I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 27
Capítulo 26 - Arestas


Notas iniciais do capítulo

Pois é, retornei depois desses mais de trinta dias de atraso. Primeiramente: desculpas! Por mais que elas não valham nada agora!
Deixei de postar, infelizmente, porque dois parentes meus ficaram doentes, um ficou hospitalizado inclusive, e eu simplesmente não conseguia escrever! Perdão!
Bom, como sei que ningém está aqui para ler as minhas desculpas, vamos ao capítulo! ♥



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Capítulo 26 – Arestas

   Sabe aquela sensação de cansaço que você tem depois de chorar? Aquele “esgotamento mental” que te faz ficar calado e inerte, como se pensar tivesse esgotado, inclusive, as forças do seu corpo. Você não sente suas mãos nem suas pernas, como se elas não estivessem mais ligadas ao seu corpo por terminações nervosas. A única parte que você realmente consegue sentir é a sua cabeça, mas ela lateja tão forte que você preferia nem tê-la.

   E era exatamente dessa forma que eu me sentia agora, dirigindo de volta para casa devagar, a cabeça cheia demais até mesmo para eu tentar me sentir melhor.

   O caminho de volta, ao contrário do senso comum de que o retorno passa sempre mais depressa, pareceu demorar horas, sendo que eu tinha a plena certeza de que normalmente aquele mesmo trajeto não tomaria vinte minutos do meu tempo. Ray tinha voltado com a mãe e, assim sendo, o silêncio dentro do carro era dividido entre Mikey, Frank e eu.

   Ninguém se olhava, ninguém falava... Era como se ignorássemos a existência uns dos outros. Frank, que viera no banco do carona ao meu lado, havia feito questão de se sentar no banco de trás – ou pelo menos foi o que eu entendi de suas atitudes, mas eu não o culpava. –. Os braços cruzados junto ao tronco e o corpo largado sobre o estofado do banco me faziam pensar que estava tudo ok com ele... Mas não estava. A expressão dura espelhada no vidro da janela pela qual ele olhava atentamente entregava tudo. Meu coração se apertou um pouco mais ao mesmo tempo em que eu sentia a minha cabeça latejar mais forte.

   Aquela velha sensação de que tudo o que você fez até agora foi um grande e irreparável erro.

   Estacionei de qualquer jeito em frente à minha casa, respirando pela boca e sentindo o ar entrar com certa dificuldade. Frank foi o primeiro a saltar do carro, murmurando qualquer palavra de despedida que de forma alguma aliviou a tensão que eu sentia dentro de mim. Ele bateu a porta do carro e caminhou rápido para dentro da própria casa sem olhar para trás. Sério. Não havia nem a sombra de um sorriso no rosto dele, muito menos qualquer traço de equilíbrio ou tranqüilidade. Aquele não era o Frank que eu pensava que conhecia.

   Meus olhos ainda estavam vidrados na porta da casa dele – como se ainda existisse a possibilidade dele irromper por ela e vir falar comigo – quando ouvi a porta do passageiro se fechando. Virei para o lado esperando encontrar meu irmão, mas ele também tinha ido.

   Deixei que minha cabeça caísse sobre o volante, minhas mãos apertando-o com violência me causando dor. Mas eu não me importava e sinceramente esperava que aquela dor que eu sentia nas mãos distraísse meu cérebro de tudo o que estava ruindo a minha volta.

   Gostaria de ser mais como o Frank que eu conheci há uns tempos atrás. Ele fazia o que queria, falava o que pensava e não se importava se alguém fosse se chatear... Era a opinião dele e ponto. Frank não me parecia do tipo que se arrependia. Não me parecia ser do tipo que se culpava ou que se doía pelas próprias palavras. E eu sou exatamente o oposto! Digo o que penso e me arrependo. Mudo de opinião por pensar que o errado sou eu quando alguém se chateia, e não deveria ser assim! Essa sensação de culpa me dava raiva... Raiva não só de mim, mas de tudo! Da situação, das pessoas, da minha própria opinião!

   Liguei o carro novamente, disposto a dar uma volta na esperança de desobstruir minha linha de raciocínio. Nós três – nós quatro, na verdade. Porque Ray estava tão estressado quanto qualquer um. – estávamos irritados, talvez confusos. Se eu corresse atrás de alguém para conversar agora só acabaria por gerar mais brigas, e não era isso que eu queria, de forma alguma.

   Pensei em como as coisas estavam dando certo. Em como eu e Mikey estávamos nos dando bem, cuidando um do outro como verdadeiros amigos. Desde que tínhamos nos reaproximado, não houve um dia em que não sentamos para conversar ou mesmo para simplesmente ficar juntos. Eu, pelo menos, estava sempre procurando algo para mostrar para ele ou alguma novidade para contar. Se eu precisasse de uma opinião sobre o que quer que fosse, seria nele a primeira pessoa que eu pensaria para me ajudar.

   Mas agora... O que tinha acontecido? O que éramos agora?

   Gostaria muito de saber o porque de eu estar tão errado! O porque de todo mundo ter ficado irritado comigo! Eu tenho razão, não tenho? Eu poderia sim ter impedido o que aconteceu com o Ray. Eu queria tê-lo impedido de ter feito o que fez, de ter visto o que viu... É frustrante saber que alguém tirou o poder de escolha de você. Saber que você poderia ter mudado toda uma história com uma resposta simples, mas que alguém te impediu de se pronunciar no último instante.

   Eu amo meu irmão, amo mesmo... Mas esse assunto dizia respeito a mim, não a ele. E exatamente pelo fato de eu amá-lo é que eu quero que ele pare de interferir na minha vida. Isso não é certo. E nem digo pela intromissão... Digo porque me preocupo que ele pare de viver a própria vida para viver em função da minha! Viver em função das minhas escolhas, das minhas atitudes... Isso seria doentio! E nenhum de nós seria feliz: eu por ser vigiado o tempo todo e ele por não ter tempo para si mesmo.

   Eu nunca gostei da preocupação excessiva que Mikey sempre teve comigo. Talvez não “sempre”... Mas principalmente depois que nos mudamos para cá, ele vêm agindo de forma cada vez mais maternal comigo. Parece querer me proteger do mundo, da vida, com medo de que eu não consiga fazer as minhas escolhas por mim... E enquanto ele cuidava dos meus assuntos, apanhava na escola e se calava, sem perceber que quem precisava de ajuda e proteção era ele!

   Eu disse que não deixaria isso acontecer de novo! Prometi para mim mesmo que agora eu assumiria meu papel de irmão mais velho e estaria sempre do lado dele dando suporte, aconselhando ou que fosse! E se para isso eu tivesse que ser rude com ele... Bom, então que fosse!

   Meus pensamentos foram interrompidos brevemente quando uma luz vermelha no painel do carro se acendeu. Tateei os bolsos em busca da carteira apenas para ter certeza de que a havia levado comigo. Seria melhor eu encher o tanque antes de devolver o carro ao meu pai.

   Havia andado tanto que por apenas dois quilômetros não dei de cara com a saída da cidade. Lembrava vagamente do lugar onde eu estava, apesar de ter passado poucas vezes por ali. Nas raras vezes em que eu e minha família fomos viajar desde que nos mudamos, sempre parávamos nesse mesmo posto para abastecer o carro antes de ir. Meu pai e minha mãe nos bancos dianteiros conversando e, certas vezes, brigando para ver quem tinha razão quanto às coordenadas do mapa e eu e Mikey lado a lado no banco de trás. Até que era gostoso relembrar esses momentos, apesar de nessa época eu ainda estar muito confuso e tomando grandes quantidades de remédios. Ainda não costumava falar muito com ninguém, mesmo quando falavam comigo, mas eu me lembro de me sentir calmo e seguro durante essas viagens, então eu sempre considerei esses passeios como algo bom de ter na memória.

   Estacionei o carro do lado da bomba de gasolina e retirei a chave da ignição. Havia parado de frente para o sol, o que me fez apertar os olhos. Olhei para o relógio, pela primeira vez me dando conta de que poderia ser tarde e constatei – constatação essa que foi confirmada por um alto ronco vindo do meu estômago – que já se passava das duas da tarde. Pensei em Lindsey e minha mãe, em Mikey, no meu pai e em todos os problemas que eu havia deixado em casa. Pensei também em Ray e em Frank... Mas agora eu queria me importar comigo. Eu estava longe de casa, longe dos problemas, longe de muitas coisas que estavam de fazendo mal... Eu precisava desse tempo sozinho para me acalmar. Eu me arrisco a dizer que eu merecia esse tempo.

   Desci do carro manejando a mangueira sem tanta habilidade quanto eu via meu pai ou minha mãe fazendo. Normalmente não abasteço o carro, apenas ando nele. E mesmo assim não faço isso sempre, só em situações... atípicas. Abasteci até onde imaginei que meu dinheiro me permitiria, já pensando em comprar algo na loja de conveniência para me servir de almoço. Estava colocando a mangueira no lugar quando outro carro estacionou atrás do meu. Fiz menção de entrar no meu próprio para estacioná-lo em outra parte e desocupar a bomba, porém uma buzina me chamou a atenção. Fiquei encarando o para brisa do outro carro desconfiado, o vidro fumê e o reflexo do sol não me ajudavam muito. Então a porta do motorista se abriu.

- Gerard? – meus olhos se abriram involuntariamente em surpresa ao ver Bob saindo do carro e caminhando na minha direção. Meu cérebro ainda não havia decidido se aquele encontro era sinal de algo bom ou ruim.

   Ele estava bastante diferente da última vez que nos vimos. Talvez agora um pouco mais parecido com a figura que eu via na escola anos atrás. Vestia uma camiseta do Metallica, jeans e um tênis meio surrado. Seus cabelos não estavam nem de longe bem penteados, e a barba por fazer lhe dava um ar mais jovem do que a roupa social e a gravata que o vi usando no escritório.

- Bob? – o chamei pelo apelido de maneira instintiva, quase me arrependendo poucos segundos depois.

- Un... Tudo bem? – ele perguntou parecendo tão incerto quando eu do que estava fazendo. Parecia não ter muita noção de como começar uma conversa.

- É... Tudo bem, eu acho... E você? – se ele não tinha noção do que estava fazendo, eu tinha menos.

- Bem também... Vim abastecer o carro para o meu pai. – ele apontou para trás com o polegar indicando o carro e rindo amarelo, e eu apenas assenti. – Eu... Un... Precisava falar com você sobre... Umas coisas. Tem um tempo agora?

   E de todas as coisas que eu pensava em ouvir de Bob naquele momento, ele me disse uma das poucas que eu não esperaria ouvir dele nem em um milhão de anos.

- Como? – perguntei confuso, ainda sem saber direito como reagir.

- Sabe, conversar. Eu ia esperar você e seu pai aparecerem no escritório de novo de qualquer forma, então... Se você tiver um tempo agora... – continuei encarando-o desconfiado, coisa que ele deve ter percebido, pois logo completou: – Eu sei que isso é esquisito... Mas tem a ver com a nossa última conversa. – senti minhas mãos e pés começando a esfriar e suar. – É algo realmente importante.

   Assenti meio debilmente, concordando em conversar com ele, mesmo sem ainda ter indício algum de onde ele queria chegar. Engraçado que quanto mais eu tento me afastar dos problemas e ficar sozinho, mais eles correm atrás de mim... Eu esperava apenas que ele fosse tão sincero comigo quanto ele estava aparentando ser.

   Esperei que ele abastecesse também e, feito isso, seguimos cada um em seu carro, ele na frente e eu seguindo-o. Logo estávamos de volta ao centro da cidade, e assim que eu o vi estacionando, me apressei em conseguir uma vaga em algum lugar próximo. Nos encontramos na calçada e caminhamos sem falar nada até que Bob se adiantou para dentro de uma lanchonete pequena, mas de boa aparência. Nos sentamos em uma mesa mais afastada das demais, no fundo do lugar, e logo a garçonete veio anotar nossos pedidos. Pensei em não pedir nada querendo ir direto ao ponto com Bob, mas ao ouvi-lo pedir um chese burguer, não resisti e acabei pedindo o mesmo.

   Era estranho. Na realidade, era surreal eu estar ali, frente a frente com o cara que anos atrás não pensaria duas vezes antes de me dar um soco. Talvez ele estivesse apenas fingindo que queria conversar... Talvez aquilo tudo fosse apenas um teatro para que ele tivesse uma oportunidade de me ameaçar ou de passar informações para Max. Bom, se fosse isso, era bom ele não estar esperando que eu lhe desse nenhum tipo de informação. Ele disse que ele queria conversar, então, que ele falasse.

   Quando a garçonete se afastou da nossa mesa, o silêncio entre nós não durou muito tempo.

- Gerard... Eu não sei se você se lembra muito bem da nossa última conversa... – ele começou um pouco acanhado, tão diferente daquele Bob bruto e sem cérebro que eu estava acostumado a lembrar que eu quase não o reconheci.

- Na verdade, eu me lembro. – disse com sinceridade, relembrando o que ele me dissera sobre Max. – Pensei bastante sobre o que você disse a respeito do Max.

- Você conhece o Max tão bem quanto eu. Sabe que assim que ele receber a intimação vai ser como se você estivesse de volta à escola, não é?

- Ah, que bom... – ele pareceu satisfeito. – E você mudou de idéia quanto ao processo?

   Então era sobre isso que ele queria conversar?

- Olha, Robert, se você me trouxe aqui para tentar me convencer de novo de que processar o Max não foi uma boa idéia, acho que você perdeu a viajem! – eu exclamei irritado, porém tentando não alterar o tom de voz para não chamar a atenção de ninguém na lanchonete para nós.

- Não, não foi para isso! – ele se apressou em dizer, parecendo um pouco ofendido. – Na verdade, eu fico feliz que nem você nem Lindsey estejam dispostos a retirar as acusações.

- Desculpa. Como é? – incredulidade definia tudo o que eu sentia naquele momento. Tinha alguma coisa muito errada naquela história toda.

- Eu disse que ia parecer estranho, e o que eu vou te contar vai parecer mais estranho ainda, então... – o vi tirar algo do bolso e colocar sobre a mesa. Lá estava seu celular e, embaixo, um cartão do escritório de Steven. – Se você achar que eu estou mentindo, pode ligar para o meu pai. Ele já está ciente de tudo o que eu vou te falar agora. – olhei para ele, buscando algum traço de fingimento em seu rosto.

   Talvez aquilo fosse um blefe. Com certeza ele estava esperando que eu não fosse ligar de verdade. Estendi a mão em direção ao celular no centro da mesa, exatamente entre nós. Como um teste. Meus dedos tocaram o aparelho e ele pareceu se entristecer um pouco, já que eu estava demonstrando que não confiava nele mesmo antes dele começar a falar.

   Mas em momento algum ele me impediu.

   Peguei o celular nas mãos e o coloquei de lado, focando minha atenção no cartão sob ele.

- Seu pai está no escritório agora? – perguntei, tentando parecer firme com o cartão nas mãos.

- Na verdade não, mas no verso eu anotei o telefone da minha casa e o celular dele. – e ao virar cartão, os ditos números realmente estavam lá. Coloquei-o de volta na mesa tentando não demonstrar muito interesse e arrastei-o até o centro dela, deixando-o no lugar onde Bob colocara. – Eu não menti quando disse que, se não acreditasse em mim, poderia ligar.

- Eu realmente não sei aonde você quer chegar com tudo isso... Mas eu espero que seja verdade o que tem a dizer. – eu disse, encarando-o sério tentando fazer aquilo soar como uma ameaça, mas ele não pareceu se abalar.

   Ele parecia nervoso. Tão nervoso quanto na nossa última conversa. Seus lábios estavam secos e seu rosto extremamente vermelho. Mexia as mãos nervosamente uma contra a outra, de forma rápida e um pouco desajeitada até que ele respirou fundo, as espalmou sobre a mesa e começou a falar.

- Quatro anos atrás meu pai decidiu pedir minha transferência para um colégio que ele julgava ter uma qualidade de ensino melhor do que o da escola que eu freqüentava desde criança. Período integral, preço bom... Era uma forma de ele celebrar o novo emprego que havia conseguido.

   Ele encarava suas mãos sobre a mesa e vez ou outra me lançava olhares nervosos. Eu ainda não entendia muito bem aonde ele queria chegar, mas decidi esperar um pouco mais e deixá-lo falar.

– Sem opções, eu aceitei a transferência sem reclamar. Esperava que eu fosse me enturmar depressa já que eu nunca tive problemas para fazer amizades, mas esse não foi muito bem o caso. – ele me encarou sério. – Eu tentava não me importar com as brincadeiras e fingia não ouvir os xingamentos, porque isso realmente não me incomodava... Mas quando as agressões se tornaram físicas, eu comecei a pensar em fazer algo a respeito. Não queria falar para o meu pai o que estava acontecendo porque aquela não era uma escola muito fácil de entrar, e se eu fosse à diretoria, com certeza eles chamariam os meus pais lá de qualquer forma... Sendo assim, fui levando essa situação da forma que eu podia, até que um dia um cara veio falar comigo.

- Max? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta. Bob assentiu.

- Ele conversou comigo, disse que eu levava jeito para o futebol americano e que o time estava desfalcado. Perguntou se eu tinha interesse em preencher a vaga. – ele parou algum tempo, umedeceu os lábios com a língua, respirou fundo e continuou. – Eu disse que não sabia jogar e ele disse que ele mesmo, como capitão, me ensinaria tudo o que eu precisava saber. Para mim, aquilo parecia ótimo! Não pela popularidade ou sei lá... – ele acrescentou ao me olhar novamente, já que eu fiz menção de dizer algo. – Na verdade foi mais porque ele parecia que realmente queria ser meu amigo. Desde que eu havia entrado na escola, aquela tinha sido a coisa mais próxima a uma conversa que eu tive com alguém... Então eu aceitei. – ele completou simples.

   Olhei para o rosto de Bob e pela primeira vez pude ver algo próximo da ingenuidade no olhar dele. As brigas na escola, a vontade de não desapontar o pai. Talvez ele tivesse mesmo outras preocupações que não tivessem nada a ver com festas e popularidade.

- No começo até que foi legal. O pessoal do time era divertido e eu realmente levava jeito para o jogo. Pararam de implicar comigo assim que eu ganhei um casaco do time, o que me aliviou bastante. – ele continuou seu relato, gesticulando um pouco. Parecia um pouco mais tranqüilo agora. – Foi só depois de um tempo que eu comecei a ver a parte ruim de ter me juntado àquele grupo... – seus olhos me encararam novamente. – Apesar de eu estudar bastante, até porque eu não estava contando com a bolsa de estudos para atletas na faculdade, eu nunca tirava menos que um B, mesmo quando eu merecia, apenas por fazer parte do time. Você deve entender que, para alguém que sempre quis ser advogado, aquilo para mim era o cúmulo.

   Ele pareceu um pouco alterado nessa parte e eu me limitei a assentir. Pelo visto, Bob era o único que não sabia que muitas vezes os treinadores dos times conversavam com os demais professores e faziam acordos para que os alunos que integravam os times da escola não tirassem notas baixas.

- Não demorou muito também para que eles começassem a brincar com outros alunos perto de mim. Sabe? – ele perguntou tímido e bastante envergonhado. Obviamente eu sabia. – Coisas bobas como tirar os óculos de um menino mais baixo e erguê-lo no ar para que ele não conseguisse alcançar, trocar livros, jogar mochilas nos lixos, revirar armários... No começo tudo tinha cara de brincadeira, então eu não me incomodei... Até que um dia nós quebramos os óculos de uma menina que saiu correndo e chorando para o banheiro e... Eu me senti horrível.

   Bob me olhou novamente de forma significativa, como se me pedisse desculpas mudamente por tudo o que ele tinha feito a mim. Talvez eu pudesse desculpá-lo, mas, infelizmente, todos os momentos ruins que ele me fez passar... Dificilmente eu conseguiria esquecer.

- Depois desse dia eu decidi conversar com o Max. Disse que talvez fosse melhor não fazermos mais isso... Porque até então eu imaginava que, como eu, ele não tivesse noção de que para os outros essas coisas não eram brincadeiras... Eram agressões. Ele me ouviu até o final. Esperou eu dizer tudo o que tinha para dizer e depois começou a rir. Ele disse que eu era ingênuo e que essas coisas eram assim mesmo. Se os outros não entendiam que aquilo era apenas uma brincadeira nossa, o problema era deles... E foi aí que começou o problema.

   Fomos obrigados a fazer uma pausa por causa da garçonete, que vinha com os nossos refrigerantes e disse que nossos pedidos já estavam a caminho. Quando ela se foi, o clima na mesa entre nós era estranho. Enquanto eu queria, claramente, terminar de ouvir a história que Robert me contava, ele parecia bem em silêncio, provavelmente pensando em tudo que havia me contado.

   Antes que eu tivesse tempo de tentar quebrar a tensão na mesa, com um suspiro alto, ele chamou minha atenção antes de continuar.

- Onde eu estava? Ah, é... Eu tentei conversar com o Max e, como eu disse, não deu muito certo... Então eu decidi que não queria mais fazer parte do time, e foi isso que eu disse a ele.

   E meus olhos se abriram em seu máximo, pois essa era uma informação que eu não esperava.

- Mas você continuou no time de futebol... – eu me arrisquei a dizer.

- Sim... Porque ele não me deixou sair. – ele me encarava sério. Pensei em pegar o celular sobre a mesa naquele instante.

- Ele não mandava em você, não tinha poder sobre você. Como ele conseguiu te obrigar a algo? – meus olhos encontraram os seus, desafiadores. Ele só podia estar brincando.

- No começo dessa conversa eu disse para você que meu pai tinha pedido a minha transferência como uma forma de comemorar um emprego novo. Esse escritório que você visitou há alguns dias é recente. Antes disso ele trabalhava em empresas, e o último contratante dele foi Carter Ferrier.

- Ferrier? Mas esse não é o sobrenome do Max? – perguntei confuso.

- Exatamente. O pai do Max era o chefe do meu pai... Quando eu disse que ia sair do time de futebol e que iria falar com a diretoria, caso eles não parassem de atormentar os alunos, ele começou a me ameaçar, dizendo que como o pai dele era chefe do meu, uma palavra que ele dissesse, e meu pai estaria despedido. – Bob finalizou com certo pesar na voz.

- E você nem pensou em contar isso para o seu pai? Talvez ele pudesse fazer algo a respeito. – me pareceu uma ameaça infundada no início, mas eu não estava na pele de Bob... Eu não tinha idéia de como eu reagiria no lugar dele.

- Na verdade eu pensei, e tentei várias vezes, mas ele e Carter acabaram ficando amigos... Em quem você acha que ele acreditaria, Gerard? Em uma dupla de adolescentes ou em outro adulto? – ele disse enquanto me encarava. A resposta era mais do que óbvia.

- E como você tem certeza de que o Max cumpriria as ameaças?

- Se você está me perguntando isso é porque nunca teve a oportunidade de ver como Max é tratado em casa.


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Notas finais do capítulo

Bom, nessas notas finais, como ainda não estou tendo tempo para responder aos reviews, fica aqui o meu agradecimento á quem comentou no capítulo passado (sim, eu leio TODOS os reviews, e cada um deles tem um valor especial para mim!): Plosh, KILLJOYS, Mylla Way, Miss Nothing, A_Revolution (que pela primeira vez não foi a primeira à comentar em um capítulo), Tyna, lovegood (que sempre volta para comentar, e isso sempre me deixa imensamente feliz!) e a Nicole, que deixou um review lindíssimo que só me deu mais vontade ainda de escrever!
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E outro agradecimento especial à quem deixou recomendações! Nana Rose, Mylla Way e Lu S, não sei se já agradeci vocês, mas de qualquer forma, fica aqui o meu muito obrigada! Sintam-se abraçadas e mimadas pela autora tagalera que vos escreve! ♥
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Espero que todos os 27 leitores dessa história decidam aparecer. Eu recepcionaria todos de braços abertos!