Acordo Selado escrita por Ayame Tsukinoki


Capítulo 5
Vizinhança suprema.




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Não demorou muito tempo para que logo novos convidados batessem à porta do garoto Ciel. No entanto, naquela vez, não era para o frágil menino, mas para o seu fiel e dedicado mordomo.


A campainha tocou exatamente três vezes. Os demais serviçais haviam saído a mando de Michaelis e o próprio Ciel encontrava-se em seu curso matinal de etiqueta vitoriana, sim, o menino pedira que ao menos uma das aulas fosse dada por um professor diferente. Sebastian no começo recusou e insistiu que fosse ele a dar-lhe as aulas, mas Ciel resmungou e pôs-se firme em sua decisão, além de, claro, o local para as aulas fora escolhido a dedo, era um recinto a ser investigado, a pedido da Rainha.


O único presente na enorme mansão era o serviçal mestre. Ele atendeu à porta, soltou um suspiro falhado, pois mesmo antes de girar a maçaneta e abrí-la, já sabia de quem se tratava.


– Bom dia, Senhor Faustus.

– Hum. Bom dia.

– A que motivo, razão ou circunstância deve a sua visita?

– Posso entrar?

– Meu mestre não está e vejo que o seu também não.


Michaelis cruzou os braços e o olhava com um sorriso debochado e levemente esnobe nos lábios.


– Me diga um bom motivo para aceitá-lo dentro deste lar.

– Lar? Hum... já está se envolvendo mais do que devia, senhor Michaelis.


Sebastian deu de ombros e quando ia fechar-lhe a porta na cara, Claude segurou-a firme.


– Uma conversa particular, Sebastian. Entre conhecidos.

– Não tenho interesse algum. Bom dia.

– ...


Claude olhava-o sério e nem ao menos piscava, suas pupilas douradas deram lugar às avermelhadas, mais precisamente cor de sangue. Sebastian forçou a porta de forma a fechá-la mesmo que tal gesto arrancasse os dedos daquele, a seu ver, futuro invasor.


Sim, a porta foi finalmente fechada. Uma regra básica entre demônios, nunca devem entrar em locais nos quais não sejam convidados. Claude era tão apegado a estes costumes quanto Sebastian. O mordomo olhou pela janela e se surpreendeu que o outro o encarava do lado de fora.


– Mas que ser inconveniente.


Resmungou abrindo a porta e saindo dali.


– Estou aqui, o que quer?

– Negociar, em nome dos velhos tempos.

– Velhos tempos que prefiro esquecer.

– Nunca esquecerei... por mais que queira.


Claude ajeitou os óculos, fechou seus olhos por um tempo ficando pensativo, até que os abriu e comentou baixo e rouco.


– Não tenho como esquecer seus gemidos.

– Me poupe!


Michaelis deu uns dois passos para frente, cruzou os braços e mantinha uma feição angustiada.


– Um deslize idiota de minha parte, senhor Faustus. Nem faço questão alguma de me lembrar disso.

– Para mim foi extraordinário, cinco viradas da lua cheia e sanguinolenta. Seus gemidos, seus contornos, seu gosto, tudo completamente fascinante.

– Affe... veio para isso? Não acredito.


Michaelis colocou as mãos na cintura e batia ansioso um dos pés no chão, realmente parecia tenso e incomodado com aquela visita um tanto inesperada.


– Ficou no passado, Claude. Esqueça. Acredito que agora, sejamos rivais. Acorde.

– Duvido que um menino fraco e magricela satisfaça seu apetite volupioso.


Michaelis bufou, voltou a cruzar os braços virando-se de costas para o outro mordomo e abaixou a cabeça, sim, aquele golpe fora desferido no seu mais profundo ego.


Claude o abraçou por trás, tocava-lhe o meio do peito com as palmas das mãos, sussurrava ao pé do ouvido.


– Talvez sejamos inimigos agora, mas porque então não aproveitamos esse período de paz?


Ciel estava sentado em sua carteira, anunciavam o final da aula. Ele levantou-se e estranhou de Michaelis ainda não ter chegado, o que teria acontecido? O menino arranjou um telefone e ligou para sua casa e não obteve a resposta que esperava, apenas chamava, chamava e acabava por ficar ocupado.


– Onde ele deve estar?


Finalmente uma mão tocou-lhe um dos ombros.


– Perdoe o atraso, my lord.


Sebastian inclinou-se para frente se desculpando, Ciel consentiu com a cabeça, o menino não deixou de perceber que havia algo diferente nele, ele não havia sorrido como de costume. Parecia quieto, sério demais.


– Aconteceu alguma coisa, Sebastian?

– Hum?

– Está sério, quieto, moribundo. O que foi, Finny queimou novamente as árvores?

– Boochan...

Sebastian sorriu bem de leve, comentando baixo.


– Estou feliz de revê-lo, esta aula demora deveras...

– Mesmo assim se atrasou.

– Sim, menosprezei o tempo, o pudim demorou demais, pouca lenha dá nisso... mas não devo enchê-lo com meus descuidos. Vamos? Deve estar com fome, não é?

– Sim. Obrigado.


E ambos seguiram até a carruagem, o menino não deixava de notar o ar distante do mordomo e ele percebeu uma sutil marca pouco abaixo da orelha direita. O que seria? Michaelis tinha uma recuperação formidável, ágil, como ainda não havia cicatrizado? Pensava o menino.


– Sebastian. Seu... pescoço...


Ciel apontou com o indicador o seu próprio pescoço no exato local no qual encontrava-se aquela estranha marca.


– Hum? Pescoço?

– Sim, há uma marca.


Sebastian tocou ali por um tempo e ao retirar a mão, a mesma sumiu. Ciel arrepiou-se, aquele ser, às vezes, era um tanto bizarro. O menino avermelhou de leve, sentiu uma certa afobação e acabou por calar-se encarando sua janela ao lado. Sebastian o encarou por um tempo.


– “Ele, se preocupando comigo? És muito gentil, mestre”


Finalmente o mordomo sorriu como era de costume, o menino olhou-o rápido e quando se deu conta, o homem de preto estava diante de si e apertava a palma de uma de suas mãos em sua testa.


– SEBASTI...

– Está corado, deve ser febre.


O menino realmente estava com a face levemente ruborizada, e, inclusive agora, com a aproximação, estava vermelho que nem um tomate.


– Sebastian, não tenho nada, vamos, sente-se!


O mordomo ajoelhou-se ali examinando-lhe a face.


– Estou realmente preocupado, my lord.


A carruagem balançou o suficiente para que Sebastian caísse parcialmente sobre o colo do menino, o seu peito encontrava-se entre os joelhos do pequeno que logo recuou com o corpo para trás com as bochechas coradas, sua respiração já encontrava-se descompassada e seu coração aos pulos, engoliu em seco e segurou-lhe os ombros de forma que o homem, ali, diante de si, não se movesse muito além do que já havia.


– Cuidado. Segure-se em mim...

– Yes, my lord.


E acabou por Michaelis acomodar sua face, mais precisamente uma das bochechas na cocha do menino e a segurando de leve com uma das mãos, ele tinha uma fisionomia de paz, de entrega completa, o que fez com que Ciel sentisse vontade de tocar-lhe os fios negros a afagá-los.


– Realmente... aconteceu alguma coisa. Geralmente sou eu que peço carinho e apoio.

O mordomo levantou a face o olhando atordoado, sim, só agora se dera conta do que fazia.


– Está tudo bem, pode relaxar um pouco, afinal, você merece.

– O... obrigado, boochan, mas... não posso falhar como... vosso servo principal e...

– Pare de besteiras.


E o menino forçou-o a recolocar a cabeça sobre seu colo morno e continuou afagando-o.


– Está tudo bem. Está tudo bem.

– ...


Sebastian olhou-o surpreso. Finalmente a carruagem chegou, no entanto ambos permaneceram ali, na mesma posição e se encaravam no mais tênue silêncio. Sebastian abaixou a face, Ciel a levantou segurando-lhe o queixo.


– Prometeu que nunca mentiria para mim. O que aconteceu?

– ...boochan...

– Me diga, é uma ordem.

– Meu passado dói demais... e... ele me causa urticária. Tudo o que fiz... posso dizer que me arrependo... mas... estou feliz de certa forma, pois graças a ele... lhe encontrei.


E o mordomo sorriu-lhe gentil, Ciel não se convenceu de que era aquilo mesmo e insistiu.


– Sebastian, vai me desobedecer?

– Mestre, meu querido mestre... conviver contigo me faz desejar ser diferente, ser outra pessoa. Vossa companhia... me é um deleite. É a única que adoro ter. A única...


E abraçou-o pela cintura. Ciel se contentara com aquela resposta, puxou-o para si.


– Realmente merece ter minha alma no final e...


Sem mais se conter, Sebastian o beijou, um beijo demorado, devagar, afinal o menino não estava acostumado àquele tipo de interação e deveria aprendê-la mais cedo ou tarde. Ciel não recuou, não o afastou e resolveu aceitar a lição que lhe estava sendo dada. No término do ato, o mordomo segurava-lhe a face com as palmas das mãos e o menino, olhando-o nos olhos, disse baixo:


– Muito bem... agora poderei interagir com minhas ladies.


Sebastian empurrou-lhe de forma que ele tocasse bruscamente as costas no encosto do assento.


– Sebastian, o que pensa que está fazendo?


O mordomo levantou-se, ajeitava as luvas com uma face nem um pouco amigável. Olhava-o “de cima” com um ar superior e irritadiço. Retrucou rudemente:


– Tomara que seu gosto desperte logo, estou com muita fome. Se demorar mais tempo, posso virar faquir. Acha que tenho talento para tal coisa?


Ciel levantou-se e o empurrou de forma que Sebastian caísse no assento oposto ao do menino.


– Que cruel, Sebastian, muito cruel.

– Ainda não cheguei aos vossos pés, my lord... Mas um dia, espero alcançá-lo.


Ciel sorria-lhe debochado e Michaelis fazia o mesmo. Os demais serviçais já haviam chegado e estranharam ainda os dois não terem descido, até pensaram se ambos houvessem morrido ali, mas esta dúvida logo foi retirada conforma a carruagem balançava devido ás interações ocorridas dentro dela.


– Bem, vamos?


Michaelis o olhava ainda sentado, um olhar magoado, será que foi pelas insinuações de seu mestre? E Ciel também o olhava tenso, ansioso. Afinal, o que aquele ser escondia por detrás de sua maquiagem perfeita?


– Sim, vamos.


O homem de preto ainda não se levantou e olhava-o com uma face abatida. O menino franziu os celhos.


– Você realmente está muito, mas muito estranho.


O mordomo levou uma das mãos ao peito, suspirou. O menino o olhava desconfiado, ele pensava no que estaria fazendo-o sofrer daquela forma. Tocou a face daquele ser, Michaelis levantou as pupilas vermelhas e o menino agachou-se mostrando que aprendera a lição.


Não demorou muito mais tempo para que o principal servo daquela casa saísse da carruagem com seu Mestre nos braços. Ambos mantinham uma face feliz o que causou o alívio dos demais funcionários daquela mansão.


Enfim, o dia acabara bem.



































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