I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 9
Capítulo 9 - Fantasmas


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, não se assustem! Mudei a capa da história.
Mudança aprovada? :)
Ah, e este capítulo é curtinho... mas é porque pretendo postar o outro por esses dias.
Bom, mais explicações nas notas finais, são importantes.
Beijos e boa leitura!



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Capítulo 9 – Fantasmas




– Ah... Oi... alô... Gerard? – a voz feminina e trêmula disse meu nome de forma incerta.

E eu quase deixei o telefone cair de minhas mãos.


– Alô? Gerard, é você? – a voz do outro lado da linha voltou a soar, dessa vez em um tom mais insistente, desesperado. Não consegui responder prontamente.


– Lindsey? – perguntei, tão incerto quanto ela. Minha voz tremulava e o telefone começava a escorregar das minhas mãos suadas, apesar da força desnecessária que eu empregava para segurá-lo.


Olhei para trás. A cozinha estava deserta, todos estavam na sala. Eu conseguia ouvir as risadas altas, logo, imaginei que ninguém me perturbaria. Aquela conversa, com toda a certeza, seria particular, e eu não queria ninguém por perto para ouvi-la.


– Oh, Gerard... Me desculpe, me desculpe mesmo... – sua voz entrecortada mostrava claramente que ela havia começado a chorar. Que pesadelo, que pesadelo terrível! – Eu... eu não queria ter que te ligar, de verdade, eu não quero te trazer problemas e...


– Lindsey! Se acalma! – fui um pouco enérgico com ela, talvez sem necessidade, mas pelo menos ela havia parado de chorar um pouco.


Fiz uma pequena pausa, inspirando fundo, e logo depois esvaziando os pulmões devagar. Às vezes aquilo me acalmava um pouco, mas daquela vez não estava funcionando tão bem quanto eu gostaria. Passei as costas da mão pela testa molhada e tentei organizar minhas idéias com o intuito de conseguir dizer algo a ela que fizesse sentido.


– O que aconteceu? – perguntei, em meio a um novo suspiro.


– Eu... eu não estou em um bom momento, você sabe. As coisas pioraram muito desde que você foi embora. – ela fungava um pouco, e eu apenas ouvia cada palavra como se uma velha cicatriz fosse aberta novamente. – Eles... voltaram a me procurar.


Caminhei até a cadeira mais próxima e sentei-me assim que senti minhas pernas começarem a fraquejar. Apoiei o cotovelo na bancada da cozinha e a cabeça em uma das mãos. Aquela sensação de morte iminente tomando conta de todo o meu corpo.


– Eu juro que não queria te procurar... Mas eu não sei mais o que fazer! Não tenho ajuda de ninguém e eles voltaram a me ameaçar, então tenho medo de sair de casa... Não consigo mais deixar Arthur sozinho. – ela falava tudo muito atropeladamente, e eu engoli em seco ao distinguir aquele nome em meio a tantas outras palavras. Nome esse que também era meu. – Eu preciso da sua ajuda, Gee... Só mais uma vez. – seu tom era implorativo.


– Ok. – foi tudo o que eu consegui pronunciar com aquele enjôo crescente subindo pela minha garganta. – Eu... vou dar um jeito de ir aí.


– Obrigada! Muito obrigada! – ela agradeceu, dessa vez chorando mais desesperadamente, e logo desligou.


– Mikey pediu para eu perguntar com quem é que você tanto conversa aí dentro! – ouvi uma voz risonha atrás de mim e girei meu corpo bruscamente com o susto. Os olhos molhados e vermelhos; as mãos trêmulas; a face, provavelmente, com menos cor que o habitual.


Frank me encarava como a expressão de quem olha um doente terminal, e antes que eu pudesse responder fui obrigado a sair correndo pela porta dos fundos, logo sentindo uma guinada para frente, que eu não pude refrear, me livrando de meu enjôo da pior maneira possível. Aquele gosto nojento e azedo tomando conta da minha boca.


– Gerard, você está bem? – ele logo estava ao meu lado, as duas mãos em meu rosto, analisando meu estado deplorável. Eu não estava nem um pouco bem. – Gerard?


– Eu... acho que comi algo que me fez mal. Vou para o meu quarto.


Eu estava abalado, lógico! Tudo à minha volta girava incansavelmente e eu acho que consegui até dar um ou dois passos meio torpes na tentativa de voltar à cozinha, mas logo me desequilibrei e senti alguém me ajudando a caminhar, colocando meu braço direito sobre seus ombros. Frank.


Ele me colocou sentado na mesma cadeira em que eu estava quando ele adentrou repentinamente a cozinha.


– Vou chamar seu irmão, não saia daí! – ele parecia agitado, talvez preocupado. Eu devia estar com uma cara terrível.


– Não! – e eu acho que neguei um pouco mais depressa do que gostaria, mas eu realmente não queria que Mikey me visse naquele estado. – Por favor, Frank, não chama ninguém, só me... ajuda a subir. – pedi, sem muitas outras opções.


Ele me olhou, os olhos estreitados e o cenho franzido. Eu sabia que ele não tinha engolido o “foi alguma coisa que eu comi”, e naquele instante ele estava tentando pescar que fato ele deixara passar em toda aquela situação estranha e sem explicações.


– Ok.


Ele concordou, por fim, apoiando novamente meu braço sobre seus ombros e me ajudando a atravessar a cozinha, logo depois a sala, onde estavam meu irmão e Raymond. Ambos logo me olharam espantados. Eu tinha essa coisa de exteriorizar o que eu sentia da pior forma possível... palavras me abatiam e literalmente me deixavam doente.


– Gerard, o que aconteceu com você? – Mikey foi o primeiro a se aproximar, Ray vindo logo em seu encalço. Eu olhei para eles confuso, sem ter muita certeza do que responder.


– Não foi nada, ele só passou mal. Acho que foi por causa dos salgadinhos, depois a pizza. – Frank explicava, calmo, e eu sabia melhor do que ele mesmo que nem ele estava acreditando no que dizia.


Parecia que não era só ele que sabia ler as pessoas ali, não?


Mikey e Ray pareceram engolir a desculpa.


– Pode deixar, Frank, eu levo ele lá para cima. – Ray, bem mais alto e forte que Frank, se prontificou, e eu olhei para Iero, dividido entre a desorientação e o desespero.


– Não, deixa comigo. Estou acostumado com essas coisas, vive acontecendo comigo também. – ele encerrou a frase com um sorriso, que eu fiquei em dúvida se era verdadeiro mesmo ou só parte de toda aquela encenação.


– Mesmo? – Ray perguntou novamente. Nunca pensei que o fato de ele ser tão prestativo fosse me irritar um dia.


– Sim. Devo ter até um remédio na mochila. – ele voltou a caminhar comigo, logo se pondo a subir as escadas, sendo escoltado pelos olhares preocupados dos outros dois. – Já, já, trago ele de volta novinho. – Frank finalizou, em tom brincalhão, o que acalmou consideravelmente os ânimos. Como ele conseguia fazer aquilo tão naturalmente?


Quando entramos em meu quarto, Frank me levou diretamente para o banheiro, onde, ainda com certa dificuldade devido às minhas mãos – que não pararam de tremer por um segundo sequer. –, lavei meu rosto e escovei os dentes, na tentativa de, ao menos, minimizar os efeitos que aquela conversa com Lindsey havia causado sobre mim.


Retornamos ao meu quarto, onde me sentei desengonçado na cama.


– Obrigado, Frank. – agradeci, sem jeito, esperando que ele fosse embora.


Mas eu sabia que ele não iria. Não sem respostas.


– O que aconteceu lá em baixo, cara? – ele me olhava, ao mesmo tempo desconfiado e preocupado. – Eu sei que você não está passando mal. E eu não acho legal ficar mentindo pro seu irmão, nem pro Ray. Eles estavam preocupados de verdade.


Fiz sinal para que ele se sentasse na cadeira da minha escrivaninha, o que ele prontamente fez. Estávamos frente a frente.


– Eu...


Eu não sabia realmente como começar a dizer qualquer coisa a ele. Não queria mentir, mas também não podia ser tão verdadeiro a pondo de lhe revelar coisas que eu nem ousava dizer em voz alta. Apesar de todas as conversas que havíamos tido naquela semana, o modo estranho como eu facilmente permiti que ele se aproximasse... Ainda não sentia como se nos conhecesse-mos o suficiente.


Ele notou que eu não havia completado minha fala, então logo iniciou a dele:


– Un... É algo pessoal? – eu assenti com a cabeça. – Tem a ver com o telefonema? – e eu assenti novamente. Ele era sempre irritantemente certeiro. – Não se sente à vontade para me contar? – eu o olhei, talvez meio culpado, e não precisei sequer negar para que eu vislumbrasse o brilho do entendimento em seus olhos. – Tudo bem, não precisa me contar nada, você não me deve explicações.


Assisti, meio intrigado, ele se levantar e colocar a cadeira de volta ao lugar em que ele a havia encontrado. Imaginei que ele me interrogaria até ter o que quer, então me lembrei que ele não me pareceu, em momento algum, ser esse tipo de pessoa. Estava mais para quem te faz se entregar sem falar nada.


Frank, às vezes, me fazia pensar que ele era tão complexo quanto eu me imaginava ser.


Ele me olhou uma última vez, abrindo a porta do quarto, e logo me lançou um sorriso. Um daqueles que eu não sabia dar, mas que sua alegria infantil lhe proporcionava com imensa naturalidade.


– Uma vez meu pai me disse – ele começou, e a palavra pai me fez atento. – que contar nossos problemas a um amigo é a melhor forma de começar a combatê-los. Sei que isso parece papo de velho, ou aquelas mentiras que você conta para as crianças quando você sabe que não está tudo bem, mas quer fingir que está... – ele riu meio amargo, porém seus olhos estavam focalizados diretamente nos meus. – Mas tente conversar com o Ray, ou com o seu irmão, tanto faz. Ou então seus problemas podem acabar te matando.


Ele saiu do quarto, por fim, e eu engoli sua última frase em seco. Se não me matassem agora, me matariam quando eu chegasse até Lindsey. No que eu poderia ajudá-la, afinal? Ela me disse sobre estar em uma situação difícil, mas ela sabia melhor do que ninguém que eu não tinha dinheiro. E sobre estar sendo ameaçada... nessa possibilidade eu não queria nem pensar. A única coisa que eu queria era voltar no começo daquela semana, quando as coisas pareciam tão simples que eu cheguei até mesmo a pensar que tudo podia melhorar! Que o mundo não é tão ruim assim e que a faculdade não é minha última esperança de ter uma vida acadêmica tranqüila! Pensei realmente que ficaria tudo bem em casa, na escola, que eu poderia viver minha vidinha miserável um pouquinho melhor.


Mas então, meu velho pessimismo retorna, agora maior, berrando em meus ouvidos que eu nunca estarei bem em lugar algum. Aqueles malditos fantasmas iriam me perseguir para sempre!


Permaneci em meu quarto, me levantando da cama apenas para trancar a porta. Ouvi Mikey bater algumas vezes, me perguntando se eu estava bem, depois falando que Frank estava indo embora e Ray também. Não fui me despedir deles. Minha cabeça estava explodindo de pensamentos, que, para variar, eu não queria dividir com ninguém.


Mas, infelizmente, eles eram muitos... e eu comecei a cogitar a possibilidade de falar com alguém. Qualquer um. Apenas algumas palavras, eu não precisava dizer tudo, afinal!


E aquela idéia implantada por Frank em minha mente começou a evoluir, até que, na manhã seguinte, mesmo sem ter dormido quase nada, acordei cedo, antes mesmo de Mikey, e decidi tomar uma atitude realmente drástica.


Desci as escadas e fui direto para a cozinha, preparando apenas um pouco de café forte e deixando um pouco para Mikey, ainda na cafeteira. Encontrei um bilhete da nossa mãe dizendo que passaria o dia fora novamente devido a problemas com as encomendas da loja. Não dei muita atenção, nós já estávamos acostumados, realmente. Olhei para o relógio pendurado na parede da cozinha. Nove e meia da manhã.


Eu esperava realmente que ele estivesse acordado, pois, caso o contrário, acho que não o procuraria mais.


Suspirei pesado, terminei meu café rapidamente, sai pela porta da frente e atravessei a rua determinado.


Teria que conversar com Frank.



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Notas finais do capítulo

Meus amores! ♥
Apesar de o capítulo anterior não ter alcançado o número de comentários que eu esperava, gostei de todos os que recebi, e, portanto, agradeço quem comentou e já agradeço de antemão quem irá comentar nesse capítulo!
Vocês são a razão dessa história continuar com todo o entusiasmo que eu consigo colocar nela!
Bom, capa nova: aprovada? Não?
Mais uma coisa... peguei duas recuperações na escola. Física e Matemática, as gêmeas maravilha. Não terei o mesmo tempo livre para a escrita de antes, mas isso não irá interferir na frequência das postagens, portanto, fiquem tranquilos, ok?
Espero que me perdoem pelo capítulo curtinho... mas eu tive que parar aí! Se não, não teria graça, né? :)
Beijos, obrigada por ler e COMENTE! ♥