Are you hiding from me, yeah

Somewhere in the crowd

Where have you been?

All my life, all my life...

(Rihanna - Where Have You Been)

Deixou-se envolver pelos braços do garoto, enquanto fechava os olhos e o abraçava o mais forte que podia. O som dos finos pingos de chuva que caiam sobre ambos, os enxarcando, era o único som possível de se escutar. Respirou fundo, tentando sentir o cheiro. Aquele cheiro familiar que lhe era necessário para sobreviver. Mas falhou. O cheiro não estava mais ali. Ergueu a cabeça, encarando os olhos do garoto que tinha um sorriso estranho estampamdo seus lábios. Fechou novamente os olhos.

Escutou a porta bater num estrondo. Sentiu seu corpo estremecer, e cair lentamente no chão. Fechou os olhos, enquanto seu ritmo cardíaco desacelerava. Sentia as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ouvia o choro do outro lado da porta. Escutava os gritos e pedidos de socorro que eram abafados pelas palavras do homem que estava sobre efeito do álcool. Aqueles eram os momentos que lhe faziam refletir se aquele era realmente seu pai.

– Ela vai! – o ouvia dizer. E esse “ela vai” era a seu respeito. Odiava a ideia de ter que deixar Stratford pela ensolarada Califórnia. Odiava ainda mais...

– Nicole! – a voz divertida indicando que já estava sobre efeitos do álcool e drogas, lhe chamou. Seu sorriso aumentou e para disfarçar sorriu em resposta. As mãos do garoto percorreram sua coxa, a apertando levemente – o que você tem?

– Nada – disse em resposta, virando o rosto, tentando de alguma maneira se colocar em pé, mas falhando. Sentiu tudo ao seu redor rodar. Talvez também estivesse sobre efeito do álcool – acho que preciso ir para minha casa...

– Qual é! – Chad falou a puxando para junto de si novamente – você não vai me trocar por aquele idiota que quer te mandar para longe, não é? – a única resposta que ganhara fora o silêncio – eu te amo, e ele não – disse, enquanto erguia o queixo da garota que tentava desviar – qual o seu problema, hein? – perguntou, enquanto Nicole tentava novamente se colocar de pé.

– Eu quero ir embora! – retrucou, dando meia volta. Nicole saiu andando pela calçada, tentando se manter em pé. Só o que iluminava seu caminho eram as luzes das estrelas logo acima. Sentia seu coração acelerado e a falta de ar ia se apoderando de si. Parou por alguns segundos. Ainda tinha aquela voz em sua cabeça... Dizendo os nomes que sua mãe lhe ensinou quando pequena que nunca deveriam ser ditos – Chad... – murmurou o nome do garoto que se virou para ela – Chad, eu não estou me sentindo bem – e ele correu em sua direção a pegando no colo, antes que caísse no chão - Onde ele está? – perguntou antes de apagar completamente.

Ambos ficaram ali por algum tempo... Enquanto a chuva limpava as impurezas que ambos carregavam.

xxx

Olhou ao redor, deixando as malas caírem ao chão. Sentiu uma sensação estranha e engraçada ao mesmo tempo. Uma sensação de que já estivera naquele lugar uma vez. Mas era loucura. Nunca saira de Stratford antes. Deixou escapar uma risada baixa enquanto voltava à atenção para alguns porta retratos que haviam sobre uma pequena estante na sala. Todas as fotos eram de seu tio. Não se lembrava muito de Scooter. A última vez que o vira foi em... Não se lembrava. Talvez fosse pequena demais.

– Nic? – a voz feminina e suave adentrou seus tímpanos, chamando sua atenção. Mas ela não tirou os olhos de uma foto em especial, havia um garoto com seu tio. Sentiu aquela sensação engraçada novamente. Aonde o vira alguma vez? – Nic, tem algumas coisas ainda no porta malas, você me ajuda?

– Ahn, é. Eu já estou descendo – ouviu Tina dizendo um “obrigada” e em seguida ouviu seus passos sumirem no corredor. Ela tinha os olhos fixos naquela foto ainda. Os olhos claros do garoto lhe chamavam a atenção. Seu cabelo meio arrepiado e seu sorriso completavam o que faltava.

– Ajudaria se você descesse realmente e não dissesse apenas que estava descendo – a voz de Tina interrompeu seus pensamentos. Voltou seu olhar para a amiga que deixava as últimas malas no chão, ao lado das outras.

– Desculpe. Eu... – ela se calou, e Tina voltou seu olhar para as fotos.

– Ah, tudo bem. Isso acontece toda vez. Ninguém resiste ao charme do Biebs – Nicole revirou os olhos, voltando-se para o sofá e pegando uma almofada. Ela a jogou em direção de Tina que riu.

– Espera aí – a garota falou, voltando o olhar para a foto – você disse Biebs?

– É. O Scooter trabalha com o Justin Bieber. Francamente, Nicole. Onde você vive? Em marte?

– Então é por isso que o conheço – ela disse isso mais para si mesma que para Tina. Mas em seu íntimo também não entendeu o que quis dizer, varreu o pensamento de sua mente.

– O que disse?

– Ahn, nada. Eu só...

– Deve ser o efeito Los Angeles sobre você. Acho que não está muito acostumada com as praias e o sol quente não é? – Tina disse rindo, Nicole lhe mostrou a língua.

– Ao invés de ficar debochando, por que não me ajuda com as malas? – Tina seguiu a amiga reclamando de algo, ambas foram em direção ao quarto. Arrumaram as roupas no closet rapidamente e foram para a cozinha comer alguma coisa.

– Ainda tem algumas caixas para arrumar, precisa de ajuda?

– Acho que não. Fez muito hoje por mim – Nic respondeu, acompanhando a amiga até a porta.

– Se precisar de qualquer coisa me ligue que venho correndo – Tina falou antes de ir. Nic sorriu em resposta – você está bem? Não esqueça dos remédios ok? Sua mãe me disse q...

– Esqueça o que minha mãe disse para você, Tina – retrucou.

– Nic, você tem que deixar disso. Tudo o que ela fez até agora foi para o seu bem e...

– Vá descansar. Te ligo se precisar – e fechou a porta logo em seguida. Estava cansada de ouvir aquela mesma estória. Todos diziam que aquilo era apenas para seu bem, mas sabia que não era. Era apenas uma desculpa para mantê-la longe de seu pai. Mas no fundo agradecia por sua mãe ao menos ter um pingo de amor por ela dentro de seu coração. Novamente varreu os pensamentos de sua mente e voltou para a cozinha, pegando um copo com água e um comprimido que havia sobre a mesa. Engoliu forçadamente e voltou para a sala, observando as caixas ainda fechadas amontoadas num canto. Sentou-se no chão puxando uma delas.

Passou quase toda a tarde mexendo naquelas caixas. Tirou algumas coisas para jogar fora, guardou outras, e agradeceu quando finalmente só restara uma única caixa para abrir. Essa era menor e um pouco mais leve. Abriu com cuidado, pois não sabia o que tinha dentro. Para sua surpresa eram alguns papéis, uma camisa e uns cds. Ela puxou a camisa e sentiu um perfume fraco mais agradável invadir suas narinas. Um sorriso involuntário surgiu em seus lábios. Ela deixou a camisa de lado, pegando um dos papeis jogados ali dentro. Esse em especial estava em um envelope. A letra na frente era bonita, e provavelmente de um homem. Talvez sua mãe houvesse se enganado e mandado aquela caixa para a pessoa errada.

Ela abriu o envelope.

Eu daria qualquer coisa... Até minha vida em troca para reviver cada sorriso, cada beijo, cada toque, cada eu te amo, cada momento daqueles ao seu lado novamente. Vale a pena agora ter cada lembrança daqueles dias guardados em minha mente. Se eu pudesse parava o tempo e voltava. Hoje me pego pensando em tudo o que passou, e em você... Já virou rotina. E neste momento nada valeria mais do que ao menos escutar o som da sua voz, porque eu sinto falta até daquilo que nunca vivi ao seu lado.

Com amor, JB.

E Nicole se perguntou... Quem era JB?

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A risada ecoou pela sala vazia. Levantou os olhos, observando o sorriso que tomara conta dos lábios da garota. Sua visão encontrava-se embaçada. Era tudo tão... Surreal. Carregava aquela sensação dentro de si que se encontravam tão distantes, apesar de estarem tão próximos um do outro. Seu peito doía, e sabia que aquela dor não havia remédio algum no mundo que pudesse fazer passar. Segurou o rosto angelical com uma das mãos, enquanto sentia o calor das chamas os esquentarem. O sorriso que ali estava fora desaparecendo aos poucos conforme se aproximavam. Ele sentiu algo macio tocar pela primeira vez seus lábios. Sorriu entre o beijo.

– É minha culpa – sua voz saíra rouca, ele desviou o olhar para a mãe, que notara as lágrimas em seu olhar – mãe, eu não queria, eu... – ele se interrompeu, jogando a arma no chão.

Interrompeu o beijo, e abriu os olhos, assustado. A garota o fitava com uma expressão vazia no rosto. Escutou sua voz lhe perguntando se estava tudo bem. A encarou, enxergando apenas uma imagem embaçada.

– Eu estou bem, Nic – respondeu. Em seguida, ouviu-se uma risada.

– Nic? Quem é Nic, Justin? – ela perguntou. Esse por sua vez, coçou os olhos com as costas das mãos e fitou a garota a sua frente.

– Ahn, o quê? Como...? Quem é você?

– Sou eu, bobo – fez uma pausa - Jasmine – disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo. E a última coisa da qual ele se lembrava era de ver aquele sorriso desaparecer aos poucos de sua mente.

xxx

E a garota olhava de algum lugar, talvez das estrelas. Abriu um sorriso notando que naquele momento tudo voltaria a se bagunçar.