou um peso enorme de minhas costas! Vamos logo acabar com isso!”, levantou-se e agarrou seu braço, puxando-o para longe dali, na direção de sua aldeia.

Ficaram mudos durante todo o caminho, cada um com seus motivos para estar nervoso.

Arthur não se surpreendeu ao ver como “aldeia” umas duas dúzias de tendas triangulares de algum tecido bege, com alguns animais livres e presos por perto e umas poucas pessoas andando pelo local. Mas eles, como o pai falava, eram um povo selvagem, atrasado. Por isso, seu coração só bateu forte porque era a primeira vez que via algo que até o momento jazia apenas em sua imaginação, alimentado pelas narrartivas do pai.



Sem contar o fato de estar com extrema vergonha de andar no meio deles, por vários motivos. Eles ainda não haviam notado, mas o que fariam ao ver um homem branco caminhando sozinho e despreocupado ao lado de um índio por sua tribo?

Olhou para Alfred e percebeu que ele também suava frio, mas este tnetou, em vão, disfarçar com um sorriso ao ver que estava sendo observado por ele.

“ Vamos?”

Ele mordeu o lábio antes de assentir. Ambos continuaram a andar.

Quando faltavam poucos metros da primeira tenda, uma criança notou a aproximação de ambos e, apontando para eles, falou algo inaldível à mãe, cuja roupa era puxada por sua minúscula mão. Isto foi seguido de um “efeito dominó” conforme Arthur adentrava o local, sob o peso de todos, TODOS os seus olhares. Era uma sensação horrível.

Ao mesmo tempo, observava os arredores. Via as pessoas e suas moradias. As tendas eram todas iguais, em tamanho e aparência. Não havia como identificar o que cada uma tinha como função ou qual era o grau de importância da pessoa que lá morava se não desse uma espiada por dentro. Algumas fogueiras pequenas, apagadas, estavam espalhadas pelo chão. Bem ao longe, mais afastado das tendas, viu um tronco, um bastão gigante e grosso de madeira com formatos, aparentando uma escultura. Não conseguiu identificar o que era. Vários cavalos pastavam soltos perto das pessoas sem cela ou rédeas sem se preocuparem em fugir.

Sobre as pessoas, notou suas vestimentas e características. Crianças andavam nuas por aí, o que só fê-lo confirmar o quão subdesenvolvido era aquele povo. Mulheres trajavam vestidos, homens uma blusa – vira apenas alguns com uma- e calças. Pelo menos usavam uma espécie de sapato. Muitos tinham adornos de penas nos cabelos negros, alguns até maiores que o de Alfred, alguns apenas com uma ou duas penas enroladas em uma mecha de cabelo. Poucos estavam pintados. Todos tinham pele extremamente avermelhada e morena, envelhecida pelo contato com o sol sem proteção. Não havia nenhum que fosse tão diferente quanto Alfred, e ele se lembrou desse mistério.

As reações eram as mais interessantes. Crianças escondiam-se atrás de suas mães, lançando-lhe olhares assustados, ou eram puxadas por ela para dentro das tendas. Os homens pegavam suas armas e o encaravam com o pior olhar que já recebera na vida. Ele era um alien ali. Um monstro totalmente indesejável. E aquilo era extremamente desconfortável. Extremamente.

Alfred não se sentia muito diferente.Muitos, quando lembravam de notar também o fato de o homem branco estar em sua companhia, olhavam-no incrédulos, bravos ou cochichavam entre si.

Claro, tal reação era totalmente compreensível. Mesmo quem nunca vira um homem branco já ouvira alguma história assustadora sobre esses “monstros”, assim como Arthur ouvira dos índios. Ver o inimigo pela primeira vez, ainda mais livre e caminhando pelos SEUS territórios acompanhado de outro índio que não parecia ter problema com aquilo deveria ser assustador.

Tão assustador quanto para um homem branco, também cheio de histórias horrendas sobre os “selvagens” ver, pela primeira vez, tantos deles juntos, ainda mais sendo ele o invasor do território deles.

Por isso, também não podemos culpar Arthur por não conseguir tirar o canibalismo da cabeça, seguindo Alfred totalmente pálido e com os músculos tensos.

Pararam ao lado e uma das últimas cabanas.

“ Certo.”, Alfred disse, mais para consigo mesmo do que para Arthur. Por fim, colocou a cabeça para dentro da cabana, mas não o corpo.

“ Pai... Pode vir aqui um segundo?”

O inglês, do lado de fora, aguçava a audição, procurando qualquer barulho do lado de dentro. Qualquer coisa que podesse dizer-lhe se era seguro ficar ali ou se sair correndo em prol da vida seria a melhor opção. Ainda tentava se concentrar quando de repente passou uma grande silhueta à sua frente, saindo da cabana sem emitir qualquer barulho.

Seus olhares se encontraram e ele gelou, seu coração parou, ele sentiu sua alma sair por um segundo de seu corpo só de perceber a situação em que se metera.

Diante dele estava um índio típico, como todos os outros da aldeia, aqueles que eram diferentes de Alfred – mas que ele chamava de “pai” mesmo assim, aparentemente, o que o deixou apenas um pouco mais confuso do que já estava antes -. Não pôde deixar de notar o cocar que era provavelmente o mais rico e alto que já vira. Fazia o de Alfred parecer insignificante. Seu físico era impressionante, mas o de Alfred também ela, fazendo o DELE parecer insignificante como o de uma mulher.

Sua expressão adotou um misto de surpresa e ira, de um grau que ele só antes vira na face de seu pai ao falar sobre os índios e apontar as falhas do filho. Ele demonstrou medo, imenso medo. Todo o resto da aldeia assistia, curioso, àquele acontecimento anormal. Tudo logo se afundou no mais completo silêncio, chamando ao local uma atmosfera totalmente carregada, tensa.

“ Ehm... Pai...”, o menor arriscou falar, sua voz sendo um fio enquanto ele olhava para baixo, evitando qualquer olhar, “ ... Todo esse tempo em que eu estive saindo da aldeia... Foi porque eu me encontrava com ele.”

Arthur resolveu abaixar o olho, assim como ele. Seu coração batia a velocidades incríveis.

O homem olhou para Alfred com incredulidade indescritível enquanto murmútios extremamente baixos – e ainda assim audíveis porque, como dito, tudo estava muito quieto – começaram a surgir.

“ Ele... Ele é meu amigo!!”, o índio imediatamente encheu-se de coragem para continuar falando, em tom mais alto, quando seu pai ameaçou abrir a boca.

Mais uma onda de murmúrios correu pelo local, dessa vez mais altos. Arthur identificou palavras cruéis no meio das conversas. A expressão do índio mais velho ficava cada vez mais assustadora, se é que isso era possível. Alfred e Arthur estavam pálidos de medo.

“ Saia daqui,”, ele finalmente disse ao garoto branco com uma voz grossa, tremida, de raiva parcamente controlada.

Arthur lançou um olhar amedrontado para Alfred e este devolveu-o um desesperado, mas acabou por assentir levemente, indicando que devia obedecê-lo. Não queria ficar sozinho naquela situação, mas também não queria piorar as coisas para o amigo.

Ele então hesitou, mas logo saiu correndo o mais rápido que pôde.

O inglês parou de fugir apenas quando não tinha mais fôlego o suficiente para correr. As cabanas já haviam desaparecido de sua vista fazia tempo.

Sentou-se no chão para recuperar as energias, já que não havia nada ao redor que pudesse usar de apoio enquanto de pé. Descansou por uns minutos, sempre atento a qualquer barulho, movimento. Temia que os índios resolvessem segui-lo para matá-lo. Estava confuso demais para conseguir pensar com sucesso sobre qualquer outra coisa.

Depois se levantou, o fôlego já retomado. Andou apressado até a cidade e se trancou no quarto, se jogando na cama logo após.

Ainda estava assustado.

Lembrou-se de que Alfred chamava aquele índio de “pai” mesmo que ele não tivesse nada a ver com ele. Assim como todo o resto das aldeia. Era como um homem branco óbviamente disfarçado, mas que todos aceitavam como um igual... Se todos soubessem que ele era um invasor, tratariam-no como trataram a ele naquele dia. Era isso. O que era confuso.

Mas, afinal, não deveria perder tempo pensando sobre ele. Não era seu objetivo e não o interessava. O importante era que conseguiu chegar perto dele e de sua aldeia, se infiltrar neles. Fracassara em conseguir simpatizar com os outros, mas iria tentar outras vezes. Tinha um laço forte o bastante com Alfred para que isso não os afastasse. Precisava continuar a enganá-lo.

Virou-se para o criado-mudo e dele pegou papel e caneta. Ali, passou o resto da tarde escrevendo e desenhando a localização da aldeia e sobre tudo o que descobrira até o momento – Alfred e o resto da tribo.

“ Eu realmente não sei o que falar no momento, Alfred.”

Àquela altura, Arthur já sumira de vista da aldeia. As crianças aos poucos saíam de suas moradias e grande parte das pessoas já voltavam para suas atividades normais com o fim do entreterimento, sobrando apenas algumas mais curiosas a espreitar a conversa de pai e filho.

O menor permanecia cabisbaixo, mudo, apenas a ouvir.

“ Nem o que sentir...”

Seguiram-se mais segundos de silêncio.

“ ... Eu pensei que havia deixado bem claro para você o perigo que é o homem branco.”

“ Mas...!”

“ QUIETO!”, brandiu o mais velho em resposta, cortando sua tentativa de retrucar.

Alfred imediatamente voltou a abaixar a cabeça.

“ Você não tem o direito de julgar a minha experiência, Alfred!!”

“ ...”

“ Quando eu digo que você não deve confiar neles, vai me obedecer, não importa o que um deles faça, você não pode cair na armadilha, você entendeu?!”

Alfred meneou a cabeça positivamente.

O outo cruzou os braços, suspirou, lentamente a se acalmar.

“ ... Eu já perdi muitos conhecidos por conta da traição do homem branco, Alfred... E não quero te perder. Você não é apenas um integrante da tribo. Você é meu filho...”

Ele novamente assentiu com a cabeça.

O pai ficou mais alguns minutos a observá-lo em silêncio. Todos da aldeia já haviam voltado às suas atividades normals naquele momento.

“ Eu espero que isso não se repita. Você já é adulto; não preciso ficar puxando sua orelha.”

Alfred balançou a cabeça novamente.

“ Desculpe...”, sua voz saiu baixa, carregada de uma falsa modéstia.

Sentiu uma mão pousar em seu ombro e finalmente olhou para cima, encontrando o olhar do mais velho. Aquela era certamente uma sensação desconfortável.

“ Fique por perto agora. Logo vamos comer.”

O mais novo assentiu pela décima vez, afastou-se do pai. Foi para as cercas atrás da aldeia, local onde guardavam os cavalos ao anoitecer para proteger dos ataques de animais selvagens. De longe, reconhecia seu cavalo – O único totalmente marrom, de crina e rabo negros, mas com a pata fronteira direita branca.

Tashunke Ohitika – assim o chamara por ser o único cavalo que não tinha medo do fogo quando seu povo acendia fogueiras à noite – era um dos mais belos daquele grupo de mais de vinte animais. Ele tinha certeza. Orgulhava-se dele.

Com um assovio, fez com que todos os cavalos olhassem para ele, mas a maioria voltou às suas atividades quando nada viu de interessante nele, enquanto Ohitika aproximou-se.

Desde que o ganhara, no dia seguinte à sua chegada da jornada espiritual, passou boa parte de seu tempo com ele, a acariciar-lhe e fazer pequenas caminhada, tentando até comunicar-se com o animal. Seu pai sempre lhe dissera que a amizade com os bichos, principalmente aqueles de sua responsabilidade, era essencial e sempre retribuida por eles; por isso empenhou-se em conquistar a de seu cavalo. Como recompensa, ele passou a obedecê-lo e lhe trouxe felicidade e segurança.

Alfred estendeu a mão à sua cabeça quando o animal chegou perto o suficiente. Começou a acariciá-la de leve, calmo, ao passo que refletia sobre seu pai e sobre Arthur.

Porque já confiava demais no outro para ser convencido por seus iguais. Ele simplesmente sabia, sentia que podia confiar nele.

E ficou a pensar, bolar planos para continuar em contato com ele sem que seu pai o descobrisse.

E torcia para que Arthur o perdoasse por aquilo.



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Notas finais do capítulo

Wapi (Dakota) / Luck (Inglês): Sorte
Tashunke Ohitika: Cavalo Valente



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