Cheguei em casa e fui para meu "porto seguro". Todos da casa pareciam já estar dormindo, então me sentei na sala e fiquei tocando o violão novo que ganhei de aniversário da minha mãe. Toquei todas as minhas músicas favoritas, tentando pular qualquer uma que fosse coreana - de alguma forma, eu estava desconfortável só de pensar na linguagem.

– Porque eu fico quebrada quando estou só, e não me sinto bem quando você vai embora. - fiquei cantando baixo, para não acordar ninguém da casa. - Você se foi para longe e não me sente aqui, não mais.

Terminei a música e encostei as costas no sofá, tentando lembrar o que realmente havia acontecido na tarde que passei com Taemin.

Eu cheguei no prédio, subi o elevador e esbarrei naquela mulher, Kim Shin Hye. Senti-me completamente desconfortável conversando com ela, lembro-me bem disso. Aí o Taemin apareceu e me tirou de perto dela, e com isso fomos para a minha sala especial. Conversamos e eu acabei dormindo.

– Então como diabos eu acabei dormindo nos braços dele? - falei para mim mesma.

– Dormindo nos braços de quem?

Olhei surpresa para o lado e Dong Yul estava encostada na porta, com um creme verde no rosto. Ela se aproximou e sentou no sofá, fazendo-me erguer a cabeça para poder olhá-la no rosto.

– Está ali desde quando? - perguntei, ainda meio nervosa.

– Desde que você estava cantando Broken. - ela respondeu, passando a mão nos meus cabelos. - Por que está assim? E sua peruca? O que aconteceu, Lucy? - a garota passou a mão pelo meus rosto, com um olhar preocupado

– Dong Yul-ah..

Sentei-me no sofá e contei tudo que havia acontecido.

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– Nee, Lucy. Não acha melhor contar logo tudo para eles? Quem sabe eles te perdoem e deixem você continuar trabalhando lá.

Dong Yul penteava meu cabelo, trançando-o.

– Eu tenho medo. - respondi, sincera. Não tinha motivos para mentir para ela. Dong Yul foi meu segundo porto seguro desde que ela começou a morar conosco. - Quero continuar trabalhando lá e ajudando a tia Sun Hee.

A garota sentou-se na minha frente e me olhou diretamente nos olhos, sem piscar.

– Tem certeza que é só para ajudar a tia Sun Hee? - desviei o olhar. - Sabia! - ela gritou e me abraçou.

– M-Me solta! - tentei desvencilhar-me dos braços dela, mas ela me abraçava forte demais.

– Minha criança está crescendo tão rápido! Alias! - ela se separou de mim e ficou com um sorriso animado e contagiante nos lábios. - Seu aniversário é essa semana, certo?

– Como sabe?

Dong Yul apontou para o nosso quarto. Lembrei do calendário que minha mãe havia pregado na parede.

– Amanhã é a véspera de Natal, depois é o Natal e depois seu aniversário! Quantos anos?

– Vou fazer dezessete, não, espera.. - a contagem era diferente na Coréia, então precisei contar nos dedos. - Dezenove.

– Nós vamos fazer uma festa, certo? Certo? - agora, ela me sacudia sem pena. - Vou te buscar no trabalho no Natal e comemorar seu aniversário à meia noite, ok? Ok!

E com isso, ela saiu da sala, indo para o quarto antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa.

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No dia seguinte, o metrô estava cheio e os ônibus também. Saí de casa cedo e fui trabalhar a pé - andar um pouco, ouvindo música, não doeria.

Cheguei no prédio dez minutos adiantada, então aproveitei meu tempo para brincar um pouco no parque que havia em frente ao local. Sara chegaria depois para me entrar uma peruca nova.

Eu trajava roupas femininas pela primeira vez em muito tempo. Uma calça jeans - ela estava apertada, eu havia me acostumado com calças masculinas e frouxas -, uma blusa branca, um tênis preto e um casaco preto e grosso por cima - deixei meus cabelos soltos e caidos nos ombros, assim eles cobririam meu rosto.

O parque estava vazio então resolvi sentar nos balanços e brincar um pouco. O vento que batia no meu rosto cada vez que eu ia para frente era completamente refrescante, apesar de quase congelar minha alma.

Senti meu bolso vibrando e parei de balançar. A Sara deve ter chegado. Pensei, mas quando abri o celular, eu tinha recebido uma mensagem em português.

" Feliz aniversário, Lucy! Como anda aí na Coréia? Você foi sem se despedir, que menina má! Espero que sua tia esteja bem e que você não esteja dando trabalho para sua mãe - ela que me avisou que você ia passar as férias do outro lado do mundo. Estou mandando essa mensagem agora porque não tenho certeza se você a receberá no dia certo, então cá estou eu, três dias antes. Do seu professor favorito, Sean J. - Happy B-Day! "

Sean foi meu professor de inglês por cinco anos - um dos meus únicos amigos. Apesar de ele ser cinco anos mais velho que eu, ele me tratava como igual e sempre me deixava ficar até tarde no colégio, ajudando-o a corrigir os trabalhos dos alunos mais novos e eu também o ajudava com a sua pronúncia em algumas palavras portuguesas complicadas.

Sorri e imediatamente pensei em respondê-lo, mas alguém tirou meu celular das minhas mãos.

Virei-me rapidamente e Key segurava o celular no alto, lendo minha mensagem. Ele fazia careta enquanto tentava ler as palavras. Levantei-me do balanço e tentei pegar o celular, mas ele segurava-o no alto.

– A única coisa que entendi foi o parabéns. - ele disse, devolvendo-me o celular e sorrindo superior. - Hoje é seu aniversário, sua velha? E quem é Sean J?

Dei-lhe lingua e fechei meu celular, guardando-o no bolso e impedindo que mais alguém o tirasse de mim.

– Hoje não é meu aniversário. - ajeitei meu cabelo, afetado pela palavra 'velha'. - É só depois do Natal. E o Sean não mora aqui, você não precisa saber quem ele é.

– Quantos anos?

– Dezessete internacionalmente. E você?

– Dezenove internacionalmente. - ele bagunçou meu cabelo. - Então você tem que me chamar de oppa.

– Não quero. - dei-lhe lingua novamente. - Ah.

Avistei de longe outros três garotos se aproximando. Onew, Minho e Taemin. O mais velho abria um sorriso brilhante assim que chegava perto e Minho olhava para o lado, observando uma senhora passeando com seu cachorro e Taemin - eu não tinha coragem de olhá-lo no rosto.

– Annyong. - Onew acenou e se posicionou do lado de Key.

Minho se colocou do outro lado de Key e olhou-me debaixo para cima, curvando-se logo em seguida. Tentei cobrir meu rosto para que ele não me reconhecesse.

– Essa é a Lucy. - Key apresentou-me, sorrindo.

Olhei na direção de Minho e vi seus olhos depositados em mim, mas ele olhou para trás assim que um homem os chamou. Todos se viraram e foram para dentro do prédio, se despedindo de mim. Olhei para frente, vendo-os irem embora e vi Taemin virar-se para mim.

Ele me encarava e o vento fazia seus cabelos longos voarem para longe. De certa forma, ele parecia um principe das histórias em quadrinhos. O garoto acenou para mim e sorriu. Eu apenas acenei de volta e ele logo se virou e foi seguindo os outros membros do grupo.

– Isso quer dizer que ele me reconhece ou que ele não me reconhece? - falei comigo mesma.

Sentei-me novamente no balanço mas logo meu celular vibrou novamente. Sara havia chegado e me pedia para ir encontrá-la no banheiro feminino.

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O dia foi bem vazio. Eu só precisava ajudar a organizar algumas coisas e comprar comida, então eu pude ir embora bem cedo, mas Sara me chamou.

– Que foi, Sara unnie? - abri a porta da sala e um corpo logo se jogou em cima de mim.

– Lushy! - reconheci o sotaque então logo me acalmei. - Parabéns!

– Hoje não é meu aniversário. - me separei de seu abraço e sorri.

– Mas ele é depois de amanhã e eu provavelmente não poderei lhe ver nesse dia, então estou lhe parabenizando hoje! - e ela me abraçou novamente. - Parabéns!

Ela se afastou de mim e me entregou uma caixa pequenininha.

– O que está acontecendo? - perguntou uma voz masculina.

Entrando na sala Jonghyun me encarou, mas logo virou-se para Sara. Rapidamente, escondi a caixinha nas minhas costas.

– Depois de amanhã é aniversário do Luca! - ela disse, ainda sorridente. - Estou apenas parabenizando-o.

– Seu aniversário? Sério? - o garoto se aproximou de mim, agora sorrindo. - Parabéns.

– Só isso? - agora, quem entrava na sala era Onew.

– Isso é muito pouco. - Key entrou, puxando o braço de Taemin - Minho os seguia atrás.

– O que quer dizer com muito pouco? Eu nem sabia que era seu aniversário! - Jonghyun já parecia meio zangado, mas brincalhão.

– Que tal sairmos nesse dia? - Key se aproximou de mim, colocando seu braço por cima dos meus ombros.

– Sairmos? Para onde? - perguntei, confusa.

Onew ergueu seu celular para mim e eu pude ver uma foto de um parque de diversões.

– Como vai ser o dia depois do Natal, é bem provável que esteja vazio. Então, o que me diz?

Olhei para todos e eles sorriam para mim, até Taemin tinha aquele seu doce sorriso estampado no rosto novamente.

– Eu não sei.. - ainda me sentia meio relutante.

– Está decidido então! - Key gritou, me apertando contra seu peito. - Iremos para sua casa de manhã e te levaremos para o parque de diversões!