Shattered Dreams escrita por Labi
Notas iniciais do capítulo
Semana ocupada é ocupada. Eu tinha vontade de escrever isto sabe-se lá á quanto tempo. Mas aproveitei hoje, que a lareira está acesa e está quentinho aqui na sala, para o fazer.
O ambiente era, no mínimo, estranho. Arthur não era uma pessoa virada para a socialização e Alfred não sabia como puxar assunto com o anjo que estava neste momento sentado na sua cozinha a almoçar. Ou melhor, ele não estava exactamente a almoçar, ele limitava-se a lançar olhares de desprezo que deixavam o americano demasiado constrangido para pensar no que fazer.
Decidido a ignora-lo, pegou em mais batatas fritas da travessa. Para desagrado de dito anjo, fê-lo com as mãos, e o britânico fez um estalido com a boca.
"Que foi? A comida não está boa?" perguntou Alfred.
"Só como comida americana se estiver a morrer." respondeu-lhe o loiro menor com um olhar venenoso.
"Mas tu não estás já morto?" o americano pensou em dizer alto essa afirmação mas algo na sua cabeça insistia que não seria muito boa educação falar da morte de alguém dessa forma. Ainda para mais quando a pessoa que morreu estava á sua frente. Tentou tirar esse pensamento da sua cabeça, pegou numa batata e disse a primeira coisa que se lembrou:
"Que eu saiba, são os ingleses que têm fama de produzirem comida má."
O anjo respirou fundo e agarrou na beira da sua toga com força. Ele tinha de aprender a controlar a sua fúria... Contar até 10 já não estava a funcionar.
"Idiota! Não tires as tuas conclusões baseadas em estereótipos!"
O americano olhou para Arthur e inclinou a cabeça de forma interrogativa.
"Como assim? É o que toda a gente diz. Não é estereótipo."
"Em primeiro lugar, acho que tens de rever os teus conceitos sobre estereotipos e em segundo, NÃO PEGUES NA COMIDA COM AS MÃOS!"
"Que tem? Eu lavei as mãos antes!"
Arthur levou a palma da mão á testa.
"Para além de seres americano ainda és completamente idiota."
Alfred franziu as sobrancelhas e respondeu-lhe num tom amuado:
"Para quem disse que eu tinha de rever os meus conceitos sobre estereótipos..."
O inglês ficou boquiaberto ao ouvir a resposta de Alfred mas não lhe disse mais nada. Não podia ferir ainda mais o seu orgulho.
Depois de almoçarem (mais Alfred do que propriamente Arthur), o americano arrumou a cozinha e voltou para a sua sala de estar para poder tentar estudar um pouco. Ao entrar deparou-se com Arthur a olhar pela sua janela, a mesma por onde tinha caído, apoiado com os cotovelos no parapeito da janela. Apresentava o aspecto irritado que tinha desde manhã mas agora tinha qualquer coisa mais.
"T-tudo bem?" perguntou-lhe timidamente.
O inglês voltou ligeiramente a cabeça para olhar para Alfred e abanou-a afirmativamente de forma suave, virando-se de novo para a janela.
Tudo á sua volta apresentava um aspecto angelical e puro. Mas isso era óbvio.
"De certeza? Sei que não nos conhecemos lá muito bem... Mas caso queiras falar..."
Arthur soltou uma gargalhada que pareceu a Alfred demasiado falsa:
"Não adianta de nada isso."
"Adianta sempre."
"Eu... Não sei o que sou, ou como posso voltar para casa."
"A voar não deve ser de certeza."
O anjo não disse nada, mas Alfred sabia que ele estava frustrado. E por falar em voar...
"E as tuas asas?"
"Que tem as minhas asas?"
"Desapareceram para sempre?"
"Hum... Não sei." O inglês pegou na varinha de condão e desejou intensamente para que as suas asas voltassem.
Tal como da outra vez, mas num processo inverso, a partir de pequenos grãos de pó cintilante, asas brancas cheias de plumas perfeitas surgiram nas costas de Arthur. Este imediatamente sentiu uma dor horrível vinda do lado direito.
"Merda! A asa ainda está partida!" praguejou, caindo de joelhos enquanto tentava inutilmente dobrar a asa.
Alfred correu na direcção dele, ajoelhou-se junto a ele e perguntou desesperada e inutilmente:
"Estás bem?"
O inglês olhou para ele e sibilou:
"O que te parece?"
"Não precisas de me atacar ok? Eu não tenho culpa nenhuma. Estava só a tentar ajudar." ele levantou-se lentamente sem desviar o olhar do inglês.
"D-desculpa...Eu..."
"Não as podes fazer desaparecer de novo?"
"Acho que sim... Mas assim elas nunca mais ficarão curadas..."
O americano respirou fundo e falou com a maior calma possível ao ouvir um gemido de dor do anjo ao tentar inutilmente dobrar a asa:
"Deixa-me ajudar."
"N-não obrigada."
"Anda lá, não sejas assim. Estou-te a poupar de mais sofrimento."
Arthur procurou nos olhos do americano algum sinal de mentira. Não era normal oferecerem ajuda, o que ele esperaria em troca? Mas ele não tinha outra opção. Se queria tentar voltar para casa, a sua asa tinha de curar primeiro, e o primeiro passo para a cura era conseguir dobra-la e esperar que a articulação funcionasse normalmente.
"Está bem então. Mas p-por favor tem cuidado. Isto dói muito."
Alfred deu um passo em frente e agarrou com muito cuidado na asa do anjo. Ficou surpreendido com a suavidade e com a textura das penas. Eram muito macias e pareciam cetim frio ao toque. Lentamente começou a empurrar a asa para dentro. Ao sentir a asa a ser movida, Arthur gritou com dores e começou a praguejar.
"Empurra isso de uma vez! Senão vai doer mais!"
"De certeza?"
"SIM IDIOTA, E RÁPIDO!"
Alfred engoliu em seco e fez o que o anjo mandou. Em dois segundos a asa ficou dobrada conveniente mas Arthur tinha-se também dobrado sobre si numa tentativa em vão de suportar a sua dor.
Ao ver o inglês em sofrimento, Alfred agiu de forma instintiva e começou a esfregar a asa magoada. Arthur sibilou como um animal ferido ao sentir o toque quente, mas depois, lentamente, começou a sentir a dor inicial desvanecer até deixar de ser insuportável até passar a ser um incómodo, no sentido em que não a podia esticar porque sabia que a dor voltaria.
Quando viu que Arthur tinha acalmado, Alfred disse-lhe delicadamente:
"Precisas de alguma coisa?"
Muito baixo, o inglês respondeu-lhe:
"Um banho."
Alfred sorriu-lhe levemente e estendeu a mão ao anjo. Este olhou para o americano com algum espanto mas agarrou na sua mão e com uma facilidade surpreendente, foi puxado para cima, ficando em pé.
"Podes usar a minha banheira. É naquela porta á esquerda. Eu vou buscar alguma roupa minha, pode ser que te sirva."
Rodou nos calcanhares e dirigiu-se ao que Arthur presumiu ser o seu quarto. Ainda incapaz de pensar decentemente graças a experiencia horrível que tinha acabado de ter, Arthur aceitou de bom grado a bondade de Alfred.
Se calhar, ele tinha mesmo de rever os seus conceitos sobre estereótipos...
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Ficou... estranho...