Desde pequena minha mãe dizia que eu tinha uma personalidade forte, difícil de lidar. Ela me abraçava e orientava-me a fazer as minhas próprias escolhas. Seguir o caminho que eu quisesse e mesmo assim poderia contar com ela.

Eu era muito apegada a minha avó e quando ela se foi surpreendi-me ao ter recebido sua herança que ninguém sabia que ela tinha.  Fiquei extremamente contente em ter todo aquele dinheiro só para mim e decidi que o usaria só quando fosse necessário, claro que eu havia comprado um imóvel de cobertura, contratado uma empregada e um motorista, mas nada tão exagerado.

Conheci Stefan na faculdade e logo que isso aconteceu, nós dois começamos um relacionamento que durou dois anos até chegar ao noivado. Casar sempre esteve nos meus planos, não faço o tipo garota mimada, mas coisas românticas sempre me fizeram suspirar. Eu estava apaixonadíssima por Stefan e quando ele me pediu eu casamento não pensei duas vezes antes de dizer sim e dar-lhe um beijo apaixonado. Lembro-me como se fosse ontem.

As minhas idas à casa dos Salvatore sempre foram muito tranquilas, a sua família me tratava bem e Eliza me tinha como sua filha. E eu adorava tudo isso. Em um aniversário de Elizabeth conheci o irmão mais velho de Stefan, Damon Salvatore.

Damon era o tipo de cara que conseguia ver quase todas as situações com a maior naturalidade, sempre de bom humor e fazendo piadas sobre tudo e todos. Com Stefan e o pai era um pouco estúpido, mas com sua mãe era um bom menino. Ele conseguia divertir as pessoas à sua volta com uma facilidade surpreendente, mas que não me convencia. Damon e eu não nos demos muito bem desde o começo, porque seu jeito prepotente me irritava. Suas conversas eram carregas de ironia e acabávamos discutindo por coisas inúteis muitas vezes. Ele era tratado como o irmão rebelde. O problemático da família e só depois eu pude entender o por quê.

Damon desistiu da faculdade de direito contrariando a vontade do pai ao seguir um caminho diferente do irmão mais novo. Ele havia viajado para o Canadá e parecia ter feito isso somente para ficar o mais longe possível de tudo o que teve no passado. Sua relação com o pai e o irmão não era agradável, sempre discutiam e se tratavam com estupidez. Mas com sua mãe não, com Eliza Damon parecia uma criança e ela adorava tratá-lo assim.

O casamento estava marcado e os ensaios para a valsa que Elizabeth tanto insistia em colocar na programação da festa começaram. Damon estava em casa novamente, mas a sua presença desta vez havia trazido algumas mudanças.

Ele estava diferente apesar do tom debochado ainda marcar muito as suas conversas. Parecia ter amadurecido. Não sei. Talvez tenha aprendido demais com o tempo que ficara fora de casa. Ele ainda me chamava de “cunhadinha preferida” como se tivesse outras e me abraçava só para provocar Stefan, mas o que eu menos imaginava poder acontecer, aconteceu.

Tornamos-nos amigos. Amigos demais para um final de semana apenas. Passar algum tempo ao lado de Damon me fazia bem, muito bem. Fazia-me sentir aquela sensação de segurança mesmo que ele me deixasse confusa com o que fazia ou dizia.

Eu me divertia ao seu lado, e sorria tão sinceramente quanto fazia com meus amigos que conhecia há muito tempo. Mas a pior parte na sua presença era que Damon me causava coisas que eu jamais imaginava sentir, não com ele. Não podia acontecer com ele. Não só pelo fato dele ser o irmão do meu noivo, mas também porque me fazia ser uma traidora com Stefan. Eu o beijei. Meu Deus, até que ponto as coisas chegaram? Eu deveria me afastar dele como Stefan havia me pedido, mas não... Eu tive que contrariá-lo para testar até onde as coisas iriam.

Estúpida, era isso que eu estava sendo. Uma estúpida por acreditar que eu conseguiria ser forte ao lado de Damon. Mas agora era tarde demais pra voltar atrás, tarde demais para esquecer o beijo na casa de campo e tudo o que estava acontecendo.

Damon Salvatore

Eu nunca fui um exemplo de garoto, e meu passado não era algo de que me orgulhasse. Não via a hora de sumir daquela casa e só voltar para ver minha mãe que sempre esteve ao meu lado quando precisei. Morei no Canadá muito tempo, comecei uma faculdade e trabalhava em uma empresa de construção civil bem conceituada na cidade. Eu estava satisfeito comigo mesmo e com tudo o que consegui. Nunca duvidei de que seria capaz.

Quando conheci Elena não fui muito feliz na recepção já que ela não parecia ter ido com a minha cara a princípio. Nós não éramos próximos apesar de saber que ela já era parte da família. Então eu fui embora ignorando o fato de ter mais um ente da minha família me vendo como a ovelha negra. Não que eu me importasse, mas ainda havia um resquício de esperança que pelo menos dessa vez Stefan não fizesse a cabeça de alguém.

Voltei para os Estados Unidos com a intenção de mudar algumas coisas por lá. Eu era um homem agora, com sentimentos e objetivos próprios e com uma vontade de conquistá-los tão absurda que as vezes me surpreendia. Tentei melhorar a minha relação com Stefan e com meu pai, mas ao descobrir o que eles pretendiam decidi que era hora de começar pelos extremos e principalmente, fazer com que as outras pessoas também enxergassem a verdade por trás daquela máscara de bom moço que meu querido irmão usava.

Tornei-me amigo de Elena e ela parecia muito melhor do que quando a conheci. Fisicamente falando também, é claro. Não conseguia esconder o que ela conseguia fazer. Eu sentia que precisava fazer com que ela também visse com quem estava casando, mas ela não queria acreditar. Insisti e, apesar dela ter acreditado somente quando viu os papéis, eu me sentia satisfeito por tê-la alertado.

Elena era o tipo de garota meiga, mas esperta. Era determinada e quando estava comigo não poderia ser mais divertida. A melhor coisa de quando estávamos juntos era o fato dela reagir aos meus toques de uma maneira que me surpreendia. Isso porque ela parecia estar certa do que queria e nos meus braços tão confusa. Ela era linda. Eu era seu futuro cunhado e o padrinho do seu casamento, mas eu não era cego. E muito menos de ferro. Vendo-a aquele dia na casa de campo, debaixo da chuva, não consegui evitar o que eu queria desde que voltei para casa. A beijei temendo ser jogado a pontapés para longe. Mas isso não aconteceu. Ao contrário, Elena correspondeu ao beijo e eu não deixei de aproveitar um só minuto daquele momento que não sabia se alguma vez se repetiria.

Eu sabia que havia feito algo que certamente mudaria as coisas entre nós, mas eu não me arrependia. Aliás, repetiria tudo exatamente igual quantas vezes eu pudesse.