Nos sentamos no centro do quarto e começamos o exercício. Eu explicava a matéria para ela e ela assentia indicando que entendera. Terminamos por volta de quatro horas.

- O que você vai fazer na sexta-feira Maria? – Ela perguntou enquanto guardava seus materiais.

- Nada! Bom, eu acho.

- Aqui na cidade, toda sexta-feira tem festa na Praça do Cais. A maioria dos jovens aqui na cidade vai.

- Você está me convidando?

- Acho que você vai gostar. Bom, é impossível não gostar.

- Vou fala com Alice.

- Me responde amanhã.

-Tudo bem.

Fomos para a cozinha e lanchamos. Fui embora da casa dela por volta das sete horas. Assim que cheguei em frente a minha casa vi uma pessoa se sentada em frente ao portão e que provavelmente impediria minha passagem.

- Alice, você perdeu a chave? – Perguntei me aproximando da pessoa.

Ela não respondeu nada. Assim que me aproximei mais vi que não era Alice, tratava-se de um homem, garoto talvez. Não dava para ver seu rosto, pois a rua estava escura e ele estava com o rosto entre os joelhos. Ouvi soluços vindos do menino em minha frente.

- Moço, você está se sentindo bem? – Eu disse me abaixando para ficar da mesma altura.

- Me deixa em paz! – Ele disse ríspido e eu me assustei.

Eu reconheci aquela voz. Olhei novamente para o menino em minha frente e reconheci aquele corpo e aquele cabelo.

- Mattew? – Eu disse me abaixando novamente.

- Eu já disse para me deixar em paz, garota! Vá embora! – Ele disse alterado.

Me senti estranha novamente e me irritei com o jeito dele. Eu apenas queria ajudá-lo!

- Eu iria se você não estivesse atrapalhando a minha entrada em minha casa! – Eu disse com tom alterado também.

Ele levantou seu rosto e eu vi que ele estava chorando. Senti-me péssima, mesmo sabendo que a culpa não era minha.

- Entra! – Ele disse se levantando e abrindo a passagem.

- Você está bem? Por que está chorando? – disse me aproximando dele.

- Por que você quer saber? – Mattew me surpreendeu. Ele agarrou meus braços com força e olhou em meus olhos. A raiva em seus olhos era visível, mas eu também via que ele precisava conversar.

- Você está me machucando. – disse tentando ficar calma, mas era complicado já que ele apertava meus braços com força.

- Apenas entre em sua casa e me deixe em paz! – Ele disse me soltando e indo embora apressado.

Eu o observei ir embora e depois que ele desapareceu na rua em ainda fiquei olhando para a rua vazia. Eu estava em choque. O que havia acontecido ali? Ele poderia estar drogado, mas eu não senti cheiro nenhum. O que teria acontecido para deixá-lo daquele jeito?

Depois de alguns minutos vi minha tia aparecer a rua e eu a esperei.

- Aconteceu alguma coisa, Maria?

“Sim! Mattew estava desesperado, ele apertou meus braços e eu estou com uma enorme vontade de ir atrás dele e descobri a razão por qual ele estava chorando!”

- Não. Eu cheguei agora da casa de Bianca.

- Bianca Miller?

- Sim. Você a conhece?

- A conheço desde pequena. Ela é uma boa garota!

Entramos em casa e eu fui direto para o meu quarto. Tomei um banho para tentar tirar da minha cabeça a cena de minutos atrás. Vesti meu pijama e voltei para o meu quarto.

Eu não jantei. Não sentia fome, a minha curiosidade de saber como Mattew estava era maior. Ele não saia da minha mente. O rosto dele inundado de lágrimas aguçava minha curiosidade e minha preocupação.

Antes de dormir, prometi a mim mesma que iria procurá-lo no dia seguinte na escola.

Acordei atrasada e me levantei rapidamente. Vesti meu uniforme e fui para a escola sem tomar café da manhã.

Ana e Bianca me esperavam na frente da escola.

- Bom dia! – Eu disse ofegante enquanto chegava perto delas.

- Sabia que tem ônibus para trazer os alunos à escola? – Ana disse me abraçando.

- Tem? Eu realmente não sabia. – Eu disse enquanto ia abraçar Bianca.

Entramos na escola e a primeira aula era Matemática. Nós estávamos na mesma sala.

Por todo o caminho eu procurei com os olhos o Mattew, mas não o vi. Meus pensamentos ainda o focavam.

- Tá pensando no que, Maria? – Bianca disse dando um leve tapa em minha testa.

- No Mattew. – disse sem perceber o que eu estava falando.

- O que? – Bianca gritou e a todos que estavam na sala olharam para nós.

Assim que eles desviaram o olhar comecei a explicar para ela o que aconteceu ontem.

- Estranho. Nunca vi o Mattew assim. – Ana disse pensativa.

- De vez enquanto ele fica rancoroso, mas não chora, ele fica grosso com todo mundo.

- Eu não sei porque ele estava assim. Mas eu senti que ele não estava bem, que ele precisava de ajuda.

O professor entrou na sala e durante todo o horário não comentamos mais nada. O sinal para o segundo horário bateu e era aula de Biologia. As meninas foram para suas aulas e eu nem prestei atenção na aula.

Passei o recreio com as meninas e os meninos e depois era aula de Educação Física novamente. Ana disse que iria cabular aula para ficar com Scott.

Fui até a arquibancada e me sentei. Fiquei observando o jogo de vôlei dos meninos e nem percebi quando alguém se sentou ao meu lado.

- Ao invés de observar, por que você não joga também?

Olhei para a pessoa ao meu lado e vi que era Mattew. Ele estava sorrindo e levemente inclinado para trás apoiando sua cabeça na quina da arquibancada.

Apenas o observei confusa.

- É um pouco estranho vocês flertar comigo não? – Ele disse sorrindo e quando viu o meu olhar se consertou e olhos nos meus olhos. – Desculpa por ontem.

Seus olhos me hipnotizavam. Eram de um azul tão intenso que eu fiquei sem falas. Ficamos nos encarando por alguns instantes e ele me libertou de minha “hipnose”.

- Vai me desculpar? – Ele disse jogando a cabeça para trás novamente.

- Por que você estava daquele jeito ontem? - Eu disse me virando totalmente para ele.

- Eu só quero saber se você me desculpa. – Ele me encarou novamente.  – Não seja curiosa, gata.

- Eu só quero saber por que você estava daquele jeito ontem! – Eu disse tentando fazer com que ele me falasse.

- Digamos que não é da sua conta. – Eu o encarei e acho que dava para perceber o meu nível de curiosidade. – Problemas. Eram apenas problemas!

- Você não parece ser do tipo que chora por problemas.

- E eu não choro! Ontem foi uma exceção! Então por favor, me desculpe e tira este peso da minha consciência! – Seu olhar era intenso e ele deu um sorriso de lado.

- Meus braços ficaram doendo por toda a noite. – Eu disse apontando para um dos meus braços.

- Que dó! Quer que eu beije para melhorar? – Ele disse sarcástico e se inclinou para beijar meu ombro.

Eu senti o toque de seus lábios em minha pele e me arrepiei. Ele sorriu pelo nariz e voltou a me olhar.

- Melhorou? – Mattew disse se segurando para não rir da minha expressão. Eu senti meu rosto corar e desviei meus olhos dos dele.

- Mattew, vem! A partida já vai começar. – Gritou um menino de dentro da quadra e quando me viu, o menino abriu um sorriso, provavelmente pensando que Mattew estava ficando comigo.

- Eu já estou indo! – Mattew disse se virando rapidamente para o garoto.

Ele se virou novamente para mim. Tocou meu queixo com uma de suas mãos e levantou meu rosto. Ele se aproximou do me rosto me fazendo pensar que iria me beijar. Eu olhei para ele desesperada. Eu na queria beijá-lo.

- Vai me desculpar? – Ele perguntou a um centímetro de meu rosto. Eu já estava sentindo o cheiro de seu hálito. Cheiro de menta.

Mattew mordeu meu lábio inferior e o puxou para si. Antes que ele realmente me beijasse eu voltei a mim e o empurrei.

- Tá! Eu te desculpo. Está tudo bem. Agora vai jogar! – eu disse rapidamente e desviando de seus olhares.

Ele apenas sorriu (que sorriso mais lindo!) e se foi para a quadra de vôlei.