– S-Suspeitando de quê? - eu já sabia do que ele estava falando, mas precisava confirmar.

Ele ergueu a mão esquerda para mim e tirou meus óculos delicadamente.

– Que você é uma garota. É a garota que encontrei no aeroporto.

Eu estava confusa e enjoada. Como diabos ele se lembrava de mim? De todas as garotas no aeroporto, ele tinha que se lembrar logo de mim! Mas isso não era mais importante. Fui direto ao ponto.

- Você vai me denunciar?

- Denunciar pelo o quê? - ele perguntou, abaixando o tom de voz para que ninguém nos ouvisse. - Você não nos roubou, assediou ou saiu por aí dizendo o endereço do nosso dormitório, certo?

- C-Certo, m-mas.. - balbuciei.

- Certo. - ele me cortou. - Garotas com menos de vinte e cinco anos não são permitidas como funcionárias aqui.

- Então você vai falar para os outros sobre mim? - abaixei a cabeça, esperando a resposta. Minha tia com certeza estaria decepcionada comigo.

- Eu deveria, não é? Hm. Eu normalmente não escondo segredos dos outros membros. Muito menos do Jonghyun hyung. - ele falava com um tom irritante de autoridade. - Então, vamos fazer assim. Você me diz o motivo de você estar vestida de garoto aqui e eu penso se devo entregá-la ou não, que tal?

Ergui a cabeça e o olhei com um olhar de desespero e desprezo. Respirei fundo e o expliquei a história da minha tia.

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- Aaaaah! Sabia que estava faltando alguém. Sun Hee noona! E como ela está?

- Não muito bem.. O resfriado dela simplesmente não vai embora. A febre é instável. - suspirei e cocei minha cabeça por baixo da peruca. - Acho que ficarei por aqui por mais algum tempo.

- Mas você não estuda? - ele perguntou, piscando duas vezes.

- Sim, estou indo para o terceiro ano do ensino médio. Mas não estou muito preocupada com isso, qualquer coisa eu frequento uma escola pública aqui em Seul. Ou mesmo, entro no terceiro ano depois.

- Mas isso iria dar muito trabalho.. - comentou.

- Com certeza iria. - ri.

- Kibum! Seu punk! Venha para cá! - alguém gritava do elevador.

Olhamos e era Jonghyun procurando por Key. Ele apenas se virou e foi na direção dele. Nervosa, segurei seu pulso. Ele se virou e olhou para mim, meio vermelho.

- Você não vai falar nada para ele, certo? - perguntei, confirmando.

- Acho que não. - ele me entregou os óculos, sorriu e foi correndo na direção do elevador.

Jonghyun me lançou um olhar suspeito, mas não fez nada. Apenas se virou e foi embora junto com Key. Minho estava na cadeira de rodas, dentro do elevador e Taemin segurava a porta. Onew estava tentando sentar no colo de Minho. Todos acenaram para mim.

Que dia longo.

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Uma semana se passou e eu estava cada vez mais cautelosa. Nada havia acontecido desde a minha conversa com Key. Nada mesmo. Ele nem ao menos olhava para mim, mesmo que os outros continuassem agindo naturalmente comigo. Até Jonghyun estava se aproximando de mim aos poucos - quer dizer, acho que ele ainda suspeitava de alguma coisa sobre mim, por isso não era tão amigável comigo, mas com o tempo, ele até almoçava comigo, Onew e Taemin.

Minho já estava sem o gesso e andava quase normalmente, mas ainda não podia praticar. Mas ele parecia bem irritado e incomodado com tudo.

- Nee, Taemin hyung. - sussurrei ao cutucar o braço dele. Ele se virou para mim e aproximou a cabeça, assim eu poderia sussurrar no seu ouvido. O cabelo longo dele estava preso em um rabo-de-cavalo e a franja presa para trás. - O que aconteceu com o Minho hyung? Ele anda estressado.

Taemin riu e se virou para mim, para sussurrar. Onew nos encarava com um olhar suspeito.

- Minho hyung ama praticar esportes, com a perna quebrada, ele se sente sedentário e dependente. Aposto que quando o médico autorizar, ele vai sair por aí, saltitando, com uma bola de basquete.

Eu nunca gostei muito de esportes. Sempre fui uma das mais baixas e lentas, então eu me contentava com a música. Mas acho que se eu ficasse sem o violão, ficaria enfezada também.

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Por uma hora - ou mais - fiquei sem nada para fazer, então me tranquei na sala especial com meu violão e fiquei praticando. Estava aprendendo Don't Cry da Park Bom. Bonita e com uma voz incrível. Eu realmente admirava ela.

- Às vezes, quando as minhas lágrimas vem à tona, eu lembro de todas as nossas lembranças boas. Eu espero que você não se magoe mais e por favor, não chore. - cantei. - Ah, essa música é tão triste. - choraminguei, colocando o violão de lado.

Tirei a peruca - esse treco pinicava demais.  Agora era meio estranho ficar com o meu cabelo longo. Estava me acostumando com o corte curto e prático.

Sem perceber, alguém entrou na sala sem bater e me encarou. Era Onew. Ele me olhava com surpresa. Fechou a porta e veio na minha direção. Continou me encarando, piscou duas vezes e riu.

- Não sabia que você tocava e cantava, Luca. - sorriu para mim, brilhantemente como sempre.

- Onew hyung.. eu.. - balbuciei.

- O que? Você achava que eu não sabia que você era uma garota? Notei da primeira vez que te ouvi rir, acho.

- Então por que nunca comentou nada? - perguntei, confusa.

- Ah.. Achei que, para você se vestir de homem e trabalhar duro do jeito que sempre faz, tinha um motivo realmente importante. Então não fiz nada, apenas te observei. - ele brincava com a peruca, rodando-a com os dedos.

- Falou para alguém? - fui direto ao ponto.

- Não. Não achei que deveria. - ele respondeu. - E pedi para Key não falar para ninguém também.

- Obrigada. - sorri. - Mesmo. Muito obrigada. - inconscientemente, o abracei. Ele ficou rígido.

- Então, só para constar. Seu nome não é Luca, é? - brincou.

- Não, não! - ri. - É Lucy. Prazer em te conhecer, Onew oppa. - ele corou e eu ri novamente.

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Por um tempo, ficamos brincando naquela sala, até que ele saiu para voltar a ensaiar.

Onew era um cara bem legal.