Faith esperava Lizzie no sofá da sala. Sua mãe já havia tirado várias fotos da filha, que usava um vestido rosa claro com rendas pretas e sandálias prateadas de salto mediano. Seus cabelos ondulados desciam até as suas costas e sua franja, que sempre estava jogada de lado, se encontrava presa com uma linda presilha.

Impaciente e cansada da demora para Lizzie ficar pronta, o que era totalmente incomum, Faith se colocou de pé.

–Lizzie! – gritou em plenos pulmões. – Vem logo!

Do andar de cima a ruiva pode escutar Lizzie rir alto.

–Eu já disse que eu não vou...

Faith fechou os olhos, contando até dez para não dar uma resposta grossa a irmã, e se virou para mãe, com os olhos suplicantes.

–Mãe... – gemeu. – Desista, ela não vai ir.

Sua mãe fez uma careta desolada.

–Mas é o aniversário das duas, querida.

–Eu sei disso, mãe, mas Sam estará aqui á qualquer momento e eu não quero fazê-la esperar. – explicou a garota, espiando pela janela.

Sua mãe trocou a expressão de desolada para uma de surpresa.

–“Fazê-la”? Seu par é uma menina? – perguntou um pouco temerosa com a resposta.

Faith riu.

–Não, mãe. Eu e Samantha somos apenas amigas e vamos juntas pois nenhuma das duas tem par!

O alívio passou pelos olhos da mãe, antes dela sair da sala com um desculpa qualquer.

Minutos depois, Carly voltou com seu pai, carregando uma caixinha de veludo retangular e um sorriso no rosto.

Faith olhou curiosa para a caixinha.

–O que é isso?

–Seu presente de 16 anos, filha. – explicou entregando a caixinha para a garota. – Acredita que o vendedor queria me empurrar um anel de pureza? De pureza? – disse rindo e fazendo a menina ruborizar até atingir a cor de seus cabelos. – Bem, abra...

Faith abriu a caixinha lentamente, tentando fazer um suspense. Logo um colar de prata, com um pingente de diamante rosa adornado de diamantes normais menores se revelou. Encantada com o presente, abriu um sorriso radiante e agradeceu, esticando seu pescoço para que sua mãe lhe colocasse a joia.

–E o da Lizzie? – ela perguntou depois de posto o colar.

Seus pais sorriram.

–É o mesmo, mas a pedra é de diamante azul.

A menina assentiu, imaginando a reação um pouco forçada que Lizzie faria para não magoar seus pais. Afinal, Lizzie nunca ligou muito para aquelas coisas.

A campainha tocou e a menina se levantou, espiando pela janela outra vez e vendo o carro de Sam parado em frente a sua casa.

–Samantha já chegou, então eu estou indo. Tchau mãe. Tchau pai.

As duas entraram no carro. Sam abriu um sorriso e fez sinal positivo para o vestido rosa da garota. Faith repetiu o gesto e ligou o som, fazendo a música “i got a felling” tocar.

*_*

Mary dançava animadamente com seu par diante das músicas animadas e das luzes coloridas que compunham a festa.

Bridget tivera razão quando dissera que Thomas era um garoto fofo. Na verdade, ele havia sido, até aquele momento, um par perfeito para ela.

–Quer que eu busque algo para nós bebermos? – ele perguntou, tentando fazer sua voz sobressair a musica.

Mary assentiu.

–Claro, vou aproveitar e ir no banheiro retocar minha maquiagem. – ela disse, se dirigindo ao banheiro feminino e abrindo a porta lentamente.

Logo na hora que ela entrou, percebeu que Bridget se encontrava apoiada a beirada da pia, se olhando no espelho com uma expressão enjoada.

–Droga, Bridget, logo agora? – ela disse a si mesma, tentando respirar fundo. – Você não deveria ter feito uma dieta tão radical, agora se encontra quase desmaiando na festa. – ralhou consigo mesma, compenetrada demais em sua aparência e na situação para perceber a presença de Mary ali.

A garota, porém, com medo de que Bridget desmaiasse, resolveu se pronunciar.

–Bridget? – ela a chamou, fazendo a garota, que estava se olhando no espelho se sobressair e dar um grito agudo.

Rapidamente, a loira se virou em direção a voz, sentindo a adrenalina do susto lhe percorrer o corpo e o coração acelerar.

Mary, tentando sorrir de forma amigável pensou em se aproximar, quando seus olhos captaram algo: em cima da pia branca, a bolsa minúscula que a loira carregava, vibrava levemente no ar, levitando alguns centímetros acima do mármore.

Rapidamente, a garota arregalou os olhos e deu um passo para trás. Bridget também? Se perguntou.

A loira, já recuperada do susto, sorriu friamente.

–Sim?

Mary balançou a cabeça para por os pensamentos em ordem e desfez a expressão de choque.

–Ah, Bridget, eu só queria saber se você esta bem. Você estava um pouco pálida e eu imaginei que...

–Eu estou bem Mary, obrigada por se preocupar. – ela respondeu antes que sua amiga continuasse. – Aliás, como está indo seu baile com Thomas? – perguntou, lançando um olhar malicioso logo depois.

Mary tentou não corar, inutilmente.

–Ele realmente é muito fofo, Bridget. – respondeu.

A loira assentiu e dando uma piscadela, saiu do banheiro.

A outra, ao perceber que estava sozinha no recinto, se escorou na pia e abriu a torneira, molhando sua nuca. Era quase impossível de se imaginar, que antes, ela que pensava ser a única, estivesse agora no meio de mais três, todas diferentes entre si, mas tão especiais quanto ela.

E Mary sabia melhor do que ninguém o quão perigoso aquilo era. O descontrole a cada sentimento surgido, os dias em que seus poderes pareciam que iam explodir o mundo e todas as outras dificuldades nas quais ela passou sozinha.

Simplesmente ela não poderia deixar as três passarem por tudo aquilo sem nenhum apoio ou o mínimo de conhecimento. Qualquer deslize que as três cometessem e todas estariam em ar puros, com a CIA querendo pesquisa-las e a imprensa inteira atrás delas.

As três se colocariam em risco se Mary não fizesse nada.

Por este motivo a garota iria falar ela, juntas, no dia seguinte.

*_*

Faith mexeu seu pé dolorido e machucado pelas tiras prateadas do sapato, enquanto descansava em uma das cadeiras. Samantha estava dançando com um amigo dela e a garota, duvidando que ele fosse apenas um amigo, decidiu dar um pouco de privacidade aos dois.

Na verdade, a ruiva já havia dançado muito, junto com alguns amigos dela, alguns garotos desconhecidos e até com um dos jogadores de futebol do colégio.

E era por este motivo que seus pés estavam machucados. Já havia se passado quase três horas de baile e não havia sapato que lhe servisse confortavelmente. Cansada disso então, se acomodou melhor na cadeira e passou a observar as pessoas que passavam por ela, umas com pares, outras sorrindo felizes e mais outras fofocando.

A garota já havia perdido a noção do tempo que estivera ali sentada, quando a música parou e a diretora subiu no palco, impecavelmente decorado, para conversar com os alunos.

–É um prazer dividir com vocês mais um baile de outono. – a voz da diretora chiou ao passar pelas caixas de som, fazendo alguns alunos rirem baixinho.

Sam e seu amigo se sentaram ao lado da garota.

–Mais um ano em que estamos juntos e unidos. – a diretora continuou – E como sempre, quando o baile chega no final, nos coroamos nossa rainha e rei do outono. – ela disse feliz, abrindo os braços e espiando dentro do envelope dourado. – Vocês votaram durante uma semana para as pessoas que concorriam esse ano, então vamos aplaudir os candidatos... – ela pediu e três pares de rainhas e reis subiram no palco.

Faith reconheceu a garota morena de vestido rosa como uma das amigas da Bridget, junto com o garoto loiro, capitão do time de basquete. A outra garota, que tinha os cabelos loiros tingidos, era a estrela da equipe de dança sincronizada do colégio, acompanhada do seu namorado, um dos integrantes do time de natação. Por fim, ela reconheceu Bridget, com seu vestido azul impecavelmente delicado e bonito sorrindo de mãos dadas para o capitão do time de futebol, o garoto loiro de olhos azuis, Brian.

–Quero, antes de ler o resultado, dar os parabéns a todos vocês, está bem? Todos os seis estão lindos e já merecem o título da noite, só por estarem aqui participando...

Bridget revirou os olhos e se mexeu impacientemente no palco. Era totalmente desnecessário aquela enrolação toda.

–Diretora, fale logo! – ela pediu alto, fazendo sua voz se tornar compreensível a todos, mesmo sem o microfone.

A maioria dos alunos riu, concordando com ela.

–Está bem... Com mais de 60% dos votos, o rei do baile de outono desse ano é... – a mulher sorriu abrindo o papelzinho. – Brian Lerman. – anunciou e todos se levantaram, aplaudindo animadamente uns dos garotos mais bonitos e carismáticos do colégio.

Brian então comemorou, enquanto a diretora o coroava com uma coroa de metal, bem trabalhada e folhada a ouro (que por sinal havia sido doada pelos pais de Bridget para o evento) e colocava uma faixa, escrita com letras cursivas “o rei do baile de outono 2010”.

Depois do discurso dele, que se resumiu em um “valeu, pessoal”, a diretora pegou o outro papelzinho dentro do envelope.

–E a rainha do baile de outono deste ano, com 70% dos votos, é... Bridget Van der Woodson!

Todos voltaram a aplaudir, enquanto alguns assobiavam. A loira, não podendo estar mais radiante, soprou beijos para todos na festa, com um sorriso que transbordava felicidade e com uma animação que chegou até a contagiar Faith.

Após a menina passar pelo mesmo processo, ela pegou o microfone e começou seu breve discurso.

–Bom pessoal, eu queria agradecer a todos vocês que votaram em mim, pois sem vocês eu não teria sido coroada a rainha do colégio. E, fazendo das palavras de Brian as minhas: Valeu, pessoal! – ela gritou, descendo o palco com as flores na mão.

Faith sorriu feliz por ela e voltou a conversar com seus amigos até o final do baile.