Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 21
Nocautes


Notas iniciais do capítulo

Olá galera da madrugada!

Não, não é um milagre... Bem, talvez seja, considerado o Natal que já está chegando Hahahahaha Que isso, não tenho o direito de fazer piadas com vocês depois de todo esse tempo.

Bem, não morri. Mas passei por muitas coisas. Desde desamores, a novos amores e de falta de tempo a falta de inspiração. Mas sabe aquela história da musa dos poetas? Talvez eu tenha encontrado a minha, novamente ;x Hahaha

Mas acho que vocês não querem saber da minha vida, não é?
Bem, vamos a história. Aconselho que leiam ao som de "Story of My Life" do One Direction porque essa música é de suma importância para esse capítulo.

Bem, boa leitura!



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Capítulo 21: Nocautes

– Por que tão distraída? – Julianne questionou curiosa ao pegar Santana a observando pela terceira vez naquela noite. A latina deu um sorriso culpado e acenou a cabeça, colocando a folha que segurava sobre as demais que estavam dispersas pela mesa. Julianne franziu a testa, preocupada. – O que tanto observa?

– Se eu te disser a verdade, vai ser extremamente brega. E eu não costumo ser brega nos meus relacionamentos. – Santana respondera com um tom de voz brincalhão e extremamente leve que arrancou um sorriso tranqüilo de Julianne. A latina esticou o braço sobre a mesa e apanhou a mão pálida, envolvendo-a na sua, apertando-a lentamente. As duas se olharam, Julianne sorria e a sintonia se fez presente. Santana respirou fundo. – Esse caso está se tornando o mais complicado de toda a minha carreira.

Julianne ficou séria de repente, a preocupação tomou seus olhos cinzentos e ela engoliu em seco, sentindo-se culpada por toda aquela situação. Em certos momentos, como aquele em que via o cansaço vencer Santana, ela se arrependia de ter procurando por ela assim como se arrependia de ter se entregado, contrariando todas as suas morais e éticas.

Mas as duas estavam ali e enfrentando o problema, juntas.

Nessas horas, Julianne não sabia se era sortuda por ter Santana em sua vida ou maluca por se entregar completamente a ela.

Santana percebeu que suas palavras haviam sido mal interpretadas quando o olhar acinzentado tornou-se tão enevoado que escondeu o brilho antes presente. A latina levantou-se de seu lugar e caminhou até onde Julianne estava sentada, virou a ruiva na cadeira e ajoelhou-se entre as pernas dela, as mãos latinas envolveram as mãos pálidas e Santana beijou as duas palmas, antes de dizer, severa:

– Mas eu sei que vou ser bem recompensada depois.

– Claro. Você está enfrentando um dos possíveis milionários da cidade! – Julianne respondeu com um sorriso que, de certa forma, demonstrava seu orgulho e sua confiança na latina. Ela se aproximou timidamente e selou os lábios com Santana, sentiu a latina abrir um sorriso em meio ao toque de lábios e seu coração quase explodiu dentro do peito.

Droga... Estava tão apaixonada por sua advogada!

As duas se afastaram com sorrisos de lado, imersas naquele universo tão pessoal delas. Santana envolveu a face de Julianne com ambas as mãos, acariciando o rosto pálido. Julianne fechou os olhos e respirou fundo, agora, seu coração estava estranhamente calmo como se soubesse que alguém estava disposto a cuidar dela.

As duas ficaram em silêncio, ambas se observando. Na cabeça de Julianne, a ideia de que tudo aquilo poderia ser errado para Santana e até mesmo, para ela própria, já não fazia mais sentido. Como poderia ser errado se a fazia tão feliz? Julianne nunca sentira algo daquela forma, nem no começo do casamento, quando achara que Michael era o homem da sua vida.

Aliás, não mais sentia saudades daquele tempo. Os dois primeiros anos de casada foram ótimos, Michael trazia presentes sempre que podia, era incrivelmente generoso e educado, os dois viviam visitando a família Griffith, a família de Julianne. Mas depois daqueles dois anos, Julianne fora afastada da família e condenada a ser, inteiramente, a Sra. Urie. As agressões não demoraram a começar quando Julianne descobriu que era infértil. E continuaram quando, afinal, Julianne envolveu-se, sem querer, nos negócios de Michael. Tudo que ele fazia era ilícito e, principalmente, os contatos de Michael eram perigosos.

Julianne não mais temia por sua vida e sim, pela de Santana. Afinal, a latina estava enfrentando tudo sozinha. Bem sabia que, nenhum dos amigos dela, apoiava-a nessa empreitada. E nem assim, Santana desistia. Pelo contrário, só se inflamava ainda mais. E era isso que era mais apaixonante nela: Santana não ligava para os outros e defendia aquilo em que acreditava.

– Na verdade, eu não me referia a algo em meu currículo. – Santana proferiu baixinho, retirando Julianne de seus pensamentos. Os olhos acinzentados voltaram a brilhar e tornaram-se preocupados enquanto enxergavam os escuros, Santana sorriu e Julianne percebeu que ela corou levemente. – Eu vou ter você, isso basta. A vontade de te tirar dele me move, eu vou fazer aquele homem engolir cada agressão e cada dor que ele te fez passar. E, depois, eu vou te fazer feliz como jamais ninguém fez.

Julianne achou que, inconscientemente, seu coração parou de bater por cerca de 10 segundos antes de se tornar um corpo avançado e furioso explodindo dentro do seu peito. As lágrimas marejaram seus olhos antes que ela percebesse e a emoção, mesclada com o amor que sentia por aquela latina, impulsionou-a para frente. Julianne abraçou Santana e se agarrou a ela como se agarrava à vida.

Santana deu uma risada diante da impulsividade de Julianne e a recebeu de bom grado, envolvendo-a em seus braços e sentando-se no chão, trazendo-a para seu colo. Julianne aninhou-se e apertou os braços em volta do pescoço de Santana, respirando profundamente no pescoço moreno e sentindo cheiro almiscarado e familiar lhe entorpecer e a fazer se esquecer de tudo que pudesse acontecer de ruim naquela batalha. Tudo valeria a pena se Santana estivesse ao seu lado.

Santana lhe afagou os cabelos e beijou-lhe o topo da cabeça. Ao contrário de sua companheira, seu coração estava tranqüilo e paciente dentro do peito, pego em uma maré de calmaria que em nada se assemelhava às tempestades que vivera nos últimos anos. Brittany veio a sua mente apenas para lhe lembrar que já não importava mais. A ferida finalmente cicatrizara, afinal...

– Eu te amo.

A expressão fora proferida em tom de voz tão baixo que Santana não escutou. A latina afastou-se bruscamente e seus olhos encontraram os de Julianne, a ruiva estava tão tímida agora que um leve tom vermelho começava a tomar sua face, a partir do pescoço. Quando o cérebro de Santana finalmente começou a processar a fala de Julianne, a latina sorriu e, inconscientemente, perguntou emocionada:

– Como é que é?

– Droga, Santana! – Julianne exclamou inconformada, a vermelhidão lhe tomando o rosto. Santana se sobressaltou levemente. Nunca tinha visto a ruiva falar daquela forma. Julianne se levantou e caminhou alguns passos, envergonhada. – Não me faça repetir!

– Mas eu não escutei direito, baby... – Santana argumentou com um sorriso bobo nos lábios, o coração enfim esboçou reação e começou a bater acelerado. A latina se aproximou e fez um beicinho pedinte que fez Julianne revirar os olhos. A ruiva beijou-a rapidamente e respirou fundo, antes de dizer:

– Eu estou tão apaixonada por você...

Santana sorriu triunfante e envolveu a ruiva em um beijo possessivo e intimidador. A boca latina não esperou que Julianne lhe concedesse permissão e logo, a língua já brigava por espaço com a língua da ruiva. As duas apertaram-se uma contra a outra e os braços de Santana apertaram e arranharam a base das costas de Julianne que usava um vestido fino. Julianne gemeu, inconscientemente, e buscou apoio na parede atrás de si.

Mas aquilo só lhe deixou ainda mais exposta a Santana. Ainda a beijando, a latina apertou-se mais contra ela e arranhou-lhe as pernas, erguendo a barra do vestido e deixando um traço vermelho na pele branca. Julianne arfou quando a boca de Santana deixou a sua e foi até seu pescoço, sentiu as mordidas e, enfim, um chupão...

A campainha.

A mesma acabara de tocar, fazendo as duas mulheres se sobressaltarem. Ambas tinham os lábios inchados e Julianne tinha marcas pelo corpo e, principalmente, no pescoço. Santana sorriu maldosamente quando seus olhos chegaram ao chupão bem aplicado. Julianne franziu a testa e empurrou-a em direção a porta enquanto a ruiva ia para o quarto, verificar o estrago.

A campainha tocou novamente e Santana bufou, ainda excitada, enquanto caminhava para atendê-la. Abriu-a e deu de cara com um sujeito bem vestido em um terno sob medida, carregando uma maleta na mão direita e um envelope pardo na mão esquerda. A intuição de Santana, estranhamente, a impediu de chamar o homem para entrar, ela respirou fundo e cumprimentou:

– Bom dia, em que posso ajudá-lo?

– Sou Frances Pole, advogado do Sr. Michael Urie. – O homem grisalho anunciou, com um sorriso malicioso enquanto observava as roupas de final de semana de Santana: um short curto e uma camisa folgada. Dentro da casa, Julianne estacou no corredor quando escutou quem era. – Trago comigo uma intimação. O Sr. Urie deseja uma audiência pré-processual para que possamos discutir o pedido de divórcio.

– Não há o que discutir. Minha cliente não vai retirar o pedido. Vamos nessa até o fim! – Santana respondeu fria, cruzando os braços sobre o peito e assumindo aquele ar bitch que amedrontara jovens no colegial e hoje, fazia os melhores advogados do país engolirem em seco. Mas Frances Pole era tão bom ou melhor que ela, não se intimidou e aproximou-se. Olhava para ela, intimidador, antes de falar, umedeceu os lábios e avisou ironicamente:

– Então, acho bom que a senhorita e sua “cliente” trabalhem duro no caso. Vai ser realmente difícil vencer meu cliente.

– Sr. Pole, eu não o chamei para entrar. Sugiro que se afaste porque eu conheço um policial extremamente agressivo que ficaria satisfeitíssimo em te prender após uma queixa de invasão de domicílio. – Santana sibilou agressivamente e Pole afastou-se lentamente, ficando longe da soleira da porta, sorrindo com escárnio. Sabia que aquela garota era boa e seria uma batalha e tanto para seu currículo. Santana puxou o envelope das mãos do homem e, brevemente, olhou seu conteúdo, constatando que se tratava mesmo da intimação, respirou profundamente. – No mais, nos veremos na próxima semana, Sr. Pole. Não há necessidade de me ameaçar, você vai aprender com a prática que quem faz as ameaças aqui sou eu.

Sem esperar um cumprimento, Santana fechou a porta na cara do advogado e voltou para a sala de seu apartamento. Agora, sua cabeça latejava. Julianne veio do corredor, afobada e com lágrimas nos olhos, os ombros tremiam violentamente. Santana foi até ela e a envolveu em seu abraço, a sensação de imediata perda a tomou, ela fechou os olhos e impediu-se de chorar. Julianne respirou fundo e sibilou:

– Ele vai tentar me fazer desistir.

– E você não vai. Aliás, nós não vamos. – Santana anunciou firme e afastando-se para poder olhar Julianne. A confiança naqueles olhos forçou Julianne a acreditar mais uma vez em Santana. – Ninguém mais vai se colocar entre mim e minha felicidade. Por isso, eu não vou te perder. Muito menos, te entregar de bandeja para aquele desgraçado.

***

Quinn acordou cedo naquela manhã. Era domingo, um dia sem aulas e mais um dia para que a loira ficasse sozinha com seus pensamentos. E, naquele domingo, especialmente, ela gostaria de ter mais coisas em que pensar além dos próprios pensamentos. Afinal, seus pensamentos nem sequer eram seus, eram somente de Rachel Berry, a morena não saía de sua cabeça.

Era um mistério para Quinn compreender como tinha dormido depois da noite intensa que tivera. Primeiro Rachel com Finn, depois Puck, a confusão com Finn, Sam machucado, Rachel em sua porta... E o beijo. Era muita coisa para Quinn, ela não se lembrava de ter tantas sensações confusas dentro de si desde a gravidez. Tudo era confusão, tudo era bagunça e ela sequer sabia por onde começar a arrumar.

Decidiu-se por Sam, afinal, ele precisava de cuidados. O rapaz deveria parar de ser bondoso e gentil, vivia comprando brigas dos outros e acabava por se machucar quase sempre. Ele não tinha por que proteger Rachel... Mas Quinn bem sabia que era da natureza dele se colocar em frente aos outros, Sam fora o primeiro a protegê-la quando os Fabrays a abandonaram.

Mas mesmo que, nesse exato instante, estivesse terminando de se vestir para ir ao supermercado comprar os ingredientes do macarrão favorito de Sam, ela ainda pensava em Rachel. A pequena e intensa morena que, a cada dia que passava, mais lembrava aquela Rachel Berry do ensino médio. A sinceridade nas palavras dela e a impulsividade no beijo traziam a jovem Rachel de volta.

E só Quinn sabia como sentia falta dessa Rachel e como seu coração, nesse exato instante, batia descontroladamente contra a sua caixa torácica ao pensar naquela menina mulher. Ela estava tão apaixonada e, ao mesmo tempo, tão machucada... Essa dualidade estava consumindo, aos poucos, a racionalidade de seus atos. O coração batia apaixonado, mas a mente repassava todas as desconfianças, mentiras e mal-entendidos que tomaram sua vida naqueles últimos dias.

Primeiro, a sua própria fraqueza que afastara Rachel. Depois, o aparecimento súbito e mal-intencionado de Finn. Em seguida, a distância. E, finalizando, Finn e Puck, mais uma vez, metendo-se entre elas. Quinn nunca acreditara muito fantasmas do passado, mas no caso das duas, eles estavam atormentando e, principalmente, acabando com o presente de ambas.

Sabia que existia sua parcela de culpa... Quinn era orgulhosa para admitir quando errava, mas tratando-se de Rachel, parecia que era tudo ao contrário. Quinn dera-se conta do estrago fizera quando proferiu as palavras erradas e escutou de Rachel a declaração mais bonita que alguém tinha feito a ela.

Claro que não Rachel não merecia suas lágrimas... Mas e o amor? Quinn não sabia se ela merecia o que sentia, se Rachel merecia também, se as duas faziam aquilo valer a pena... No meio da ausência de final no passado, as duas estavam destruindo os próprios presentes.

Quinn resolveu parar de se questionar quando sentiu um pequeno filete lacrimoso escorrer por sua face esquerda. A loira respirou profundamente e apertou as próprias coxas, mordendo o lábio inferior e sufocando o choro teimoso. Depois, jogou o cabelo loiro para trás e fechou os olhos para sentir mais um filete escorrer, dessa vez, do lado direito... Aquelas pequenas lágrimas estavam, de certa fora, limpando-a por dentro.

Quando ninguém via, Quinn podia desabar.

Olhando, por entre as lágrimas silenciosas, focalizou Sam que dormia profundamente. Com os hematomas arroxeados e a respiração tranqüila. Quinn levantou-se e foi até ele na beira da cama, beijou-lhe a testa e saiu do quarto.

Porém, antes que saísse da casa, olhou por cima dos outros e percebeu que a solidão pertencia ao seu apartamento, mesmo com Sam ali... E Quinn teve que ser forte quando, enfim, percebeu que o seu apartamento parecia intensamente ocupado quando Rachel Berry estava ali dentro.

– Bom dia, Miss Fabray! – A voz excitada de Christine tirou Quinn do seu questionamento a respeito de qual massa de tomate levar. A professora olhou por cima do ombro e observou sua aluna caminhar rapidamente a ela. Christine tinha um sorriso aos lábios que não chegava aos olhos, como Quinn percebeu. Forçando um sorriso, Quinn cumprimentou-a com um aceno da cabeça e perguntou brincalhona:

– Sem treinamentos aos domingos de manhã e finalmente com tempo para ser uma adolescente normal?

– Me sinto muito mais leve assim, professora. – Christine respondeu com a animação típica dos adolescentes, Quinn deu uma pequena risada acompanhada pela sua aluna. A cheerio atual juntou as palmas das mãos e balançou-se, nas pontas dos pés, para frente e para trás. – Gostaria de agradecer a senhora por não ter desistido de mim na sua aula... Eu realmente adoro Literatura e quero ir para algum curso que a use.

– Fico feliz, Chris... – Quinn respondeu ligeiramente impressionada e abrindo um sorriso sincero dessa vez. Realmente compreendia porque todos diziam que Christine se parecia muito com ela. Talvez a relação com Claire fosse semelhante a que ela possuía com Rachel... – Já tem alguma ideia do que quer fazer?

– Ah bem... Não ria, professora. – Christine anunciou envergonhada e mordendo o lábio nervosamente, Quinn riu dela. A aluna respirou fundo. – Mas eu pensei em Artes Cênicas.

– Ah... Atuação. – Quinn murmurou saudosamente. As lembranças de seu Senior Year e do momento em que escolhera o seu sonho lhe vieram à mente... Bons tempos, de calmaria e tranqüilidade, de sonhos e esperanças. – É um sonho muito bonito, Christine.

– A senhora tentou Yale, não tentou? – Christine fez a pergunta que mais machucava Quinn. A aluna percebeu que começara a trilhar um caminho perigoso quando viu a expressão de sua professora despencar para uma máscara de profunda tristeza. Quinn agitou a cabeça e tentou fazer o sorriso voltar, mas sem sucesso, contentou-se em dizer calmamente:

– Yale e todos os programas de Artes Cênicas do país.

– A senhora passou? – Christine perguntou um pouco temerosa e desconcertada, a sua sede de informações era grande, maior que a sua culpa pelo desconforto de sua professora. Quinn mordeu o lábio e olhou em volta, procurando algo que lhe prendesse a atenção e sufocasse todas aquelas dores que lutavam para virem a superfície naquele momento, desconfortável, respondeu:

– Sim, eu passei. Mas antes que a senhorita me pergunte porque eu não fiz o curso, sugiro que fique mais um tempo depois da nossa aula, assim conversamos melhor.

– Posso lhe fazer outra pergunta, Miss Fabray? - Christine questionou insegura e com os ombros baixos. Quinn arqueou a sobrancelha para ela, mas fez sinal para que ela continuasse. - O que faria se estivesse apaixonada?

– Ahm, é... Como? - Quinn perguntou confusa e se perguntando se toda a sua relação com Rachel estava tão na cara sim. As bochechas de Christine ficaram coradas e ela, envergonhada, respondeu:

– Digamos que uma amiga minha esteja apaixonada por uma pessoa que não parece ser a certa, mas parece ser a real para ela... O que ela deveria fazer?

Rapidamente, Quinn entendeu a situação e sorriu. Desconfortável, a professora respondeu:

– Acho que deveria lutar por ela.

– Desculpa, mas... Eu estou incomodando, Miss Fabray? – Christine perguntou insegura, era muito astuta e percebera que a professora estava um pouco incomodada com a conversa. Quinn franziu a testa, amaldiçoando-se por ser tão transparente, a professora mordeu o lábio e viu-se sem saber como responder. Foi salva pelo gongo.

– Christine, querida, venha até aqui... Quero que conheça uma pessoa!

A mãe de Christine vinha caminhando pelo corredor. Ao contrário da filha, os seus cabelos eram curtos e pendiam mais para o castanho-claro do que para o tom loiro, ela tinha um ar jovial e em nada se parecia com as mães dos seus demais alunos. A mulher expressou-se confusa quando viu a adulta que acompanhava a filha, Christine sorriu grandemente e disse animada:

– Também quero que você conheça alguém, mamãe!

– Ah então você vai primeiro... Depois vamos de encontro a minha amiga! – A mãe anunciou animada e caminhando mais rapidamente. Quinn pegou a massa de tomate que escolhera anteriormente e aprumou-se o melhor que pode, portou-se do seu mais gentil sorriso. Christine a puxou pelo braço e colocou-a de frente para a mãe, dizendo orgulhosa:

– Mamãe, essa é Quinn Fabray, minha professora de Literatura.

– Ah sim, já ouvi falar muito de você! Prazer, eu sou Elizabeth, mãe de Chris. – Elizabeth aproximou-se com ansiedade, beijando ambas as bochechas de Quinn que corou furiosamente enquanto sorria desconcertada. A mãe apanhou Chris e a abraçou de lado. – Chris te admira muito, diria que é sua fã.

– Obrigada, mas só faço meu trabalho. – Quinn respondeu sem jeito, agitando as mãos. Estava prestes a elogiar Christine quando escutou uma voz familiar interromper sua fala, ao chamar:

– Elizabeth?

– Olá, Judy! – Elizabeth exclamou excitada, dando às costas a Quinn e concentrando toda a sua atenção na recém-chegada. No mesmo instante, Quinn ficou pálida e trêmula. Christine observou quando os olhos de sua professora se arregalaram e em como ela tentou fugir, mas foi impedida por uma voz aguda a exclamar:

– Que coincidência Quinn também estar aqui!

Judy Fabray observava a filha com um misto de surpresa e curiosidade. As duas eram extremamente parecidas, mas naquele momento, estavam assemelhando-se muito mais a desconhecidas. Quinn engoliu em seco e respirou fundo, aprumou a postura e tranqüila, respondeu:

– Olá, Judy.

– Vocês se conhecem? – Elizabeth perguntou inocentemente confusa. Quinn crispou os lábios e não respondeu, desviando os olhos dos azuis da mãe e procurando concentrar-se em qualquer coisa, menos naquela situação desagradável. Christine olhou de lado para a professora e preocupada, perguntou:

– Está tudo bem, Miss Fabray?

– Sim, claro. Só estou apressada! – Quinn proferiu em um tom mais alto do que o empregado pela sua aluna. As duas mulheres mais velhas olharam para ela, Elizabeth deu um sorriso sem graça e Judy franziu a testa. A professora deu o melhor dos seus sorrisos gentis e suspirou. – Tenho alguns trabalhos para corrigir. Mas Elizabeth, Judy é minha mãe, só não nos falávamos há tempo.

– Ah... Então é um reencontro? – Elizabeth questionou excitada, com um sorriso animado nos lábios. Christine parecia ser a única das duas que percebera o clima desconfortável na conversa, a cheerio procurou alertar a mãe com um puxão no braço que ela não entendera. – Você nunca me disse que tinha uma filha, Judy!

Quinn deu uma gargalhada educada e falsa, Christine e Judy olharam para ela. Sua aluna estava impressionada com as atitudes da professora e Judy parecia querer matá-la a qualquer momento. Quinn não se abalou e disse em tom de desculpa:

– Pergunte a ela, Elizabeth. Eu realmente tenho que ir agora. Por isso, foi realmente um prazer conhecer você.

Quinn saiu dali antes que Christine pudesse terminar o aceno ou Elizabeth pudesse pedir para que ela ficasse mais. Judy nem procurou chamar atenção da filha, mas se Quinn pudesse olhar através de seus ombros, teria visto uma rápida sombra de melancolia passar através dos olhos claros da mãe.

Quinn apertou a bolsa de encontro ao próprio corpo e caminhou mais rápido, praticamente correndo pelo corredor do mercado e virando na primeira seção que encontrara. Estava ofegante, seu coração batia acelerado e seus pulmões doíam pelas tentativas de respirar. E seus olhos ainda marejavam.

A professora sabia que seus pais não mereciam suas lágrimas, sabia que sequer deveria chorar. Mas eles eram seus pais, ainda era o sangue de ambos que corria em suas veias. Por mais que as imagens de heróis tivessem sido desintegradas há muito tempo, ela ainda tinha lembranças dentro de si que vinham à tona quando se lembrava ou os via pela cidade... Bruscamente, Quinn foi puxada de seus pensamentos para um corredor adjacente ao que caminhava.

Lutou contra seu suposto agressor, mas parou quando viu os olhos esverdeados tão parecidos com os seus, mas muito mais frios e distantes. Russel Fabray a puxara e agora, apertava seu antebraço com uma expressão decepcionada e visivelmente impaciente. Quinn engoliu em seco, seus lábios tremiam quando ela proferiu:

– O que você quer?

– Você realmente não cansa de nos envergonhar, Lucy? – Russel questionou em uma fúria silenciosa, mas que fazia uma veia saltar de seu pescoço. Quinn fechou e apertou os olhos pela dor em seu braço e pela angústia de escutar aquele nome. – Você vai voltar lá e ao menos fingir que fez algo com a educação que nós lhe demos.

– Com a educação sim, mas a hipocrisia com a qual eu convivi por anos... Dessa eu abri mão! – Quinn retrucou em um tom corajoso, o qual Russel desconhecia. O homem também viu algo diferente nos olhos da filha, uma fúria inabalável que não estava presente ali da última vez que se viram. Russel abriu a boca e fechou-a várias vezes, procurando as palavras que pareciam ter sido sufocadas por aquele olhar da filha. Por fim, suspirou e continuou friamente:

– Ao menos pense na sua aluna! Eu e sua mãe sabemos que esses pirralhos são importantes para você!

– Olhe lá como fala dos meus alunos, Russel... Eles são muito mais dignos da vida do que você jamais será! – Quinn estava enfurecida agora, os olhos estavam em um tom verde vivo extremamente agressivo. Em um único golpe rude, separou-se do pai e cuspiu nos pés dele, com nojo e repulsa. – Eu nunca pedi nada a vocês depois da formatura do ensino médio, nunca dei satisfação alguma a vocês. Eu não devo nada a vocês!

Quinn saiu desabalada pelo corredor e terminou por deixar as compras. Perdeu completamente a racionalidade e o ritmo de seus pensamentos. O reencontro com seus pais pareceu ser mais um dos muitos golpes da realidade que andara recebendo. Não se recordava de como era fraca perto deles. Nem de como eles a afetavam. Mas aí se lembrou de que aquilo tudo era estranho porque uma parte essencial de sua força se fora. Rachel não estaria em casa para abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem.

Subitamente, percebeu que nem Sam a faria bem no momento. Não havia substituição para o que era único. E, sufocando as lágrimas, Quinn entrou no carro e saiu do estacionamento a plena velocidade.

***

Sam abriu os olhos, mas preferia não o ter feito. Imediatamente, dores em pontos de que ele duvidava existir em seu corpo, começaram a se fazerem presentes. O rapaz gemeu quando se colocou sentado. Aquilo não era uma ressaca, ele passara por muitas na vida para diferenciar contusões pós-brigas de lesões por causa do álcool.

E estava no apartamento de Quinn, afinal. Alguém o trouxera ali e ele rezava, de verdade, para que não fosse Rachel. Senão, Quinn estaria um caco, naquele momento.

Enquanto colocava o cérebro para funcionar na freqüência de seres humanos normais, Sam escutou o barulho de chaves e, minutos depois, a porta do quarto se abriu. Quinn tinha uma expressão tristonha, a qual tentou esconder com um sorriso melancólico que só fez Sam fechar a cara para ela. O rapaz remexeu-se e acomodou um travesseiro nas costas que doíam e, dolorido, disse:

– Pode parar, eu te conheço há tempo demais para saber que tem uma coisa muito errada aqui.

– Não tem nada errado. Só estou preocupada contigo. – Quinn respondeu rapidamente e Sam apenas franziu a testa, aquela resposta era ensaiada demais. A grande desvantagem que os anos concederam a Quinn foi a incapacidade dela em mentir para Sam.

A loira ignorou o olhar inquisidor que Sam lhe direcionava, também ignorou os muxoxos do rapaz e concentrou-se em guardar a bolsa, demorou um tempo maior que o necessário. Mas quando se virou novamente, para o rapaz, Sam a observava com um ar entediado. Ele suspirou e, agressivo, perguntou:

– O que raios aconteceu, Fabray?!

Quinn não respondeu e praticamente correu para fora do quarto. Com uma força sobre-humana e dores desumanas, Sam levantou-se bruscamente da cama e seguiu a amiga, estava extremamente decidido e bastante irritado. Alcançou-a no meio do corredor e segurou-a pelo pulso, rudemente. Quinn puxou o braço bruscamente e virou-se ofendida para ele, ela tinha as íris verdes extremamente vivas e crispava os lábios.

Não era preciso ser nenhum gênio. Quinn estava furiosa.

– Qual é o seu problema, Evans?! – Quinn perguntou com a voz levemente alterada, porém, permanecendo fria em sua expressão. Sam arqueou a sobrancelha para ela e respirou profundamente, sua cabeça estava latejando. O rapaz olhou para a amiga inquieto e questionou inconformado:

– Eu que pergunto! Por que você está se fechando de novo?

– Eu não quero falar sobre isso, Samuel. – Quinn respondeu fria e voltando a colocar sua tradicional máscara de gelo que costumava defendê-la contra qualquer discurso ou interrogatório de Sam.

Porém, a sombra que estava em seus olhos verdes só deu o que Sam precisava para continuar a insistir, mesmo depois dessa negativa tão clara. Quinn estava se perdendo de novo e, dessa vez, não era se perder pela mudança e sim, pela destruição. Sam não queria atribuir culpa a ninguém, mas estava claro que aquilo tudo tinha relação com Rachel Berry.

Subitamente, os punhos do rapaz se fecharam e ele bufou, raivoso. Ele dera uma chance a mais para aquela mulher ao menos tentar consertar as coisas, ele lhe ajudara com o cretino do Finn... Apanhara por ela para, no dia seguinte, encontrar a amiga ainda mais quebrada do que estava antes.

Rachel voltara à vida de sua melhor amiga. E, se antes, a vida de Quinn funcionava em uma rotina que lhe fazia esquecer... Agora, nem mesmo a rotina parecia fazer Quinn voltar aos eixos.

Sam estava furioso por ter a sua confiança quebrada dessa forma. Ele realmente achou que Rachel não fosse a mesma que chegou à Lima. Mas, aparentemente, Rachel ainda estava egoísta... Porque só o egoísmo justificava a atitude dela naquele momento. Será que ela não percebia o quanto Quinn a amava?

– E antes que você comece a culpar a Rachel, saiba que a minha vida não gira em torno dela. - Quinn disse amarga, cruzando os braços na altura dos seios e arqueando a sobrancelha, desafiadoramente, para o amigo. Sam revirou os olhos, Quinn jamais admitiria que estava sofrendo.

Era bem a cara dela, anos sozinha só a tornaram mais resistente à piedade alheia. Mas o rapaz não a deixaria em paz tão cedo assim, somente ele poderia ler os pedidos mudos de socorro que os olhos dela exclamavam. Sam se aproximou dela novamente e, a contragosto da própria, a abraçou fortemente e sussurrou:

– Quinn, sou eu, o Sam. Seu ex-namorado, melhor amigo e irmão de alma. Por favor, me fale o que ela fez. Ou eu vou tirar satisfações com ela sem ter razões para fazer isso.

– Droga, Sam! - Quinn exclamou frágil e trêmula, se afastando do peito musculoso do rapaz apenas para dar a ele uma visão de seus olhos esverdeados chorosos. - Por que você faz isso comigo?!

– Eu que te pergunto, Quinnie! Por que você ainda insiste nela? Antes, eu realmente queria que vocês duas tentassem, mas agora... - O rapaz não terminou a frase, nem era preciso. Quinn entendeu o silêncio dele melhor do que se ele tivesse gritado as palavras que ela não queria escutar.

Rachel e ela talvez fossem para ser, mas agora, não mais. As duas estavam tão machucadas e calejadas pela vida que ambas não podiam sustentar algo que, aparentemente, era sustentado por sonhos e resquícios da antiga personalidade juvenil que ambas possuíram. No caso das duas, o tempo não fora o melhor amigo e sim, o cruel juiz e executor das sentenças.

Ou elas se apaixonavam de novo, ou o que sustentava as duas se perderia no tempo...

– Eu não insisti nela, Sammy. Ela que insistiu. E sabe o que mais doeu em mim? - Foi uma pergunta retórica, mas Sam percebeu que a pergunta estava machucando Quinn de uma forma que nem os seus gritos puderam feri-la. Quinn afastou-se novamente dele e deu um sorriso de lado, cansada e triste. Sam segurou-lhe o rosto e limpou as lágrimas, um soluço desmontou ainda mais seus ombros caídos e sua cabeça baixa. Ela suspirou. - O que mais me machucou foi que eu não insisti porque sabia que nós duas tínhamos, finalmente, chegado ao fim.

Sam arregalou os olhos, impressionado. Ele esperava tudo da amiga, menos aquilo. Quinn costumava ser perseverante quando acreditava em algo.

Então, por que ele só conseguia ver a incerteza nos olhos da amiga? Quem tirara a fé dela? Rachel? Finn? A realidade?

Sam não sabia, a única coisa que pode fazer foi a puxar para seu colo e abraçá-la. Ele podia ser o protetor da loira aninhada em seus braços. Mas ele não era dono da esperança no mundo.

Rachel sabia que estava lavando o mesmo prato pela terceira vez. Assim como sabia que estava sendo observada pelo seu pai Leroy que trocava olhares preocupadíssimos, porém, disfarçados com seu papai Hiram. Ela também tinha certeza que estava apática e calada desde o momento que acordara. Sabia que estava uma bagunça e que tinha várias coisas para fazer. E também sabia que seu celular tocara mais de oito vezes naquele dia e que todas as chamadas pertenciam a Finn Hudson.

Ela podia saber disso tudo, mas ainda fingia que não. Fingir que não doía tornava tudo mais irreal e menos sufocante. Fingir parecia trazer Quinn para perto de si.

– Rachel Barbra Berry, se você lavar esse prato pela sexta vez, eu juro que vou lhe internar em um hospício em que você sequer poderá escutar Barbra Streissand! - Leroy exclamou indignado, aproximando-se decididamente da filha e a puxando pelo braço para longe da pia da cozinha. Hiram arqueou a sobrancelha para a atitude, mas permaneceu impassível em seu canto. Rachel suspirou um pouco irritada e pigarreou:

– Eu estou bem, pai. É sério. E não era a sexta vez e sim, a quarta.

– Como se lavar a louça mais de duas vezes fosse normal. E repita, várias vezes, a si mesma que está bem, quem sabe você nos convença. - Leroy respondeu friamente e carregando a filha até a poltrona antiga da sala, colocando-a sentada ali e dando um olhar significativo a Hiram que engoliu em seco, antes de voltar à cozinha.

Rachel olhou para Hiram que correspondeu ao olhar da filha. Por mais que a situação entre os dois estivesse tensa desde que ela voltara a morar com eles, Hiram ainda era o que fazia os silêncios valerem mais que os discursos teatrais de Leroy. O homem ajeitou os óculos na ponte do nariz e perguntou:

– Quer falar sobre ela?

– Você não precisa agir como se importasse, papai. - Rachel respondeu na defensiva, mas soou tão cheia de fúria que Hiram recuou inconscientemente e respirou fundo. Leroy voltou à sala com um copo de água e colocou em frente à filha, Rachel revirou os olhos. - Eu não estou triste.

– Claro que não, a antiga Rachel ficaria triste. Você está com uma expressão fria e assassina. Mas a filosofia é a mesma, beba até melhorar. - Leroy soou tão mandão e repreensivo que Rachel apenas o obedeceu de cabeça baixa e respirando profundamente entre os goles de água.

Ela tomou três copos, em outras ocasiões, isso significaria que ela estava muito triste. Mas ela continua firme até o último gole, até que, quando baixou o copo, as lágrimas vieram aos seus olhos e ela, finalmente, as exteriorizou. Leroy e Hiram se entreolharam e foi o mais alto que envolveu a filha em um abraço apertado e disse tristonho:

– Chore, querida.

– Eu não deveria chorar por ela! - Rachel exclamou transtornada e soltando-se do pai. Agora, ela caminhava de um lado para o outro em frente aos dois, gesticulando. - A culpa não foi minha. Ela que resolveu não acreditar mais em nós duas!

– Eu disse que isso ia acabar assim. - Hiram sibilou ácido, recebeu um olhar furioso de Leroy e uma careta incrédula de Rachel. A pequena continuou sua caminhada e seu discurso:

– Eu não dei muitos motivos a ela. Eu estive lá quando tudo escapuliu por entre os dedos e quando eu pedi o mesmo, ela fugiu, ela traiu... Ela voltou a ser a mesma Quinn Fabray do ensino médio!

– Rachel, querida... Meça suas palavras. Frases ditas no calor da raiva são as menos dotadas de verdade. - Leroy bronqueou sério, foi a vez de Hiram olhar incrédulo para ele e bufar impaciente. Rachel abriu a boca, mas não teve tempo de questionar. - Você e Quinn estão passando por uma crise. Mas, aparentemente, o tempo não passou ainda e vocês agem como adolescentes, deixando dois garotos irresponsáveis condenar a felicidade de ambas.

Rachel inclinou a cabeça para o lado, seu lábio inferior tremeu e ela, inevitavelmente, chorou. Leroy não se mexeu para abraçá-la dessa vez e deixou essa função a Hiram que, agora, o olhava com repreensão. Rachel tremeu nos braços do seu papai e soluçou várias vezes.

Ela sabia que seu pai estava tentando ajudar, mas ele não sabia de metade da história.

Ele não vira o vazio nos olhos de Quinn, nem muito menos observou a expressão decepcionada e sem esperanças da loira. Aquela raiva e fúria aparentes foram uma espécie de escudo que Rachel criara em sua vida em NYC para esconder suas fraquezas. Era bem mais fácil quebrar tudo do que lidar com seus próprios demônios. E agora, seus demônios estavam fazendo um verdadeiro estardalhaço em sua consciência.

Porque ela sabia, bem fundo, dentro de todas as suas camadas que a culpada daquela situação ter chegado naquele ponto era ela mesma. Foi ela quem caiu quando Quinn precisou dela, foi ela que trouxe Finn de volta para a vida de ambas, fora ela que deixara Quinn na segunda opção... Uma hora, Quinn abriria mão de tudo. Não era do feitio de Quinn lutar pelas causas perdidas. E não era errado, Quinn Fabray era precavida, ao menos, se tornara depois de todos os seus erros.

Hiram remexeu-se incomodado em seu lugar, amparando o corpo da filha. Buscou ajuda em Leroy que apenas agitou a cabeça negativamente e se levantou de seu lugar, voltando à cozinha com o copo de água vazio. Rachel olhou por entre os braços de seu papai e suspirou profundamente antes de perguntar:

– Não vai dizer nada, pai?

– Não. - Leroy respondeu calmamente, da cozinha, sem olhar para filha ou para o marido. - Está na hora de você lidar com suas escolhas e com os conselhos que você acata, Rachel. Só se lembre que Quinn não vai estar aqui para sempre.

Rachel fechou a expressão para ele e olhou para o papai Hiram, transtornada, antes de levantar-se abruptamente e subir as escadas correndo, ambos, escutaram o choro da filha. Hiram colocou-se em pé, batendo nas coxas e sibilou irritado:

– Você podia pegar mais leve com ela.

– Por que deveria? Foi você que a mandou sair de perto do amor da vida dela, Hiram. - Leroy respondeu friamente, Hiram caminhou surpreso até a cozinha e os dois se olharam enérgicos. - A culpa não é sua, mas você não é inocente também.

***

A segunda-feira começou mais pesada do que deveria. Quinn Fabray não agüentava mais o estresse e o descontrole em sua vida. Depois da conversa que tivera com Sam, o rapaz estava com o modo protetor em operação e não saía mais de sua casa. E diante de toda a confusão com Rachel, Quinn não tivera mais notícias de Santana. Mas sabia muito bem que se a latina estivesse encrencada, isso não passaria em branco.

Não cruzara com Rachel pelos corredores do McKinley e tinha a nítida impressão de que a morena estava fugindo dela. Não que quisesse encontrá-la, mas só estava curiosa para saber como Rachel estava.

A morena, por sua vez, estava preocupada com a proximidade das Nacionais e com o clima tenso que se instalara em sua casa depois da pequena conversa com seus pais. Isso sem mencionar o clima pesado que se instalara sobre o Glee Club. Naquela aula, os olhares trocados entre Christine e Claire estavam tão palpáveis que até mesmo Arthur e Ryan estavam percebendo.

– Pessoal, precisamos da seleção das músicas das Nacionais. Eu permiti que vocês me ajudassem a escolher as canções, mas vocês não estão sugerindo nada. - Rachel bronqueou impaciente, olhando para o rosto de cada um de seus alunos. Todos pareciam receosos em sugerir uma canção que pudesse fracassar todos os seus planos.

Christine estava de cabeça baixa, no canto da sala, parecendo não pertencer ao colégio agora que já não trajava o uniforme das Cheerios. Mellody e Nancy permaneceram ao seu lado, mesmo diante das ameaças da Coach Sylvester em expulsá-las do esquadrão, ao menos as duas pareciam ser mais fiéis do que Santana e Brittany foram com Quinn um dia.

Surpreendentemente, após a fala de Rachel, a mão que se ergueu no ar foi de Christine. A loira estava trêmula e insegura, respirava pesadamente e suspirava profundamente quando o fazia. Rachel olhou surpresa para ela e perguntou:

– Sim, Chris?

– Eu gostaria de cantar uma música. - A voz de Christine não estava tão insegura assim. Ela finalmente ergueu os olhos e colocou-os na direção de Claire, disfarçadamente. - Não estou sugerindo-a para a competição. Só quero desabafar, como a senhora disse que poderíamos fazer.

– Ah claro, fico feliz que se sinta mais à vontade. Pode ir, o palco é seu. - Rachel respondeu com um sorriso ameno, olhando discretamente para Claire que estava de cabeça baixa e com as bochechas coradas. O resto do Glee fez caretas estranhas e confusas, mas ambos acataram.

Christine pediu para Brad deixar o piano com ela e a surpresa foi ainda maior, o pianista fez uma careta e quase implorou para não ser afastado de seu piano, mas Christine parecia decidida. A morena chamou Arthur e Ryan com um sinal e ambos apanharam os violões e sentaram-se próximos a ela. A ex-cheerio pousou as mãos sobre as teclas e ia começar quando a porta da sala do coral se abriu.

Quinn Fabray entrou afobada, com toda a elegância e simplicidade que lhe eram natuais. A loira sorriu envergonhada e Rachel achou extremamente fofo quando as bochechas dela coraram levemente.

– Me desculpe o atraso, Chris. Me seguraram na sala. - Quinn se desculpou educamente e sentou-se próxima à porta. Rachel percebeu o quão nervosa e desconfortável ela estava quando a viu remexendo os dedos. Em nenhum momento, os olhos verdes encontraram os castanhos.

Rachel suspirou derrotada e voltou a olhar para sua aluna. Christine assentiu e tocou as primeiras notas sendo acompanhada pelos rapazes nos violões. A loira respirou profundamente e, de olhos fechados, entoou os primeiros versos:

Written in these walls are stories

That I can’t explain

I leave my heart open

But it stays right here empty for days

Rachel desviou os olhos de Christine para observar Claire que, assim que reconheceu a músicas, teve os olhos brilhando e um pequeno sinal de sorriso em sua bochecha esquerda. Rachel sorriu para a reação dela e olhou para Quinn. Os olhos verdes estavam, finalmente, a observando.

She told me in the morning

She don’t feel the same about us in her bonés

It seems to me that when I die

These words will be written on my stone

Ambas sentiram quando os corações aceleram ao mesmo tempo. Também leram, uma no rosto da outra, quando o ar faltou e ambas ofegaram. Rachel viu quando Quinn mordeu os lábios e as lágrimas chegaram aos olhos verdes. Quinn viu quando Rachel respirou profundamente e engoliu o seco e as lágrimas.

And I’ll be gone, gone tonight

The ground beneath my feets is open wide

The way that I been holdin’ on too tight

With nothing in between

O contato visual entre as duas foi rompido bruscamente quando Rachel sentiu seu lábio tremer e quase se viu chorando em frente aos seus alunos. Deu um sorrisinho desconfortável e tornou a virar-se para frente e observou Christine. Porém, sua aluna estava tão ou pior que ela. As lágrimas estavam descendo discretamente por suas bochechas, Arthur tocava e a observava, preocupado. Ela apenas se concentrava nas notas.

The story of my life, I take her home

I drive all night to keep her warm, and time

Is frozen (the story of, the story of)

The story of my life, I give her hope

I spend her love, until she’s broken inside

The story of my life (the story of, the story of)

Quinn, por sua vez, recuperava-se de seu baque ao observar Claire que, agora, assistia Christine cantar com um olhar inconsolável. A pequena morena respirou profundamente quando a voz da ex-cheerio arranhou e fraquejou no refrão. Claire estava sentada na ponta da cadeira, afoita. E Rachel estava com lágrimas seguras nos olhos, olhando somente para Christine.

Written on these walls

Are the colors that I can’t change

Leave my heart open

But it stays right here, in its cage

Rachel respirou profundamente e abaixou a cabeça. Aquela música estava revirando toda a situação que ela e Quinn guardavam dentro de si. Sabia que a sua loira não estava insensível àquela canção, afinal, não duvidava do amor de Quinn e sim, da coragem dela. As duas estavam sendo covardes ali, as duas disseram que não dava para continuar quando só existia um pequeno obstáculo entre elas. As duas fraquejaram, uma pela outra.

I know in the morning now

I’ll see us in the light upon your ear

Although I’m broken

My heart’s untamed still

Nesse momento, Christine finalmente ergueu os olhos das teclas que tocava. Primeiro, ela olhou para Arthur que lhe sorriu compreensivo, o próprio tinha lágrimas nos olhos e apenas acenou afirmativamente com a cabeça. Ryan sorria tranqüilo e parecia feliz apenas por estar ali. Christine finalmente olhou para Claire e cantou:

And I’ll be gone, gone tonight

The fire beneath my feet is burning bright

The way that I been holdin’ on so tight

With nothing in between

Claire encarou os olhos de Christine e, a partir daí, as duas não romperam mais o contato visual. Assim como Quinn e Rachel que, agora, observavam-se com uma mágoa silenciosa pairando entre elas.

The story of my life, I take her home

I drive all night to keep her warm, and time

Is frozen (the story of, the story of)

The story of my life, I give her hope

I spend her love, until she’s broken inside

The story of my life (the story of, the story of)

Christine rompeu o contato visual quando Claire sorriu para ela. A pequena morena ficou sem entender, Christine pareceu lutar contra a emoção e com muito esforço, tocou as teclas e cantou, machucada:

And I been waiting for this time to come around

But, baby, running after you

Is like chasing the clouds

Quinn percebeu quando Rachel, finalmente, quebrou. Um filete silencioso de lágrimas escorreu pela bochecha morena e ela o limpou, com um sorriso triste e dando de ombros. A morena colocou a mão direita sobre o peito esquerdo e suspirou. Silenciosamente, Quinn viu quando os lábios dela proferiram “Eu te amo, não se esqueça disso.” A loira perdeu o ar. Rachel ainda a amava.

The story of my life, I take her home

I drive all night, to keep her warm and time

Is frozen

Christine não vacilou no refrão, dessa vez. Mas todos perceberam como a voz da ex-cheerio estava quebrada e fora do ritmo, mas nem mesmo esses pequenos erros tiravam a sinceridade e a beleza do que ela cantava. Claire olhava preocupada para ela, observando mais atentamente, percebia-se as pontas dos dedos brancos, de tanta força com a qual ela agarrava os bordos da cadeira para não se levantar.

The story of my life

I give her hope (give her hope)

I spend her love, until she’s broken inside

The story of my life (the story of)

Rachel ainda olhava emocionada para Quinn quando viu a porta atrás dela se abrir e Finn Hudson entrar por ela, com um sorriso convencido. A morena levantou-se furiosa e apertando os punhos, o rapaz assustou-se com a expressão dela e deixou cair o buquê de flores que carregava. Quinn olhou por cima dos ombros e quando viu de quem se tratava, fechou a expressão e tudo que ambas compartilharam naquela música, se perdeu.

The story of my life...

Christine finalizou a música e a melodia. Todos estavam muito embasbacados para aplaudir, o único que fez foi o recém-chegado. Finn bateu palmas desajeitamente e nem a admiração que Ryan e Arthur tinham por ele fez com que ambos os rapazes não olhassem feio para o quaterback.

Rachel caminhou até Finn ao mesmo tempo em que Claire se levantava e não deixava Christine sair da sala. Rachel levou Finn para fora, praticamente arrastando-o no caminho e Claire aproximou-se inquieta de Christine e perguntou nervosa:

– O que você pensa que está fazendo?!

– Pense o que quiser, Claire. Eu fui muito sincera em tudo que eu cantei. - Christine respondeu melancólica e apanhando as partituras, finalmente ergueu os olhos para a morena a sua frente. Todos observavam a interação das duas, sem entender. - É a hora de você começar a pensar um pouco mais com a sua cabeça e não com a dos outros.

– E o que você quer que eu pense? Que você quer me proteger? Que você me quer por perto? - Claire explodiu em um misto de fúria e lágrimas que fez todos se sobressaltarem em suas cadeiras. Arthur e Ryan ficaram entre as duas, prontos para fazerem qualquer coisa. Christine ficou boquiaberta. - Quer que eu pense que você me ama?

– Eu quero que você acredite nisso, Claire. - Christine foi tão sincera e tão visceral em tudo que dissera que Claire deu um passo para trás, atordada. Murmúrios percorreram a sala do Glee, Richard estava fora de si enquanto Mellody e Nancy riam. - Eu quero que você acredite que eu te amo, que eu quero te proteger e que eu te quero comigo. Eu quero que nós duas superemos tudo que já aconteceu entre nós para nos darmos uma nova chance. Eu não quero ter que viver sem saber se íamos ou não dar certo.

Claire abaixou a cabeça e começou a chorar. Christine suspirou e largou as partituras sobre o piano, aproximou-se sorrateiramente da morena e com o rosto inquieto, disse:

– Eu já perdi tanta coisa, me deixe pelo menos ganhar o seu coração.

Claire ergueu os olhos e Christine limpou suas lágrimas. A morena ficou na ponta dos lábios para aplicar-lhe um selinho casto nos lábios. Quinn assustou-se quando todo o coral aplaudiu e Christine abraçou Claire, girando-a com ela em seus braços. Arthur e Ryan e engolfaram em um abraço que logo, tornou-se de todo o New Directions. Quinn observava tudo com um sorriso triste.

Queria voltar a ser adolescente, quando serenatas resolviam o mais complicado dos casos de amor... No meio da bagunça, os olhos de Christine encontraram os de Quinn, a aluna sorriu e proferiu mudamente:

“Acho que deveria lutar por ela.”

Quinn arregalou os olhos, espantada. Mas Christine sorriu por ela antes de ser beijada novamente por Claire. A jovem professora olhou ao seu redor e não encontrou Rachel em lugar algum com Finn. Observando pela janela, viu os dois. Rachel gesticulava e parecia irritada. Finn a olhava com aquele sorriso convencido.

Nutrida de bons conselhos e de uma adrenalina nunca experimentada, Quinn sentiu seu coração acelerar e, decidida, caminhou até a porta, abrindo-a com força. Rachel discutia, mas tinha o tom de voz controlado:

– ... Não vai acontecer nada entre nós, Finn!

– Por que? Nós nos beijamos naquela noite! - Finn argumentava arrogante e se achando o cara mais atraente da Terra. Ele se aproximou de Rachel e a mesma recuou, esbarrando em Quinn que estava logo atrás dela. Rachel se assustou e olhou confusa para Quinn. A loira tocou-lhe a cintura, delicadamente e uma corrente elétrica percorreu todo o seu corpo.

– Porque ela está comprometida, Hudson. - Quinn sibilou friamente, colocando o corpo a frente de Rachel. A morena respirou profundamente e controlou a vontade de sorrir que só aumentou quando Quinn entrelaçou a mão na sua. - Comprometida comigo.

– Só pode ser brincadeira! - Finn disse entre gargalhadas, ele arqueou a sobrancelha e aproximou-se das duas. - Fabray e Berry juntas? O que pode ter unido vocês duas? O fracasso, por acaso?

– Não, uma coisa que você nunca teve dela... Porque desde o ensino médio, quando ela estava com você, ela já me amava. - O tom de voz de Quinn era o mesmo que, por quatro anos, amedrontara qualquer aluno do McKinley. Era a HBIC que estava ali, defendendo a sua garota. Finn estava sério e a careta em seu rosto era de quem comia algo e passava mal. - Você nunca a teve, ela sempre foi minha e não é agora que você vai tirá-la de mim!

– Eu posso realizar os sonhos dela, você pode, Fabray? - Finn perguntou certeiro e arrogante. Ele era rico ali, ele morava próximo a New York. Mas se enganava quem pensava que os sonhos de Rachel ainda fossem esses. Quinn fraquejou na discussão pela primeira vez. Rachel percebeu quando os ombros dela caíram e, por isso, tomou a frente:

– Dê o fora, Finn. Eu não quero meus sonhos de volta se for para vivê-los sem ela. Mais do que meus sonhos, Quinn é a minha vida agora.

Finn jogou o buquê no chão antes de esmurrar a janela e quebrar o vidro da sala do coral. Os alunos que riam ali dentro, imediatamente, se calaram para observar a cena. Quinn tirou a morena de perto de Finn enquanto o quaterback caminhava para longe delas, tinha certeza que viu lágrimas mancharem a elegante camisa social que ele usava.

Quando Finn finalmente virou o corredor, Rachel olhou para Quinn que apenas lhe sorriu e piscou para ela. Rachel a abraçou pela cintura e afundou a cabeça em seu peito, as duas ficaram em silêncio abraçadas sem se preocupar com os seus alunos que, naquele momento, sorriam extasiados.

As palavras poderiam ser ditas depois.

***


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Notas finais do capítulo

Acho que acabei surpreendendo a todos, não é? Confesso que eu mesma me surpreendi com os rumos que os personagens, inconscientemente, tomaram nesse capítulo.

O que acharam de Claire / Christine?
E de Faberry?
E de Julianne / Santana?

Sei que não tenho o direito de pedir, mas por favor, comentem.

PS: Seria muita crueldade não mencionar a "amariacarol". Muito obrigada pela mensagem e pela torcida. Estou de volta! :)

Bem, é isso. Até mais, quem sabe, sai capítulo novo até de Everlasting Hahahahaha

Beijos,
FerRedfield



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