Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 20
Sangue e Consequências


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal?

Como estamos de feriado, hein? Espero que tudo esteja bem com todos vocês... Gostaria de agradecer, IMENSAMENTE, pelos comentários no capítulo passado. Sei que não tenho sido a melhor das autoras, mas estou tentando reencontrar a paixão para escrever *-*

Enfim, esse capítulo é, do início ao fim, Faberry. Creio que é uma das melhores coisas que eu escrevi em "Signal Fire" e espero que gostem.

Leiam escutando uma música linda chamada "Runaway" da banda The National. Foi a base para criação e escrita desse capítulo.

Boa leitura o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/177324/chapter/20

            Quinn não estava sentindo nada. Estava em completo torpor enquanto sentia os lábios de Noah Puckermann sobre os seus. Ele ainda beijava bem, pensou. Quinn não podia negar, mas Puck realmente tinha alguma coisa que seduzia as garotas e agora, depois da maturidade, ele se tornara ainda mais sedutor. Talvez fosse todo o ar de seriedade que sua profissão passava...

            Quinn sabia que o que fazia era errado. Podia não estar com Rachel, mas estava traindo seus próprios sentimentos ao permitir que o rapaz, em um momento de fraqueza, lhe beijasse. Sabia que as coisas estavam mal compreendidas ali... Ela e Puck simplesmente não eram para ser. Algo dentro dela incomodou e o gosto amargo em sua boca a fez afastar Puck delicadamente. O rapaz, ainda de olhos fechados, tinha uma expressão confusa. Assim que os dois finalmente se olharam, Quinn disse desconfortável:

            - Noah... Não.

            - Por quê? – Puck perguntou rapidamente e Quinn percebeu um leve desespero ecoar sobre a fala dele. Os dois se olharam e Quinn abriu um sorriso de lado que não combinava com seus olhos tristes, ela passou a mão na cabeça do amigo e riu levemente. Em seguida, beijou a testa dele e murmurou:

            - Você é inteligente. Sabe que nós dois não funcionamos mais juntos. E ainda mais, sabe que está fazendo isso porque Shelby lhe deixou e você sente falta de Beth.

            - Quinn, para de se rebaixar! – Puck ergueu a voz e ficou em pé, completamente transtornado. Mas não era uma aura maligna e agressiva que pairava sobre ele, era mais a derrota e confusão, ele mesmo não sabia o que falara. Quinn permaneceu passiva, as pernas cruzadas e as mãos sobre o colo, prestando atenção. – Será que eu não posso, simplesmente, sentir a sua falta e te querer por perto?

            - Não, você não pode, Puck. – Quinn percebeu que teria que ser dura se quisesse que o rapaz compreendesse a verdade. Talvez, os dois pudessem dar certo antes, mas não agora. Ela ficou em pé e aproximou-se dele, os olhos estavam astutos e intimidadores agora e Puck engoliu em seco. – Porque você sempre vem para mim quando está carente e agora, eu não posso te dar nada em troca. Nunca pude, na verdade. Só que agora, as coisas só se agravam.

            - Ai caramba! Você está comprometida, Quinn?! – Puck perguntou assustado, olhando para a amiga, segundos depois, ele rompeu o contato visual porque começou a corar furiosamente. O rapaz deu as costas para Quinn e a professora não pode conter o sorriso de lado, Puck estava muito envergonhado. Ainda de costas, escutou o suspiro profundo de Puck. – Me desculpe, eu realmente não sabia.

            - Não tinha como você saber, pouquíssimas pessoas estavam por dentro do que aconteceu. Não se sinta ofendido. – Quinn disse apaziguadora, mas as sobrancelhas de Puck arquearam-se rapidamente. Ele conhecia a ex-cheerio por tempo o bastante para saber que ela não estava sendo completamente sincera. Quinn desviou-se de Puck e caminhou até o balcão, Puck ficou surpreso quando ela apanhou a garrafa de cerveja sobre o balcão e tomou um generoso gole. Ali, ele percebeu que alguma coisa estava errada naquele suposto envolvimento de Quinn. Puck pigarreou e perguntou:

            - Você está bem com isso?

            - Com o beijo? Sim. Com a outra pessoa? Não. – Quinn respondeu friamente e Puck quase pode enxergar as altas e instransponíveis barreiras que a loira estava erguendo em volta de si. Puck coçou a cabeça, estava confuso e extremamente envergonhado, mas fora o melhor amigo de Quinn em algum momento na relação estranha deles, ainda tinha aquela pessoa dentro dele. Puck aproximou-se dela e lhe ergueu o rosto que estava abaixado, contemplando os pés, Quinn estava distante quando ele perguntou:

            - Quem é, Quinnie?

            - Acredite, você não vai querer saber. – Quinn respondeu irônica e afastando-se de Puck, ainda com a garrafa em mãos. O policial não deu por vencido e foi atrás dela, tirou-lhe a garrafa das mãos e segurando-a pelos braços, olhou fundo nos olhos verdes e perguntou incisivo:

            - É o Sam, de novo?

            Quinn não respondeu, apenas olhou para a expressão séria de Puck e começou a rir. Primeiro, ria com tranqüilidade, mas depois, acabou tendo um ataque de risos e as lágrimas começaram a cair nos cantos dos seus olhos. Puck arqueou a sobrancelha, a expressão ofendida diante do comportamento de Quinn. Mas após alguns minutos, percebeu que a risada tornou-se um pequeno ataque de choro e a abraçou, sem saber muito que fazer com o corpo trêmulo em seus braços. Puck respirou fundo e beijou-lhe o topo da cabeça antes de dizer:

            - Me diga, o que ele fez? Eu posso falar com ele e...!

            - Quinn, por favor, me diga que você não viu o que a Rachel acabou de fazer! – Um Kurt estabanado entrou na cozinha, sendo acompanhado por um Karofsky emburrado e um Sam sério. O decorador engoliu em seco ao ver que interrompera algo, mas antes que pudesse dizer algo para remediar, Puck afastou-se de Quinn. Olhou da amiga, que tinha uma expressão furiosa no rosto, para Kurt que estava vermelho de vergonha.

            Um clique em seu cérebro e Puck, rapidamente, entendeu o que estava acontecendo. Lembrou-se da expressão enciumada de Rachel ao deixar Quinn com ele no apartamento naquele dia em que Sam fora preso. Tudo fez sentido e foi a vez dele começar a rir. O rapaz apoiou-se nos joelhos enquanto gargalhava e Sam se aproximou furioso, dando-lhe um tapa na cabeça. Puck fechou a cara e exclamou:

            - Eu ainda posso te prender por desacato e agressão, Evans!

            - Muito obrigada, Hummel... Acho que você acaba de me tirar do armário! – Quinn proferiu gélida, o tom de voz estava cortante e corando rapidamente. Ela abaixou a cabeça e apanhou a bolsa em cima do balcão, disparando porta a fora. Kurt encolheu-se e olhou de esguelha para Karofsky que, apenas, olhou decepcionado para ele.

            Quinn saiu da cozinha, olhou rapidamente por cima do ombro e pode ver Rachel entrando novamente na sala de estar com Finn em sua cola. Os olhos castanhos encontraram os verdes e apenas aquele brilho culpado fizera Quinn compreender que a escolha já estava feita. Ela nunca teve chance, afinal.

            Porém, Quinn não deixou Rachel ver suas lágrimas. Ela saiu porta a fora e correu sem parar até o estacionamento. Puck até tentou acompanhá-la, mas não conseguiu, pois Sam o segurou pelo ombro e, ameaçador, disse:

            - Chega, você já estragou demais a vida dela.

            Puck engoliu em seco e voltou à cozinha, virando toda a garrafa de cerveja de uma vez. Kurt já saíra dali e Karofsky fora atrás dele. Rachel entrou na cozinha de supetão e foi recebida com a expressão fria de Sam. O loiro a olhou por inteiro e desdenhoso, disse:

            - Volte para o Finn, Rachel... Não há mais nada para você aqui.

            Puck observou quando Rachel Berry respirou fundo para conter as lágrimas. Também observou que, em momento algum, a expressão de Sam mostrou piedade ou se amenizou. Ele estava possesso de raiva e, naquele momento, Puck lhe dava razão. Rachel saiu apressada da cozinha e desapareceu no jantar.

            Sam olhou para Puck. O policial abriu a boca, mas Sam foi mais rápido e desgostoso, disse:

            - Abra a boca para falar das duas e eu quebro todos os seus dentes.

            Puck calou-se e apanhou outra cerveja na geladeira, observando Sam sair da cozinha e do apartamento enquanto se perguntava se era um dom ter todo aquele poder de ferrar as coisas em qualquer lugar em que aparecia.

            - Rachel! – Finn chamou a plenos pulmões, correndo atrás da morena enquanto apanhava o casaco e a carteira. Rachel jogou o próprio casaco sobre os ombros e apanhou a bolsa, abrindo a porta da entrada e saindo para o corredor. Finn acelerou o passou e fez o mesmo, a porta se fechou atrás dele. – RACHEL!

            Finalmente, a pequena morena parou no corredor. Mas ela não virou o corpo para encarar Finn. Ela permaneceu parada, os ombros caídos e a postura visivelmente cansada. Finn suspirou, aliviado, tinha interrompido uma saída dramática e poderia, finalmente, conversar sobre o que acabara de acontecer. Começou a aproximar-se devagar e um tanto ofegante. Porém, assim que ergueu a mão para tocar os ombros de Rachel, a mesma respirou fundo e pediu suplicante:

            - Por favor, não me toque.

            - Rachel, fale comigo, por favor. – Finn pediu no mesmo tom, mas existia um leve desespero em sua voz.

            Quando o convite para ser jurado no concurso de corais surgiu (devido ao seu passado no New Directions), ele só aceitou quando soube quem era a atual técnica do coral de Lima e desde que voltara, percebera que Rachel não era a mesma. Claro que não esperava e nem queria encontrar a mesma Rachel de New York. Mas esperava, de verdade, que Lima trouxesse a sua Rachel de volta. Mas, em vez disso, deparou-se com uma Rachel diferente e, mesmo assim... Apaixonante.

            E Finn se viu novamente apaixonado. Dessa vez, por uma Rachel forte, madura e sensata. Os sonhos haviam desaparecido, sim, mas os objetivos haviam sido estabelecidos e ela era uma batalhadora agora. Enfrentando todos os dias no McKinley, apostando em talentos que não eram os seus. E feliz com a arte de ensinar. Finn nunca a imaginaria numa sala de aula, mas agora, sequer conseguia imaginá-la no palco. Mesmo diante do fracasso, Rachel se erguera e estava ali, enfrentando o dia-a-dia. E quanto ele viu o novo New Directions se apresentar, com uma apresentação que claramente denotava a ela, o rapaz sentiu o coração bater mais forte.

            E ali estavam os dois, tentando consertar o passado, talvez? Finn não sabia. Aquela Rachel era desconhecida para ele. E Finn a temia, porque cada vez que procurava se aproximar, da forma mais gentil possível, era repelido... Finn tinha medo de que sua tentativa de consertar o passado desse errado.

            - Você não vai me entender, Finn. – Rachel decretou mais séria e ela virou-se dessa vez. Os olhos castanhos estavam obstinados dessa vez e refletiram o interior machucado e despedaçado da morena. Finn engoliu em seco, tentou afagar o rosto de Rachel, procurando lhe dar conforto, mas foi repelido novamente. Rachel deu um passo para trás e o olhou culpada. – Nós mudamos, não percebeu? Já tínhamos notado isso quando terminamos em New York, não paramos de mudar. Não vamos dar certo, você sabe disso.

            - Não, eu não sei, Rach! – Finn ergueu o tom de voz em apenas algumas oitavas, mas Rachel encolheu-se ao observar a expressão ferida e confusa do rapaz. Finn a segurou pelos braços, não estava sendo rude daquela vez, na verdade, Rachel até envergou o Finn Hudson pelo qual se apaixonara nele. Ele respirou e fechou os olhos, talvez, querendo se acalmar.

            Rachel não sabia o que fazer. Quinn acabara de entender, erroneamente, o que acontecera. Claro, tinha beijado Finn mesmo, tinha se rendido a uma lembrança de sua adolescência e a sua carência da loira. Mas aquele beijo não significara nada, na verdade... Significara, apenas a fizera entender que Finn nunca teve como competir com Quinn. Rachel só tinha ainda mais certeza de como amava a loira naquele momento.

            E mesmo que Quinn tivesse tentado esconder... Ela vira as lágrimas, ela vira a dor impressa em cada partícula de Quinn. E mesmo que não tivesse visto, ela saberia. Por quê? Porque a dor que sentia agora não era somente dela, era o eco da dor de Quinn que, naquele momento, estava dirigindo feito uma doida para seu apartamento.

            - Rachel? – Finn chamou preocupado ao perceber que a mente da morena não estava mais ali com ele. Rachel focou seus olhos que, agora, estavam vazios, em Finn. Respirou fundo e, delicadamente, retirou as mãos do rapaz de seus braços. Olhou para ele como se pedisse desculpas e, trêmula, disse:

            - Eu não posso fazer isso com você, eu prometi que não ia voltar a cometer o mesmo erro.

            - O que você quer dizer com isso? – Finn perguntou confuso, tentando não pensar nas milhares de possibilidades ruins que aquela frase poderia trazer. Ele já a ouvira antes e não fora na melhor das situações. Aquilo não podia acontecer, não de novo. Rachel ficou séria, seria muito mais fácil se Finn simplesmente a deixasse ir, a morena respirou fundo e não pode conter o sorriso triste ao dizer:

            - Eu não posso, Finn. Eu estou apaixonada por outra pessoa.

            Nesse exato momento, pode-se dizer que o mundo de Finn Hudson caiu. Ele esqueceu-se de que era um dos melhores quaterbacks da NFL, assim como esqueceu aquele anel em seu dedo que evidenciava isso. Esqueceu a mansão, o carro importado e a conta bancária... Ele viu-se, novamente, retornando a adolescência. Onde Rachel Berry o deixava desolado após uma traição evidente em New York.

            E, também naquele momento, Finn percebeu que ela não mudara em nada. Pelo contrário, ela o beijara pensando em outra pessoa. Ela traíra, novamente. Mas, daquela vez, Finn não era vítima e sim, o veículo. Ele fora usado. Usado... Não conseguia deixar que aquela palavra não ecoasse em sua cabeça.

            - Você não mudou nada! – Finn gritou ferido e visivelmente fora de controle. Ele deu um passo em direção a Rachel e a morena, assustada, recuou de encontro a parede do corredor. Finn a prensou ali e aproximou seus rostos, Rachel só viu uma máscara de fúria irracional e animalesca. Finn bateu na parede ao lado da cabeça de Rachel. – Afinal, você me amou algum dia, sua vadia?

            Rachel não tomou consciência de seus atos quando sua mão espalmou a face de Finn. Mas arrependeu-se no exato momento em que Finn, sem sequer sentir o tapa, voltou os olhos furiosos para ela e segurou seus punhos com força. O rapaz a empurrou de encontro a parede e quando Rachel deu por si, os lábios dele estavam grudados nos seus. Ela empurrou-lhe os ombros, mas ele sequer se mexeu.

            Rachel estava quase desistindo de escapar dali quando sentiu o corpo de Finn ser jogado para longe dela, seu lábio inferior foi machucado devido a violência do golpe e Finn ter lhe mordido. Uma mão forte segurou Rachel e a puxou, a morena percebeu que estava sendo protegida por um corpo alto e forte. Os cabelos loiros... Sam estava lhe protegendo.

            - Fica longe dela, seu troglodita! – Sam exclamou colérico, empurrando Rachel para trás de si. Rachel olhou por cima dos ombros do loiro e pode visualizar Finn levantando-se do chão com um sorriso irônico. O aperto de Sam no braço de Rachel aumentou, possessivo e protetor. – Eu deveria saber que você continua o mesmo infantil de antes!

            - O infantil que jogou a final do campeonato no seu lugar e ganhou a bolsa que seria sua, não é, Evans? – Finn exclamou de volta, dessa vez, Rachel viu o Finn que ela abandonou em New York. O Finn sarcástico, agressivo e mandão, aquele Finn que a enojava. Rachel tocou as costas de Sam e sentiu a musculatura do rapaz endurecer, a morena murmurou baixinho:

            - Não vale a pena discutir com ele, só me leve para casa, por favor.

            - Ah, acho que entendi! – Finn exclamou com uma falsa euforia e aplaudindo ironicamente enquanto se aproximava dos dois. Sam recuou mais um pouco e colocou o corpo dele entre Finn e Rachel. Os punhos do loiro se fecharam e Finn não desapareceu com o sorriso repleto de escárnio do rosto. – Sam é seu novo namoradinho?

            Sam não respondeu, ele olhou por cima do ombro para Rachel e mesmo em silêncio, a morena sabia que ele estava questionando se ela contara a Finn que estava apaixonada por outra pessoa, Rachel acenou com a cabeça e voltou a se esconder atrás dos ombros do rapaz. Sam apertou os punhos, Rachel escutou as juntas dele estalarem. Foi a vez do loiro abrir um sorrisinho e responder em tom de desafio:

            - E se for eu, o que você fará?

            A expressão de Finn finalmente mudou. A fúria voltou e ele partiu para cima de Sam, acertando um soco no rosto do rapaz. Sam, na iminência do golpe, empurrou Rachel para o lado e, mesmo assim, Rachel foi atingida pelo cotovelo do rapaz. Imediatamente, a morena sentiu o gosto de sangue em sua boca e sua visão ficar turva e embaçada. Percebeu que a movimentação aumentara e que alguém a colocara em pé. Rachel piscou várias vezes e encontrou Kurt a segurando, e depois, olhou ao redor para encontrar Karofsky e Puck contendo Finn enquanto Sam cuspia sangue no chão.

            - Sempre perdendo, não é, Evans! – Finn gritou agressivo e com um sorriso de escárnio no canto dos lábios. Rachel notou que ele tinha um vermelhão no supercílio que logo incharia ou sangraria. Sam ignorou o rapaz e foi de encontro a Rachel e examinou-lhe o rosto preocupado. Rachel desviou-se das mãos dele, não queria que Finn arrumasse outro motivo para continuar enchendo seu defensor. – Perdendo e comendo as sobras... Primeiro a Quinn e...!

            Kurt não conseguiu conter Rachel, a morena desvencilhou-se dele e foi para cima de Finn. Inconscientemente, ela acertou um soco de punho fechado no rapaz que, de tão forte, fez com que ele cambaleasse e que Puck e Karofsky o deixassem cair. Imediatamente, a mão da morena doeu. Finn levantou-se de supetão e avançou na direção dela, mas foi impedido por uma chave de braço que Puck lhe aplicou enquanto gritava:

            - Se você mover um dedo na direção dela de novo, eu vou ficar satisfeitíssimo em te indiciar por ameaça a mulher, seu bosta!

            Finn grunhiu sem fôlego, ele continuou a lutar até que o rosto ficou vermelho e Puck afrouxou-lhe o aperto. Karofsky fez um sinal para que Sam levasse Rachel e o rapaz assim o fez, Rachel pode escutar Kurt dizer algo sobre ter vergonha de ser irmão de Finn antes de entrar no elevador.

            Ela e Sam ficaram em silêncio até que o rapaz remexeu nos bolsos, tirou as chaves do bolso e com um sorriso cheio de sangue e sem deixar de ser afetuoso, disse:

            - Você vai ter que dirigir, eu estou ligeiramente tonto e preciso chegar em casa.

            Rachel engoliu em seco, Sam morava no mesmo prédio de Quinn.

###

            Quinn entrou em seu apartamento e chutou a porta para fechá-la. Arrancou as roupas com violência e caminhou nua até o banheiro. Enfiou-se debaixo de uma água estupidamente fria e esmurrou o azulejo do banheiro várias vezes... Até que suas mãos doeram.

            A água escorria por seu corpo e a raiva não desaparecia. A única coisa que se passava pela cabeça de Quinn era a palavra “idiota”. Fora ingênua em acreditar que o pouco que vivera com Rachel fosse ser tão ou mais especial do que ela tinha vivido com Finn. Tempo contava, afinal... Mais um soco na parede e a mão direita de Quinn reclamou de dor.

            Sua mente lhe pregava peças, a deixando ainda mais com raiva quando jogava as lembranças dos momentos com Rachel na sua frente, obrigando-a a lembrar de momentos que sequer sabia se eram ou não reais. O seu peito ardeu e Quinn ofegou. A loira fechou os olhos e posicionou o rosto de encontro a água, tentando concentrar-se em respirar e não nas lágrimas que procurava conter...

            Lentamente e imperceptivelmente, Quinn foi rendendo-se aos seus sentimentos. A loira escorregou através da parede e agachou-se no chão do banheiro. Observando suas lágrimas caírem e misturarem-se com a água que escorria entre seus pés. As coisas pareciam mais fáceis se ela apenas fingisse que não chorava. Mas a sensação de vazio em seu peito tornava impossível. Rachel simplesmente arrancara um pedaço dela ao escolher Finn... Quinn só esperava que não fosse, por completo, o seu coração.

            Não soube quanto tempo ficou ali, mas deduziu que fosse muito, pois quando enrolou a toalha em seu corpo, Quinn tremia e tinha as pontas dos dedos enrugados. A loira se secou enquanto observava-se no espelho. A figura a estava incomodando com os olhos vermelhos inchados e a expressão pálida, com os lábios arroxeados. Quinn estava com a aparência doente, mas, quem sabe, estivesse, afinal...

            Saiu do banheiro e olhou envergonhada para as roupas largadas pelo corredor. Ignorou-as e foi até o quarto se trocar quando a campainha foi disparada violentamente, provocando-lhe um sobressalto. Quinn vestiu, rapidamente, suas roupas íntimas, uma calça de moletom e uma camisa. Chacoalhou os cabelos enquanto caminhava e escutava, mais uma vez, a campainha tocar. Correu um pouco nos últimos metros e abriu a porta de supetão.

            Mas quase a fechou de novo.

            Rachel Berry estava parada a sua frente, encostada no batente de sua porta enquanto apoiava um parcialmente desmaiado Sam Evans. Observando mais atentamente, Quinn notou que tanto ela como Sam estavam machucados. Algo dentro de Quinn ronronou quando viu o inchaço no canto do lábio direito de Rachel. Ela olhou de um para o outro e fria, perguntou:

            - O que diabos você faz aqui, Berry?!

            - Desculpe... – Rachel respondeu sofregamente, tentando não olhar para Quinn e continuar a sustentar o corpo pesado e musculoso de Sam em si. A morena ajeitou o peso de Sam em seus ombros e deu um passo vacilante para dentro do apartamento, imediatamente, Quinn ficou a sua frente, bloqueando a passagem. Rachel revirou os olhos, não era hora de ser infantil. – Sam se envolveu em uma briga por minha causa, eu o trouxe para casa, mas não encontrei a chave do apartamento dele.

            - E nem vai encontrar, a chave estava comigo. – Quinn respondeu no mesmo tom, abrindo espaço para que Rachel entrasse e apoiando o amigo enquanto o trio caminhava pelo corredor. Rachel observou que Quinn procurava não tocar nela em momento algum, apenas mantinha o braço na cintura de Sam em uma distância considerável do braço de Rachel que segurava o tronco do rapaz. Rachel pigarreou e perguntou:

            - Não vamos colocá-lo no apartamento dele?

            Quinn não respondeu e Rachel considerou aquela atitude como um “não”. As duas continuaram a caminhar em silêncio até chegarem ao quarto de Quinn. Rachel ficou ligeiramente incomodada e procurou não olhar para os lados e nem sentir o perfume de Quinn no quarto. Olhando rapidamente, percebeu naquele momento que Quinn acabara de sair do banho.

            Quinn continuava concentrada em sua tarefa e praticamente colocou Sam sozinho na cama. O rapaz estava desacordado, mas respirava com tranqüilidade. Sem dizer nada, Quinn caminhou até a cozinha e voltou, minutos depois, com um pouco de gelo embrulhado em uma toalha que logo foi posicionado sobre a boca de Sam e o lado direito de sua face que estava levemente inchada.

            - Você já pode ir, Berry. – Quinn anunciou sem qualquer sentimento na voz, concentrada em posicionar o gelo no local correto e acariciar os cabelos de Sam. Rachel sentiu algo ruim revirar dentro de si, a morena crispou os lábios e perguntou:

            - Você não quer saber o que aconteceu?

            - Não, Sam pode me contar quando acordar. – Quinn voltou a responder e, dessa vez, Rachel percebeu um tom de impaciência na voz dela. Mas a morena não desistiria de ficar mais um pouco ali, nem que tivesse que agüentar todo o mau humor de Quinn. Ela precisava de sua dose diária da loira, por isso, constrangida, perguntou:

            - Será que eu posso pegar um pouco de gelo? Meu lábio está dolorido e inchado, eu queria tentar melhorar meu estado antes de chegar em casa e ter que me explicar aos meus pais...

            Quinn olhou disfarçadamente por cima dos ombros, percebeu pela primeira vez naquela noite que Rachel estava machucada. Seu coração machucado veio quase a boca, ela estava tão machucada quanto Sam. Quinn questionou-se como a morena continuava em pé e percebeu que, na realidade, ela estava discretamente escorada à parede. A loira levantou-se depressa e voltou ao corredor, durante o caminho, ligou o rádio porque não queria ter que conversar com Rachel se fosse ajudá-la.

            O instrumental eletrônico começou, os primeiros acordes fizeram Quinn revirar os olhos. Irritada, ela chamou:

            - Rachel!

There’s no saving anything

Now we’re swallowing the shine of the summer

There’s no saving anything

How we swallow the sun      

            Rachel assustou-se quando escutou o chamado de Quinn, mas afoita, caminhou pelo corredor e encontrou a loira na cozinha. Ela apanhara uma tigela e colocara algumas pedras de gelo dentro, depois, apanhara o kit de primeiros socorros. Rachel ficou ligeiramente impressionada.

            Depois de tudo que as duas passaram naquela noite, Quinn realmente iria ajudá-la? Rachel estava se perguntando, naquele momento, onde estava a Quinn machucada que saíra correndo do apartamento de Kurt. Simplesmente não batia com a imagem da Quinn traída da qual ela se lembrava... Quinn mudara, por ela e Rachel sequer percebera.

            Envergonhada e corada, Rachel disse:

            - Você não precisa me ajudar depois de tudo.

            - Você não pode voltar para casa assim, eu conheço seus pais. – Quinn anunciou como se fosse a dona da verdade e apontando para o balcão. Rachel aproximou-se devagar até se sentar sobre, de frente para Quinn. A loira ignorou a proximidade física entre elas e apanhou uma gaze embebida em álcool e avisou:

            - Vai doer.

            Rachel não respondeu e deixou que ela se aproximasse enquanto observava-a nos olhos.

But I won’t be no runaway

Cause I won’t run

No, I won’t be no runaway

What makes you think I’m enjoying being led to the flood?

            Quinn procurava ignorar tudo que acontecera horas antes entre elas. Afinal, já era outro dia praticamente... Faltavam poucos minutos para a meia-noite. Quem dera que as coisas fossem fáceis de serem esquecidas, Quinn passaria uma borracha em certas memórias e deixaria apenas os momentos bons.

            A loira tinha plena consciência de que estava sendo observada por Rachel. Assim como tinha plena noção de quão próximas as duas estavam. Quinn percebeu, tarde demais, que sua mão esquerda estava apoiada no pescoço de Rachel enquanto ela limpava o ferimento.

            Rachel não dizia anda, tampouco demonstrava qualquer reação, fosse de dor ou de tentativa de aproximação. O silêncio estava incomodando mais do que ajudando e a música não estava fazendo seu papel.

            Quinn percebeu que as duas estavam conversando pelos olhos, mesmo que ela mesma procurasse repelir Rachel com os seus...

We got another thing coming undone

And its take us over

We don’t bleed when we don’t fight

Go ahead, go ahead

            Rachel era uma boa observadora.

            Mas não era preciso ser nenhum gênio. Ela percebeu que Quinn estava fazendo aquilo tudo por pura obrigação, assim como percebeu que Quinn estava, mais uma vez, fechada em suas muralhas de proteção. Rachel sentia-se culpada por fazê-la erguer aquela barreira contra o mundo mais uma vez.

            Demorara tanto para quebrá-la e, na menor dificuldade, fugiu e deixou Quinn completamente exposta. Exatamente da forma como Quinn temia. Rachel compreendeu ali, naquele silêncio, sem qualquer discussão ou palavra de Quinn que falhara com ela. Assim como falhara com diversos propósitos e sonhos de sua vida.

            Rachel sonhara todos aqueles anos em ter Quinn somente para si e quando finalmente a teve, a abandonou diante do pequeno obstáculo, chamado confiança, que se interpôs entre elas. Amar era confiar e se Rachel demorara anos para descobrir que amava Quinn, por que não demorar o mesmo tempo para confiar na loira?

Throw your arms in the air tonight

We don’t bleed when we don’t fight

Go ahead, go ahead

Lose out shirts in the fire tonight

            Quinn passou o algodão mais uma vez sobre a ferida, estava quase no final, só existia mais um ou duas manchas de sangue coagulado no queixo de Rachel e enfim a morena poderia ir embora com uma bolsa de gelo sobre o local.

            Discretamente, olhou para os olhos de Rachel e encontrou-os focalizados em suas atitudes. Quinn, imediatamente, desviou novamente os olhos e continuou concentrada em suas atividades. Mas o rubor a entregou e dando mais uma olhada, Quinn pode perceber que Rachel sorria discretamente.

            Quinn engoliu em seco porque a raiva que a preenchera anteriormente no banho dissipara-se completamente. Afinal, Rachel podia ter levado Sam a qualquer lugar, mas o trouxe ali... A loira perguntava se fora de propósito para que as duas tivessem que lidar com aquilo juntas. Preferia não pensar naquilo.

            O plano era ajudar Rachel e mandá-la embora.

What makes you think I’m enjoying being led to the flood?

We got another coming undone

            Rachel não conseguia desaparecer com o sorriso de seus lábios. Sabia que ele estava irritando Quinn e que, provavelmente, era o motivo da loira estar corada e estar limpando-a com tanta rapidez que chegava a machucar... Mas Rachel podia enfrentar a fúria e a dor.

            Quinn ainda se importava com ela, Rachel ainda conseguia fazê-la sentir algo depois de tudo... Rachel percebeu que ainda havia esperança. E aquele sorriso era fruto disso. Dos sonhos que haviam renascido em seu peito. Quinn podia construir quantos obstáculos fossem, mas Rachel lutaria bravamente até derrubá-los de novo. E dessa vez, derrubaria e ficaria ao lado dela.

            Não havia tempo para abandono e incertezas agora.

But I won’t be no runaway

Cause I won’t run

But I won’t be no runaway

Cause I won’t run

            - Não quer mesmo saber como seu melhor amigo chegou desacordado na sua casa? – Rachel perguntou com um ar brincalhão, fazendo Quinn bufar impaciente e jogar a gaze de lado. A morena riu e entendeu que aquela era uma deixa para continuar falando. – Ele resolveu bancar o cavalheiro, novamente.

            - E vendo pelo seu estado físico, garanto que você era a donzela indefesa... – Quinn murmurou irônica enquanto encarava Rachel pela primeira vez naquela noite, a morena enxergou um brilho maldoso nos olhos dela. Parecia que a intolerância do colegial estava de volta no corpo da loira.

            Rachel não a culpava, quem tivera o coração despedaçado fora ela, afinal.

            - Bem, indefesa eu não sou e nem nunca fui. – Rachel respondeu com um sorriso tranqüilo e sem perder o ar brincalhão. Quinn teria que se esforçar muito mais para afastá-la. – Mas eu estava sendo correta, de certa forma.

            - Ah é? – Quinn questionou descrente, com a sobrancelha arqueada e voltando os olhos para o machucado no lábio de Rachel. Ali, a morena percebeu que seria mais difícil daquela vez... Quem não confiava nela, agora, era Quinn.

No, I won’t be no runaway

But what makes you think I enjoying led to the flood?

We got another coming undone

And its takes us over

            - Eu estava discutindo com uma pessoa. – Rachel confessou séria, o sorriso perdendo-se diante da dificuldade de transpor a armadura de insensibilidade de Quinn. A loira franziu a testa e continuo seu procedimento, assoprou levemente a ferida quando terminou de passar o remédio.

            Rachel suspirou pesadamente quando sentiu o frescor vindo do sopro dos lábios de Quinn. A loira afastou-se tão rápido quanto se aproximara, em seguida, apoiou-se no balcão, com as mãos ao lado do corpo de Rachel e perguntou:

            - Com quem você discutia?

            Rachel não respondeu de imediato, estava entorpecida pela ausência de proximidade entre elas. Os olhos verdes finalmente estavam ao mesmo nível dos seus, eles a olhavam, mas não a viam. Pareciam estranhamente desfocados e ausentes. Quinn não se importava muito, afinal, só estava sendo educada.

            Rachel respirou fundo e soltou o ar lentamente, passou o dedo indicador levemente sobre o local machucado. Sentiu arder discretamente, Quinn lhe deu as costas para arrumar o gelo na toalha e quando aqueles desconhecidos olhos verdes finalmente saíram do contato dos seus, ela teve coragem para dizer trêmula:

            - Com Finn.

We don’t bleed when we don’t fight

Go ahead, go ahead

Throw your arms in the air tonight

            Quinn parou tudo que estava fazendo. Seu corpo imediatamente respondeu a menção ao nome de Finn. Suas mãos fecharam-se em punho e sua pele tornou-se ainda mais pálida, a dor voltou e a falta de ar também. Quinn procurou fechar os olhos, tentando retomar uma calma que sabia não existir mais nela. Antes que pudesse segurar suas palavras e manter a educação, rosnou:

            - O que você quer ao citar o nome dele?

            - Quinn, eu... – Rachel gaguejou, ela realmente estava sem palavras. A loira finalmente virou-se para ela e o coração de Rachel desintegrou-se em seu peito. Não havia nada de bom ali, a expressão estava fria, os olhos permaneciam desfocados, Quinn estava pálida e suas atitudes eram as mesmas de um animal ferido e ameaçado.

            Rachel Berry não tinha dado-se conta da influência que tinha sobre Quinn Fabray até aquele momento.

We don’t bleed when we don’t fight

Go ahead, go ahead

Lose our shirts in the air tonight

            - Você não se cansa, Rachel?! – Quinn perguntou frágil, o tom de voz baixo e quase um sussurro. Rachel deu um passo na direção dela, mas Quinn encolheu-se ainda mais de encontro a pia da cozinha. As duas se olharam e dessa vez não havia muito entre elas do que a dor e o desespero. Rachel olhou confusa e perguntou:

            - Eu não me canso do que, exatamente?

            - De me machucar! – Quinn explodiu, erguendo os braços e com um sorriso dolorido irrompendo em seus lábios. Rachel abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra sequer saiu, a dor no canto de seu lábio direito nem se comparava a do interior de seu peito esquerdo. – Viu? Você sequer sabe a resposta, pergunte a si mesma: quando você vai parar de machucar as pessoas?

What makes you think I’m enjoying led in the flood?

We got another coming undone

We got another coming undone

And it’s taking forever

            - Não é como se eu machucasse todos de propósito, Quinn! – Rachel exclamou ressentida, com toda a dor que tinha dentro de si também explodindo. Os olhos novamente se encontraram e, dessa vez, existiam algumas lágrimas nos castanhos e certa dor nos verdes. Quinn suspirou ironicamente e rebateu:

            - Bem, você é uma verdadeira mestre nisso!

            A ironia de Quinn mais machucou do que a irritou. Rachel rompeu a distância entre elas e, mesmo com Quinn fugindo de seu alcance, conseguiu prendê-la entre seus braços e grudada no balcão. As duas trocaram um olhar e Rachel percebeu que, diante da adrenalina da discussão, seu lábio voltara a sangrar. A morena respirou e exclamou em alto e bom tom:

            - Acha mesmo que eu gosto de machucar as pessoas que eu amo?

            Quinn engoliu em seco, pois nunca presenciara tamanha força mesclada ao desespero irromper de Rachel. Ela estava assustada.

I’ll go braving everything

With you swallowing the shine of the summer

I’ll go braving everything

Through the shine of the sun

            - Eu te amo! Será que é difícil compreender isso? – Foi a vez de Rachel questionar frágil e de Quinn recolher-se em seus próprios sentimentos e pensamentos. As duas ainda se encaravam e, por um instante, pareceu que tudo desaparecera. Reunindo toda a coragem dentro de si, Rachel tocou a face de Quinn delicadamente. A loira tentou fugir, mas Rachel impulsionou o corpo para frente e as duas, inevitavelmente, tocaram-se por inteiro. – Acha mesmo que eu gosto de sentir a sua dor ecoar dentro de mim? Porque é exatamente isso que eu sinto quando eu te vejo sofrer por minha causa... Eu sou humana, eu faço merda o tempo todo, Quinn! Eu só não mereço as suas lágrimas!

            Quinn engoliu em seco e olhou, de verdade, para Rachel. Seus olhos manifestaram sua surpresa quando ela viu que a morena chorava. Contrariando toda e qualquer vontade racional, Quinn colheu as lágrimas dela com as pontas de seus dedos e ficou calada, sem saber lá muito que fazer.

            Rachel a amava, mas não se achava digna de seu amor... Engraçado, Quinn pensava exatamente o mesmo, mas em relação a ela mesma.

But I won’t be no runaway

Cause I won’t run

But I won’t be no runaway

Cause I won’t run

            As duas ficaram em silêncio, por fim. E daquela vez, o silêncio era confortável e sem questionamentos. Não havia mais peso, as coisas foram ditas e respondidas. Mas não havia muita coisa a ser feita em relação às conseqüências. Quinn, então, saiu da prisão que Rachel lhe legitimara e atravessou a cozinha. Voltou com o gelo enrolado na toalha e passou-o delicadamente sobre o vermelhão no rosto moreno.

            Rachel apenas abaixou a cabeça e permitiu-se ser tocada e cuidada. Quando Quinn girou o corpo para sair de seu espaço proximal, a morena a segurou pelo pulso e girou o corpo dela de encontro ao seu. As duas estavam próximas como nunca estiveram naquela noite.

            Os olhares se encontraram e, dessa vez, não houve temor quando os rostos enfim se aproximaram. Milésimos de segundos depois, as bocas se tocaram. E não houve espaço para disputa, sendo que tudo que aquele beijo entre elas queria passar, eram desculpas e pedidos silenciosos de perdão.

No, I won’t be no runaway

What makes you think I’m enjoying led in the flood?

We got another coming undone

And its taking us over

We don’t bleed when we don’t fight

            As duas não se afastaram rapidamente, o beijo prosseguiu até que o ar faltasse a ambas. Então, as duas se afastaram. Rachel tinha um sorriso no rosto que desapareceu ao abrir os olhos e notar que Quinn estava séria. Antes que a morena pudesse segurá-la mais perto, Quinn caminhou para longe e saiu da cozinha.

            Rachel foi atrás dela e a encontrou parada ao lado da porta de entrada aberta. As duas se olharam e Rachel não conseguiu interpretá-la daquela vez, Quinn respirou fundo e calma, pediu:

            - Por favor, vá embora.

            - Mas Quinn, nós nos beijamos! – Rachel justificou-se cansada e caminhando até a loira, Quinn abaixou a cabeça e cruzou os braços na frente do corpo. A morena revirou os olhos e bufou, irritada. – Você não pode me culpar para sempre por uma traição que aconteceu enquanto estávamos dando um tempo!

            - Não é isso, Rachel... – Quinn respondeu séria, erguendo os olhos e emanando uma energia estranhamente defensiva deles. – Eu também te traí.

            Rachel engasgou.

Go ahead, go ahead

Throw your arms in the air tonight

We don’t bleed when we don’t fight

Go ahead, go ahead

Lose our shirts in the fire tonight

            Rachel, completamente entorpecida, saiu do apartamento e ficou no corredor, olhando para Quinn a procura de respostas que não conseguiu, ao menos, não naquele momento. Quinn abaixou a cabeça e, totalmente esgotada, disse:

            - Eu não estou te julgando, estamos quites. Esse beijo veio de nós duas, sim... Mas eu preciso pensar, sozinha, se vale a pena confiar em você de novo. Porque quando não existia traição alguma entre a gente, você ainda escolheu a ele.

            Quinn, então, fechou a porta. Rachel ficou olhando para a madeira cerca de dez minutos antes das lágrimas começarem a cair.

###


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ao menos houve uma reaproximação, não é? ;x

Bem, esse capítulo tem um "quê" de pessoal nele, por assim dizer. Acho que não é novidade nenhuma que eu tenha uma facilidade tremenda de escrever a Quinn, pois bem... Essa Quinn de "Signal Fire" talvez seja a que mais se assemelhe, realmente, de verdade comigo. Tanto é que a última atitude dela realmente foi baseada em algo que eu vivi no passado. HSAUHHUAS Era só algo que eu realmente queria compartilhar com vocês.

No mais, é isso mesmo... Espero comentários!

Beijos e até a próxima,
FerRedfield