Amargo Regresso escrita por Aki Nara


Capítulo 17
Capítulo 17 - Chance




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_ Recomeçar?

_ Senti orgulho de você está tarde. Eu sei que podemos ser uma família.

_ Família?

_ Não é só por nosso filho... Eu pensei em nós.

_ Nós? – ela deveria estar parecendo uma idiota.

_ Diga sim... – ele pressionou sua nuca para trazê-la para mais perto – ou farei com que diga a força.

_ Sim.

_ Já? Nem comecei a torturá-la ainda – beijava-a no pescoço e nos ombros.

_ Devo dizer “não” para que me torture?

_ Seria bom não?

_ Seria, mas... amanhã é segunda.

_ Você tinha que lembrar?

_ Esquecer o primeiro dia de aula do Ken?

_ Tudo bem... Vamos dormir – ele se deitou comportado. – Mas se continuar fungando dessa forma em meu ouvido nós não dormiremos.

_ Então vou para o meu quarto – fez que sairia, mas foi detida novamente.

_ Nada disso. Seu lugar é aqui ao meu lado de agora em diante, Sra. Ângelo Costa.

Quando a felicidade bate em sua porta você faz tudo para agarrá-la com força, para que este não escape por entre os dedos. E foi o que Mai fez durante todos aqueles meses até as férias que trariam a sábia mulher do outro lado do mundo.

A velha senhora pediu para cruzar o oceano num transatlântico, pois queria sentir o gosto que seus conterrâneos tiveram ao embarcar de navio numa aventurarem em terras estrangeiras, mas era óbvio que teria muito mais conforto do que os imigrantes tiveram em sua jornada. O navio aportou no porto de Santos, onde ela desceria e eles estariam a aguardaram no hotel. E então iriam conhecer o bairro da Liberdade em São Paulo.

_ Bisa! – Ken fazia festa ao abraçar a avó. – Papai me disse que vai comprar o que eu quiser.

_ Hum! Hoje deve ser um dia muito especial, não? – a velha ergueu a sobrancelha cobrando de Mai uma atitude.

_ Obaa-chan, Ângelo só está tentando compensá-lo – defendeu a atitude consumista do marido.

_ Sei! Pelo menos vejo que se acertaram – a velha afagou os cabelos do bisneto. – Que pelo menos você tenha o bom senso de não pedir algo caro, Ken.

_ Pode deixar! Eu só vou pedir uma revista por que não é nem Natal nem aniversário.

_ É um bom menino. A mudança de vida não o deixou cego para a realidade, mais sensato que a mãe pelo que vejo.

_ O que a senhora quer dizer?

_ Desculpe, Mai. É só uma velha rabugenta tentando lembrá-la que nem sempre a vida é um mar de rosas.

_ Eu sei disso... Antes de Ângelo...

_ E depois dele também – a idosa cortou-a. – Seja forte e não fuja de seus problemas. Eu posso não estar entre os vivos para ajudá-la.

_ Credo.

_ É a realidade, mocinha.

_ Está bem, não vamos discutir coisas fúnebres hoje está bem? De preferência quero a senhora para me dar colo eternamente.

_ Criança! Nem parece uma mulher casada e com filho.

_ Que tal entrar naquela loja para ver um vestido pra você?

_ Aqui no Brasil não tem nada do meu tamanho. As mulheres são todas cheias – a avó disse mostrando o tamanho dos bustos e dos quadris com as mãos.

_ A senhora é baixinha, mas não é tão miúda quanto quer parecer – riu da expressão zangada.

_ Atrevida!

_ Então, venha me dizer se algo fica bem em mim – abraçou a senhora com carinho.

_ Ah! Sim. Você é mais linda e menos vulgar que as brasileiras.

_ Vovó! As moças no Japão se vestem assim também. Não seja preconceituosa. E eu sou brasileira.

_ Você faz questão de bater no peito, mas não há como negar suas origens.

_ É verdade, mas pelo menos quem nasce aqui é brasileiro. Ken nasceu lá e não teve direito porque não é filho de pai japonês. – Levantou a sobrancelha exatamente como a avó há algum tempo atrás.

_ Nós somos tão parecidas – a avó murmurou.

_ Talvez... Seja por isso que nos damos tão bem – sorriu enviesada.

_ Está pensando se ficará como eu quando ficar velha... – ela sorriu também. – Pois, vai ficar.

Elas entraram na loja e a atendente recepcionou-as educadamente e solicita.

_ A senhora por algo em particular?

_ Um pingente para a gravata de meu marido.

_ Temos alguns modelos inclusive com pedras incrustadas.

_ Não creio. Deixe-me ver esse mais simples.

_ A senhora escolheu bem – a atendente sorriu pelo valor da compra. - É em ouro maciço.

_ Eu sei. Levaremos esse. Por favor, é para presente.

_ Claro. A senhora poderia me passar o cartão externo – a moça se afastou para fazer o embrulho.

_ Presente de quê? – a avó perguntou curiosa.

_ Estaríamos completando cinco anos de casados hoje. Mas... Acho que vale comemorar o seis meses. O que a senhora acha?

_ Que vocês podem deixar o Ken comigo e irem para algum lugar só vocês dois.

_ Obaachan arigato – sorriu feliz ao assinar e receber de volta seu cartão.

_ Aquela outra senhora mandou-lhe lembranças – a moça deu o recado.

Mai olhou na direção apontada e acenou para Dolores, ela estava em companhia de outra pessoa, uma mulher bonita de traços finos e cabelos loiros. Parecia ser a típica dama de sociedade e como não a conhecia apenas acenou de longe antes de pegar o embrulho e sair da loja com a avó.

_ Quem era?

_ A minha outra sogra.


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