A manhã demorou a passar no trabalho. Estar apaixonado é engraçado, só pensamos e queremos ficar com a pessoa que amamos, nem mesmo os motores dos carros que sempre me distraíram eram capazes de afastar a imagem de Nessie da minha mente. A noite passada eu quase perdi a cabeça quando ela estava sobre mim, eu realmente preciso arrumar um jeito de me controlar, se Edward descobre estas coisas na minha mente, é certeza que eu não terei mais cabeça para pensar em Nessie.

No horário do almoço meu celular tocou.

- Oi lindo.

- Princesa! – eu suspirei alto – Como é bom ouvir sua voz, onde você está?

- No colégio ainda, está almoçando?

- Sim. Você já almoçou?

- Disfarçadamente – ela riu, Renesmee preferia sangue a comidas humanas – Surpreendentemente eu comi uma maçã.

- Nossa Nessie, como você está?

- Com uma dor horrível de estômago agora.

- Minha sanguessuga linda.

- Eu estou com saudades.

- Eu também, morrendo.

- Recebeu minha mensagem ontem?

- Sim, o endereço está comigo, as sete então?

- Isso, não se atrase... ou eu mordo você.

- Tentador isso.

- Beijo, te amo.

- Também amo você, princesa.

Nessie gostava muito de ir ao colégio, ela fora matriculada na mesma instituição que os pais dela haviam freqüentado no passado, o problema é que 10 anos não é um tempo tão longo assim mesmo para a lembrança dos mortais; eu sei que havia um ex-colega de classe de Bella que agora era professor de biologia no Colégio de Forks, Mike alguma coisa era o nome dele, ele se tocou do sobrenome de Nessie uma vez e perguntou se era uma parente de Edward ou Bella, afinal, a semelhança com eles era inquestionável. Renesmee tinha muito de Edward, o formato aquilino do nariz e a curvatura da boca, mas, inquestionavelmente ela era quase uma réplica da mãe; a cor dos olhos era escandalosamente “Bella”, assim como o contorno do queixo e o delinear de suas sobrancelhas, sua boca sempre permanecia com os lábios entreabertos... algo sensual e delicado que sempre havia me chamado atenção em Bells antigamente, o cabelo era levemente ondulado e tinha uma nova tonalidade brilhante de castanho perolado. Era absurdamente linda, não, melhor, era diabolicamente linda.

Eu sempre vi Nessie com muito cuidado e respeito, isso até ela completar os seus oito anos de idade e eu perceber que ela se transformaria numa linda menina, mas, obviamente, eu continuava cuidando dela como se fosse uma espécie de irmão mais velho... e ela nunca se importou com isso. Eu sempre soube que Nessie me via com um carinho especial, sempre estive presente em seus pensamentos num lugar de destaque junto com Edward e Bella e, por um tempo, temi que eu apenas representasse isso para ela: um irmão.

Mas, ao completar 10 anos de idade, Renesmee já tinha uma maturidade absurda mesmo aparentando ter apenas uns 17 anos e entrou para a escola matriculada no ginásio, não demorou nada para saber que ela era de longe a garota mais popular da escola: era linda, inteligente, rica e pertencia à misteriosa família Cullen cuja qual ninguém sabia direito sobre nada.  Os meninos eram obcecados por ela, Nessie herdou o charme e a beleza sobrenatural dos vampiros, acho que é difícil explicar como uma vampira se parece a um ser humano comum... mas vou tentar.

Renesmee não parecia caminhar... ela flutuava, como se o chão deslizasse sobre seus pés; seu corpo... sua pele parece tão delicada e exala uma sensibilidade extravagante a ponto de parece um ser luminoso mesmo sem sair ao sol; seus olhos são discretos, secretos e misteriosos mas possuem um brilho estelar que nenhuma outra garota mortal possui, ela tem os mesmo modos delicados e recatados de Alice, como uma fada fantástica saída de algum conto fantasioso; seus cabelos tendem sempre a acompanhar seus movimentos, como se fossem vivos movendo-se qual as ondas de um oceano tranqüilo...sua voz é angelical, sedutora e doce e seu perfume é como os dias ensolarados de primavera.

E tudo isso pertence a mim... não sei o que fiz para merecer.

Mas, enfim, imagino como os garotos do colégio reagiram ou reagem com Nessie por perto, no começo isso me deixou louco de ciúmes, eu não conseguia imaginar minha Renesmee cercada por garotos de todos os lados apaixonando-se por ela. Era um martírio para mim que sempre ia buscá-la no colégio quando tinha um tempo, ela me esperava um pouco mais distante de todos, não por vergonha ou por querer me esconder algo, mas é porque realmente nós tínhamos que manter sigilo sobre nós e nossa família.

Esse ponto foi a prova incontestável que eu tive do amor que todos os Cullens mantinham por Nessie, eles desejaram permitir que ela tivesse um começo de vida saudável e optaram por manterem-se ocultos e enclausurados na mansão para que Nessie pudesse ter o mais próximo de uma vida normal. Eu também tinha que ajudar nisso.

Graças aos céus o meu medo se mostrou infundado porque Nessie entregou seu coração a mim e provou que estávamos destinados a ficarmos juntos para sempre. Ainda assim, ela vira e mexe recebe uma mensagem romântica em seu celular de algum idiotinha do colégio que é apaixonado por ela; cara, isso me irrita pacas e eu tenho que me concentrar um monte pra não ir dar uma sova em alguns destes cretinos. Mas fazer isso seria demonstrar insegurança e falta de confiança em Nessie, por isso me controlo.

A tarde se arrastou como uma lesma, sempre que olhava para o relógio os ponteiros malditos pareciam não terem saído do lugar, essa espera me deixava louco, mas eu procurava me concentrar porque parecer afoito demais seria desastroso; mais que tudo eu desejava que Nessie realmente tivesse uma vida normal e ter um namorado grudento seria trágico demais, eu não permitiria que a minha Impressão de lobisomem me transformasse num chato. Nessie precisava de espaço para cumprir sua rotina de garota de 17 anos e eu respeitaria isso nem que precisasse me amarrar numa árvore.

Às cinco horas eu não agüentei mais, já havia terminado boa parte do meu trabalho e deixaria um pouco para amanhã, pedi desculpas ao Tom por sair correndo e voei até o meu velho e fiel Rabbit – Bella quis me dar de presente um Mustang no ano passado, eu me mordi de vontade, mas não pude aceitar, não conseguiria manter um carro assim com o salário que ganho – pisei o acelerador e sai deslizando pelo asfalto até a Reserva, eu jamais iria encontrar Nessie cheio de graxa e por isso fui para casa tomar um banho.

- Jacob? Que cheiro é esse? - Billy gritou para mim lá da cozinha.

- Nada, pai.

- Você está usando perfume?

- Não.

- Então que cheiro é esse?

- Não sei.

- Você vai sair?

- Sim. Vou buscar Nessie.

- Ah, isso explica o perfume.

- NÃO ESTOU USANDO PERFUME. – eu gritei.

- Claro que não. Você e Nessie estão saindo?

- Namorando.

- E você tem absoluta certeza de tudo isso?

- Instinto de lobo, pai.

- Sei, sei, e você acha que é uma boa idéia? Você não tem muito a oferecer a ela, Jake.

- Como assim? - eu disse indo até a cozinha e olhando para ele.

- Nós não somos ricos como os Cullen, filho. Renesmee é uma princesa e você o cão de guarda do castelo.

- Billy – eu disse, cortando sua fala de modo educado – Nessie não liga para essas coisas, nenhum dos Cullen liga; você está preocupado com isso? Pai, seu filho é um lobisomem e a mulher da vida dele é uma vampira, para que mais coisa que isso? Além disso, eu vou viver para sempre então provavelmente em algumas décadas teria tanta grana quanto os pais de Edward.

- Eu sei, eu sei... pena que não estarei aqui para ver você bem de vida.

- Ora... você me deu mais do que eu mereço, e eu não preciso de dinheiro para ser feliz, pai. Não fale besteira, está bem? Eu vou indo, senão me atraso, depois eu volto e não fique sem jantar.

Saí para a noite fria apenas com uma camiseta, eu não sentiria frio mesmo. Olhei para o carro e me toquei que deveria tê-lo lavado para causar uma boa impressão, mas Nessie não se incomodaria com isso, eu apenas iria buscá-la e talvez a gente pegasse um cinema ou parasse em algum outro lugar para namorar um pouco... até porque, não era muito bom fazer isso com Edward por perto.

Dobrei à direita depois da loja de ferragens e segui pela rua que estava no endereço que Nessie me passou, as casas eram bonitas aqui – nem chegavam perto à de Carlisle, claro – a maioria tinha tijolos a vista com jardins de gramados amplos e calçadas limpas, janelas iluminadas me espiavam passar ansioso para ver minha Renesmee, era engraçado, sempre que eu a via parecia ser a primeira vez. Coisa do amor, provavelmente.

315... 316..317.. .e... ali, 318.

Era uma casa bonita também, pintada de azul claro e tinha dois pavimentos amplos com um portal grego como entrada, um pouco escandalosa talvez, mas, ainda assim, uma casa bonita. Tinha uns cinco carros na frente, provavelmente das colegas de classe de Nessie. Quando parei e pensei em pegar o celular para dar um toque para ela, ouvi uma batida leve no vidro do carro e me virei rápido para ver o que era. Renesmee sorria como o sol.

- Vampirinha, nem vi você chegar.

- Vim te esperar aqui fora - ela me deu um beijo assim que baixei o vidro.

- Passei o dia todo esperando este beijo, vamos?

- Hum... – ela fez uma careta – Preciso pedir um favor daqueles que apenas uma namorada pede.

- Que foi? - eu perguntei estranhando.

- As meninas pediram pizza e eu não posso ir embora sem jantar com elas e quando contei que meu namorado vinha me buscar elas não vão sossegar enquanto não te conhecerem... – ela fez uma cara de desgosto que me lembrou a Bella na hora.

- Você jantando? Que sofrimento... – eu gemi - Sério?

- Bem, para te animar, as meninas convidaram alguns garotos da sala e dois deles ficam dando em cima de mim, o que você acha de assustá-los um pouquinho?

- Opa, legal, pensando bem, pizza cairia perfeitamente agora... pizza e colegiais mortos.

- Jake... seja bonzinho, eles não tem culpa. Além do mais eu só amo você.

- Eu sei disso, linda... não esquenta, eu sei me controlar.

- Hum... ótimo, me doe mais um beijo antes da gente entrar.

Bom, eu acabei puxando Nessie para dentro do carro e só percebemos que o beijo demorou quando o celular dela tocou e era uma das amigas avisando que a pizza já tinha chego. Interessante como um beijo distrai.

Saí do carro e olhei para a casa respirando fundo, eu não era muito sociável com estranhos, nesse aspecto sempre me comportei com receio, na Reserva era uma coisa, no mundo “real” era outra, eu era diferente por ser Quileute e por ter mais de dois metros de altura. Nessie sorriu tentando me confortar e abriu a porta.

Os olhares correram dela para mim, era uma sala ampla onde os sofás tinham sido empurrados contra os cantos e todos estavam sentados no chão sobre almofadas e tapetes, olhando lá de baixo eu provavelmente parecia um gigante. Havia quatro garotas e três rapazes na casa dos seus 16 ou 17 anos.

- Gente, este é Jacob, meu namorado. Jake minhas amigas Sarah, Kim, Lana, Pam... e estes são Tim, Jonny e Liam....

- Olá... beleza? - eu disse sorrindo.

Como não ouve resposta e pelas caras e bocas abertas eu deduzi que todos estavam meio em choque ainda, Nessie procurou agir normalmente apesar de ter apertado minha mão, ela caminhou em direção à sala no momento em que o pessoal encontrou novamente a fala. Sarah era a amiga mais próxima de Nessie e parecia se dar muito bem com ela – se bem que qualquer um queria ser amigo da garota mais popular do colégio – Kim, Lana e Pam vieram e me cumprimentaram, eram bonitas apesar de que uma top model fica feia perto de Nessie. Os garotos se levantaram – o mais alto malmente chegava no meu ombro – Tim me cumprimentou com uma sinceridade nos olhos que eu notei na hora e percebi que ele era um dos que não “dava” em cima de Nessie.

- Cara... – ele disse apertando minha mão – Você é Quileute, não é? Se tiver mais alguns na Reserva com esta altura vocês poderiam facilmente ter um time de basquete.

- Ah, pior que todos os meus amigos são mais ou menos da minha altura.

Os outros dois eram mais do tipo mauricinhos babacas, eu já tinha notado isso pelos carros estacionados lá fora, rebaixados e tal, eles não me cumprimentaram e apenas acenaram com a cabeça malmente me olhando, acho que eles esperavam poder intimidar o namorado da Nessie... se ferraram, eu não pude deixar de sorrir.

Eu sentei no chão com Nessie na minha frente sobre a proteção de meus braços, achei que o pior tinha passado quando Kim nos passou refrigerante e pizza... mas acabei me enganando.

- Jacob, então me conta, Nessie fez suspense até agora e não tinha nos contado nada sobre você ainda... tipo, onde vocês se conheceram? - perguntou Sarah

“Droga... droga... droga, eu sabia que elas iriam vir com esse papo – Nessie me disse através de seu elo mental e segurando com força minha mão”.

“Relaxa princesa, eu cuido de tudo”.

- Então – comecei – Na real eu e Renesmee estamos namorando há pouco tempo, desde domingo, não é princesa? Então acho que por isso não deu tempo de ela comentar com vocês. Nós nos conhecemos a um tempinho, mas posso dizer que me apaixonei por Nessie desde a primeira vez que a vi em uma praia lá em La Push.

- Nossa... amor a primeira vista, então? - perguntou Pam.

- Sim – Nessie respondeu sorrindo – Amor à primeira vista.

- Que fofo, vocês formam um casal lindo. – exclamou Kim.

- É, garanto que tem gente se mordendo de ciúmes, não é Liam?

- Bom – disse o garoto loiro sentado num canto – A gente não pode ganhar todas, não é?

- Você nem chegou perto, Liam – disse Nessie com desgosto.

- E você já conhece os pais de Nessie e tudo mais? - indagou Sarah.

- Sim, os conheço sim, Nessie é linda como a mãe.

- Ah... – resmungou Kim – Eu ouvi dizer que Nessie tem um irmão lindíssimo.

- Irmão? - eu perguntei sem pensar.

- Acho que Kim se refere a Edward, Jake. Ela nos viu uma vez no mercado há um tempo, mas eu já expliquei que ele é muito bem casado.

- Um desperdício – continuou Kim – Tão jovem, tão lindo e casado?

- Kim.

- Desculpe, mas que ciúme deste irmão, não é?

Fiquei quieto, seria impossível que as amigas de Nessie acreditassem que Edward era o pai e não o irmão, afinal, ele tinha teoricamente a mesma idade que ela e por isso o papel de irmão ficou mais plausível, claro que Renesmee sentia ciúmes de Edward, eu precisava contar isso para a Bella.

Aos poucos fomos conversando e desviando o assunto de nós, era perigoso demais ficar contando muito e sei que Nessie se ressentia de mentir para as amigas; as meninas eram legais, assim como Tim, um garoto alegre e muito falador, mas que era totalmente despreocupado com tudo. Renesmee me comunicou por pensamento que ele era apaixonado por Sarah e por isso nunca a importunou com nada, e que ele era muito prestativo diferente dos dois idiotas que me olhavam torto do canto da sala.

- E o que você faz da vida, Jacob? - Liam perguntou a uma determinada altura do papo.

- Mecânico... trabalho na oficina do Tom.

- Ah – disse ele com cara de nojo – E não tinha nenhum emprego melhor aqui em Forks?

- Nem sei, cara. Eu me amarro em carros e sou viciado em motores, então ser mecânico foi a melhor opção para mim.

- Vocês da Reserva não tem muita opção de empregos, não é? Não tem muita coisa pra se fazer lá... o que vocês fazem para se divertir? Arco e flecha?

- Nós pulamos de penhascos... corremos pelas matas caçando animais selvagens, mas não usamos armas, com as mãos é melhor.

- Ah, qual é cara, ta me tirando uma é? Só com as mãos?

- Sim – eu disse levantando a minha mão que facilmente era muito maior que a cabeça dele – Esmago um crânio de um cervo facilmente.

Lancei um olhar assassino para ele e vi que Liam recuou um pouco.

“Jake, por favor, ele só está te provocando, está marcando o território dele” – a voz de Nessie tocou minha mente, alarmada.

“E o que eu preciso fazer para marcar meu território? Urinar em você?”

Renesmee não se conteve e gargalhou alto, e o pior é que ela achou tanta graça no que eu falei que não conseguia parar de rir... todos olharam para ela sem entender.

- Não esquentem – eu disse sorrindo – Eu causo este efeito nela.

- Percebi – disse Lana.

- Então, vamos lá meninada, venham me ajudar a lavar essa louça enquanto os meninos ficam aqui trocando farpas como homens das cavernas – disse Sarah tentando aliviar a tensão.

Eu aproveitei que Nessie acompanhou as meninas até a cozinha e dei a desculpa de fazer uma ligação para poder sair para o jardim por um momento, aquele loirinho com cara de fuinha quase me tira do sério. A noite estava gelada e apesar de não estar chovendo, o vento cortante conteve um pouco minha irritação, as nuvens navegavam insones no céu e eu contornei a casa procurando não ficar às vistas da janela da sala, caminhei pelo jardim de grama aparada até me encostar na parede lateral... nem me toquei que fiquei embaixo da janela da cozinha.

- Renesmee... – ouvi a voz de Sarah – Onde você arrumou aquele Quileute?

- Ah...eu...

- Não, sério Nessie – disse Kim – Se todos os garotos de La Push foram como ele, eu quero um para mim.

- Você viu aqueles braços? agitou-se Lana – O que eu não dava para ter um desses em cima de mim.

- Lana, que horror... - disse Nessie chocada.

- Não, imagina só, eu com um desses nem dormiria a noite...- Pam comentou rindo.

- E então, vocês já?  Bem, você sabe... - especulou Sarah.

- Nós malmente começamos a namorar, o que vocês estão pensando?

- Ah, Nessie, confessa, Jacob tem um jeito de ser... sei lá, quente.

- Bom... – Nessie não se agüentou - Quente? Vocês não sabem o quanto...

Eu fui obrigado a rir, papo de garotas. Eu não pude ficar ouvindo as meninas pressionando Nessie e então descolei da parede e voltei para a entrada da casa, não estava muito a fim de entrar de novo e estava me enrolando quando Tim apareceu na porta de entrada.

- Cara – ele me disse – Você ficaria chateado se eu te perguntar um lance de carro?

- Não, imagina... manda aí – eu falei aliviado porque achei que fosse sobre Nessie.

- Meu carro anda falhando para ligar, você sabe algo disso?

- Provavelmente é o alternador, ou o motor de arranque. Cara... quer que eu dê uma olhada?

- Não, Jacob, não quero te atrapalhar.

- Nem esquenta, eu só vou olhar e se for isso mesmo você pode passar na oficina amanhã e a gente resolve isso.

- Caraca, valeu mesmo, vem cá.

Tim não era um cara muito rico e seu carro era um Peugeot 106 bem maltratado, mas era muito melhor lidar com caras que tinham esse tipo de carro do que palhaços como Liam que andam de BMW e se acham os maiorais; ao abrir o capô do carro não demorou um segundo para Liam e Jonny aparecerem xeretar.

- Eu hein, Tim... como é que você consegue andar com essa lata velha ai?

- Fica na sua Jonny, pelo menos consegui o carro com meu dinheiro.

- Nossa que grosseria, Tim – respondeu Jonny rindo – Eu só estou brincando... e caraca, olha aquilo ali Liam... que carro é esse?

- É um Rabbit. – eu disse, apenas esperando um motivo para achatar a cara dos dois idiotas.

- Nunca ouvi falar... ah, espera, é um velho Volkswagen – disse Liam com desprezo.

- Sim... 1986, eu mesmo construí – eu respondi sorrindo.

- Cara, que maneiro – falou Tim impressionado – Ficou muito bom, quem dera eu pudesse construir meu próprio carro.

- Meu Deus, e não é proibido andar por ai com carros tão velhos? - perguntou Liam com descaso.

- Bom, você sabe... alguns andam por ai com carros velhos e outros andam em cadeira de rodas - eu respondi maliciosamente e saí de traz do carro de Tim caminhando em direção a Liam, talvez ele pensasse que com a ajuda de Jonny eles poderiam comigo.

Mas a audição de vampira de Nessie não deixou nada passar, antes mesmo de eu chegar perto dos idiotas ela já estava caminhando pelo jardim em nossa direção seguida de perto por todas as meninas.

- E então, o que está acontecendo aí? - Nessie perguntou se fazendo de desentendida.

- Nada, nós estávamos falando de carros... e de cadeira de rodas. – eu respondi dando um tapinha “amigável” nas costas de Liam, o garoto quase dobrou em dois.

- Homens... não mudam nunca. – disse Nessie me puxando para mais longe.

- Jake, as meninas querem falar com você.

“Eu tentei evitar” – ela continuou através do pensamento – “Mas elas estão com uma idéia absurda.”

- Jacob – começou Kim – Será que você não teria uns amigos para apresentar para a gente? Tipo, lindos como você?

Eu não consegui responder por que a única pessoa que até hoje disse que eu era lindo foi Nessie... então fiquei sem jeito.

- Bem, lindo como o meu namorado será impossível vocês acharem, mas tem alguns lobinhos bonitinhos lá.

- Lobinhos? - perguntou Lana estranhando.

- Ah, é que é um apelido dos garotos Quileutes.

- Eles são caçadores muito bons, é por isso – eu completei disfarçando a furada de Nessie.

- Mas eu já avisei a elas que será meio complicado.

Eu pensei em concordar com Nessie e dizer que não seria possível apresentar as meninas para os meus amigos, mas, pensando bem, poderia acontecer de algum dos mais novos acabarem tendo uma “impressão” e pronto... eu seria um Alfa Cúpido distribuindo sementes de amor pela Reserva, eu tive que rir desse pensamento.

- Eu acho que não tem problema não, posso apresentar vocês para alguns garotos da reserva.

- Sério... ah não acredito, quando? - perguntou Pam, animada.

- Tenho que ver com eles primeiro e digo para vocês.

Neste momento eu dei de cara com Tim e ele estava com uma expressão de desânimo terrível, aí eu me toquei da paixonite dele por Sarah e que agora estava para baixo pensando que teria que competir com alguns índios sarados de dois metros de altura. Meu cérebro pensou rápido... e até eu me surpreendi com minhas idéias relâmpagos.

- Acho que rola de vocês saírem uma hora dessas, só não garanto a Sarah.

As meninas me olharam surpresas, Sarah e Nessie com cara de choque.

- Não, não por nada, Sarah é uma gracinha, mas o pessoal da reserva não curte ruivas.

- Sério? - disse Sarah fazendo carinha de dó.

- Loiras e morenas são preferências em La Push, mas você pode tentar, nem sei, deixa eu pensar, mas não, não tem nenhum deles com quedas por ruivas, mas fiquei com a consciência pesada agora... Tim, você não conhece ninguém que curta ruivas?

É, eu sei. Ficou bem na cara que eu empurrei um em cima do outro... mas fazer o que? Eu nunca fui muito sutil mesmo.

- Eu adoro ruivas – disse Tim meio engasgando.

- Então fechou, eu convido meus amigos e a Sarah vai com o Tim para não ficar chato.

O silêncio que se seguiu foi meio estranho... pensei, por um segundo, que no fim eu ferrei com tudo, mas, por sorte o panaca do Liam me salvou.

- Ah Sarah, esquece o palhaço do Tim, eu vou contigo na reunião indígena e assim você vai muito bem acompanhada.

 Sarah acordou na hora e acho que ele preferia mil vezes o Tim ao Liam porque correu para o lado do pobre e embasbacado Tim, dizendo:

- Nem, vou com o Tim e pronto.

- Ótimo – eu me apressei em dizer.

- E quando você acha que nós poderemos ir a La Push, Jacob? Fim de semana?

Nessie se voltou para mim revirando os olhos e eu sabia que levaria bronca depois, obviamente ele planejava algo mais íntimo para o fim de semana do que lotar a Reserva com as amigas dela.

- Então, eu vou ver com os caras se eles podem fim de semana, talvez eles estejam ocup...

Eu não pude terminar a frase porque repentinamente um uivo agudo cortou o ar, um uivo longo, triste e lamurioso que encheu o céu por alguns momentos e então morreu lentamente na noite gelada. O silêncio que se seguiu foi total, ninguém se moveu ou falou algo e desconfio que ninguém respirava mais; mesmo as casas ao redor, cheias de vida e conversas, estavam silenciosas e com medo daquele uivo que acabara de arrepiar a todos. Eu encarei o céu crepuscular e não tive dúvidas... aquele fora o uivo de Sam Uley.

- Isso foi um lobo? - perguntou Jonny.

- O caramba que foi - retrucou Liam – Foi o urro de um monstro, nenhum lobo uiva deste jeito.

- Eu tenho que ir – declarei repentinamente e Nessie me segurou.

- Jacob, espere... o que foi?

- Sam. – eu respondi entre os dentes – Tenho que ir.

- Jake, espere. Vou junto.

- Não Nessie, eu não sei o que houve, vá para casa até eu te avisar.

- Eu não vou, não sabemos o que houve e pode ser perigoso, irei com você e você sabe que eu posso ajudar.

- Eu disse não, Renesmee.

- A sua voz de Alfa não funciona comigo. – ela disse teimando.

- Nessie – comecei mais calmo – Eu tenho que ir e não vou conseguir me concentrar se você estiver perto, eu preciso proteger você e saber que está segura, não sabemos o que houve e eu não quero alarmar sua família à toa, mas é óbvio que tenho que ir. Por favor, Nessie, faça isso por mim, por favor?

- Eu não gosto disso, Jake... não quero você em perigo por nada no mundo.

- Eu ficarei bem, tome, fique com a chave do carro e vá para casa, encontrarei você lá assim que resolver tudo – eu a puxei e a abracei erguendo-a do chão até meus lábios tocarem os seus num beijo urgente e rápido.

Nessie relutou um segundo e acabou pegando as chaves da minha mão, nesse ponto eu saí disparado pela rua atravessando o quintal de uma casa rumo à ponta da floresta que ficava umas cinco quadras dali, mas mesmo sem me transformar eu era mais rápido que qualquer carro e antes de sumir na quadra ainda ouvi Sarah nervosa:

- Nessie, o que foi tudo isso? Aonde Jacob vai?

Deveríamos ter conversado por pensamento com Nessie, mas na hora nem me toquei que havia mais pessoas conosco, a urgência era terrível, aquele uivo de Sam era inconfundível e só podia significar uma coisa: PERIGO.

Havia algo errado em La Push... e eu tinha que correr para lá.