Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 19
Armadilhas


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoas!
Bem, como vocês estão? Espero que a segunda-feira traga bons ventos para uma ótima semana a todos... Aqui está tudo na maior paz e no frio :X Estou de férias e, como disse a vocês, estou trabalhando nas fanfics, tentando atualizá-las e sair da dívida com vocês!
Bem, espero que vocês gostem dessa capítulo... Não tenho uma música em especial para indicar, dessa vez. Mas acho que "Pyro" do Kings Of Leon pode ter influenciado, mesmo que inconscientemente, esse capítulo.
Boa leitura!



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            E ninguém precisava ser um bom adivinhador, todos sabiam que o McKinley High passara com dignidade pelas Regionais. Com a direção segura e talentosa de Rachel Berry e com a performance extremamente perfeita de todos os membros, mais uma vez, o New Directions era colocado na lista dos corais favoritos a serem campeões das Nacionais que, por ironia do destino, ocorreriam em Nova York dali a 4 meses.

            Porém, essa explosão de felicidade não foi o bastante para fazer com que Quinn e Rachel se aproximassem. Aliás, as duas se afastaram ainda mais. E ambas sabiam que era por causa da presença de Finn Hudson na cidade. O rapaz fazia-se presente sempre que possível, fosse enviando flores para Rachel ou ligando para Quinn para perguntar sobre os preparativos para o jantar de confraternização, e a loira tinha que confessar que aquilo já estava tirando-a do sério.

            Finn podia ter mudado e, atualmente, ser um bom colega. Mas mesmo assim, ele queria ficar com sua garota e apenas isso era o bastante para que ela o odiasse.

            - Pois bem, falamos sobre a generalidade dos clássicos nas últimas semanas. – Quinn anunciou séria a sala, seus alunos sabiam que as coisas não estavam bem porque ela não tinha o tradicional sorriso generoso nos lábios. Talvez, por esse motivo, a sala se encontrava em completo silêncio. – A partir de hoje, teremos cinco aulas para discutirmos cinco obras distintas. Em seguida, iremos tratar de literatura contemporânea.

            - Quais serão as obras? – Claire perguntou interessada, Quinn sorriu amena para ela, ainda não era seu sorriso verdadeiro. Christine percebeu e trocou um olhar confuso para Arthur que deu de ombros. Ryan suspirou do outro lado da sala e Quinn pigarreou antes de responder:

            - Eu vou deixar que vocês escolham dentre a lista de dez obras que eu já deixei na biblioteca. Essas obras não cairão na prova, a prova final de vocês será apenas sobre Literatura Contemporânea, que começaremos na semana que vem.

            Quinn escutou um pequeno suspiro de alívio coletivo na sala, ela bem sabia como era difícil prender a atenção nos clássicos literários, mas eles eram importantes, afinal. O sinal tocou e a turma foi dissipando-se aos poucos, até não restar mais ninguém na sala.

            Pelo canto dos olhos, Quinn viu quando Claire saiu de mãos dadas com Ryan e Christine ficou emburrada, enquanto esperava Arthur. A professora suspirou, seus olhos rapidamente retrataram uma triste compreensão. Quinn desejava, de verdade, que Christine não fosse tão parecida assim com ela a ponto de não perceber o que sentia por Claire. Seria demais se a história se repetisse.

            Quinn apanhou seus materiais sobre a mesa e saiu da sala, fechando a porta em seguida. Caminhou majestosamente pelos corredores, mas os alunos que a conheciam bem perceberiam que seus olhos verdes, sempre tão brilhantes e quentes, estavam frios e distantes. Quem sabe, procuravam algo que sabiam que não teriam...

            Suspirou e continuou sua caminhada até a sala de professores. Não costumava ficar ali durante o almoço, mas Rachel estava sempre a procurando pelo McKinley e, ao menos lá, as duas estariam rodeadas por pessoas e impossibilitadas de se falarem. E, naquele dia, Quinn só queria comer seu almoço em paz e ir encontrar Kurt para resolver os últimos acertos sobre o jantar com Finn.

            Quando a loira virou no último corredor antes da sala dos professores, seus olhos cansados e melancólicos encontraram uma Rachel Berry impaciente ao lado da porta. Quinn, imediatamente, girou em torno dos próprios calcanhares e colocou-se na direção oposta. Mas não foi muito rápida porque, segundos depois, a voz tão conhecida chegou aos seus ouvidos chamando-a impaciente:

            - Miss Fabray!

            Era impressionante como apenas alguns dias distantes uma da outra as tornavam desconhecidas. Quão frágil era a relação delas?

            - Miss Berry... – Quinn murmurou um tanto ácida, o tom lembrando ligeiramente aquela cheerio de alguns anos atrás. Rachel recuou instintivamente, Quinn não a julgou, era para a morena fazer justamente isso. Não queria conversar com ela, pelo menos, não agora.

            Rachel caminhou decidida e passou por Quinn, indicando silenciosamente que aquela conversa não era para ser realizada no meio do corredor. Com um revirar de olhos, Quinn a acompanhou a contragosto, passos rudes e expressão fechada, erguendo todas as suas barreiras. Assim que chegaram ao estacionamento, Rachel virou-se abruptamente e Quinn arquejou quando viu como estavam próximas.

            Qual fora a última vez que aqueles lábios carnudos estiveram tão próximos dos seus?

            Com muita vontade e com coragem de sobra, Quinn deu um passo para trás e encostou-se na porta. Respirou fundo mais de uma vez para retomar a racionalidade. Fechou os olhos, concentrou-se em outra coisa que não fosse o perfume e os lábios de Rachel e quando abriu os olhos, percebeu que a morena estava tão ou pior que ela. Rachel tinha uma das mãos sobre o peito e com a outra, se apoiava na parede.

            - Podemos conversar? – Rachel perguntou insegura, quando achou que sua voz estava firme o bastante para começar uma discussão. Mas ela não estava, havia um tremor imperceptível aos outros, mas que Quinn sabia estar ali. A loira deu um pequeno sorriso irônico que fez Rachel fechar a expressão, depois, olhou ao redor e sarcástica, disse:

            - Não é como se eu tivesse muita escolha, não é mesmo?

            - Quinn, eu estou tentando ser maleável aqui, seria muito bom se você colaborasse e abaixasse todas as armas que têm apontadas para mim. – Rachel contra-atacou severa, os olhos castanhos revelavam como estava decepcionada com Quinn. O tempo parecia ter parado em Lima quando Quinn agia daquela forma, Rachel não conseguia enxergar a mulher, apenas a cheerio amedrontada que morria de medo de seu verdadeiro “eu”.

            Quinn revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito, o corpo encontrou abrigo de encontro a porta fria. Rachel continuou a observá-la, os braços ao lado do corpo, fechados em punhos e tremendo levemente. Não precisava ser nenhum gênio para perceber qual das duas estava aberta para a conversa.

            O silêncio perdurou, não por um ou dois minutos, mas por cinco ou dez. A brisa batia e rebatia entre elas, mas nenhuma manifestava qualquer esboço de uma ação. Rachel perdera subitamente a coragem ao ver quão fechada Quinn estava para ela e Quinn não tinha qualquer vontade de começar mais uma discussão, talvez fosse isso, aliada a sua coragem, que lhe fez falar friamente:

            - O que você quer, Rachel?

            - Explicar as coisas, só isso. – Rachel respondeu rapidamente, mais afoita do que estava há minutos. Quinn conseguia carregá-la em uma montanha-russa de sentimentos com apenas uma conversa. Seu coração acelerou e seus olhos encontraram os verdes que estavam frios e de um verde que Rachel jamais vira... – Finn não significa nada para mim, ele é só meu amigo e foi gentil naquele dia. Eu sequer sabia que ele estava aqui.

            - Você não me deve nada, Rachel. Pediu um tempo, lembra-se? E pelo que eu sei, quando se pede um tempo, não é lá tão necessário dar satisfações uma para a outra. – Quinn respondera com um ar ameno, tranqüilo e que Rachel não conseguira decifrar, porque sabia que a loira não estava bem.

            E Rachel estava certa.

            Por dentro, o olhar de silencioso desespero e de decepção que Rachel destinou a Quinn fez a loira sentir um gosto amargo na boca e um aperto doído dentro do aperto. Ela já vira aquele olhar em Rachel... Era o mesmo que a morena tinha quando descobriu que Finn perdera a virgindade com Santana e mentira para ela. Quinn quase recuou, seu orgulho falou mais alto e ela manteve a postura distante e intocável, aquela era a Quinn que sempre amedrontava Rachel e tudo que a loira queria era que a morena se afastasse dela naquele momento.

            - Mas isso não quer dizer que eu não devo falar com você sobre isso. – Rachel anunciou estranhamente calma quando voltou a falar, a respiração estava pesada, mas ela estava tentando colocar seu raciocínio em foco, mesmo com as batidas de seu coração ecoando em sua cabeça. A morena semicerrou os olhos e Quinn esperou o golpe. – Ainda somos melhores amigas, esqueceu disso?

            - Rachel, eu... – Quinn não conseguiu falar. Ela não esperava isso. Aliás, ela não esperava que Rachel fosse tão madura a ponto de conseguir humilhar toda a sua postura infantil que chegava a lhe amedrontar no ensino médio.

            E talvez, aquele fosse o grande paradigma entre elas. Um casal de mulheres adultas, mas que, de fato, só tinha uma mulher. Uma fora trazida de volta à realidade pela outra e a outra, estranhamente, retornara às lembranças do ensino médio... Enquanto Rachel assumia a batalha e lutava por elas, Quinn recuava e se escondia atrás do papel que desempenhara melhor: a cheerio amedrontada. As duas mudaram, mas quando se tratava da relação das duas, parecia que tudo era o mesmo e que aqueles meses intensos e felizes que viveram, fora apenas um pedaço do paraíso no meio do mundo real.

            Bastou apenas um mal-entendido, uma briga e tudo estava destruído entre elas.

            Rachel esperou pacientemente que Quinn falasse, mas a loira abriu a boca algumas vezes, pareceu pensar e até respirou fundo. Só que nada veio. Quinn permaneceu naquele silêncio pesado que tanto irritava Rachel. A morena deu-lhe um último olhar suplicante, esperando que Quinn a entendesse... Mas a mesma desviou os olhos dela.

            Aquela foi a deixa. Rachel entrou novamente no prédio, sem sequer olhar para trás.


***


            Do outro lado da cidade, Julianne tirava alguns livros da prateleira e os empilhava sobre a mesa de rodinhas. Alguns estavam fora de ordem e Charlie pedira para que ela checasse todas as estantes e cuidasse da loja enquanto ele saía para resolver certos assuntos pessoais. Julianne não perguntou quais, ela e o senhor conviviam bem não partilhando os segredos que tinham dentro de si.

            A ruiva tirou a poeira da lombada do livro com uma espanada do pano que usava, alguns grãos de sujeira entraram em seu nariz e ela viu-se espirrando por uns bons minutos antes de conseguir recuperar o fôlego. Respirou fundo e continuou a arrumar os livros. Sozinha, na solidão daquele santuário de palavras e páginas, seus pensamentos caminharam para aquela que sempre fora a dona dos seus pensamentos desde que a conhecera.

            Fazia algumas semanas que saíra da casa de Santana Lopez. Porém, o toque da latina em sua pele, assim como os lábios dela sobre os seus, ainda estavam tão inesquecíveis como se tivessem acabado de ocorrer. Ela sabia o que sentia por aquela mulher, assim como sabia como aquilo era perigoso para ser vivenciado.

            Afinal, ela é Santana Lopez, sua advogada no divórcio contra seu marido louco e sádico. Era anti-ético para a carreira de Santana e perigoso para a vida dela, ela não conhecia Michael Urie como Julianne o conhecia. Ela sabia da força física do homem, assim como a agressividade de suas ameaças e o terror psicológico que ele podia impor. Ela convivera com aquilo por cinco anos. Um conto de fadas que terminou em conto de terror...

            E mais, ela teria que encontrar Santana em algum momento, mas por ora, queria manter-se longe para mantê-la viva. Julianne não estava fazendo isso por medo e sim, para proteger Santana. Sabia muito bem quão preocupada a latina poderia estar, mas talvez fosse melhor assim. Aliás, o ideal seria que ela jamais tivesse aparecido na vida da latina. Julianne nunca deixaria de se perguntar por que ela conseguia destruir a vida de todos aqueles que se aproximavam dela...

            A sineta da porta de entrada soou solitária dentro da livraria. Julianne apanhou alguns livros que estavam na seção errada e caminhou pelos longos corredores até chegar ligeiramente ofegante ao balcão, depositou os livros sobre ele e virou-se para atender o mais novo cliente.

            Deparou-se com uma mulher loira, alta e com um corpo muito bonito. Olhos azuis e uma expressão risonha e infantil, Julianne não pode deixar de sorrir quando olhou para ela. A mulher emanava inocência e bondade. Julianne abaixou mais os olhos e encontrou uma pequena garota, aparentemente uns quatro ou cinco anos, tinha os mesmos olhos da mãe, mas cabelos castanhos. A boca estava tomada por uma chupeta.

            Julianne saiu de trás do balcão e aproximou-se das duas, com um sorriso maior que seus lábios, perguntou:

            - Bom dia, em que posso ajudá-las?

            - Estou à procura do Charlie... – A mulher avisou com uma expressão animada, olhando para a filha que retribuiu com uma risadinha conspiratória. – Diga a ele que Brittany está aqui com Annie...

            - Me desculpe, mas Charlie saiu, tinha alguns problemas para resolver. – Julianne desculpou-se, verdadeiramente sentida porque os olhos brilhantes da loira perderam rapidamente a animação e a garotinha pareceu ficar perdida em cena. Pelo visto, elas gostavam demais de Charlie. Julianne alisou as pregas da saia, desconfortável. – Mas eu posso ajudá-las em alguma coisa?

            - Não se ofenda, mas eu queria falar diretamente com ele. – Brittany respondera com o tom de voz grave, assumindo uma postura séria. Julianne sentiu-se imediatamente ofendida, não queria se meter, só queria ajudar. A expressão da ruiva caiu imediatamente e ela voltou-se aos seus livros, concentrada em arrumá-los enquanto escutava a loira atrás de si a brincar com a filha.

            Não soube se passaram minutos ou horas, mas Julianne suspirou aliviada quando Charlie entrou pela porta. O sorriso cansado, os ombros caindo e uma pesada caixa de livros nas mãos. Julianne se adiantou e apanhou-a com um sorriso, colocando-a sobre o balcão. Quando o senhor ergueu os olhos para agradecê-la, a voz esganiçada de Annie pode ser escutada:

            - Tio Charlie!

            - Que surpresa! – Charlie disse com um sorriso enorme nos lábios, pegando a garota no colo e girando-a em seus braços. Brittany sorria diante da cena e Julianne sentiu-se extremamente deslocada. Aquele tipo de felicidade, de risos de criança e de olhares calorosos não pareciam fazer parte de seu mundo.

            Brittany percebeu quando Julianne saiu disfarçadamente do local, os ombros curvados e os braços repletos de livros pesados. Charlie procurou pela sua ajudante e seu sorriso morreu por breves segundos ao perceber que ela voltava-se a fechar em suas próprias batalhas.

            Charlie não sabia o que acontecera com Julianne, mas percebia que machucava e que doía. Diferentemente de Quinn que colocava sua dor para fora, erguendo barreiras e ferindo quem a amava, Julianne voltava-se para dentro de si, fechando-se em sua amargura e solidão, calando-se e sofrendo sozinha. Ela tinha várias camadas e Charlie tinha certeza que não removera nem a metade delas durante aquele breve período de convivência.

            Julianne vivia no andar de cima da livraria, em um pequeno apartamento. Charlie a via todos os dias, pois morava nos fundos da livraria, ela lhe dava bom dia com um sorriso que nunca chegava aos seus olhos. Raramente saía, exceto quando tinha que comprar algo. Insistia em ficar na biblioteca e evitava mostrar-se para os clientes. Ela se escondia de alguém, Charlie sabia disso e daria tudo para descobrir de quem.

            Porém, a voz de Annie o trouxe de volta para a realidade. A garotinha o arrastava para a seção de livros infantis com Brittany risonha atrás da dupla. Enquanto observava a pequena sentar-se no chão e puxar vários livros para o colo, Charlie aproximou-se de Brittany e sorriu grandemente ao perguntar maroto:

            - Sabe quem veio aqui esses dias?

            Brittany expressou com um gesto dos ombros que não tinha ideia, mas manifestou curiosidade ao abrir um sorriso de lado. Charlie respirou fundo e com o mesmo sorriso gentil e bondoso de sempre, anunciou:

            - Santana Lopez, ela veio atrás de Quinn.

            - Não acredito! – Brittany anunciou animada, batendo palmas e sentindo seu coração explodir em seu peito, mesmo diante da provação que sabia vir a seguir. Santana não a perdoara, mas talvez o tempo amolecera seu coração e agora, as coisas que deveriam ter sido ditas anos antes pudessem fazer mais sentido... Afinal, as duas eram as melhores amigas, impossível isso ter ficado no passado.

            Porém, não foi a ação de Brittany que chamou a atenção de Charlie, mas sim, um baque seco que foi escutado nos fundos da livraria. O senhor pediu licença a Brittany e caminhou apressado até onde Julianne estava.

            Encontrou a ruiva caída no chão, massageando o pulso que estava ligeiramente inchado e começava a arroxear. Charlie ajoelhou-se ao lado de Julianne e ajudando-a a se levantar, disse severo:

            - É bom você começar a me falar enquanto vamos ao médico.

            Julianne engoliu em seco e viu-se sem saída.

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            - Tudo bem, vocês duas podem ao menos fingir que estão animadas com esse jantar? – Kurt Hummel perguntou indignado enquanto observava Quinn cruzar os braços sobre o peito ao crispar os lábios e Santana Lopez revirar os olhos, batendo as unhas irritantemente na mesa. O rapaz bufou impaciente e desejou que David estivesse ali com ele, afinal, ele podia ser útil para lidar com aquelas duas. Olhou irritadiço para Quinn e bateu com o punho na mesa, chamando-lhe a atenção. – Para começo de conversa, a ideia foi sua, Fabray! Você que deveria estar comandando os preparativos.

            - Quinn só falou aquilo porque estava com o rabo entre as pernas porque o bonecão de posto estava flertando com o hobbit. – Santana defendeu a amiga, exalando maldade e amargura. Quinn sorriu de lado, agradecendo a amiga com um olhar e sentindo-se de volta ao ensino médio. Santana tomou um longo gole da taça de vinho e cruzou as pernas. – Garanto que nesse momento, ela quer matar o Hudson.

            Kurt arregalou os olhos, em uma cômica expressão assustada enquanto Quinn recolhia-se a seus pensamentos, tentando entender se o que Santana dissera era realmente verdade. Claro que odiava Finn Hudson com sua maldita sorte e seu maldito timer, mas não o culpava pela situação que dividia com Rachel.

            Ambas eram culpadas e seu orgulho lhe empurrava, por garganta abaixo, a ideia de que Rachel era ainda mais culpada. Quinn não admitiria que estava errada, podia amargar momentos de reflexão, mas jamais admitiria em voz alta que não tinha o direito de descontar suas dores em Rachel... Mas ela só queria que, assim como se esforçara para Rachel lhe escutar quando voltara a Lima, a morena fizesse o mesmo e estivesse ao seu lado, mesmo depois de todos os contratempos.

            Mas Quinn se esquecera que ela era Rachel Berry. A garota que carregava os sentimentos em todas as suas atitudes. E agora, ela percebia que talvez a morena estivesse arrependida do que seus sentimentos a levaram a fazer... Mas, dessa vez, Quinn que estava com problemas de aceitá-la de volta. Afinal, ela desaparecera quando mais precisou dela. E Finn? Bem, como sempre, ele era um pedaço enorme do passado interpondo-se entre elas... Algumas coisas, como aquela, não mudavam.

            - Quinn? – A loira respirou fundo quando escutou a voz ansiosa de Kurt. Aparentemente, enquanto ela divagava, ele e Santana estavam em alguma discussão extremamente intensa, pois a latina tinha aqueles olhos escuros semicerrados e a expressão beirando a fúria. Quinn virou-se para Kurt, dando-lhe toda atenção. – O que acha de chamarmos Brittany?

            - Se Rachel vai, Brittany deve ir também. E pode levar o Artie... – Quinn foi incisiva em suas palavras, ignorando o revirar de olhos de Santana e a expressão traída que a latina lhe lançava. – Afinal, todos nós éramos do Glee Club antes de nos tornarmos adultos detestáveis.

            Kurt e Santana entreolharam-se com expressões ligeiramente surpresas pelo tom amargo que Quinn dirigiu-se a Rachel e a Brittany, na mesma frase. Mas era exatamente aquilo mesmo que a ex-cheerio queria passar. Estava profundamente magoada com a que um dia fora uma grande amiga e a outra que, aparentemente, era seu grande amor.

            Quinn bufou entediada quando percebeu que Santana e Kurt não deixariam de olhar para ela tão cedo. A ex-cheerio bateu na mesa, chamando a atenção dos dois para a lista de tarefas que Kurt realizara. O rapaz pigarreou e, saindo de seu transe, acrescentou temeroso:

            - Ahm, mais uma pessoa que devemos decidir se vai ou não... Aquela amiga de vocês, Julianne.

            - Não, definitivamente não! – Quinn protestou friamente e olhando de esguelha para Santana, certificando-se que a sua melhor amiga não ia arrancar seu pescoço fora. Kurt mordeu o lábio, ansioso pela resposta. Porém, Santana surpreendeu todos ao dar de ombros e dizer melancólica:

            - Não faz diferença alguma, ela desapareceu mesmo.

            - Eu já comentei que a amargura de vocês duas está me deixando enjoado? – Kurt sibilou irônico e venenoso, procurando descontrair o ambiente, e ganhando dois sorrisos de lado com essa fala. As duas mulheres agarraram as mãos dele e ele beijou cada uma das palmas. – Vamos tentar aproveitar, sim? Como a Quinn mesma disse, éramos amigos antes da maturidade chegar. Vamos fingir, ao menos por essa noite, que tudo está enterrado no passado.

            As duas acenaram em concordância, meio relutantes, mas concordando no fim das contas. Nesse exato momento, uma figura alta e atlética juntou-se a eles. Santana abriu um sorriso maldoso e deu uma piscadela para Quinn, observando a figura sentar-se e trocar um selinho com Kurt. A latina pigarreou e sarcástica, perguntou:

            - Ah claro, vou ter que bulinar Karofsky porque ele nunca foi meu amigo no colegial.

            - Santana, eu estou aqui e gostaria de um pouco de respeito. Tive que te agüentar naquele maldito baile de primavera. – David respondeu brincalhão e com uma falsa careta de nojo que só provocou risos nos outros integrantes da mesa. Depois, ele tornou a se levantar e cumprimentou cada uma das mulheres com um beijo, voltando a se sentar à mesa. Assim que o fez, Kurt segurou as mãos dele e satisfeito, disse:

            - Ainda bem que você chegou, eu não sei por quanto tempo mais seria capaz de lidar com essas duas velhas amargas.

            - Eu nem vou revidar, minha educação não permite. – Quinn murmurou desgostosa, mas aquele sorriso gentil iluminando seus lábios. Kurt não comentou, mas percebeu que aquele sorriso não chegou aos olhos, Quinn estava realmente sozinha. Santana soltou uma gargalhada estridente e retrucou:

            - Não é sua educação, Fabray. É seu orgulho ferido, mesmo.

            - Calada, Lopez! Eu não quero ter que dar na sua cara de novo! – Quinn contra-atacou furiosa, os olhos verdes assumindo uma coloração intensa e agressiva. Santana fez um gesto jocoso com as mãos, mas se encolheu à cadeira discretamente. David fez menção de levantar, mas Kurt o fez sentar novamente, ele bem sabia como aquela “discussão” ia acabar.

            - Cai em cima, Juno! – Santana exclamou com um ar irônico e arqueando a sobrancelha daquele jeito desprezível, Quinn revirou os olhos percebendo ali que era tudo brincadeira. Poxa, Santana a chamara do apelido do colegial, por favor! A loira abriu um sorriso frio e retrucou:

            - Quer que eu destrua seus falsos peitos, J-Lo?

            Os quatro ocupantes da mesa tornaram a cair na risada, David demorou um pouco mais para entender que aquela era a forma das duas demonstrarem que se adoravam. Depois, resolveram pedir e enfim, começarem a decidir o jantar.

            Santana e Quinn não transpareciam, mas tinham certeza que ficariam sem dormir por causa daquele maldito reencontro.


###


            O apartamento Hummel-Karofsky estava exatamente como Kurt projetara naquele jantar em que decidiram a decoração daquela noite. O rapaz amava organizar jantares e sabia que, se a carreira de decorador não tivesse vingado, com certeza, o ramo de organização de eventos seria uma opção. A reunião era realizada na sala de estar do casal e a porta da sacada estava aberta, fazendo com que uma brisa leve e aconchegante ocupasse o ambiente. Os móveis haviam sido afastados e as elegantes poltronas de couro estavam dispostas estrategicamente próximas da mesa de comes e bebes. Ao fundo, um instrumental tranqüilo tocava, interposto por algumas gravações do New Directions, ato de Kurt que estava estranhamente melancólico para aquela noite.

            No centro disso tudo, a pequena morena encontrava-se deslocada e observava as estrelas através do pequeno pedaço de céu exposto pela sacada. Suspirou profundamente e tomou um gole de sua taça de vinho branco, tentando encontrar alguma lógica em seus pensamentos, enquanto seu cérebro apenas conseguia discernir que Quinn Fabray não estava presente naquele jantar.

            Rachel conhecia Quinn muito bem para saber que a loira detestava fugir à etiqueta. Ela que se encarregara de organizar o jantar, portanto, saberia que, de alguma forma, ela estaria ali a qualquer momento. Mas aquele atraso estava incomodando, Quinn a evitara por vários dias e Rachel começava a se sentir culpada, talvez a loira tivesse razão.

            Perdida em seus pensamentos, não percebeu quando uma figura alta caminhou e ficou ao seu lado. O homem apenas tomou um gole de seu whisky e respirou fundo, parecia tomar coragem para dizer alguma coisa. Pigarreou e conseguiu chamar a atenção de sua companheira. Rachel olhou para o lado e abriu um sorriso gentil, Finn retribuiu e perguntou:

            - Curtindo a noite?

            - Preocupada, na verdade. Não sei como agir ao encontrar todo mundo. – Rachel respondeu nervosa, tomando mais um gole de sua bebida, não podia deixar de perceber que havia sua voz estava insegura e seus dedos estavam trêmulos ao segurar a taça. Finn deu um daqueles sorrisos tortos que lhe eram característicos e respondeu tranqüilo:

            - Tecnicamente, você só vai reencontrar Brittany e Artie. Mike e Tina estão em New York e não puderam vir... Os demais estão em Lima e você já os encontrou.

            - Mas ainda tem Puck e Shelby... Sempre vai ser difícil para mim ter que encarar os dois. – Rachel respondeu um pouco fria, o que fez Finn engolir em seco rapidamente e se amaldiçoar por sempre esquecer como era a relação de Rachel com a mãe. Os dois não se olharam por alguns momentos, Rachel escutou sons às suas costas indicando que mais algumas pessoas haviam chegado, mas não olhou para trás. Apenas voltou a encarar as estrelas, incomodada.

            - Tecnicamente, Shelby não virá. Ela e Puck estão separados. – Finn anunciou com uma voz tediosa e um ar de quem dava graças pelo melhor amigo ter se livrado de tamanha confusão. Rachel virou-se tão rápido para ele que teve certeza que os ossos de seu pescoço estralaram, a morena fez menção de perguntar, mas Finn foi mais rápido e sorriu. – Aparentemente, os dois se separaram depois de um jantar.

            As lembranças invadiram Rachel. Aquele jantar em que ela fora com Quinn, aquele jantar em que a loira a defendera como uma leoa para, depois, desabar sobre ela no apartamento. Aquele jantar em que Rachel viu o sentimento que habitava o coração da loira... Rapidamente, Rachel ficou sem ar. Ela apoiou-se no encosto de uma cadeira próxima e fechou os olhos, sentiu a mão firme de Finn fechar-se sobre seu pulso e ampará-la... Mas sua mente estava longe dali.

            Longe demais para não notar que Quinn, enfim, chegara. E que os olhos verdes da loira imediatamente encontraram-na com Finn, como se tivessem uma espécie de radar para notá-los... Também não viu quando a expressão de Quinn fechou-se e ela mal conseguiu cumprimentar Kurt.

            As duas vagaram longe antes de virarem-se e encararem-se, ao mesmo tempo. De um lado, a inocência e o calor de olhos castanhos que perderam completamente a intensidade ao focalizarem olhos verdes furiosos e repletos de frieza. Rachel engoliu em seco e ofegou, Finn estava absorto demais, tentando colocá-la sentada para não perceber como ela estava desconfortável. Quinn apenas crispou os lábios e Rachel viu a máscara de arrogância talhar-se de novo na pele pálida. Ao contrário de Finn, o acompanhante e melhor amigo dela logo percebeu o que se passava. Sam apertou o braço da amiga e logo Quinn rompeu contato visual, oferecendo um sorriso educado a um Kurt atônito pela interação das duas.

            Rachel acompanhou-a com os olhos enquanto sentava-se. Observou Quinn cumprimentar Karofsky e depois, marchar em sua direção. A postura elegante não disfarçava o ar austero e sério, Rachel fechou os olhos e quase pode ver a cheerio do passado caminhar em sua direção. Com um pigarro, Quinn chamou a atenção da morena e de Finn, depois, com um educado tom irônico, disse:

            - Eu deveria saber que iria encontrá-los juntos.

            - Olha a deselegância, Fabray! – Sam bronqueou com um sorriso divertido, mas pela troca de olhares que Rachel capturou, percebeu que a bronca era sincera. E mais, percebeu que Sam parecia não querer cumprimentar os dois ao estender a mão para Finn e beijá-la no rosto. Quinn apenas acenou e ainda sorrindo, friamente, respondeu:

            - Anos não os separaram, Sam... Assim como nós.

            Rachel segurou-se para não revirar os olhos ou disparar alguma ironia. Finn sorriu de lado e apertou-lhe seu ombro carinhosamente, pode ver os olhos de Quinn faiscarem para aquele gesto, mas ela apenas meneou a cabeça, estranhamente... Derrotada. A testa de Rachel vincou e ela colocou-se em pé, com um sorriso sincero e focalizando apenas Quinn, disse:

            - Quando você diz “nós”, está referindo-se a todo Glee, certo? O tempo passou, mas ainda estamos aqui, juntos.

            Rachel esperava que ela realmente entendesse a que estava se referindo. Para seu desespero, Quinn revirou os olhos e gargalhou. Sam a olhou de esguelha, extremamente desconfortável com a situação, assim como Finn. Este, por sua vez, tossiu e perguntou curioso:

            - Do que ri, Quinn?

            - As pessoas não mudam mesmo, veja Rachel... – Quinn respondeu com a expressão séria e a voz transbordando desprezo contido. Rachel encolheu-se a sua pequenez, sentindo-se exatamente da mesma forma quando era banhada por slushie. Os olhos das duas voltaram a se encontrar e dessa vez, havia uma batalha entre eles. – Ainda sonhadora.

            - Tem algo que queira falar comigo em particular, Fabray? – Rachel questionou vagarosamente, respirando entre as palavras, procurando não chorar na frente de Quinn. A loira pareceu feliz com o que provocara, pois logo abriu um sorriso. Finn olhou de uma para a outra, mas seu olhar parecia irritado e decepcionado com Quinn. Sam percebeu o clima e com um ar sem graça, disse brincalhão:

            - Nada de trazer velhas rixas de volta, certo, senhoritas?

            Nenhuma das duas respondeu, Quinn apenas deu às costas ao grupo e foi até a cozinha pegar uma taça de vinho. Sam não acompanhou, permaneceu ali com o ex-casal. Finn pareceu mais confortável agora que Quinn partira, Rachel respirou aliviada e tentou aproveitar a companhia dos dois, mas eles pareciam tão desconfortáveis quanto ela e Quinn. Finn pigarreou e educadamente perguntou:

            - Sei que Santana não é uma das minhas grandes fãs, mas ela não vai vir?

            - Quinn disse que ela confirmou presença, mas ela está envolvida em um grande caso agora... Talvez tenha surgido alguma emergência. – Sam respondeu no mesmo tom e dando um sorriso de lado, ele e Finn engrenaram uma conversa sobre o campeonato de futebol americano e Rachel viu-se flutuando para longe deles.

            Logo a morena pediu licença e caminhou até a sacada. Aquela noite prometia ser um longo e cansativo conflito e ela sabia que iria perder mais do que a calma naquela batalha.


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            Santana terminava de ajeitar o cabelo quando escutou a campainha de seu apartamento tocar. Observou o seu eu no espelho fazer uma careta confusa, afinal, não esperava ninguém, ainda mais àquela hora. Sabia que estava atrasada para o jantar, como sempre. Mas ela realmente não fazia questão de chegar na hora, nem de estar lá, para ser sincera. Afinal, desde quando Finn Hudson merecia uma recepção calorosa da sua parte?

            Estava sendo educada e estava fazendo aquilo como forma de apoio para Quinn. E, também, para Kurt. Sabia que o decorador estava realmente animado com a visita do meio-irmão.

            Mais um toque impaciente da campainha. Santana caminhou rapidamente até o hall e parou em frente a porta, indecisa entre apanhar ou não a arma na gaveta do console. Sabia que Michael Urie não a procuraria tão cedo depois do desaparecimento da esposa de sua casa. Só tinha medo que, do outro lado da porta, estivesse alguma pessoa para lhe informar o destino trágico de Julianne.

            Respirando fundo e reunindo toda a coragem dentro de si, Santana armou-se de sua melhor expressão de tranqüilidade e abriu a porta de supetão. Sua mão caiu da maçaneta quando, surpresa, viu o senhor, que era dono da livraria que Quinn adorava, parado na soleira de sua porta. Diferentemente das outras vezes que o encontrara, ele estava sério. Cumprimentou-a com um aceno na cabeça e disse:

            - Preciso que a senhorita me acompanhe, Dra. Lopez.

            - Eu tenho um compromisso agora, Sr. Thomas. Preciso rever alguns amigos... – Santana pareceu realmente aliviada que tivesse um compromisso agora, estava com medo de acompanhar o senhor. Ele tinha um olhar tão firme e uma expressão tão aborrecida que estavam a atormentando. Charlie balançou a cabeça negativamente e insistiu sério:

            - Acredite em mim, Dra. Lopez. Você vai querer me acompanhar, prometo que não passarão de alguns minutos.

            Santana bufou discretamente, a contragosto, voltou para dentro do apartamento e apanhou sua bolsa e as chaves do carro. Não soube bem por que, mas colocou a arma dentro da bolsa e saiu. Charlie Thomas a esperava pacientemente em frente à porta. Santana trancou a porta e os dois caminharam pelo corredor e pegaram o elevador no fim do mesmo.

            Não houve qualquer tentativa de comunicação durante o trajeto e Santana tinha que confessar que a expressão fechada e indecifrável do senhor a estava assustando, afinal, ele fora bastante comunicativo e até um pouco intrometido no primeiro encontro dos dois... Enfim, Santana deu uma última olhada no senhor antes do mesmo sair do elevador em um sinal mudo para que ela o acompanhasse.

            Santana assim o fez, deixando, estranhamente, a bolsa aberta e o cabo da pistola para cima, caso precisasse segurá-la diante de uma possível ameaça. Porém, Charlie não saiu do edifício e sim, virou na direção das escadas que levavam à garagem. Santana o seguiu com uma expressão confusa no rosto, os dois desceram os dois lances de escada e viraram à esquerda, indo para o canto mais afastado do local.

            Quando os olhos de Santana se acostumaram com a escuridão, ela pode distinguir uma figura humana em pé, mas estranhamente encolhida junto à parede. Charlie parou abruptamente e enfim, abriu um sorriso. Depois, suspirou e tranquilamente, disse gentil:

            - Acho que posso confiar ela à senhora. Dra. Lopez, você não está sozinha nessa batalha, muito menos ela.

            E apontou para a figura. Esta se mexeu e saiu das sombras, caminhando até os dois. Santana ficou boquiaberta ao distinguir os cabelos ruivos e os olhos acinzentados. Julianne Urie estava parada a sua frente, um sorriso culpado e a expressão derrotada. Santana nunca a achou mais linda quanto naquele momento. Aproximou-se dela e, inconscientemente, puxou-a para um abraço.

            Julianne apertou sua cintura, agarrando-se a sua camisa. Santana escutou um soluço para, em seguida, escutar a voz chorosa de Julianne dizer:

            - Desculpe-me...

            - Eu nunca coloquei a culpa em você. – Santana proferiu tranquilamente, percebendo um alívio que não estava em si antes de Julianne reaparecer. A latina a apertou ainda mais em seus braços, como se trazê-la para mais perto fosse extinguir toda a saudade e a preocupação das últimas semanas. – E eu refaço minha promessa: eu vou te proteger dele!

            Julianne soluçou antes de chorar mais uma vez. As duas envolveram-se naquele mundo só delas e, Santana se esqueceu de Brittany e do jantar... Não precisava ir a qualquer outro lugar, estava no local certo e na hora certa.


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            - Finalmente! – Kurt proclamou irritadiço quando abriu a porta para um Noah Puckermann cansado entrar. O rapaz estava com o paletó nas costas e ainda usava os coldres nos ombros, mas mesmo assim, sorriu. Entrou no apartamento a passos cansados e abraçou o decorador, apertando a mão de Karofsky e abraçando Sam que estava por perto.

            Quinn, que estava ao lado do loiro, franziu o nariz quando viu quem chegara. Esperou, de verdade, que Puck viesse lhe cobrar algo sobre a Beth... Mas, em vez disso, o rapaz lhe deu um olhar significativo antes de lhe abraçar fortemente e, baixinho, falar em seu ouvido:

            - Me desculpe, Quinn...

            - Perdoe-me. – Quinn interferiu incomodada, desviando-se dos braços incomodados e procurando os olhos do amigo. Encontrou-os desolados e estranhamente perdidos, diferente do olhar forte e intimidador de Noah Puckermann. Ele abaixou a cabeça. – Desculpas pelo que, Noah?

            - Pela situação toda com Beth... Eu não sabia que Shelby estava proibindo você de visitá-la, se eu soubesse, eu juro que teria interferido! – Puck respondeu um pouco exaltado pela injustiça. A expressão arrogante de Quinn caiu e ela apertou-lhe os ombros, conduzindo-o para a cozinha sobre os olhares inquisidores de todos, até mesmo de Rachel e Finn.

            Quinn foi até a geladeira e apanhou uma garrafa de cerveja para Puck, estendo-a em seguida. O rapaz tomou um imenso gole e respirou fundo, Quinn viu ali o quanto Shelby tinha acabado com ele. Puck tinha olheiras sobre os olhos, os ombros estavam caídos e ele emagrecera alguns quilos... Havia um abatimento latente em todas as suas atitudes, inclusive aquela de segurar uma garrafa de cerveja. Quinn estendeu a mão e afagou o bíceps dele com a ponta dos dedos, pigarreou e gentil, disse:

            - Eu percebi que você não sabia... Mas eu não quis interferir em nada, eu juro. Quando eu lhe disse aquelas coisas há meses, foi porque eu estava irritada com a pressão e...

            - Eu me separei de Shelby, Q... – Puck anunciou com um sorriso fraco e Quinn percebeu um estranho tom esperançoso na voz dele. O rapaz colocou a garrafa sobre o balcão da cozinha e aproximou-se de Quinn, segurando as mãos da professora entre as suas. Ele suspirou e fechou os olhos, Quinn piscou atordoada. – Eu precisava me separar dela quando soube disso, ela estava barrando todas as minhas tentativas de ser feliz e sabe quando me dei conta disso?

            Quinn meneou a cabeça, negativamente. Estava tentando compreender o que as suas mãos faziam envoltas com as de Puck e como eles chegaram àquela proximidade toda... Tinha alguma coisa muito estranha ali nas atitudes de seu amigo e ex-namorado.

            - Quando ela confessou que você e Beth jamais poderiam ser próximas novamente. – Puck anunciou com a voz mais forte e mais decidida, ele abriu os olhos e Quinn percebeu que Noah estava de volta, com toda a força e coragem de antes. – E eu percebi que eu estava infeliz e querendo, verdadeiramente, você de volta para a minha vida. Acho que sempre quis, na verdade.

            - O que você está dizendo, Noah?! – Quinn perguntou trêmula. Puck sorriu para ela e rompeu a distância entre eles, beijando-a delicadamente nos lábios. Um turbilhão de pensamentos passou pela mente de Quinn enquanto seu coração disparava e ela via-se, surpreendentemente, circundando o pescoço de Puck com seus braços.

            Quinn acertara, alguma coisa estava bem errada ali.


            - Não quer ir tomar um ar? A noite parece estar complicada para você... – A voz prestativa e preocupada de Finn quase não foi escutada por uma Rachel que ainda observava a porta da cozinha, esperando Puck e Quinn saírem dali. Mas a morena finalmente desviou os olhos de lá e destinou-os a Finn. O rapaz parecia curioso com suas atitudes e a cara de bobo dele fez com que Rachel se lembrasse do Finn do ensino médio...

            Droga, aquele jantar estava se tornando mais e mais melancólico.

            Mesmo assim, Rachel girou o corpo para a sacada e escutou os passos de Finn atrás de si. Os dois olharam para o céu assim que chegaram ao local e respiraram fundo, ao mesmo tempo. Rachel debruçou-se sobre o parapeito de cimento e suspirou, Finn postou-se ao seu lado e preocupado, perguntou:

            - Precisa conversar?

            - Eu preciso, mas não quero... – Rachel respondeu indefesa, tentando contar as estrelas no céu e esquecer toda a bagunça dentro de si. Finn engoliu em seco, ofendido. – Não quero te magoar, mas ao mesmo tempo, não quero que ninguém entre nos meus assuntos. Já está confuso demais tendo apenas duas pessoas envolvidas até o pescoço.

            - Existe outro alguém? – Finn perguntou incisivo e Rachel virou-se abruptamente para ele, deparando-se com aquele sorriso de lado derrotado, mas ainda assim, preocupado. A morena sorriu e acenou afirmativamente. Finn afagou-lhe o ombro gentilmente. – Ele está te fazendo mal?

            Rachel não respondeu. Porque ela mesma não sabia a resposta para aquela pergunta. Quinn estava lhe fazendo mal? Porque Rachel tinha certeza que a magoara. Quinn também a machucara e era por isso que as duas estavam dando um tempo e procurando se recuperar... Mas, naquele momento, Rachel só queria Quinn próxima a ela, estava sentindo falta dos abraços, dos beijos, das conversas... Estava carente de Quinn Fabray.

            Finn interpretou seu silêncio de forma errada, assim como interpretou diversas atitudes de Rachel erroneamente durante a relação dos dois. Achou que ela estava confusa diante de sua presença ali e não, sobre a outra pessoa do triângulo. E esse erro foi o que fez o jogador de futebol impulsionar seu corpo para frente e envolver seus braços na pequena.

            Rachel assustou-se, mas de uma forma desconhecida, deixou-se envolver. E sim, aceitou o beijo que o rapaz lhe deu e... Voltou ao passado.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que, talvez, ninguém esperasse algo assim nesse capítulo e que ninguém, provavelmente, quer isso...
Mas esse tipo de coisa ainda acontece, ainda mais com relacionamentos mal resolvidos. Como Finn e Rachel e Puck e Quinn nessa fanfic.
Mas continuem acompanhando, espero reviews!
Beijos, até a próxima o/