Sheldon, meu querido autista escrita por judy harrison


Capítulo 20
Minha Patypaty


Notas iniciais do capítulo

Monzard descobriu que Sheldon se encontrou com Paty. Sua recuperação milagrosa o deixou feliz, mas ele temia que a babá perfeita de seu irmão o abandonasse de novo.



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Em casa, eles se acomodaram na cozinha para comer o lanche que Philip comprou no caminho. Paty estava pensando em Sheldon e sorriu.

_ Me lembro de Sheldon nesse lugar onde você está. – ela disse – Adorava comer cereais sempre que vinha aqui.

_ Sheldon gostava de cereais sempre que você dava a ele, não era a casa. Hoje ele está proibido de comer qualquer coisa que seja industrializada.

_ E por quê? – ficou preocupada.

_ Toda essa mudança mexeu com o estômago dele, e desenvolveu uma pequena lesão no tecido gástrico. Ele só pode ingerir alimentos naturais, se não corre o risco de ter uma úlcera.

_ Oh, eu sinto muito!

Ela suspirou. Não sabia mais como lidar com tantas informações ruins a respeito de Sheldon.

Philip retomou o assunto do funeral.

_ Você perguntou sobre a criança... Eu me lembrei de algumas coisas que agora para mim não estão fazendo muito sentido. – Paty ouvia – Monzard soube da morte do bebê no dia em que ela foi ao obstetra para uma ultima consulta. Pelo que ele sabia, faltavam cinco dias para o parto. Ela saiu pela manhã, muito cedo e quando Monzard chegou do trabalho recebeu a notícia de que ela teve um mal súbito, e a criança teve que ser retirada às pressas. Valerie fez uma cesariana.

_ Que coisa estranha! Tudo bem que seria mesmo uma cesariana, pela idade dela... Mas eles teriam marcado a data.

_ O mais estranho foi que disseram que o bebê sofreu uma parada respiratória, mas o laudo dizia que ele faleceu por falta de oxigênio no cérebro durante o parto devido a uma complicação com o cordão umbilical. Mas a própria Valerie disse que ouviu o choro dele pouco antes de ele morrer. Eu me lembro disso, por que foi quando ela relatava o que houve para uma tia, no velório.

_ Quantas contradições! E Monzard, o que falou?

_ Monzard não falou! E não fala até hoje. Ele sofreu muito, chorou muito, mas secretamente. Se agente menciona o fato ele se esquiva, muda de assunto, ou simplesmente sai.

_ Bem, então do que na verdade ele morreu?

_ Paty, eu tenho uma suspeita, posso estar louco, preciso averiguar primeiro. – ficou pensativo.

_ Vai me contar o que é?

_ Durante o velório o caixão estava lacrado. Valerie disse que pediu que fosse assim por que o bebê estava arroxeado, pela parada respiratória. Ela disse, e foi perfeitamente compreensível, que não queria que vissem seu filho daquele jeito. Ela chegou a implorar para que Monzard não visse, alegando que seria traumático pra ele. O que você acha disso?

_ Do ponto de vista do fato, na verdade eu acho que faria o mesmo, não vou negar. Mas vindo de Valerie, sendo quem eu sei que ela é, isso pode significar qualquer coisa, menos o que parece.

_ Quando você me perguntou sobre a paternidade do bebê, eu fiquei me fazendo a mesma pergunta. Agora que pensei bem, Valerie talvez não quisesse que Monzard visse a cor da pele da criança. Talvez ele não tenha morrido pela causa que disseram.

_ Talvez ele nem tenha morrido!

Philip a encarou assustado. Nem ele considerava que Valerie fosse tão sórdida.

O dia de domingo amanheceu. Era dia de Monzard visitar Sheldon. Sempre estava na clínica, todos os dias, mas eram minutos por vez, três ou quatro vezes por dia. Aos domingos ele ficava com Sheldon durante quase todo o dia, e o deixava ao cair da noite, quando Sheldon apenas jantava e ia se deitar.

Aquele domingo, porém, seria diferente.

Quando Sheldon acordou, Monzard já estava ao seu lado.

_ Olá Shel!

_ Mon! Onde você foi?

Monzard chegou a se assustar. Sheldon não dizia aquilo há meses.

_ Vo... Você está falando! Oh, Sheldon... seus olhos encheram-se de lagrimas – Oh, Deus!

Sheldon levantou-se e ficou sentado à beira da cama para esperar seu café da manhã. Seu semblante tornava claro que houve uma mudança. O irmão o beijou na face e ria feliz, fazendo-lhe cocegas.

Mas Monzard não precisou raciocinar muito para entender. Além do que não demorou para Sheldon pronunciar o nome que ele mesmo deu a sua babá.

_ Patypaty.

Era hora de almoço, e enquanto a enfermeira alimentava Sheldon, Monzard foi falar com Wilson.

O doutor não escondeu o que estava obvio.

_ Eu só permiti por que sabia que não faria mal nenhum a ele, Monzard. Ela apareceu e Sheldon reagiu como se não tivesse passado pela crise que passou. Posso dizer que em vinte anos de trabalho eu não havia presenciado algo assim ainda.

Monzard não estava chateado, estava feliz demais para ter algum sentimento negativo. Mas estava inseguro.

_ E quando ela for embora de novo doutor? Ele terá outra crise?

Ele pensou um pouco antes de responder.

_ Deixe-me lhe mostrar uma coisa. – era a gravação que fez do encontro entre Sheldon e Paty. Monzard assistiu surpreso – Ele a reconheceu, não só por que gosta dela, mas por que sente segurança com ela. Eu observei os dois quase o tempo todo, e percebi o quanto Paty gosta dele também. Ela respeita suas vontades e consegue ter um certo poder permissivo sobre ele por que ele também a respeita e confia nela. Raramente encontrará alguém assim para Sheldon. Por que foi ele que a escolheu, não o contrário. Então eu sugiro que para o bem dele vocês resolvam seus problemas com essa garota, ou pelo menos limitem-se a contratá-la novamente.

_ Doutor, isso não é simples assim.

Como era domingo e Wilson estava na clínica apenas para estudar os pacientes, tinha tempo livre. Então ele pediu que Monzard contasse o motivo real da separação de Sheldon e Paty. Na época do fato ele só soube que Paty havia ido embora por razões particulares.

Monzard confiava em Wilson como doutor e amigo, um psiquiatra competente e que se importava com seus pacientes. Contou toda a história, até mesmo que se apaixonou por Paty e era correspondido.

_ Eu faria qualquer coisa por Sheldon, até mesmo permitir essa aproximação assistida de Paty. Mas não posso apagar o que houve. E temo que ela nos deixe de novo.

_ Se entendi bem, o fato de ela ter ido embora é o que pesa mais.

_ Sim. Como eu disse, nossa vida virou do avesso.

_ Então sugiro que fale com ela, Monzard. Se seu irmão Philip disse que ela negou tudo de que foi acusada e teve suas razões para ir embora, você deve ouvir o que ela tem a dizer. E deve perdoá-la.

_ Ela envenenou Valerie, Wilson! Isso também pesa.

Wilson já estava entendendo o que houve e o que Monzard não enxergava.

_ Vou lhe falar como médico, mas como amigo também. O veneno que você disse ter sido identificado no sangue de Valerie e que provocou a hemorragia é uma substância inofensiva para a mãe, e geralmente fatal para um feto jovem. O detalhe a ser observado é que se essa substância for tomada na quantia certa para provocar um aborto aparentemente espontâneo, surtirá efeito no mínimo em duas horas, dependendo da pessoa em três ou quatro horas. Antes disso não há nenhuma reação por que a corrente sanguínea ainda não foi contaminada totalmente. – ele percebeu a feição de espanto de Monzard – Eu acho que você deve ouvir o outro lado dessa história para realmente entender o que houve.

Monzard finalmente começou a se perguntar se não foi ludibriado. Impaciente, ele decidiu ir à casa de Philip após a visita a Sheldon.


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