I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 8
Capítulo 8 - Bom Demais


Notas iniciais do capítulo

Postei rapidinho?
Bom, hoje andei discutindo com alguém que me deu uma idéia totalmente sem querer, mas que foi crucial para a criação deste capítulo! E graças à essa pessoa encontrei um modo muito interessante de revelar o passado do Gerard como vocês vem me pedindo loucamente.
De qualquer forma, fica aqui o meu muito obrigada ao meu amigo-ajudante-de-escritor-por-um-dia e espero que leiam as notas finais. São importantes.
Boa leitura! ♥



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Capítulo 8 – Bom Demais


E se eu achava aquele início de dia totalmente atípico para mim, era porque eu realmente não sabia o que o resto daquela semana me reservava.


Nunca imaginei que as coisas pudessem mudar tanto assim. Muito menos para melhor!


Comecemos com uma das minhas maiores alegrias e satisfações, talvez em minha vida inteira. E não estou exagerando quando digo isso.


Assim que chegamos à escola, ainda naquele mesmo dia, tive a satisfação de ver Ray ignorar o pequeno grupo de imbecis que ele geralmente venerava e permanecer comigo e com Frank até que o sinal batesse e tivéssemos que entrar para as aulas. Confesso que mesmo depois de tudo o que disse a ele, não tinha muita fé em sua mudança. Porque eu sei o quanto é difícil tentar se livrar de todas as máscaras, todas as aparências... Com o tempo você acaba fazendo certas coisas e nem percebe mais, então acaba se perdendo nas ilusões que você mesmo criou. Mas eu confesso que fiquei orgulhoso dele. Muito orgulhoso!


E, além disso, passei a ter sua companhia durante as aulas também, o que tornava meu tempo dentro da sala de aula bem mais agradável. Era como se eu estivesse em um lugar completamente diferente. Outro ambiente com outras pessoas.


Outra coisa que também interferiu drasticamente na minha semana, apesar de eu não ter percebido logo de cara, foi a ausência de Gregory, que não deu as caras em nem um único dia sequer. O que foi algo realmente bom.


Algo que eu já havia notado, mas só foi reforçado com a ausência repentina dele, era que ele realmente instigava a sala, atiçava-os contra os mais fracos e controlava-os para fazer coro em suas “brincadeiras” completamente sem graça. Até mesmo seus dois capangas me ignoraram por completo, assim como fez o resto da sala. Tudo pelo simples fato de Gregory não estar ali para cobrar atitudes deles que talvez nem eles próprios quisessem realizar. Como eu disse antes, você acaba se acostumando com suas próprias atitudes, mesmo sabendo que elas são erradas, e ainda assim continua agindo da mesma forma.


Mas isso me fez sentir apenas mais liberto para fazer o que quisesse.


Lógico, Gregory um dia voltaria, minha felicidade iria por água a baixo e, quando o dia de seu regresso chegasse, imagino que seria bom eu ter uma cova separada para mim em um belo cemitério. Exatamente por esse motivo, mesmo com a calmaria, não me permiti baixar totalmente a guarda. Se eu me acostumasse daquele modo, seria difícil voltar a ficar alerta.


Mas, desviando o assunto novamente dele, voltemos à minha nova – porém, provavelmente, passageira. – vida escolar.


Meus intervalos realmente ficaram mais animados, isso devo admitir. Nunca imaginei que Ray pudesse ser tão espontâneo naquele lugar. E nem eu, para falar bem a verdade. Agora passávamos o tempo todo no pequeno “recanto” que eu costumava freqüentar sozinho. O mesmo local onde eu, tecnicamente, conhecera Frank. E era bem mais divertido com Ray comigo, eu sempre gostei de conversar com ele.


E, por falar em Frank, passamos a encontrá-lo por lá todos os dias. Apesar de, por ser um ano mais novo, ter que voltar para sua sala antes de nós, ele passava alguns poucos minutos conosco antes de seu sinal bater, confessando depois de algum tempo que se cansou de seguir Mikey pelos corredores em seu horário como monitor porque achava aquilo tudo muito chato. E eu fui obrigado a rir e concordar.


Aliás, foi o que eu mais fiz em minha semana: rir. Não me lembrava da última vez que havia rido tanto em toda a minha vida. Meu pessimismo e minhas manias não haviam me abandonado, certamente, mas meu humor havia se transformado em algo totalmente diferente do normal. E aquela mudança toda parecia ter agradado a Mikey e a Ray também. Eu me sentia disposto como nunca me sentira antes, e aquela era uma sensação particularmente boa. E eu me aproveitaria dela o máximo que eu pudesse.


Quando a sexta-feira chegou, proporcionando à maioria dos estudantes ao meu redor um ar mais festivo e aliviado, eu finalmente relaxei por completo, assim que meu primeiro pé tocou o solo do outro lado dos portões da escola. Eu me sentia completamente renovado, como se tivesse dormido por uma semana inteira e, durante esse tempo, todos os meus problemas tivessem simplesmente evaporado. Eu desejava, suplicava, que todas as semanas pudessem ser dessa forma.


Não podiam, eu sabia, mas até meu pessimismo foi ligeiramente anulado com toda aquela empolgação que corria pelas minhas veias.


Voltamos para casa juntos. Os quatro – sim, porque agora Frank nos seguia para cima e para baixo. E, sinceramente? Acho que ele havia realmente se encaixado conosco. –. E realmente não foi necessário marcar de nos encontrarmos para fazer algo, pois Ray levava a frase “minha casa, sua casa” realmente a sério, e Frank e Mikey precisavam fazer algum tipo de trabalho, o que acabou reunindo todos nós de qualquer forma.


Era estranho como a simples presença de mais uma pessoa tornava a casa mais cheia. Mas eu me sentia bem com aquilo. Era difícil nossos pais ficarem em casa, então, geralmente, só ouvíamos os barulhos um do outro, Mikey e eu. Quando Ray ia já fazia alguma diferença, mas com a presença de Frank, as coisas realmente se tornavam novas. Eu, pelo menos, achava muito estranho estar conversando com Raymond na sala e, de repente, ouvir risadas altas vindas do andar de cima. Mas isso fazia a casa parecer mais cheia e alegre, e me agradava profundamente.


Estava tudo tão estranho, tão novo, tão simples! Era uma mistura de sentimentos que eu simplesmente não conseguia refrear! Eu me sentia uma menininha que acabou de descobrir que vai ganhar de presente de aniversário a boneca que ela tanto queria. Exatamente, uma menininha. Talvez há tempos eu mesmo não me permitisse toda essa felicidade. Preferia sofrer, porque parecia mais confortável e duradouro do que a felicidade. A felicidade é bela e frágil... Dói muito mais quando ela acaba do que quando se encontra uma nova causa pela qual sofrer. E, em minha precária experiência de mundo, sempre imaginei que as pessoas aprendem muito mais quando sofrem do que quando estão felizes.


“O que você aprendeu enquanto esteve feliz?” – se me perguntassem isso antes, eu não saberia responder, porque eu não me lembro de ter sido verdadeiramente feliz. Até agora.


Talvez agora eu consiga ver com maior clareza que a felicidade nos proporciona conforto e nos mostra certos aspectos do ser humano que só podem ser vistos com a alegria, como se sentir bem apenas por estar próximo à outra pessoa; ou saber que independente do caminho que você seguir, alguém vai estar do seu lado para te apoiar.


E apesar de toda a minha relutância sobre, fui obrigado a admitir que ser humano algum segue sozinho. E infelizmente eu não era exceção.


A noite chegou devagar com a casa ainda cheia. Minha mãe ainda não havia chegado e talvez meu pai passasse o final de semana fora, o que significava que nenhum de nossos dois convidados tinha horário certo para ir embora. Quando se aproximava das oito e meia da noite, Frank até que tentou escapulir para sua própria casa. Imaginei que ele ainda não se sentisse tão à vontade quanto Ray para ficar até a hora que quisesse, afinal de contas, ele havia nos conhecido há poucos dias.


– Ah, para com isso, Frank! – Mikey disse, enquanto contorcia-se em frente à televisão. Ele e Ray viviam disputando no videogame, e o que deixava Mikey mais irritado era que aquela era a única coisa na qual ele não conseguia ser melhor que todo mundo. Ou melhor dizendo: melhor que Ray. – Já sei! Você e o Gerard... podiam ir... comprar alguma coisa pra gente... comer, que tal? – ele fazia pequenas pausas enquanto falava, dividindo sua atenção entre o jogo e nós.


– E porque você mesmo não vai? – perguntei, os braços cruzados na altura do peito. Estava esparramado ao lado dele e Ray no sofá, enquanto Frank o olhava da mesma forma, porém de pé, com sua mochila nas costas.


– Só saio daqui quando eu ganhar. – ele respondeu determinado, se enrolando um pouco com as palavras e dando um novo solavanco com o corpo, como se isso interferisse no jogo de alguma forma.


E Ray riu sonoramente de seu comentário.


– Vai logo, Gerard. Porque se for assim, Mikey não vai sair daqui nunca! – e ele continuava a rir, fazendo movimentos frenéticos com o controle sem aparentar o menor esforço.


– Eu vou, mas vou cobrar caro. – eu resmunguei, levantando-me do sofá e me espreguiçando. Nenhum dos dois prestou atenção em mim. – Você vem comigo? – perguntei à Frank, meio incerto. Seria bom ter companhia.


– Ah... tudo bem então. – Frank deu de ombros e me acompanhou até a porta.


Caminhamos até o supermercado, que não ficava longe dali. As ruas estavam bem escuras apesar de toda a iluminação e, finalmente, parecia que todo aquele calor havia dado uma pequena trégua, dando espaço para que uma gostosa brisa fria pudesse nos acompanhar.


– Caramba, esfriou de repente. – Frank se encolheu um pouco ao meu lado e eu apenas ri.


– Pra mim está ótimo. – respondi, olhando para cima. A noite estava bonita e sem nuvens. – Detesto calor.


– Calor e sol, não? – ele me lançou um olhar irônico que eu apenas retribuí da mesma forma.


– Muito engraçado. – dei uma risada cínica e continuei a encará-lo.


– Você parece preocupado. – ele desviou completamente o assunto, captando algo que ninguém havia notado até o momento. E o que mais me espantou em sua fala foi que aquilo não era uma pergunta. – Gregory?


– Está tão óbvio? – eu desviei o olhar do seu. Seu olhar era intenso, curioso. Como se apenas com aquilo ele pudesse ler meus pensamentos.


– Que coisa boba. – eu olhei incrédulo para ele, apenas para vê-lo sorrir novamente.


– Ele te bateu, me bateu... acha mesmo bobo? – deixei um pouco de raiva transparecer, mas isso não fez com que ele se abalasse nem um pouco.


– Acho. Se encará-lo como o maior dos seus problemas, isso apenas dará mais força para ele continuar a te provocar. – ele enfiou as mãos nos bolsos, se encolhendo novamente quando uma brisa um pouco mais fria passou por nós. – Você não me parece ser fraco, Gerard. Mas às vezes você age como um.


Aquelas palavras me atingiram em cheio. Lembrei-me de quando descrevi Frank como sendo alguém contente, ligeiramente infantil e raso. Pelo visto a realidade era que Frank também me enxergava assim. Um cara velho e idiota que tem medo da própria sombra. Uma pessoa ranzinza e covarde que adora se fazer de vítima. Está concentrado demais apenas em seus problemas, e se mantém estagnado simplesmente por encontrar conforto fácil no próprio sofrimento. Talvez eu fosse o mais raso de nós dois.


– Não tente ler minha mente se você nem me conhece direito. – resmunguei bravo, mesmo sabendo que ele estava completamente certo no que dizia. Não, eu não era nem um pouco como Ray. Continuaria na teimosia até a morte, se necessário.


– Não preciso te conhecer tão bem assim para te dizer uma verdade tão óbvia. – ele deu de ombros, logo retomando o ar alegre assim que entramos no supermercado.


Apesar de depois disso termos agido como se nada tivesse acontecido, não era como se eu tivesse conseguido esquecer o que Frank me disse. Cada palavra ainda martelava em minha cabeça, no fundo de cada pensamento, me fazendo pensar em diversas outras coisas que não me levariam a nada, apenas a mais dúvidas sobre mim mesmo. Tinha algo estranho em Frank que lhe permitia ver além do que a maioria das pessoas pode enxergar. E como tem algumas coisas que eu preferia não dividir com ninguém, obviamente eu era o mais afetado por isso nele. Não queria que Frank me lê-se. Não queria ser lido por ninguém, realmente. Minha história não foi feita para ser vista, não tinha lição alguma para se tirar dela...


Mas eu tinha noção que ele apenas deu um conselho sincero esperando me ajudar. Porém o que me incomodava é que seus olhos me cobravam alguma atitude. Algo do tipo “Vai mesmo ficar aí parado sem fazer nada? Eu esperava mais de você!”. O que fazia apenas que suas palavras surtissem mais efeito sobre mim.


Aquilo tudo era muito estranho... Nem Mikey era tão direto ou sincero comigo. Talvez ele não conseguisse ver o que Frank via, da forma como ele via. Não quer dizer que, pelo fato de termos o mesmo sangue, teremos uma ligação especial diferente de todas as outras pessoas do mundo. Mas era estranho ouvir o que eu ouvi da boca de uma pessoa que eu conheci há poucos dias... um estranho que sabia mais de mim do que eu mesmo.


Quando retornamos à minha casa, ambos abarrotados de sacolas repletas de salgadinhos e outras porcarias, encontramos Mikey e Ray da mesma forma que os deixamos quando saímos.


– E aí, Mikey? Ganhando muito? – eu reprimi uma risada enquanto perguntava, ajudando Frank a colocar todas as sacolas sobre o balcão da cozinha. Eu sabia qual seria a resposta.


– Ainda não. Ainda! – ele grifou a última palavra, logo depois bufando raivoso e pulando sobre Ray ao ver a tela de Game Over, as mãos tentando alcançar o pescoço do outro.


Quando Ray conseguiu se desvencilhar de Mikey – e a essa altura eu e Frank já rolávamos no chão de tanto rir. – empunhou o controle do videogame como uma espada e encostou-a no peito do meu irmão.


Touché! – proclamou vitorioso, apenas para ver um Mikey ainda mais irritado. O rosto avermelhado escondido por trás dos óculos que ele arrumava freneticamente.


– Se você for mesmo um homem honrado, me concederá uma revanche! – e meu irmão realmente havia incorporado o espírito mosqueteiro!


– E se você tivesse um pingo de amor pela sua dignidade esqueceria toda essa idéia de humilhação pública – e fez um gesto abrangente indicando a mim e à Frank como platéia, o que nos fez apenas rir mais sonoramente. – e voltaria a me desafiar para um duelo justo quando estivesse devidamente preparado!


E eles voltaram a se atracar no meio da sala, dessa vez com um pouco mais de violência, quando o telefone começou a tocar.


– Fica de olho neles aí! – sinalizei para Frank enquanto ia atender o telefone.


Imaginei que fosse minha mãe dizendo que logo estaria em casa, ou meu pai avisando quando voltaria de viajem.


– Alô? – atendi, sem muito ânimo.


– Ah... Oi... alô... Gerard? – a voz feminina e trêmula disse meu nome de forma incerta.


E eu quase deixei o telefone cair de minhas mãos.


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Notas finais do capítulo

E aí, galera? Tudo joia? (gíria de velho)
Bom, mais uma vez eu aqui nas notas finais. Dessa vez quero dizer que, diferente da minha idéia inicial, que era de uma história bem mais leve, esta trama acabou se desenrolando de uma forma totalmente diferente da qual eu imaginava, por isso mudei o gênero da fanfic, se vocês não notaram, e talvez eu mude a capa e a descrição. O que acham?
A história, à partir daqui, fica mais densa, mas não menos interessante, por isso espero que continuem acompanhando!
Mas, bom, acho que as mudanças não são realmente significativas... só o passado do Gerard realmente que talvez mude o rumo de algumas coisas, as relações entre os personagens se intensificando...
Bom, enfim, fiquem! Vai ter bolo! ♥
P.S.: É só comigo, ou o Nyah! também não está deixando vocês colarem os textos direto do word para a janelinha para inserir a história? Tive que colar do bloco de notas e formatar tudo de novo! Aliás, desculpem-me qualquer erro na formatação... Mas a culpa realmente não é minha!