Pov.Nico

Eu olhei Ted se esvair em uma fumaça densa, seu corpo de desfazendo. Ela olhava na minha direção, mas parecia que não era para mim, e sim para alguma coisa atrás de mim. Percebi isso quando ouvi um rosnado gutural vir de trás de mim. Estava tão concentrado fixando meu olhar em Ted que nem percebi que o cão infernal estava ali. Perfeito. Eu precisava salvar a garota e o cão me aparecia logo agora. Não tinha nenhuma arma por perto. Nada mesmo. A única coisa que me passou pela cabeça foi correr até alcançar uma barra de ferro que vi mais a diante. E foi o que fiz. Só que enquanto corria, não consegui tirar os olhos daquele cão infernal. Não sei, parecia que tinha algo de errado com ele, algo que a minha cabeça queria descobrir a qualquer custo, sem nem ligar para o que estava acontecendo a minha volta.

Quando abaixei-me para pegar a barra e virei-me para de defender do cão infernal, ele  desapareceu. Simplesmente virou em fumaça, de uma hora para a outra.

Névoa. Ela pode enganar até mesmo semideuses.

Um milésimo de segundo depois deste pensamento passar pela minha cabeça, eu senti algo. Bem nas minhas costelas, pouco abaixo do coração. Uma dor.

Ela rasgava, e queimava ao mesmo tempo. A única coisa que consegui fazer foi dar um grito. Um empousai estava escondida e havia cravado sua espada em mim. Ao meu lado, vi uma faca voando em sua jugular e ela cair no chão.

Pisquei rapidamente e olhei e levei a mão levemente onde havia a ponta da espada atravessada entre meu corpo, minha mão ficou encharcada um um vermelho vivo ao mesmo tempo que tentei calcular por quanto tempo eu continuaria vivo.

A minha volta, as únicas coisa que consegui identificar eram vozes enquanto caia de joelhos e encostava o quanto podia na parede, já que a espada estava e minhas costas. Desfaleci por um segundo. Quando abri os olhos novamente, senti que alguém levantara minha cabeça e a colocava a mão em meu rosto.

—Nós precisamos dar ambrosia para ele, rápido!

—A mochila desapareceu!

—Temos que tirar a espada dele!

Senti que alguém puxou a espada. A dor piorou muito. Tentaram puxar novamente, mas desta vez até o meu corpo levantou-se junto.

—Ela está muito funda! Puxe de uma vez só.

Mais um puxão. Conseguiram tirar a espada, só que este me fez abrir os olhos para arfar.

—Aguente Nico.- Thalia estava bem na altura de meus olhos. - Por favor.

Eu aguentaria aquela dor horrenda por ela. É estranho quando você percebe tardiamente que poderia estar exatamente assim, deste jeito, com ela. Só que em uma situação muito menos dolorosa.

— Precisamos fazer alguma coisa...- Annabeth piscava incansavelmente, tentando espalhar as lágrimas.

Eu estava perto do fim. Eu sabia disso. Procurei uma força que eu tinha escondida dentro de mim. Precisava me despedir.

—Não há mais nada a fazer.- Eu disse. -Annabeth,- sorri fracamente para ela.- você cuidou de mim como Bianca teria cuidado, obrigado.

—Não foi nada Nico, - Annabeth balbuciou em meio as lágrimas.- Se pudesse teria feito melhor.

—Não se preocupe com isso.- falei enquanto ela me deu um beijo na testa.- Nunca vou esquecer o que fez por mim.

Ela se afastou um pouco.

—Percy,- ele apertou minha mão, apreensivo.- você foi o irmão que eu não tive.

—E você o meu.- Percy tentou sorrir.

Eu virei para Thalia, que o tempo todo me observou quieta, enquanto as lágrimas caiam pelo seu rosto silenciosamente.

—E Thalia,- coloquei a mão em seu rosto com muito esforço, e com o polegar limpei suas lágrimas.- E só quero que me prometa uma coisa, apenas uma coisa tudo bem?

—Claro Nico, - ela respondeu com a voz instável.- qualquer coisa.

Entrelacei minha mão na dela.

—Um dia, quando... quando a gente se encontrar novamente, - minha voz ficou mais fraca, mas continuei. – Eu quero que me dê uma chance, eu juro, que vou faze-la a garota mais feliz do mundo... Só me dê essa oportunidade...

—Sim, eu prometo...- ela acariciou meu rosto com as mãos tremulas.

Fechei os olhos e deixei que todo o restante da minha força fosse para as nossas mãos entrelaçadas, apertando-as.

E então acabou. Senti o mundo a minha volta congelar, e tudo ficar escuro. Uma voz, de muito longe, chamou meu nome. Ao pouco foi se tornando mais clara. Eu conhecia aquela voz. Levantei do chão, do lugar todo escuro em que estava, e por instinto fui em direção a voz. Uma figura, bem de longe foi se aproximando devagar.

—Nico...

Aquele rosto. Tão parecido com  o meu, mas ao mesmo tempo tão diferente. Ela chamou-me novamente.

—Bianca!

Comecei a correr na sua direção. Ela me aguardava parada, com os braços estendidos e com seu sorriso emocionado.

Eu a abracei. Achei que nunca poderia fazer aquilo novamente. A minha volta, o som começou a aumentar e a paisagem foi se iluminando aos poucos.

Eu estava no mundo inferior. Mais precisamente na frente do palácio de Hades, meu pai.

—Nico!- Bianca me soltou, e colocou as mãos no meu rosto.- Como você cresceu! Está mais alto que eu! Está tão diferente!

Ela me abraçou novamente. Soltou- me colocando as mãos nos meus ombros. Deu um sorriso caloroso e continuou a falar.

—Está tão...- ela tirou o sorriso do rosto ao se interromper.- morto... Como isso aconteceu?

—É uma longa história.- eu disse.

—Tempo é o que não vai faltar para me contar. - ela passou a mão na minha cabeça.- Mas antes venha comigo. Papai quer falar com você.
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Pov. Autora

Enquanto a respiração de Nico ia enfraquecendo cada vez mais, Annabeth colocou as mãos no rosto que estava sendo lavado pelas lágrimas, e deitou-se no peito de Percy, que enterrou seu rosto no cabelo dela sem saber o que fazer.

Thalia abraçou o corpo Nico e sussurrou seu nome enquanto deixava que a tristeza a tomasse mais uma vez. Foram poucas as vezes que alguma coisa ou alguém conseguiu deixar ela em profunda tristeza, mas ele conseguiu.

Uma leve fumaça branca passou pelos lábios entreabertos de Nico. Ninguém percebera isso, até Thalia sentir sob seu rosto o peito de Nico se mexer.

Ela levantou o rosto totalmente encharcado pelas lágrimas e segurou o rosto de Nico. Ele abriu os olhos num rapidamente.

—Nico!- Thalia disse.

Annabeth e Percy olharam rapidamente para eles.

—Você está vivo!- Thalia sussurrou.

—Não, - disse. - não sou o Nico. Sou eu...

Ele olhou Thalia nos olhos, esperando que ela o reconhecesse. Foi então que ela percebeu as diferenças. Os olhos dele, não estavam mais pretos, e sim azuis. Um azul extremamente diferente. E sua voz. Mudara de uma força descomunal.

—Luke..?!