Shattered Dreams escrita por Labi


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Semana ocupada é ocupada. Eu tinha vontade de escrever isto sabe-se lá á quanto tempo. Mas aproveitei hoje, que a lareira está acesa e está quentinho aqui na sala, para o fazer.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/175490/chapter/3

O ambiente era, no mínimo, estranho. Arthur não era uma pessoa virada para a socialização e Alfred não sabia como puxar assunto com o anjo que estava neste momento sentado na sua cozinha a almoçar. Ou melhor, ele não estava exactamente a almoçar, ele limitava-se a lançar olhares de desprezo que deixavam o americano demasiado constrangido para pensar no que fazer.

Decidido a ignora-lo, pegou em mais batatas fritas da travessa. Para desagrado de dito anjo, fê-lo com as mãos, e o britânico fez um estalido com a boca.

"Que foi? A comida não está boa?" perguntou Alfred.

"Só como comida americana se estiver a morrer." respondeu-lhe o loiro menor com um olhar venenoso.

"Mas tu não estás já morto?"  o americano pensou em dizer alto essa afirmação mas algo na sua cabeça insistia que não seria muito boa educação falar da morte de alguém dessa forma. Ainda para mais quando a pessoa que morreu estava á sua frente. Tentou tirar esse pensamento da sua cabeça, pegou numa batata e disse a primeira coisa que se lembrou:

"Que eu saiba, são os ingleses que têm fama de produzirem comida má."

O anjo respirou fundo e agarrou na beira da sua toga com força. Ele tinha de aprender a controlar a sua fúria... Contar até 10 já não estava a funcionar.

"Idiota! Não tires as tuas conclusões baseadas em estereótipos!"

O americano olhou para Arthur e inclinou a cabeça de forma interrogativa.

"Como assim? É o que toda a gente diz. Não é estereótipo."

"Em primeiro lugar, acho que tens de rever os teus conceitos sobre estereotipos e em segundo, NÃO PEGUES NA COMIDA COM AS MÃOS!"

"Que tem? Eu lavei as mãos antes!"

Arthur levou a palma da mão á testa.

"Para além de seres americano ainda és completamente idiota."

Alfred franziu as sobrancelhas e respondeu-lhe num tom amuado:

"Para quem disse que eu tinha de rever os meus conceitos sobre estereótipos..."

O inglês ficou boquiaberto ao ouvir a resposta de Alfred mas não lhe disse mais nada. Não podia ferir ainda mais o seu orgulho.

Depois de almoçarem (mais Alfred do que propriamente Arthur), o americano arrumou a cozinha e voltou para a sua sala de estar para poder tentar estudar um pouco. Ao entrar deparou-se com Arthur a olhar pela sua janela, a mesma por onde tinha caído, apoiado com os cotovelos no parapeito da janela. Apresentava o aspecto irritado que tinha desde manhã mas agora tinha qualquer coisa mais.

"T-tudo bem?" perguntou-lhe timidamente.

O inglês voltou ligeiramente a cabeça para olhar para Alfred e abanou-a afirmativamente de forma suave, virando-se de novo para a janela.

Tudo á sua volta apresentava um aspecto angelical e puro. Mas isso era óbvio.

"De certeza? Sei que não nos conhecemos lá muito bem... Mas caso queiras falar..."

Arthur soltou uma gargalhada que pareceu a Alfred demasiado falsa:

"Não adianta de nada isso."

"Adianta sempre."

"Eu... Não sei o que sou, ou como posso voltar para casa."

"A voar não deve ser de certeza."

O anjo não disse nada, mas Alfred sabia que ele estava frustrado. E por falar em voar...

"E as tuas asas?"

"Que tem as minhas asas?"

"Desapareceram para sempre?"

"Hum... Não sei." O inglês pegou na varinha de condão e desejou intensamente para que as suas asas voltassem.

Tal como da outra vez, mas num processo inverso, a partir de pequenos grãos de pó cintilante, asas brancas cheias de plumas perfeitas surgiram nas costas de Arthur.  Este imediatamente sentiu uma dor horrível vinda do lado direito.

"Merda! A asa ainda está partida!" praguejou, caindo de joelhos enquanto tentava inutilmente dobrar a asa.

Alfred correu na direcção dele, ajoelhou-se junto a ele e perguntou desesperada e inutilmente:

"Estás bem?"

O inglês olhou para ele e sibilou:

"O que te parece?"

"Não precisas de me atacar ok? Eu não tenho culpa nenhuma. Estava só a tentar ajudar."  ele levantou-se lentamente sem desviar o olhar do inglês.

"D-desculpa...Eu..."

"Não as podes fazer desaparecer de novo?"

"Acho que sim... Mas assim elas nunca mais ficarão curadas..."

O americano respirou fundo e falou com a maior calma possível ao ouvir um gemido de dor do anjo ao tentar inutilmente dobrar a asa:

"Deixa-me ajudar."

"N-não obrigada."

"Anda lá, não sejas assim. Estou-te a poupar de mais sofrimento."

Arthur procurou nos olhos do americano algum sinal de mentira. Não era normal oferecerem ajuda, o que ele esperaria em troca? Mas ele não tinha outra opção. Se queria tentar voltar para casa, a sua asa tinha de curar primeiro, e o primeiro passo para a cura era conseguir dobra-la e esperar que a articulação funcionasse normalmente.

"Está bem então. Mas p-por favor tem cuidado. Isto dói muito."

Alfred deu um passo em frente e agarrou com muito cuidado na asa do anjo. Ficou surpreendido com a suavidade e com a textura das penas. Eram muito macias e pareciam cetim frio ao toque. Lentamente começou a empurrar a asa para dentro. Ao sentir a asa a ser movida, Arthur gritou com dores e começou a praguejar.

"Empurra isso de uma vez! Senão vai doer mais!"

"De certeza?"

"SIM IDIOTA, E RÁPIDO!"

Alfred engoliu em seco e fez o que o anjo mandou. Em dois segundos a asa ficou dobrada conveniente mas Arthur tinha-se também dobrado sobre si numa tentativa em vão de suportar a sua dor.

Ao ver o inglês em sofrimento, Alfred agiu de forma instintiva e começou a esfregar a asa magoada. Arthur sibilou como um animal ferido ao sentir o toque quente, mas depois, lentamente, começou a sentir a dor inicial desvanecer até deixar de ser insuportável até passar a ser um incómodo, no sentido em que não a podia esticar porque sabia que a dor voltaria.

Quando viu que Arthur tinha acalmado, Alfred disse-lhe delicadamente:

"Precisas de alguma coisa?"

Muito baixo, o inglês respondeu-lhe:

"Um banho."

Alfred sorriu-lhe levemente e estendeu a mão ao anjo. Este olhou para o americano com algum espanto mas agarrou na sua mão e com uma facilidade surpreendente, foi puxado para cima, ficando em pé.

"Podes usar a minha banheira. É naquela porta á esquerda. Eu vou buscar alguma roupa minha, pode ser que te sirva."

Rodou nos calcanhares e dirigiu-se ao que Arthur presumiu ser o seu quarto. Ainda incapaz de pensar decentemente graças a experiencia horrível que tinha acabado de ter, Arthur aceitou de bom grado a bondade de Alfred.

Se calhar, ele tinha mesmo de rever os seus conceitos sobre estereótipos...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ficou... estranho...