Amargo Regresso escrita por Aki Nara
_ Recomeçar?
_ Senti orgulho de você está tarde. Eu sei que podemos ser uma família.
_ Família?
_ Não é só por nosso filho... Eu pensei em nós.
_ Nós? – ela deveria estar parecendo uma idiota.
_ Diga sim... – ele pressionou sua nuca para trazê-la para mais perto – ou farei com que diga a força.
_ Sim.
_ Já? Nem comecei a torturá-la ainda – beijava-a no pescoço e nos ombros.
_ Devo dizer “não” para que me torture?
_ Seria bom não?
_ Seria, mas... amanhã é segunda.
_ Você tinha que lembrar?
_ Esquecer o primeiro dia de aula do Ken?
_ Tudo bem... Vamos dormir – ele se deitou comportado. – Mas se continuar fungando dessa forma em meu ouvido nós não dormiremos.
_ Então vou para o meu quarto – fez que sairia, mas foi detida novamente.
_ Nada disso. Seu lugar é aqui ao meu lado de agora em diante, Sra. Ângelo Costa.
Quando a felicidade bate em sua porta você faz tudo para agarrá-la com força, para que este não escape por entre os dedos. E foi o que Mai fez durante todos aqueles meses até as férias que trariam a sábia mulher do outro lado do mundo.
A velha senhora pediu para cruzar o oceano num transatlântico, pois queria sentir o gosto que seus conterrâneos tiveram ao embarcar de navio numa aventurarem em terras estrangeiras, mas era óbvio que teria muito mais conforto do que os imigrantes tiveram em sua jornada. O navio aportou no porto de Santos, onde ela desceria e eles estariam a aguardaram no hotel. E então iriam conhecer o bairro da Liberdade em São Paulo.
_ Bisa! – Ken fazia festa ao abraçar a avó. – Papai me disse que vai comprar o que eu quiser.
_ Hum! Hoje deve ser um dia muito especial, não? – a velha ergueu a sobrancelha cobrando de Mai uma atitude.
_ Obaa-chan, Ângelo só está tentando compensá-lo – defendeu a atitude consumista do marido.
_ Sei! Pelo menos vejo que se acertaram – a velha afagou os cabelos do bisneto. – Que pelo menos você tenha o bom senso de não pedir algo caro, Ken.
_ Pode deixar! Eu só vou pedir uma revista por que não é nem Natal nem aniversário.
_ É um bom menino. A mudança de vida não o deixou cego para a realidade, mais sensato que a mãe pelo que vejo.
_ O que a senhora quer dizer?
_ Desculpe, Mai. É só uma velha rabugenta tentando lembrá-la que nem sempre a vida é um mar de rosas.
_ Eu sei disso... Antes de Ângelo...
_ E depois dele também – a idosa cortou-a. – Seja forte e não fuja de seus problemas. Eu posso não estar entre os vivos para ajudá-la.
_ Credo.
_ É a realidade, mocinha.
_ Está bem, não vamos discutir coisas fúnebres hoje está bem? De preferência quero a senhora para me dar colo eternamente.
_ Criança! Nem parece uma mulher casada e com filho.
_ Que tal entrar naquela loja para ver um vestido pra você?
_ Aqui no Brasil não tem nada do meu tamanho. As mulheres são todas cheias – a avó disse mostrando o tamanho dos bustos e dos quadris com as mãos.
_ A senhora é baixinha, mas não é tão miúda quanto quer parecer – riu da expressão zangada.
_ Atrevida!
_ Então, venha me dizer se algo fica bem em mim – abraçou a senhora com carinho.
_ Ah! Sim. Você é mais linda e menos vulgar que as brasileiras.
_ Vovó! As moças no Japão se vestem assim também. Não seja preconceituosa. E eu sou brasileira.
_ Você faz questão de bater no peito, mas não há como negar suas origens.
_ É verdade, mas pelo menos quem nasce aqui é brasileiro. Ken nasceu lá e não teve direito porque não é filho de pai japonês. – Levantou a sobrancelha exatamente como a avó há algum tempo atrás.
_ Nós somos tão parecidas – a avó murmurou.
_ Talvez... Seja por isso que nos damos tão bem – sorriu enviesada.
_ Está pensando se ficará como eu quando ficar velha... – ela sorriu também. – Pois, vai ficar.
Elas entraram na loja e a atendente recepcionou-as educadamente e solicita.
_ A senhora por algo em particular?
_ Um pingente para a gravata de meu marido.
_ Temos alguns modelos inclusive com pedras incrustadas.
_ Não creio. Deixe-me ver esse mais simples.
_ A senhora escolheu bem – a atendente sorriu pelo valor da compra. - É em ouro maciço.
_ Eu sei. Levaremos esse. Por favor, é para presente.
_ Claro. A senhora poderia me passar o cartão externo – a moça se afastou para fazer o embrulho.
_ Presente de quê? – a avó perguntou curiosa.
_ Estaríamos completando cinco anos de casados hoje. Mas... Acho que vale comemorar o seis meses. O que a senhora acha?
_ Que vocês podem deixar o Ken comigo e irem para algum lugar só vocês dois.
_ Obaachan arigato – sorriu feliz ao assinar e receber de volta seu cartão.
_ Aquela outra senhora mandou-lhe lembranças – a moça deu o recado.
Mai olhou na direção apontada e acenou para Dolores, ela estava em companhia de outra pessoa, uma mulher bonita de traços finos e cabelos loiros. Parecia ser a típica dama de sociedade e como não a conhecia apenas acenou de longe antes de pegar o embrulho e sair da loja com a avó.
_ Quem era?
_ A minha outra sogra.
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