Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 3
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo de Senhora Sulista. Queria agradecer a todos que acompanham. Esse capítulo foi um dos que eu mais gostei de escrever.
Enjoy!



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Capítulo 3 – Dinnie Ray

Quando o vi passando pela porta e se afastando de mim, me senti tonta. Minhas fortes pernas não aguentaram meu peso e desabaram no chão. A ardência em meus olhos aumentou até se transformarem em um rio de lágrimas. Como eu me odiava. Me amaldiçoava por não conseguir ser feliz com o que tinha. Amaldiçoava Marco por não me deixar ser feliz com o que tinha. Tantas vezes eu tinha visto Daniel passar por aquela porta em forma de adeus, mas parece que nenhuma doeu tanto como aquela.

Tentei me levantar, mas o chão me puxava sem piedade de volta. Não consegui me ergue de novo e me encolhi ali. Como poucas palavras conseguiam mudar a minha vida. E a faltas dessas palavras poderiam acabar com ela. Eu poderia ter ido atrás de Daniel. Na verdade, a ideia de soltar a verdade tinha passado pela minha cabeça. Mas, se nem eu estava preparada com a verdade, quem dirá Daniel.

Marco era apenas um antigo amante. Meu primeiro amante. Mas, para Daniel, ele era o pai. Mesmo nunca o tendo conhecido, era sangue do seu sangue. Noah tinha me aconselhado a manter aquilo em segredo. Claro, depois de lhe garantir que eu não estava louca, nem que tinha tido uma visão. A lembrança de seus lábios nos meus ainda queimava viva em minha cabeça.

“Isso é sério , Dinnie”, ele disse , tenso.

“Você acha que eu não sei disso?”, retruquei , frustada.

Noah se levantou e fechou a porta, depois de verificar que não tinha ninguém escutando atrás dela. Ele voltou a se sentar na cadeira. Seus olhos azuis pálidos ficaram assustadores e ameaçadores, enquanto ele divagava em pensamentos. Passei a língua pelos lábios e pigarreei, chamando sua atenção.

“Isso não é o pior”, garanti.

“Me surpreenda”, ele se inclinou para frente e esperou. Dei um meio sorriso amargo.

“Ele tinha uma tatuagem de tigre no pescoço”, revelei. “E olhos cinzas”

“Isso quer dizer...?”

“Que ele é o 'amigo' de Luke e o criador dos Vampiros Rebeldes”, terminei e soltei o ar.

Era tão bom desabafar com alguém. Noah se levantou, inquieto e começou a andar de um lado para o outro na sala, com as mãos para trás. Girei na cadeira, o observando e vendo um tipo de reflexo da minha reação nele. Quero dizer, sem o choque inicial.

“Você tem que denunciá-lo”, Noah disse, de repente.

“Eu sei”, afirmei. Minha garganta se apertou.

Na verdade, eu deveria ter feito isso a muito tempo atrás. Mas, eu não tinha coragem. Será que isso significava que eu ainda o amava? Noah parou a minha frente e colocou as mãos em meus ombros. Aquele olhar estudioso queimava nos olhos azuis pálidos dele.

“Dinnie Ray, nossa raça vem primeiro”, ele lembrou.

Desviei meus olhos do dele e suspirei. Sabia que nossa raça vinha primeiro. Essa tinha sido umas das primeiras regras que tinha aprendido. Mas, agora que Marco era da nossa raça, eu não deveria protegê-lo? Balancei a cabeça com fúria. Ele tinha matado muitos de nós. Tinha matado Abigail e Mikael. Eu não poderia simplesmente esquecer disso.

Querendo admitir ou não, Noah tinha razão. Eu realmente tinha que denunciar Marco. Só que, além dessa questão com Marco, tinha outra coisa que também estava me incomodando esse mês. Levantei a cabeça para encarar Noah que esperava pacientemente a minha decisão e perguntei:

“Devo contar a Daniel?”

“Por enquanto, acho que não”, ele hesitou nas palavras. “Daniel ainda é novato, pode perder o controle rapidamente. Não queremos distraí-lo ao ponto que faça alguma besteira.”

Novamente, Noah tinha razão. Eu não poderia simplesmente chegar para Daniel e dizer que seu pai, que acreditávamos estar morto a mais de vinte anos, estava vivo e era um vampiro. Além de ser um assassino traidor. Se eu ainda estava digerindo isso, não era como se eu pudesse sair contando a ele.

Noah e eu ficamos ali até o escurecer do dia, discutindo de que modos poderíamos pegar Marco e entregá-lo. Também tentando ver como Luke tinha mantido ele em segredo por tanto tempo. Aproveitei e contei sobre a minha suspeita de Josh. Noah concordou que ele era bastante suspeito e que deveríamos ficar de olhos abertos. E que, quanto menos gente soubesse, mais fácil.

Isso incluía, Daniel e Luanne.

Eu só não sabia que, para manter esse segredo, teria que me afastar do bem mais precioso de toda a minha vida. Muito menos que ele se afastaria de mim. Querendo ou não, esperava guardar esse segredo e que Daniel ficasse ao meu lado, mesmo não sabendo o porque ou pra quê. Só que paciência tem limite e ele chegou a dele.

Nem percebi que tinha dormido no chão da sala, só no dia seguinte. A luz do sol atravessou a janela e tocou em minha pele sensível. Me levantei, sentindo-a pinicar e me arrastei para o quarto com os pés de chumbo e a os ombros tombados para baixo, derrotada. Comparada ao jeito que eu acordava antes, aquilo era o cúmulo da solidão.

Estava no comando automático. Vesti maquinalmente a calça jeans clara e a camiseta preta. Catei saltos baixos ao lado da cama e calcei. Ajeitei meu cabelo em um rabo de cavalo e coloquei minhas lentes de contato, fazendo com que meus olhos ficasse em um tom violeta. Saí de casa, atrás de um bom restaurante onde eu pudesse comer.

Atravessei a divisa com o Leste e segui a passos mecânicos. Aquele era o pior lado de se perder uma pessoa amada. Andar sem rumo, esperando que aquele caminho traga a pessoa de volta. Mas, o caminho que eu fiz, só estava me arrastando ao passado, literalmente. Só percebi que tinha parado em frente a oficina abandonada onde eu e Marco nos encontrávamos a anos atrás, quando senti minha perna batendo na antiga cama que ainda habitava solitária ali.

Andei até a janela pintada com uma rala tinta vermelha e toquei. Era como voltar no tempo. O cheiro humano de Marco ainda habitava o lugar e o enchia com o restante de sua vida. Me peguei lembrando de nossa fugidas para ali. Como ele sabia exatamente o que fazer para me calar. Deitei minha cabeça na janela, sendo atingida pelas lembranças e deixando minha mente dançar por meio delas.

Só agora eu percebia o quão ruim era ser preso ao passado. Muito menos quando ele volta para você com toda a força. Te faz esquecer do presente e desistir de um futuro. Um futuro com Daniel. Suspirei alto, percebendo o maior erro que tinha cometido. Mas, ao mesmo tempo, o que será que Daniel faria se soubesse que seu pai ainda estava vivo?

E o pior, o que ele faria se soubesse que seu pai estava vivo e que eu não tinha contado nada? Mordi os lábios, pensando nas possibilidades. Se , quando eu escondi que tinha tido um caso com seu pai, ele já tinha pirado... Não. Balancei a cabeça expulsando aquela ideia da minha cabeça. Estava tão confusa.

O vento bateu em meu rosto, me fazendo recuar. Primeiro, não deveria ter vento ali dentro. A janela estava fechada e o ar parado. Segundo, o cheiro humano de Marco, se misturou ao cheiro do novo Marco. Me virei lentamente, e encarei seu olhos cinzas familiares. Enquanto ele tinha um meio sorriso zombador no rosto, eu mantinha meu rosto neutro.

“Doce, Dinnie”, ele disse e seu sorriso aumentou.

Sua voz fez com que eu fechasse meus olhos. Na minha cabeça, aquilo ainda era uma louca alucinação. Mas, era tudo tão real e sólido. O cheiro, sua voz. Abri os olhos, expulsando tudo aquilo da mente. Tentei recuar, mas minhas costas bateram com força na janela. Marco riu.

Eu aina tinha momentos de choque quando o via, mas, diferente da outra vez, eu não caí no chão. Até porque, não tinha espaço para eu cair. Ele esticou a mão até os fios dourados e os tirou do rosto. Lembrei de como eu adorava fazer isso. Tão macios. Balancei a cabeça mais uma vez e estreitei meus olhos, tentando me fazer firme.

“O que quer, Marco?”, perguntei. Me orgulhei de mim mesma quando a minha voz não tremeu. Seu rosto ficou sério.

“Você sabe o que eu quero, Ray.”, uma brisa bateu em meu cabelo e no momento seguinte, seu rosto estava a centímetros de distância do meu. Não tive como recuar, então apenas pus minhas mãos em seu peito, o detendo. “Eu te quero”, seu hálito em meu rosto, fez minha cabeça rodar.

Ele estava tão perto...

“Não”, o empurrei com força, fazendo-o cair sentado na cama. Cruzei meus braços na frente do meu peito, como um tipo de defesa. Mantive meu olhar frio, enquanto ele ria. Esperei que terminasse para continuar. “Nós vamos conversar. De homem para mulher. Adultos.”

“Claro que vamos, Ray. Só estava brincando com você”

Levantei mais a cabeça, para que desse um ar de superioridade. Marco deu seu meio sorriso, deixando parte de suas presas aparentes. Se ajeitou na cama, pondo o cotovelo no lençol e deitando a cabeça na mão. Seus cabelos loiros caíram por seu rosto, escondendo parte dos olhos cinzas. Engoli a seco.

Já era bom que ele estava se dispondo a conversar, assim seria bem fácil. Pressionei minhas costas com mais força contra o vidro e escutei-o começando a rachar. Dei um passo a frente, incomodada. O sorriso de Marco aumentou. Tentei compará-lo com o mesmo que era a vinte anos atrás.

Aparentemente, era quase o mesmo, tirando a pele pálida. Mas, olhando para ele, era como se visse outra pessoa. Ele não tinha a humanidade e nem aquela luz em seus olhos. Ele era frio. Mais frio até que eu. Parecia calcular cada movimento meu. Aquilo já era parte da natureza dele. Ele não conseguia conciliar , como...

Como Daniel.

Só de trazer o nome dele a tona na minha mente, já me fazia encolher de dor. Eu tinha que dar um jeito de terminar meu passado com Marco e contar a verdade a Daniel. Claro, que, teria que descobrir, como, diabos, seu pai que achávamos que estava morto a vinte anos, estava vivo e era um vampiro.

“Estou esperando, Ray”, Marco disse , me acordando de meus pensamentos.

“Marco, quem te transformou?”, perguntei não querendo enrolar. Na verdade, eu não queria ficar em um lugar fechado com Marco. Não com ele tão perto de mim e eu tão confusa.

“Esqueci o quanto você era direta.”, ele sorriu.

“Eu esqueci o quanto você gostava de me enrolar.”, retruqui. “Me responda, Marco”, minha voz estava rude e eu ameaçava rosnar a qualquer momento. Marco apenas achava graça disso tudo. Eu não estava com a mínima vontade de rir.

“Doce, Dinnie, se eu pudesse te responder.”, ele se levantou e eu fiquei tensa. Ele começou a andar de um lado para o outro, como se estivesse preso em pensamentos. “Sabe, eu nunca gostei de vampiros.”, ele me revelou. Minha mão se fechou na calça com força. “Mas, então, eu te conheci. Só que, você era uma vampira e eu odeio vampiros. Quando ficávamos juntos, eu tentava ao máximo não pensar que você é uma vampira. Mas você era. E agora eu sou.”, ele gesticulou para o próprio corpo. Me segurei para não seguir seus gestos com os olhos. “Eu quero bagunçar um pouco agora, senão se importa. Cada área por vez.”

“Fique longe de mim e de Daniel.”, avisei. “Se não gosta tanto de ser vampiro, se mate”, rosnei. Marco jogou sua cabeça para trás e tornou a rir. Continuei séria.

“Daniel, sim, meu filho.”, Marco assentiu consigo mesmo, ainda pensativo. “É incrível seu desejo de me trocar por alguém que tem o mesmo sangue que eu correndo nas veia...”

“Cale a boca”, ordenei.

“Meus olhos, talvez a mesma capacidade de te fazer delirar na cama”, ele continuou como se eu não tivesse dito nada. Meu sangue começou a ferver e a raiva tomava conta de meus olhos. Isso só fez rir cada vez mais. “Então, é isso mesmo, não é? Você o usa para me esquecer”

“Eu disse para você calar a boca”, antes que eu percebesse, minha mãe estalou no rosto de Marco, deixando uma avermelhada marca em seu rosto.

Seu sorriso sumiu no mesmo segundo e seu rosto assumiu uma expressão série e assustadora. Assustadora até mesmo para mim. Ele segurou minha mão que ainda estava no ar e a abaixou, lentamente, mas com força. Retesei meu corpo e minha respiração saiu rápida pela minha boca. Ele tinha muita força.

“Se você não quiser perder essa linda mão, nunca mais faça isso.”, ele disse num tom baixo e ameaçador.

Seus olhos cinzas pereciam queimar e ele aproximou seus lábios dos meus, mas não o suficiente para me beijar. O suficiente para que eu pudesse ver as suas presas. Quis recuar, mas ele ainda segurar meu pulso com força. Meus olhos estavam arregalados. Me sentia uma vampira novata, novamente. A adrenalina fluía com tanta pressa que machucava. Mas eu não abaixei a cabeça. Vendo que eu não diria nada, Marco me soltou com fúria e caminhou lentamente até a porta.

“Isso ainda não acabou, Ray.”, ele prometeu, então riu. “Isso, nem, ao menos começou.”


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Notas finais do capítulo

Será que Marco cumpre tudo o que diz? Será que Ray vai se livrar do feitiço dele? Comentem e me digam o que gostariam de ver na história. Vou adorar cumpre alguns pedidos. Até a próxima sexta.
Ah, sim. Agora eu estou de férias, o que quer dizer que vou poder escrever mais e postar mais rápido.
Comentem!



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