Amargo Regresso escrita por Aki Nara
_ Menina. Todas as noras no mundo têm uma sogra, mas com você tinha que ser diferente. Não queria estar em seu lugar. Bem... Ninguém é tão ruim que não possa ter nada bom. Sugiro que você procure.
_ Seguirei seu conselho, mas agora precisamos nos apressar se eu realmente quiser jantar com meu marido.
Elas voltaram para o hotel e a boa senhora cuidou do neto. Mai se vestiu com esmero para comemorar a data de seu casamento. Ângelo saiu do banheiro já vestido.
_ Você está linda. Só está faltando... – ele fez um colar com um pingente de pérola aparecer em sua mão.
_ É linda.
_ E se você colocar as mãos no bolso da calça talvez encontre o par de brincos. – Ângelo dizia enquanto engatava o colar.
Mai colocou as duas mãos em cada bolso da calça.
_ Querida... Se continuar procurando desse jeito não iremos jantar... – o marido brincava sussurrando em seu ouvido.
_ Achei! – disse rindo.
_ Que pena! Agora que eu estava começando a gostar...
_ Eu também tenho um presente.
_ É? E o que iremos comemorar, esposa?
_ Estava pensando em comemorar o quanto estamos felizes.
_ É um bom motivo para comemorar.
O restaurante estava abarrotado de pessoas, mas ao contrário do que podia se supor tinha um clima aconchegante e íntimo. Eles podiam conversar a luz de velas, tomar uma boa garrafa de champanhe ou de vinho e degustar os melhores pratos com um pouco de peso na consciência, com certeza era uma extravagância para ocasiões realmente especiais.
_ Amor... Podemos pagar? – sussurrou por entre o cardápio.
_ O problema não é pagar... Mas como diria Costa: “É um absurdo para a quantidade que servem”. O sanduíche da McDonald é mais recheado.
_ Podemos ir para outro lugar – tentava conter o riso, gostava de ver seu marido humorado.
_ Não. Já estamos aqui – ele segurou sua mão por debaixo da mesa.
_ Ora vejam, que coincidência.
Aquele tom familiar de deboche se fez ouvir e ao aparecer em seu campo de visão, não teve dúvidas, era a sua outra sogra.
_ Dolores –Ângelo chamou-a pelo nome. – Realmente uma grande surpresa.
_ Esta é Juliana Alves, uma amiga recente. Ora, mas vejo que já se conhecem – tinha a nítida impressão que a mulher destilava veneno sem atinar o motivo.
_ Claro. Como vai Juliana? – Ângelo cumprimentava a loira que vira com a sogra durante as compras da tarde e não gostou do jeito atirado da mulher. – Esta é minha esposa, Mai.
_ Encantada, mon chérie.
_ Prazer – disse simplesmente cumprimentando-a com um rápido aperto de mão, que ela lhe deu como se estivesse pegando algo contaminado.
_ Juliana está voltando de Paris onde completou os estudos de estilista. Ela tem talento. Quem sabe com a ajuda dela, você consiga um visual mais refinado, querida – a sogra voltava-se para medi-la de cima abaixo.
_ Não creio que precise ser tão refinada quanto a senhora, Dolores. Não faço parte da nata social.
_ Bem... Não vamos atrapalhar o jantar deles, Dolores. Os nossos amigos estão nos chamando.
_ Claro. Tenham um bom jantar.
_ Igualmente, Dolores.
_ Foi ótimo reencontrá-lo Ângelo. Quem sabe tomamos um drinque outro dia destes.
_ Claro. Eu e Mai teremos o maior prazer, Juliana – o marido havia sido firme ao incluí-la no programa.
O jantar transcorreu sem nenhum problema, mas o encanto e o humor do marido havia se perdido. O silêncio pairava a mesa, Ângelo parecia distante novamente e tão frio quanto no dia do casamento. Naquele dia, ela fugiu com medo, mas agora percebia que o pior que saber a verdade era conviver com as dúvidas.
_ Eu perdi algo, meu amor?
_ O quê? Desculpe. Eu estava longe.
_ Você a conhece de onde?
_ A nossa cidade é pequena... Todo mundo se conhece.
_ É. Mas ela pareceu bem íntima.
_ Nós... – ele limpou a garganta. – Ficamos.
_ Ficaram? Quando? – sua atenção estava redobrada.
_ Um pouco antes de nós.
_ Um pouco?
_ Sim. Bem... Veja. Creio que este não seja o melhor local para falarmos sobre isso.
_ Você tem razão, não é. Mas... Eu não esquecerei este assunto me interessa muito.
_ Está com ciúmes, Mai? – ele olhou-a com um sorriso cínico que gostaria de tirar daquele rosto bonito.
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