O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 5
Maldita Valentina!


Notas iniciais do capítulo

Geeeeeente, sorry pelo atraso! Eu ia postar esse cap semana passada, mas aconteceram umas coisas e tal. Aí ontem quando eu fui postar, o nyah saiu do ar, vocês sabem. Bom, aqui tá o cap, narrado pelo Vince, boa leitura :)



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   Ela parecia tão encabulada que eu suspirei e peguei uma camisa azul no armário, vestindo-a em seguida.

   — Melhor agora? — perguntei, mal humorado. A fome sempre me deixa assim.

   Ela assentiu e nós saímos do quarto e descemos as escadas para a sala de jantar. Os empregados sempre sabiam como agir quando eu trazia alguém para casa e já tinham arrumado a mesa para duas pessoas. A sala de jantar da minha casa é grande e ampla, com uma parede de vidro que dá para os fundos, onde tem uma enorme piscina. Tudo o que eu queria era cair naquela água, já que estava o maior calor, mas eu tinha que estudar e era para isso que aquela nerd estava ali.

   Suspirei, sentando-me no meu lugar à cabeceira da mesa e Maria Valentina sentou-se a minha direita. Começamos a comer em silêncio. Essa menina nunca fala nada? Isso é uma novidade, já que todas as mulheres que eu conheço — com exceção da minha mãe — nunca conseguem ficar de bico fechado e sempre preenchem cada silêncio com a primeira besteira que lhes venha à cabeça. Mas eu estou aprendendo que nada do que vale para as outras garotas, vale para a pequena nerd que eu tinha arrastado para a minha casa.

   — Então — comecei, irritado com aquele silêncio. — O que nós vamos estudar primeiro?

   — Você é quem sabe — ela respondeu, olhando para o prato. — Eu não sei quais as matérias que você precisa estudar.

   — Eu preciso estudar todas!

   — É tão burro assim?

   — Você está na minha casa, não vou permitir que me fique me xingando! — essa menina é uma cara de pau abusadinha, eu mereço!

   — Ótimo — ela disse, começando a se levantar da mesa. — Eu vou embora.

   Levantei-me e a forcei a sentar de novo.

   — Você fica — disse, irritado, voltando a me sentar. — E termina logo de comer, não quero perder tempo.

   Ela só rolou os olhos e voltamos a comer naquele silêncio tenso. Eu ia acabar tendo uma indigestão por causa dessa garota. Só de olhar para a cara dela, eu já ficava irritado, então fixei o olhar no meu almoço. Comecei a catar os legumes da comida, como sempre faço, e os coloquei num canto do prato. Quando acabei de comer, fiquei olhando para a piscina, cuja água cristalina brilhava ao sol e parecia me chamar. Ah, como eu queria dar um mergulho!

   — Já acabei de comer — Maria Valentina disse, de repente, tirando-me do meu devaneio.

   — Ah, ok — respondi, levantando-me. — Vamos.

   Eu esperei ela passar na minha frente — sou um garoto muito bem educado, ok? — e estava quase subindo as escadas atrás dela quando algo na mesa me chamou a atenção. Olhei para a mesa e vi que a Maria Valentina tinha feito a mesma coisa que eu, colocou os legumes num canto do prato. Acho que a maioria dos jovens faz isso. Se bem que todas as garotas com quem eu já tinha almoçado, normalmente, comiam o que fosse verde.

   Enfim, que seja. Ela e eu subimos a escada e voltamos para o meu quarto.

   — É aqui que vamos estudar? — ela perguntou, com uma careta de desagrado.

   — É sim — respondi, irritado. Ela tem que reclamar de tudo? — E nem adianta fazer cara feia. A sua já não é muito bonita, assim só fica pior.

   — Cala essa boca — ela disse e deu um chute na minha canela.

   Mas é uma selvagem mesmo essa garota! Parece que só vive pra me bater! Esfreguei a canela atingida e manquei até minha bancada de estudos.

   — Mas um ato de violência desses e você já sabe o que vai acontecer — eu falei, irritado. — Eu vou dizer pra todo mundo...

   — Que a nerd da Maria Valentina é apaixonada pelo Ronald McDonald — ela terminou pra mim, rolando os olhos. — Você só sabe repetir isso, é? Não tem nem um pouco de criatividade para inventar outra ameaça?

   — É melhor não brincar comigo — retruquei.

   — Se não o que? Sabe de uma coisa, acho que vou começar a te ameaçar também. Se você não começar a mostrar algum respeito por mim, vou sair por aí dizendo que você vive apanhando de uma nerd.

   — Desgraçada — resmunguei. Mas a verdade é que a menina não é boba. Melhor mesmo é fazê-la me ajudar a estudar e depois chutar a garota daqui.

   Peguei minha mochila e tirei de lá meu caderno, colocando-o em cima da bancada.  Depois puxei uma cadeira para a Maria Valentina — meus instintos cavalheirescos são mais fortes...mentira, é que ela estava me fitando com um olhar tão assassino que eu preferi ser gentil — e nós sentamos para estudar.

   — Bom, já que você é burro e precisa estudar todas as matérias, — ela começou, me xingando como se não fosse nada, a maldita — vamos começar por história, já que você não me deixou prestar atenção na aula de hoje e eu preciso rever a matéria mesmo.

   — Foi você que inventou aquela palhaçada de eu estar doente — retruquei. — Por sua culpa, precisei ficar ouvindo os caras do time perguntarem o tempo todo qual era o problema com você.

   — Comigo? Você tem que estar de brincadeira, quem começou tudo foi você! E o que você inventou pra eles, hein?

   — Eu não inventei nada, só falei a verdade. Você é louca e esquisita — disse e precisei me esquivar para não levar outro chute na canela.

   Sim, o que ela esperava que eu dissesse? Que nós íamos estudar juntos? Só na mente psicótica dela uma coisa dessas iria acontecer. Ninguém pode descobrir que eu respiro o mesmo ar que essa nerd maluca.

   — Se você abrir essa sua boca estúpida mais uma vez — ela ameaçou, com os punhos apertados de raiva — eu juro que vou embora daqui e você vai continuar se ferrando nas provas pelo resto da vida.

   Ok, ok, talvez eu devesse parar de mexer com a garota, pelo menos tempo suficiente para ela me explicar a matéria. O que a professora estava ensinando hoje na aula mesmo? Alguma revolução aí, sei lá. Eu estou mesmo precisando de ajuda.

   — Vamos fazer assim — propus. — Vamos tentar não xingar, ofender, chutar nem matar um ao outro pelas próximas duas horas. O que você acha?

   — Feito — ela respondeu, abrindo o seu caderno que, até onde eu pude ver, estava lotado de anotações. Caraca, a menina é uma máquina. — Agora, vê se presta atenção.

   Isso ia ser difícil.

   Confesso que sou meio distraído. Ok, talvez meio seja eufemismo. Sou muito distraído. As únicas coisas que realmente conseguem minha total concentração são futebol, surfe, música e garotas bonitas — e essas últimas só por algum tempo. O resto, sinceramente, passa reto e batido por mim. E por isso minhas tentativas de estudar foram fracassadas, a droga da matéria — seja qual for — não prendia minha atenção.

   E nem a droga da Maria Valentina.

   E por isso ela ficou falando e eu só conseguia escutar blablablá. Depois de um tempo, nem isso. Desde quando a minha cortina era creme? Não era branca? Será que alguém trocou? Tem diferença? Eu estava olhando fixo para a cortina quando um mosquito entrou pela varanda. Primeiro ele pousou no vidro, depois na parede verde do meu quarto. Quanto será o tempo de vida de um mosquito? Ouvi dizer que as moscas só sobrevivem por um dia, mas mosquitos não são moscas. Serão parentes próximos? Será que eles contam para elas que elas só tem um dia de vida? Mas como...

   — Vicente Müller, seu idiota!

   Para as pessoas que pensam que levar um tapa com o caderno na cabeça, não dói...revejam seus conceitos.

   — Sua louca! — gritei, esfregando minha testa, a parte mais atingida. — Você já esqueceu o nosso acordo? Qual o seu problema?

   — O meu problema — ela começou, se levantando e começando a guardar o material na mochila, parecendo furiosa — é que, enquanto eu estou aqui contra a minha vontade, mas me esforçando pra fazer você aprender alguma coisa, você fica aí com essa cara de tapado, pensando na morte da bezerra. 

   — Na verdade, era na morte da mosca...Aaaai! — esse caderno dela é uma arma! — Dá pra parar de me bater?

   — Não! Você merece apanhar mesmo!

   — Mas eu estava prestando atenção!

   — Ah, é? Então me fala, qual foi o papel de Robespierre na revolução russa?

   Pronto, a garota me pegou. Ferrou mesmo, não tinha ideia de quem era esse tal de Pierre ou sei lá o que. Hora de improvisar.

   — Ele foi...hm... — comecei, incerto — muito importante para a revolução russa...porque...hm...

   — Seu idiota! — ela repetiu e começou a dar com o maldito caderno na minha cabeça. — Robespierre foi importante, como você disse nessa sua tentativa de resposta de segunda série, mas na revolução francesa! — a garota estava histérica e eu precisava ficar desviando dos seus golpes — E você ainda tem a cara de pau de dizer que estava prestando atenção, seu burro de carga!

   Levantei da cadeira para desviar do caderno infernal da Maria Valentina, mas ela estava descontrolada. Qual é o problema? Então eu confundi a revolução russa com a francesa, grande coisa. Não é motivo pra essa louca começar a me bater desse jeito!

   — É melhor você parar, Maria Valentina — avisei, enquanto dava passos para trás para desviar da fúria dela. — Chega! Eu já estou cansado disso!

   Segurei a menina pelos pulsos, fazendo-a largar o caderno, e a joguei na minha cama, subindo em cima dela e segurando seus braços acima da sua cabeça. Ela ficou estática por um momento, depois começou a espernear e gritar:

   — Me solta! Me solta! Seu ogro! Eu vou matar você! Vou quebrar todos os seus ossos e isso que você chama de cara!

   — Você é muito barulhenta! — os gritos dela estavam me deixando com dor de cabeça, então eu segurei os pulsos dela com uma mão só e usei a outra pra tapar a boca dela. — Pronto, bem melhor. Agora que você está quietinha, vamos conversar...Aaaaaah! Você me mordeu, sua louca!

   Ela se soltou de mim e levantou da cama, mas rápido do que eu poderia dizer "nerd maluca" e ficou me fitando com o rosto lívido de ódio, completamente furiosa.

   — Se você encostar um dedo em mim mais uma vez — ela disse, com os dentes trincados — eu acabo com a sua raça!

   — Então é melhor você parar de bater em mim — avisei, levantando-me para poder olhá-la de cima. — Porque eu não bato em garotas, mas você está me irritando tanto que é capaz de eu esquecer isso por um momento ou dois.

   — Você está ameaçando me bater, seu idiota?

   — Só estou dando um aviso — respondi, dando de ombros. — Se você quiser segui-lo ou não, o problema é seu. Agora, vamos voltar a estudar.

   — Nem pensar! Eu vou pra casa! — ela disse, pegando seu caderno do chão.

   — Não vai, não — eu disse, pegando o caderno da mão dela e esticando o braço com ele, deixando-o fora de alcance para a nerd baixinha.

   — Me devolve isso agora — ela disse, pulando para tentar pegá-lo de mim, mas era em vão. Maria Valentina é mesmo pequenina.

   — Nós voltamos a estudar e eu prometo que agora vou prestar atenção — eu disse, rindo dos esforços dela para pegar o caderno. — E nosso acordo de não agressão vai voltar a valer, ok?

   Ela parou e me olhou por um momento, parecendo indecisa. Os grandes óculos que ela usava escorregavam pela ponte no nariz pequeno e arrebitado dela, e fios de cabelo cor de cobre se soltavam do coque apertado que ela usava. Maria Valentina estava uma bagunça. E parecia tão pequenina e frágil dentro daquelas calças jeans folgadas e daquela camisa em que poderiam caber três dela, que eu me senti meio mal, como se eu estivesse maltratando uma criança.

   — Tudo bem — ela disse, parecendo resignada, os pequenos ombros caídos. — Vamos voltar a estudar.

   Eu devolvi o caderno para ela, que o colocou em cima da mesa e abriu-o na página que estávamos estudando. Eu puxei a cadeira para ela sentar e ela me olhou torto. Dei de ombros, às vezes esses ataques de boas maneiras são mais fortes do que eu, já que mamãe costumava me dizer que nada é mais importante do que ser educado com uma garota e fazê-la se sentir cuidada e protegida. Isso foi há muito tempo, quando minha mãe ainda parecia saber que tinha um filho.

   Bom, confesso que na maior parte do tempo, eu pareço esquecer desses ensinamentos e Maria Valentina parece trazer à superfície o que há de pior em mim. Que seja. Ela se sentou e eu também. Fiquei calado e fiquei esperando ela dizer alguma coisa.

   — Bom — ela começou, baixinho — você tem que prestar atenção agora, porque eu vou repetir tudo o que disse antes. Mas só uma vez, ok? Não sou papagaio.

   Sorri e ela me olhou com raiva. Ok ok, vou me concentrar. Eu consigo, é só escutar a voz dela. Eu consigo.

   E foi assim que a mágica começou.

   Sério, eu não estou brincando. Maria Valentina é realmente impressionante. Eu nunca tinha reparado antes no quanto a voz dela é...bonita. Não sei, tem algo sobre a voz dela que, se você realmente parar para ouvir...não vai conseguir ouvir mais nada. É calma e suave, e faz as palavras realmente entrarem na cabeça. Eu conseguia entender as coisas que ela me dizia, mas ao mesmo tempo em que prestava atenção na matéria, percebia certas coisas que acho que não era intenção da Maria Valentina que eu percebesse.  Como o tom cadenciado da voz dela — acho que não percebi antes porque ela só grita comigo — e o quanto as mãos dela são bonitas. Sério, eu fiquei olhando para as mãos dela enquanto ela folheava o livro de história e, vez ou outra, fazia uma anotação em lápis na beira do caderno. E são mãos tão delicadas, pequenas, mas com dedos longos e finos. Ela usava um anel dourado em forma de coruja no dedo anelar da mão direita.  Fiquei pensando qual era a desse anel, já que nunca tinha visto uma coruja na mão de nenhuma outra menina. Era bonito e estranho, diferente. Combinava com ela.

   Eram quase seis horas da tarde quando Maria Valentina fechou o caderno e parou de falar. Ela parecia exausta e acho que um banho não faria mal. Ela fechou os olhos por alguns segundos e tirou os óculos. Por algum motivo completamente estranho e aleatório, eu me peguei querendo que ela abrisse os olhos para que eu pudesse vê-los sem aquelas lentes grossas para atrapalhar. Mas ela colocou os óculos de volta antes de abrir os olhos.

   — Eu já tenho que ir — ela falou, guardando o caderno na mochila. — Mas antes...eu vou fazer uma pergunta pra ver se você estava realmente prestando atenção, certo? Uma bem fácil.

   — Certo — eu disse, um pouco nervoso. Uma bem fácil para ela não era a mesma coisa para o resto do mundo.

   — Quais doutrinas influenciaram a revolução?

   — Essa eu sei! Liberalismo e Marxismo!

   Ela sorriu e começou a bater palmas. Eu sorri junto, sentindo-me feliz. Para um cara que confundiu a revolução francesa com a russa há apenas poucas horas, eu estava indo muito bem.

   — Estou impressionada — Maria Valentina disse, sorrindo. — Você estava mesmo prestando atenção.

   O sorriso dela era cativante e me fazia sorrir ainda mais. Ela percebeu que eu a estava encarando e seu pequeno sorriso morreu. Ela levantou da cadeira e colocou a mochila nas costas. Eu levantei também.

   — Bom, eu já vou — ela disse, séria. Aparentemente aquele momento tinha passado. Mas momento de quê? Nós só estávamos sorrindo um para o outro...certo? 

   Acho que eu estudei demais.

   — Ok — eu disse, sem saber direito o que dizer. — Quer que eu peça para o motorista levar você?

   — Não, obrigada. Minha casa não é muito longe.

   Assenti e fui levá-la até a porta. Descemos as escadas em silêncio, aparentemente nenhum de nós sabia o que dizer. O que tinha acontecido ali, por que estávamos ambos tão, sei lá, sérios? 

   — Ah, me empresta o seu celular um minutinho — eu disse, quando estávamos na porta. Ela me olhou desconfiada, mas pegou o aparelho do bolso e me entregou. Eu salvei meu número no celular dela e liguei pra mim mesmo, para salvar o dela. Devolvi e nossas mãos se tocaram durante um segundo. Nem deu para sentir a pele dela direito, mas eu poderia jurar que mãos tão delicadas só poderiam ser macias.

   Que merda eu to pensando?

   — Bom, eu já tenho mesmo que ir — ela disse. — Tchau.

   — Tchau. E obrigado.

   Ela virou as costas para mim e deu dois passos, mas parou. Parecia que ela queria dizer alguma coisa. Fiquei parado também, esperando. Ela virou para mim, com o rosto baixo, encarando os próprios sapatos. Qual era o problema dela? Eu estava a ponto de perguntar quando, do nada, ela pisou com toda a força no meu pé descalço.

   Gritei de dor e ela começou a rir.

   — Isso foi por ter me jogado na sua cama e por ter usado essa sua mão imunda pra tentar calar a minha boca! — ela gritou, rindo. Colocou a língua para fora, como uma criança, e depois saiu saltitando para a rua.

   Mas é uma desgraçada mesmo, Maldita Valentina!

   Fiquei parado na porta com o pé latejando até ver a silhueta da nerd sumir na curva da rua onde ficava minha casa. Só para chegar na portaria do condomínio era uma caminhada e tanto, já que eu morava numa das últimas casas. E em pouco tempo iria escurecer. Não era perigoso para uma garota pequena como ela ficar andando sozinha por aí? E se a casa dela era perto mesmo, por que eu nunca a vi por aí?

   Por que raios eu tô perdendo meu tempo pensando na Maria Valentina? Ou melhor, na Maldita Valentina?

   Entrei em casa e fechei a porta, encarando o silêncio da sala. A casa inteira estava silenciosa, como sempre. E, como sempre, eu odiava isso. Fez até eu sentir falta dos gritos da Maldita Valentina me chamando de idiota. Balancei a cabeça e passei a mão pelos cabelos, bagunçando-os. Quem sabe um mergulho na piscina não clarearia meus pensamentos? Eu já estava ficando doido com aquela nerd na cabeça.

   Fui para o deck, tirei o celular do bolso e o coloquei na mesa com tampo de vidro que ficava perto da piscina. Tirei a camisa, jogando-a na mesa também e mergulhei. O clima estava quente e abafado e a água estava fresca, na temperatura ideal. Comecei a nadar de uma ponta a outra, forçando meus músculos, até cansar. Não sei quantas voltas eu dei, mas foram muitas. Quando finalmente parei, no meio da piscina, estava meio tonto e com a respiração rápida e superficial. O sol já tinha se posto e o céu estava azul escuro.

   E eu ainda estava preocupado com a nerd andando por aí sozinha.

   Meu celular começou a tocar em cima da mesa e eu saí correndo da piscina, secando minhas mãos rapidamente na camisa e sem nem olhar o identificador de chamadas. Na minha mente – que estava meio doente nesse momento – só podia ser a Maria Valentina gritando por socorro e fugindo de um sequestrador.

   – Alô? Você está bem? – perguntei, sem respirar.

   – Ei, cara, qual o problema? Por que você tá todo nervoso? – era Lucas Magno, meu melhor amigo.

   – Nada não, pensei que fosse a Roberta – disfarcei.

   – Ah tá, então tá explicado. Ficar nervoso com uma gata dessas é perfeitamente compreensível.

   – Ei, mais respeito com a minha namorada, seu babaca – disse rindo e Lucas riu também.

   Todo mundo sabe que eu não fico muito tempo com a mesma garota, então não tenho essas frescuras, tipo ciúmes.

   – Cara, agora é sério – Lucas disse, parando de rir. – É verdade que você roubou o simulado? Tá todo mundo comentando.

   – É.

   – Seu safado, maldito! Por que você não mostrou pra galera? Eu teria ficado com uma boa nota pelo menos uma vez na vida!

   – É, e depois seria suspenso ou expulso, como quase aconteceu comigo.

   – Bom, isso é verdade...o que você está fazendo?

   – Estava só dando um mergulho.

   – Por que você não vem aqui pra casa? Chama a Roberta e aquela amiga gostosa dela pra assistir um filme aqui.

   – Lucas, dá um tempo, hoje é segunda feira!

   – E daí? Isso nunca foi problema antes. Além do mais, a Roberta é louca por você, se você a chamasse pra se jogar da ponte, ela iria.

   – Hoje não dá – recusei, meio sem saber porque.

   Lucas ficou enchendo o saco por mais alguns minutos e desligou. Eu entrei em casa, molhado mesmo, subi para o meu quarto e tomei um banho quente. Coloquei outra bermuda e me joguei na cama, com o celular na mão. Fui salvar o número da Maria Valentina na minha agenda e coloquei Maldita Valentina, só para ver a cara dela ficar vermelha quando ela descobrisse.

   Que saco! Por que eu ficava pensando nessa maluca?

   Eu estava preocupado por uma garota ficar andando na rua sozinha, e era só. Seria o mesmo se fosse com qualquer outra garota. A nerd já devia estar em casa, afinal já tinha passado das sete da noite. Mas para poder finalmente parar de pensar na maldita, resolvi ligar para ela, só para ter certeza de que estava bem.

   – O que você quer? – disse a voz ofegante dela do outro lado da linha.

   – Por que você está ofegante? – perguntei, desconfiado.

   – Não que seja da sua conta – ela disse – mas andar cansa.

   – Você ainda não chegou em casa?!

   – Eu peguei a rua errada e me perdi, mas agora já estou quase na porta de casa.

   – Onde você está? – perguntei, me levantando. Essa garota ia me deixar louco. – Eu vou te buscar, sua maluca!

   – E desde quando você se importa? Além do mais, já disse que estou chegando. Posso ver minha casa daqui.

   – Eu perguntei onde você está – disse, pegando uma camisa qualquer no armário e descendo as escadas correndo. – Não interessa se eu me importo ou não.

   – Pode parar com isso, eu já estou em ca... – ela parou a frase no meio. Eu podia reparar que sua respiração tinha ficado mais acelerada, como se ela estivesse com medo.

   – Maria Valentina! – gritei no telefone, imaginando os maiores horrores acontecendo à pequena nerd. – Tina, o que aconteceu? Você está aí?

   Ela não falou nada, mas eu ouvi uma voz furiosa de homem ao fundo:

   – Maria Valentina, o que você pensa que está fazendo chegando a esta hora em casa?!

   – P-papai?

   E aí, o telefone ficou mudo.


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Notas finais do capítulo

Gente, talvez eu poste o próximo cap amanhã, mas se nao der, só na sexta feira. Beijoos :)