Hermione não fazia ideia para onde estava indo. Era como se alguém tentasse encher a cabeça dela com pensamentos que pareciam pertencer a outra pessoa, mas ela sabia que eram dela.
 Hogwarts... Toca... Voldemort... Orfanato... Estupro... Torre de Astronomia... Snape... Harry...
Foi quando uma dor dilacerante percorreu seu corpo e sentiu que havia chegado ao seu destino, seja lá qual for, e percebeu que havia acabado de estrunchar. A dica dos três Ds só havia sido assimilada agora. Tentou sentar-se e analisar seu ferimento.
Tom... Dor... Grito... Cama... Minerva... Gatos... Cedrico... Fogo...

– AHHHHHHHHHHHHH!!!!!! – Gritou quando conseguiu olhar para sua perna. Gritou de choque, medo e dor. Dor em sua cabeça também, que parecia estar sendo forçada a absorver informações desconhecidas. Berrava a plenos pulmões, sentindo o sangue escorrer pela dilaceração em sua perna e manchar seu vestido bege claro de inverno.
Dumbledore... Guerra... Beijo... Vida... Mansão... Pok...
Dois jovens ruivos e altos se aproximaram de Hermione, apesar de ela não perceber isso, estava alheia a tudo que não fosse a dor e as imagens em sua cabeça.
– Fred, é a Hermione! – Jorge a pegou no colo e correram para a Toca. Sorte que eles já estavam na estradinha de entrada. Se eles tivessem resolvido aparatar dentro de casa, Hermione morreria gritando do lado de fora devido aos feitiços protetores.
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 –Onde estou?- Foi a primeira coisa que ela disse quando acordou no quarto de Gina.
 – Ó Céus! Arthur! Está tudo bem! Ela acordou! – Senhora Weasley gritou para a porta.
– Acordou?
– Hermione está bem?
– Ela acordou?
Várias pessoas falaram no andar de baixo e, logo após, vários baques surdos começaram a soar nos degraus da escada.
– Ei, ei, ei! Saiam daqui! Ela acabou de acordar! – Molly tentava barrar todos que tentavam entrar pela pequena porta.
– Mas Sr.ª Weasley... – Harry, como reconheceu Hermione, falou. Tentou lembrar-se de como ele era fisicamente... Baixo, magricela... Olhos verdes e... Faltava algo... Ah, sim, cicatriz de raio. Olhou para a porta, de baixo dos braços estendidos de Molly, um garoto idêntico a descrição de Hermione estava ali. Mas...
Como ela havia chegado ali? Lembrava-se de estar no jardim com Tom e...
– Sem mais, Harry! Saia! Não queremos ser precipitados, não sabemos em que estado ela está!
Ele resmungou algo e saiu, assim como os outros Weasleys. Molly voltou a sentar-se ao lado da cama onde Hermione estava deitada, ainda olhando para porta...
– ...’om... – Hermione falou. Sua voz não saiu.
– Ah, coitadinha... Onde está doendo, querida?- Senhora Weasley perguntou docemente, mas ao mesmo tempo aflita.
Hermione começou a lembrar tudo o que havia acontecido na mansão, como Tom cuidara dela, como ele a ajudara a superar aquilo. Ela se perguntou se fora a atitude certa sair dos braços dele. Logo após esse pensamento, questionou sua sanidade.
É claro que ela agira certo! Tom era Voldemort! Matava pessoas! Ele... Ele era mal! Ela precisava ajudar seus amigos e família!
Ela também não podia negar que o amava, mas... Que reação ela teria se de repente despertasse e visse Voldemort na sua frente? Por puro reflexo ela desprotegeu a área ao redor de si e aparatou para... Para a Toca? É, ela estava na Toca, mas... Como Fred e Jorge a encontraram? Onde ela havia aparatado? Ela lembrou-se de ter estrunchado...
Sentou-se imediatamente para ver sua perna.
– Calma, calma! Fique deitada, menina! – Ralhou Sr.ª Weasley, Hermione abaixou o cobertor que a cobria e olhou para sua perna. Estava usando uma camisola (de Gina) que deixava suas pernas a mostra. Viu que não tinha nenhuma cicatriz nova, só as que ela já conhecia. Pelo visto, Molly era boa com feitiços curativos.
Ela deitou-se novamente, puxando o cobertor de volta.
– Você perdeu muito sangue... – Impressão sua ou ela não era a primeira pessoa a lhe dizer aquilo? – Precisa descansar – O que? Não! Ela tinha muita coisa para falar com Harry... Oh, Harry! O que ela diria? “Ah, é, Harry, eu arrisquei a vida de muitas pessoas e a minha, apesar de eu ser uma egoísta horrível que só pensa em si e merece a morte, e, no final das contas, não consegui horcrux droga nenhuma...”, ela imaginou, ah, mas faltava uma parte: “E falando nisso, eu cai de vários lances de escada e passei uma semana de férias muito divertida na mansão de Voldemort...”.
Ela jamais, em hipótese alguma, seria capaz de mencionar Tom para ninguém. Ele era... Indescritivelmente dono do amor dela, mas ela não podia deixar todos na mão...
Por outro lado, ela também não acreditava que ele iria a querer de volta. Mas... Se ele não a amasse mais não teria se preocupado com ela, certo?
– Hermione! – Sr.ª Weasley exclamou de repente. Hermione estava pensando muito nela, logo, logo começaria a sofrer novamente. Decidiu adotar a velha tática: Durante o dia se distrair, a noite chorar.
– Desculpe... Hm, Sr.ª Weasley? Como eu vim parar aqui? – Perguntou, sentando-se lentamente para não preocupara Molly.
– Ah, você deu muita sorte – “Sério?”, Hermione pensou cética – Fred e Jorge estavam voltando da loja, incrível como eles não dão a mínima para as regras de segurança e continuam trabalhando, eu disse que não... Oh, enfim, eles resolveram testar suas novas vassouras na volta para casa, não preciso ressaltar o quão imprudente eles tem sido... Bem, eles são da família, são fieis do segredo, por isso podem atravessar a barreira protetora da nossa casa – Completou ela para a cara confusa de Hermione – Estavam quase chegando aqui quando encontraram você na colina... Aliás, como você veio parar aqui? Pensei que a Sala Precisa estivesse bloqueada...
Ops, o que ela diria?
– Ow, a sala está bloqueada, eu... Eu não estava em Hogwarts... – Molly inclinou a cabeça para um lado, franzindo o cenho – No... No dia da inspeção – Hermione engoliu seco, mais lembranças invadiram sua cabeça sobre aquele dia, fazendo um nó doloroso em sua garganta – Grifinórios foram dispensados, eu fui para a Torre de Astronomia – Primeiras lágrimas saíram a medida que os acontecimentos daquela tarde invadiram sua mente – E... Caí as escadas... E... – Agora os soluços invadiam sua boca, impedindo que ela continuasse.
– E...? – Instigou Sr.ª Weasley – Hermione, que vestido era o que você estava usando? Não parecia ser seu... O que aconteceu?
– Eu não sei! – Ela falou alto, levando as mãos à boca, chorando mais. Esperava, do fundo de seu coração, que ela acreditasse – Eu... Eu me lembro de estar em... Em um jardim com minha varinha em mãos... Só, só consegui aparatar, mas... Acho que não me concentrei... – Soluço – O... O suficiente... – Foi abraçada pela Sr.ª Weasley. Bem, pelo menos, ela estava sendo convincente, mesmo que o motivo de seu choro não fosse o mesmo de suas palavras.
– Sr.ª Weasley? – Um garoto inseguro e magricela falou na porta do quarto – Posso conversar com Hermione? – Ele disse meio temeroso à porta.
– Hm... – Ela olhou para Hermione, a jovem enxugava as lágrimas com as mãos enquanto assentia – Pode ser... Eu... Eu acho que sim...
Ela saiu do quarto e Harry sentou-se na cama, ele segurou a mão de Hermione e acariciou a testa dela.
– Como você está se sentindo? – Ele perguntou. Ela sorriu minimamente, porém seu sorriso se desfez.
– Ah, Harry... Eu não consegui, não consegui encontrar! Foi uma perda de tempo! Malfoy me capturou e me entregou para Snape! Ele interditou o terceiro andar e me obrigou a permanecer em Hogwarts, assim, mesmo seu eu conseguisse “cumprir meu objetivo”, eu não teria como voltar! Eu fiquei apavorada... E, não tinha como procurar as horcruxes! – Ele tapou a boca dela nervoso – Desculpe, desculpe! Mas, no dia da inspeção – Ela contou para ele a mesma história que contara para Sr.ª Weasley, esperando que ele, que a conhecia tão bem, também acreditasse.
– Você não se lembra de nada? Nada mesmo? – Ele insistiu. Ela negou com a cabeça.
– Me desculpe – Ela falou isso também por não poder contar o que aconteceu.
– Ok, está tudo bem... – Eles se fitaram por um tempo - Descanse, tá? – Ele beijou a cabeça dela e saiu. Hermione sabia que, por mais que não aparentasse, ele estava decepcionado.
Respirou fundo. Ainda teria muito com o que se preocupar.