Amargo Regresso escrita por Aki Nara
_ Estou sim, satisfeito? – depois de dito não havia sido tão ruim admitir sua fraqueza.
_ Muito – os olhos brilhantes dele e a carícia em sua mão lhe indicavam que a noite voltava a ter encanto.
_ Devo ter ciúmes?
_ Confesso! Gostei de vê-la com ciúme, mas não há motivos para isso. Confia em mim?
_ Confio – disse após uma longa pausa em que perscrutava os olhos dele.
_ Você já terminou? Podemos ir pra casa, quer dizer, para o hotel?
_ Sim, já.
Ângelo chamou o garçom pedindo a conta, deixou uma soma polpuda e sendo eficiente ajudou-a puxando-lhe a cadeira. Eles saíram rapidamente sem nem olhar para a mesa em que a sogra e ex-ficante de marido se sentaram. No hotel, ela descobriu que a noite era uma criança e que a pressa em voltar tinha uma segunda comemoração implícita.
O segredo do sucesso para um casamento dar certo era não ter segredos entre o casal. Até o tempo passava mais rápido quando se estava feliz. A avó passara dois meses com eles, voltava para sua terra natal deixando sabedoria e saudades. Fê-la prometer que se veriam em breve antes que ela viajasse para o mundo dos mortos.
Ângelo já havia ido trabalhar e Mai ficou mais um tempo enrolando na cama, ela sentia um mal estar todas as manhãs, algo em sua mente a alertou, mas ao se levantar... depressa demais, só correu a tempo de estar no vaso, vomitando água, pois ainda não havia tomado o café da manhã.
Voltava um pouco cambaleante para a cama, mas precisava unir forças para enfrentar o dia e levar Ken para a escola. Caminhou até sua oficina, o atelier de pinturas, o cheiro da tinta era forte, ela abriu as janelas e apreciou o vento que entrava. Olhou para o calendário e confirmou estava atrasada, dois meses? Como deixou se perder nas contas?
O sorriso apareceu fazendo-lhe covas, não era que não confiava na capacidade dos médicos, mas em hospital de cidade pequena o assunto seria comentado por todos e chegaria aos ouvidos do marido e queria fazer uma surpresa. Precisava de um bom motivo para ir a capital.
_ Mamãe, dorminhoca! – Ken entrou gritando. – Eu vou me atrasar.
_ Oie, amor. Estou aqui – abraçou o filho com carinho.
_ Você está branca que nem giz...
_ É falta de pintura – riu desfazendo o cabelo dele – não é elegante um rapaz falar para uma mulher que está horrorosa. Aguarda lá embaixo que vou só trocar de roupa, okay?
_ Veja se não demora.
_ Sim, senhor – bateu continência.
Alguns minutos mais tarde, ela estava a mesa do café, tomou um gole de suco e uma torrada, antes de pegar a chave do carro, a lancheira, a mochila e a pasta de deveres para o carro.
_ Muito bonito. Onde está o cavalheirismo?
_ Ah! Mamãe. Papai carrega tudo sem reclamar.
_ Hunf! Preciso ter uma conversa com seu pai sobre independência infantil.
_ Não, é muito legal ser carregado no colo.
_ Ken! – riu fingindo zanga. – Não espere isso de mim. Eu não aguentaria carregar você.
Mai deixou o filho na escola e dirigiu para a fazenda dos Costa. Lá chegando, encontrou Catarina cuidando do jardim.
_ Bom dia, Catarina.
_ Bom dia, Mai. Você está pálida, mas um tanto radiante. É impressão minha ou está com aqueles estofados nos seios?
_ Você é terrível. Não estou com estofamento. Eu...
_ Está grávida? – os olhos dela brilhavam.
_ Não sei. Quero ir ao médico, mas lá da capital. Não quero que Ângelo saiba por outra pessoa que não por mim. Preciso de ajuda para ter uma boa desculpa.
_ Para quê segredos?
A palavra segredo fez seu coração bater acelerado.
_ Não é um segredo... É só uma surpresa. Será um pecado se eu puder confirmar antes, sem o povo dessa cidade toda ficar sabendo antes dele?
_ Tudo bem. O que quer de mim?
_ Poderia buscar Ken no colégio e ficar com ele até eu voltar?
_ Você vai de bimotor?
_ É mais rápido que pegar a balsa.
_ Então, vá logo. Temos um bimotor. Digo para Jorge levá-la. Marcou consulta?
_ Tenho um amigo que pode arranjar uma consulta.
_ Ligue quando estiver voltando.
_ Pode avisar Ângelo?
A sogra balançou a cabeça afirmativamente.
_ Você realmente não prefere ir com ele?
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