Acordo Selado escrita por Ayame Tsukinoki


Capítulo 6
Naturezas diferentes.




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O dia amanhecera aparentemente normal, tranquilo. O clima estava frio, gélido, pois era uma das manhãs de outono.

Sebastian estava encostado num dos pilares da varanda da casa, observava as nuvens negras no céu, embora já fossem três horas da madrugada. Uma característica de sua raça, nunca dormiam. Isso tinha um lado bom, poderiam contemplar à vontade as cenas da noite e madrugada. Afinal, tinham que haver alguns benefícios ser o que era, não?

Lord Ciel ainda dormia pesadamente, nem se mexia na cama, tamanho era seu cansaço. No dia anterior, havia presenciado uma cena que o deixou encabulado e curioso, e era, justamente com esta cena, que ele dormia agora.

Ele se via num amplo jardim de rosas vermelhas, o céu era claro, as nuvens eram quase inexistentes, o sol estava a pico e ventava um pouco. De repente, Ciel vira uma pessoa sentada no meio daquele jardim, parecia um homem jovem, de terno preto e este olhava o horizonte à sua frente, o qual apresentava um lago cristalino e algumas árvores frondosas.

- Ei!

Berrou o garoto e, ao ver que o homem não o escutava, pôs-se a seguir até o homem sentado. Estava a um passo do homem e este continuava a observar a imagem linda e perfeita à sua frente. Ciel inclinou-se para a frente e virou a face para o lado vendo finalmente a face do homem.

Era Sebastian.

- Sebastian! Só me faltava essa, está em meus sonhos?

O homem apenas olhou-o e sorriu meigamente. Levantou-se e entregou-lhe uma rosa. Ciel bateu forte nela e o homem encarou-o triste.

- Não apareça como anjo, quando na verdade é um monstro.

Sebastian começou a retirar a terno que vestia, jogou o blazer no chão, em seguida, pôs-se a despir-se desabotoando sua própria camisa, fato que fez o garoto corar e ficar agitado.

- ESTÁ LOUCO?
- ...

O homem nada dizia e continou a despir-se e, enquanto fazia isso, encarava o garoto sem piscar.

Enquanto isso, no quarto, o menino rico continuava dormindo pesadamente. O mordomo adentrou ali, sem fazer barulho, colocou próximo da cama, o habitual carrinho com tortas. Ele estava animado e abriu as cortinas cantarolando uma música baixinha, num idioma desconhecido. Reaproximou-se da cama e sentou-se em sua borda, afagou a testa do menino retirando-lhe algumas franjas da testa, eram esses sutis momentos que ele se deliciava demais. Eram momentos rápidos, mas cheios de sabores e cheiros. Aproximou a mão do nariz, cheirou-a profundamente sentindo ainda oa roma dos cabelos do jovem.

- Dorme tão pesadamente...

Comentou baixo admirando-o, finalmente olhou o relógio e pôde perceber que estava quase na hora de acordá-lo. Soltou um longo suspiro.

- Vocês têm uma vida tão curta e perdem uma grande parte dela dormindo...

Sebastian lambeu os lábios, admirava como a face do jovem era corada, sinal de boa saúde. O sangue do menino parecia circular sem problemas, o coração batia devagar, mas de repente acelerara, o que fez o mordomo arregalar disfarçadamente os olhos.

- Sonhos?

Direcionou as pupilas vermelhas para o meio das pernas do jovem, o membro infantil estava coberto por apenas a calça do pijama. Notou um volume, ali, perguntou-se com o que estava sonhando. Levou uma das mãos à boca, mordeu de leve a ponta do dedo indicador e retirou a luva, depositou a palma da mão com o selo na testa do jovem, logo em seguida, fechou os próprios olhos.

Sim, estava entrando em seus sonhos.

Ciel reparara que Sebastian estava completamente nú e olhava para ele como se aguardasse uma ordem. O menino estava parado, estático sem saber o que fazer, seus olhos estavam completamente arregalados e ele parecia respirar com dificuldade. O "verdadeiro" Sebastian estava detrás de uma das árvores e observava as reações do menino.

- "Hum... então era isso."

Pensou o mordomo olhando para o seu clone criado pelas fantasias do garoto, a duplicata era mais magra e tinha o membro sexual menor, o que o homem de preto deduziu ser parte da inocência ainda do garoto, soltou uma risadinha quando tentou medir seu volume naquela imagem e deduzir que se tratava do tamanho de um pênis de criança.

Ciel aproximou-se de seu fantasma criado e ordenou que o clone agachasse. Feito isso, desferiu-lhe um belo tapa na face.

- QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, SEBASTIAN?! TÁ LOUCO?

E deu-lhe outro tapa. Michaelis soltava risadas silenciosas ainda escondido. Voltou a olhar para o menino e só agora se deu conta que Ciel estava diante de si, sim, o jovem o encarava nem um pouco amigável.

- Ainda não é a hora de você me acordar? Abusado, quem autorizou a entrar no meu sonho?

Sebastian o olhava atortoado, seu clone estava ainda lá, agachado e imóvel.

- "Como ele sentiu minha presença? Como ele sabe que sou o verdadeiro Eu?"

Ciel sorriu sádico, comentou baixo.

- No meu sonho tenho total controle. Posso mover as peças do tabuleiro, por exemplo, ler-lhe os pensamentos.

Ciel estavam sem o símbolo no olho, continuou calmamente.

- Você é meu sonho agora, Sebastian... ou... pesadelo.
- My lord...
- CALADO!

O mordomo agachou-se o cumprimentando humildemente.

- Perdoe minha intromissão
- Hum.

Ciel cruzou os braços, olhava-o com ar superior.

- Boochan... por favor... eu não quis... incomodar... mas é que...

Sebastian continuava com uma voz subordinada e passiva, levemente meiga.

- Dormias tão bem que eu...
- ESCUTE MALDITO. NAO FINJA SE IMPORTAR COMIGO...

O menino sentou-se ao pé da árvore, mantinha o semblante amargurado, raivoso.

- Sei que no fundo isso tudo é representação, você só quer me devorar e pronto, não vê a hora de que eu fique pronto para seu almoço.
- Mestre...
- Você pode enganar muitos idiotas por aí, mas eu... eu conheço sua natureza, é um Maldito.

O menino o olhou com um rancor e raiva infinitos estampados no brilho de suas pupilas.

- Eu nasci da corrupção humana a seres infelizes como você... idiotas que se dedicam a servir e acreditar em merdas como você. Seres desprezíveis que só sabem enganar, corromper e destruir.
- ...

Até mesmo um ser da escuridão como ele, se surpreendeu pelas palavras do menino, mesmo com séculos de existência, aquele garoto conseguia surpreendê-lo. Na visão do mordomo, era impressionante como o menino castrava-se, cortava qualquer apelo emotivo, qualquer fator que o tornasse novamente humano, na vista do mordomo, o menino parecia apenas um boneco violento movido a muito ódio.

- Booch...
- CALADO.

O menino ficou olhando-o um tempo até que finalmente ordenou.

- Venha cá. Abaixe-se aqui.
- Sim, my lord.
-Mas não quero que me olhe, mantenha a cabeça baixa.

O menino encarava-o sério, Sebastian apenas o obedeceu. Ciel então fez uma faca aparecer ali e rasgou um de seus pulsos, seu sangue nascia da ferida e pingava no chão.

- Pode olhar agora, animal desprezível... seu lobo sanguinário.

O mordomo olhava para a ferida descrente do que realmente estava acontecendo.

- Observe... sua sede e fome... você só existe para isso, mais nada.
- Mestre.
- ESCUTE!

Sebastian consentiu com a cabeça voltando a olhar o menino, encarava-o nos olhos ignorando a ferida.

- Você... só serve para isso.
- Sim.

O menino continuou encarando-o, o mordomo fazia o mesmo.

Havia apenas o Silêncio...

Pétalas de rosas voavam numa brisa amena e bela...

Sebastian pegou uma das pétalas e ficou olhando-a, comentou baixo:

- Mesmo sendo... um ser que devora, destrói e engana... sou melhor que muitos humanos e acrescento mais que eles... e o pior, mestre....

Ciel o encarava sério e curioso, o que fez o mordomo continuar.

- Eu gosto de viver na Terra, o clima é tão agradável... a lua, o sol, a brisa...

Depois de uma longa pausa.

- Os seres humanos, me fascino com tudo que existe. Sabe, são belas as coisas relacionadas à natureza mortal, desde o nascimento, até a morte...

O mordomo continuava encarando-o, ambos sequer piscavam.

- Sabe, mestre. Reproduziu tudo muito bem, neste sonho. És muito habilidoso.

E o demônio sorriu, um sorriso deleitoso. Ciel permaneceu encarando-o e, quando este se levantou virando-se parcialmente e olhando na direção do lado, O menino admirou-lhe, embora fosse um ser das sombras, estivesse acostumado com lamentos, ranger de dentres, fogo, enxofre... era de se admirar que existissem seres eternos, belos e fortes, como ele. Os seres sobrenaturais tornavam os humanos tão descartáveis e fracos.

- Sebastian.
- Hum?

O mordomo levou uma das mãos à boca, sorrindo sem jeito.

- Perdão pela resposta. Quero dizer...

Ajoelhou-se diante do menino encarando-o de forma diplomática e gentil.

- Sim, mestre?
- ...
- Desejas alguma coisa? Pela paisagem formosa, lhe considerarei alguns desejos.

Sorriu gentil. O menino olhava-o estranhando aquela amabilidade toda.

- Não adianta me agradar, não vai me inciar "naquilo"... NEM EM SONHO, ENTENDEU?
- Hum?

O mordomo deixou a cabeça tombar para um dos lados, por incrível que pareça, não havia pensado naquela possibilidade. O menino dobrou as pernas e as abraçou, ficando quieto.

- Mestre?
- Acho que já está na hora de acordar. Me acorde, Sebastian.

O mordomo sentiu como se alguma coisa rachasse dentro de si, o que era aquela sensação? Sua face de surpresa e de desgosto dominou-o, não sabia o que dizer e, no fundo, não sabia como reagir. O menino ficou olhando-o fixadamente, calado.

- O que foi?

Ciel perguntava-se no que Sebastian estava pensando, no porquê dele estar daquela forma, como se estivesse perdido. Se perguntava se poderia ser a fome que sentia, o que causava aquele aparente tormento. Michaelis agachou-se diante do seu boochan, caçou-lhe uma das mãos.

- Mestre.
- Hum?
- Permita-me, por favor, contemplar esta cena bucólica por mais alguns minutos. Por favor...
- Estás muito sentimental, sebastian. Pare com esse teatro.

E soltou a mão dali dando-lhe um belo tapa, o mordomo permaneceu com a cara virada por um tempo, depois, com uma das boxexas vermelhas, voltou a olhá-lo.

- Por favor.
- ...

Ciel deu de ombros.

- Está bem.

Sebastian soltou um sorriso, amargo, tão amargo quanto fel.

O mordomo sentou-se ao lado do garoto, realmente o lago o hipnotizava, adorava água. O menino olhou na direção dele, agora o pequeno entendia porque ele passava horas mechendo com água, seja regando plantas, lavando roupa ou pratos. A água era um dos ítens que ligavam o mundo sobrenatural com o real, e o pior de tudo, não existia água no Inferno. O menino olhava disfarçadamente para aquele homem, a seu ver, bizarro, mas sorriu e fez um gato apareceu ali, passar diante de seu vassalo. Este fato fez com que Michaelis se levantasse e o abraçasse como uma criança que brinca inocentemente.

Com o gato nos braços, olhou para o menino e agradeceu com ar honesto, sincero.

- Muito obrigado, boochan.

Sebastian esfregava a lateral da cabeça nos pelos macios, parecia deleitar-se com isso.

- Imagina, está tudo bem.

O mordomo soltou o gato no chão com cuidado, ajoelhou-se diante de Ciel e tocou-lhe levemente uma das mãos, comentando baixo.

- No entanto, o meu gatinho favorito é outro.

Sorriu meigo, fato que fez o menino corar. Sebastian pegou-lhe uma das mãos e beijou-a docemente, o mordomo, mesmo por já ter dado o beijo, manteve a mão próxima da boca e parecia respirar-lhe o aroma, ele mantinha os olhos fechados.

- Mestre... meu mestre.... somente meu.

Ciel olhou para um dos lados, estava corado.

- Pare, sebastian, exijo que pare. Cale-se!
- Sim, my lord.

O mordomo sem mais se aguentar, comentou frágil, mas com ar malicioso.

- Vejo que não tens o selo no olho, então... literalmente, não temos contrato. Literalmente, comandas o sonho, mas não a mim. Posso manter minha força, tudo... mesmo em sonho. Sabia?

Os olhos dele avernelharam-se, um sorriso demoníaco surgiu ali. Continou a falar, bem baixinho:

- Inclusive, posso prendê-lo aqui, se quiser. Já trabalhei muitas e muitas vezes como incubus, mestre.

Ciel arregalou os olhos, suas palavras estavam suspensas.
Sebastian levantou-se e abriu os braços, mantendo-os assim enquanto continuavan seu discurso.

- Então... mestre....

Seus olhos, flamejantes, destacavam-se.

- Não devo obedecê-lo, podes me punir quando acordar... mas... acredite... aproveitarei cada momento dessa situação.

O menino olhava-o temeroso.

- Mestre, o verdadeiro Sebastian é muito melhor. Isso... eu posso afirmar, com certeza!

O garoto levantou-se e pôs-se a correr dali, seguiu em direção a um campo com tulipas.

O demônio lambeu os lábios, por uns momentos, sua aparência alterou-se, passando a vestir uma roupa preta, tinha asas negras e saltos agulha. Ele virou-se na direção que menino seguira e mantinha as mãos na cintura, comentando consigo.

- Que o pesadelo comece.

Sebastian sumira, Ciel sumira e o Inexperado estava prestes a acontecer.


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