Sheldon, meu querido autista escrita por judy harrison


Capítulo 19
A sinceridade inútil


Notas iniciais do capítulo

Philip contou a Monzard que Paty voltou, intercedeu por ela, mas ele ainda estava descrente de que Paty ainda os amava da mesma forma, e que sua mulher foi a perdição de suas vidas.



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_ Sheldon! Onde você foi? – era como ela sempre o cumprimentava antes. Sheldon levantou-se e a viu. Com seu jeito de expressar alegria ele começou a gritar e se abaixou diante dela, no chão para alcançar os seus pés, uma atitude que correspondia a um abraço. Emocionada, ela acariciou seus cabelos que de tão compridos tapava seu rosto. – Oh, Shel, que saudades!

Philip também não se conteve e chorou. Era a primeira vez em oito meses que Sheldon ficava feliz.

_ Ele reconheceu você, Paty!

_ Sim!

_ Patypaty! Patypaty! – Sheldon repetia, agora em voz baixa e puxando Paty para o chão, pra que ela se sentasse e brincasse com ele como era antes.

Philip deixou os dois por um momento e foi falar com o doutor.

_ Wilson, Sheldon a reconheceu! Ele voltou a falar!

Encontrou-o feliz também.

_ Eu sei. Impressionante!

_ Se antes você estava em dúvidas quanto a nos ajudar, acho que agora já não tem mais, não é?

_ Bem, não tenho dúvidas. Eu vou apoiar as visitas de Paty. Mas quero que me prometa que se Monzard desconfiar poderemos contar a verdade. Sheldon pode mudar bruscamente, reverter seu comportamento novamente. E Monzard vai questionar.

_ Você tem razão.

A tarde estava avançando e Sheldon não deixava Paty ir embora. Nesse interim, Philip foi à casa de Monzard para falar com ele sobre Paty. Queria citar primeiro seu nome para saber a reação dele.

_ Paty? O que quer falar sobre ela. Aquela traidora insensível não me interessa, Philip. Eu sinto ódio só de ouvir esse nome.

_ Eu perguntei ao doutor o que ele acha se ela viesse visitar Sheldon. Ele concordou comigo que isso seria bom... Se fosse possível, é claro.

_ Não se esqueça de que Sheldon está lá agora por culpa dela. Se um dia eu a vir, prefiro fazer de conta que não a conheço. Em hipótese alguma deixarei que ela o visite. O mal que ela causou é irreparável.

_ Monzard, você nunca parou para pensar que Paty pode ter tido uma razão muito forte para sumir assim?

Monzard olhou com desconfiança para ele.

_ Você nunca mais falou dela, e muito menos a defendeu. O que é, Philip?

Por acaso você a viu? Falou com ela?

Philip lembrou-se de que precisava recuperar a confiança de Monzard. Como mentiria para ele então?

_ Monzard, Sheldon estava defecando no quarto ontem, no chão! Ele nunca fez isso! Eu estou lhe falando sobre uma alternativa para ajudarmos Sheldon a se recuperar. E você só se preocupa com seu ódio inútil? Doutor Wilson concorda comigo que nosso problema com Paty não tem nada a ver com Sheldon. Se ele a visse, voltaria a ser o que era. É com isso que me preocupo agora.

_ Você a viu! - disse desconfiado e temendo que fosse verdade - Sinto em suas palavras.

_ Sente também que eu só quero o bem dele?

_ Vou ignorar o fato de que você está se entregando, e que ela pode estar por perto. E vou lhe perguntar duas coisas. Primeiro, quando foi que não me preocupei com um de vocês? E segundo, se ela o abandonou antes, por que não o faria de novo? – esperou que ele respondesse.

_ Você sempre esteve à frente quando se tratou de sua família, nunca nos abandonou. E... Paty foi coagida a ir embora, foi pressionada. E sei que se tivesse outra chance, provaria que você está errado sobre ela.

Monzard estava quase certo de que Paty e Philip haviam se encontrado. Sua mágoa e decepção, porém não o deixava pensar com o coração.

_ Talvez ela estivesse mesmo interessada em levar uma vida abastada, mas ao partir não se preocupou com o que ia causar, não teve consideração.

Ele agora estava falando não só por Sheldon. Em sua mente veio o olhar de Paty e ele lembrou-se do quando quis ficar com ela.

_ Se você ouvisse o que ela tem pra dizer...

_ Então, já se falaram mesmo? Por que ela procurou por você?

_ Ela não me procurou. Eu a vi na cidade vizinha e a segui. Eu falei com ela e ouvi também o que ela disse. As coisas não aconteceram como nos disseram.

_ Ela tentou matar meu filho, Philip! Nós vimos evidencias de que isso foi verdade. Ela... Ela queria ficar comigo também.

Era difícil para Monzard relembrar tudo aquilo. Estava falando de quando Paty despedaçou seu coração.

_ Paty negou tudo! Disse que Valerie já estava sentindo dores quando foi à casa dela.

_ Você sabe que está numa posição delicada, não é? Está chamando Valerie de mentirosa e a acusando de tentar matar o próprio filho. Isso não faz sentido, Phil! O exame comprovou a ingestão do veneno. E ela chorou muito quando... - Monzard não queria dizer. Perder seu filho foi um choque muito grande para ele – Não quero que ela chegue perto de Sheldon.

Philip percebeu que o irmão não ia se convencer da inocência de Paty se não provasse que ela era inocente.

_ Tudo bem. Eu já estou indo embora.

_ Philip, não quer ficar? Valerie está na casa de uma amiga, e eu vou estourar umas pipocas. Vai ter um jogo daqui a pouco.

_ Não, Monzard. Obrigado. Eu tenho uns assuntos pra tratar com uns colegas da internet.

Philip se foi e Monzard acabou sentindo o que havia feito com seu irmão. Ambos sempre foram muito solidários um com o outro, Philip em outras épocas não desprezaria seu pedido, teria feito companhia a ele. A presença de Valerie havia transformado os dois em estranhos que não se suportavam. Monzard reconheceu que depois que Paty se foi e Valerie passou a tomar conta de tudo, Philip se distanciou em muito com a contribuição dela e sua própria omissão. Achava que era o temperamento de Valerie que afastou Philip, e reconhecia que ela era uma pessoa difícil de se lidar. Era seu erro também ter perdido a amizade que sempre teve com Philip, se deixou levar por causa de um fato de pouca importância diante do amor que tinha pelo irmão. Mas em nenhum momento pensava em Valerie com uma perversidade tão grande.

O que diria de Paty então? Ele não havia parado para pensar que Paty podia não ser uma farsa, que talvez as coisas não fossem exatamente como ele soube, que era possível que Valerie estivesse mentindo.

Mas ele não queria acreditar que estava dividindo sua vida com alguém que não conhecia. Pois Valerie sempre o amou, e isso era certo.

Paty saia da clínica às dez da noite, hora em que Sheldon dormiu sob efeito de calmante, quando Philip chegou para pegá-la.

_ Quer dormir em minha casa. Paty? Já é tarde.

_ Philip, eu vou à sua casa por que quero combinar umas coisas.

_ Claro, não pensei outra coisa. – sorriu.

Ela não correspondeu. Estava chateada.

_ Quando penso que Monzard me odeia pelas coisas de que Valerie me acusou, sinto vontade de ir agora mesmo até lá e entrega-la.

_ Valerie não está em casa. Segundo Monzard ela está com uma amiga.

_ Philip, você ainda guarda aquela filmagem de Valerie saindo da casa do homem negro.

_ Eu a destruí.

_ Por que fez isso?

_ Quando eu soube que o bebê morreu achei que não fazia mais sentido.

Paty imaginou a dor que Monzard podia ter sentido, já que estava tão feliz.

_ Você foi ao... funeral?

_ Fui.

_ E... a criança era mesmo de Monzard?

Philip achou aquela pergunta cruel, porém pertinente.

_ Se acabou como acabou, não importa muito agora, não é?

Os dois ficaram em silêncio ate chegarem à casa de Philip.

Mas a mente dele trabalhava, remetendo sua lembrança ao dia do funeral, algo em que ele nunca mais quis pensar, e que agora tinha que pensar e refletir.


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