I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 20
Capítulo 20 - Bryar


Notas iniciais do capítulo

E eu retorno com mais um capítulo para vocês! Espero não ter demorado tanto assim dessa vez, estou tentando de todas as maneiras manter o ritmo!
Um agradecimento especial à Adrenaline Motivation, que me deixou uma recomendação que fez meu dia, de verdade! Vocês não imaginam o quando eu fiquei feliz!
Beijos à todos!
Uma boa leitura!
Vejo vocês nas notas finais! (tenho algumas coisas a dizer)



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Capítulo 20 – Bryar



(...) Me virei e arregalei os olhos com o que vi. A figura à minha frente exibindo a mesma cara de surpresa a me ver. – Venha cá, Bob! Quero lhe apresentar umas pessoas.

Bob Bryar.

Acho que eu dispensaria as apresentações.


– Você deve se lembrar dos Way, não é? – a expressão que Bob exibia seria cômica se eu não estivesse, provavelmente, com a mesma cara que ele. Seus olhos passeavam entre o rosto do meu pai e o meu. Imagino que ele não sabia como agir, então ficou calado diante das palavras do próprio pai. – Você e o Gerard estudaram juntos!


– Eu... Eu lembro sim. – ele disse com a voz baixa.


No fim das contas, Bob permanecia o mesmo desde a última vez em que eu o vira. Na realidade, a única coisa que mudara mesmo era a barba cerrada que ele agora parecia cultivar e a ausência do piercing em seu lábio. Mas era o mesmo Bob. Alto, musculoso, rosto sem expressão definida, olhos opacos... Os olhos dele foram, muitas vezes, a última coisa que eu vi antes de cair no chão com um soco.


Sim, Bob e Max partilhavam da mesma relação que Gregory tinha com seus capangas. Não eram amigos: um era “empregado” do outro. Um capacho.


Lembro-me perfeitamente do dia em que Bob pisou naquela escola pela primeira vez. Ele não era ninguém. Era tímido e, por ser grande demais, extremamente desajeitado. Parecia pacífico, talvez até um tanto bobo e inocente, e isso dava margem para que vários alunos, inclusive os mais novos, implicassem com ele, para provar que eram mais fortes que o “gigante”, ou simplesmente por distração.


E foi então que Max apareceu na vida dele. O time de futebol americano do colégio estava desfalcado, e isso fez com que Max procurasse Bob, oferecendo, além de um lugar no time, um pouco mais de segurança nos corredores.


Bob foi seduzido por promessas de tranqüilidade e popularidade. Mas eu não o culpo. Se estivesse no lugar dele, provavelmente não teria feito diferente.


Seu olhar, agora fixo apenas sobre mim, apresentava um misto de insegurança e desconforto. Talvez estivesse apenas tentando me intimidar, como nos velhos tempos, mas não parecia ser isso. Ele parecia tentar me analisar.


Alguns segundos depois Bob se despediu de nós e saiu da sala sob um pretexto qualquer que eu certamente não acreditei. Mas eu não estava ali por causa dele. Queria mesmo era saber mais sobre o caso de Lindsey.


Ficamos quase duas horas dentro do escritório de Steven conversando sobre o caso e pude notar o quão chocado ele ficou quando eu citei o nome de Max e o nomeei como o principal culpado. Afinal de contas, Max era simplesmente o aluno perfeito, com as notas perfeitas, com a imagem perfeita, e, aparentemente, foi o garoto que pareceu o amigo perfeito para seu próprio filho durante muitos anos. Cheguei a pensar que talvez não tivesse sido uma boa idéia vir até Steven, mas depois de mais um tempo de conversa, ele pareceu acreditar na minha versão dos fatos, e se prontificou em nos ajudar no que fosse preciso, assumindo o caso.


Admito que fiquei tão feliz que não pude me conter em sorrir abertamente e agradecê-lo com um aperto de mãos caloroso. Porém, como nada pode ser fácil demais, Steven pediu para ver Lindsey e conversar diretamente com ela, no caso, autora da acusação. Tentei explicar a ele que ela morava em outra cidade e que talvez não tivesse condições de vir vê-lo, mas ele insistiu, dizendo que de outra forma, seus recursos para nos ajudar a resolver esse caso seriam limitados.


Eu teria que dar um jeito nisso.


Depois de mais um tempo de conversa, nos despedimos, minha cabeça maquinando sobre Lindsey e como trazê-la para cá. E foi então que, no mesmo instante em que meu pai e eu demos as costas às portas do escritório, senti uma mão em meu ombro.


– Oh, olá, Bob! – meu pai o cumprimentou risonho e eu permaneci parado, a mesma expressão no rosto.


– Olá, senhor Way. – ele respondeu polido. Educado demais. Aquilo era estranho. Seus olhos se direcionaram a mim no mesmo instante em que um arrepio correu minha espinha. – Gerard, posso falar com você?


No instante em que eu puxei o ar e abri a boca para responder uma desculpa qualquer, meu pai me cortou.


– Bom, conversem aí, meninos. – ele disse, afastando-se de nós com rapidez. – Filho, qualquer coisa estarei no carro, ok? – e entrou no elevador, sumindo de nossa vista.


Odeio quando meu pai responde as coisas por mim.


Olhei para os lados, um tanto apreensivo, notando a ante-sala vazia. Maravilha, sem Rose ali eu não tinha nenhum pretexto, nenhuma desculpa. Não tinha escapatória, teria mesmo que conversar com ele.


Encarei-o. Ele parecia tão desconfortável quanto eu.


– Você veio aqui hoje falar sobre aquele dia, não foi? – ele falou muito rapidamente, as palavras se amontoando de forma que quase não dava para distingui-las. Franzi o cenho em desconcerto, e ele apenas intensificou o aperto de sua mão em meu ombro, me sacudindo de leve. – Sobre a Lindsey.


– Por que quer saber? – rebati sua pergunta, desconfiado. Não sabia se ele ainda mantinha contato com Max, então era melhor tomar cuidado.


– Isso é sério, Gerard. Eu preciso saber! – ele me olhava de uma forma um tanto desesperada.


– E eu quero saber o porquê. Está preocupado que eu cite o seu nome? – ele engoliu em seco.


– Não... Eu... É outra coisa... – ele retirou a mão do meu ombro e começou a mexê-las inquieto. Seu rosto pálido logo começava a ficar rubro, e eu não entendia o motivo de todo aquele nervosismo por parte dele. – Eu só queria pedir... Não, eu quero avisar – seus olhos encontraram os meus, e eu não soube o que dizer ou como reagir ao que ele disse a seguir. – que vai ser muito melhor para a Lindsey, você e qualquer outro que esteja envolvido nesse caso que essa denúncia seja retirada.


– O que você quer dizer com isso? – minha voz falhava, o que me fez pigarrear na esperança de que ela voltasse ao normal.


– É só um aviso. Esqueça tudo o que aconteceu entre nós dois no passado. Eu cometi muitos erros e fiz muitas coisas das quais não me orgulho, mas agora é diferente... – seus olhos pesavam sobre mim, e essa era uma face de Bob que eu nunca havia sequer imaginado que existisse. – Encare isso como um conselho, na realidade. Vai ser bem melhor para todo mundo se essa história continuar enterrada.


– Olha... – pensei em uma boa forma de começar a falar, mas nada parecia bom o suficiente agora. De qualquer forma, mesmo com a cabeça já latejando, tentei me expressar da melhor maneira possível. – Eu não posso fazer isso. Não sei o que você quer ou porque está me dizendo isso, mas eu não posso fazer nada a respeito.


– Pode não parecer, mas eu só quero ajudar.


– Esquecer o que o Max fez não vai me ajudar em nada. – respondi seco.


– Você conhece o Max tão bem quanto eu. Sabe que assim que ele receber a intimação vai ser como se você estivesse de volta à escola, não é?


Eu o encarei, sem saber exatamente o que responder. Apesar de ser uma carga grande de informação em uma pequena quantidade de tempo, o que ele dizia fazia sentido. Max faria tudo que estivesse ao seu alcance para fazer da nossa vida (minha, de Lindsey e de qualquer outro próximo a nós) um verdadeiro inferno.


Mas eu precisava correr esse risco. E Lindsey também. Caso contrário, viveríamos em nossos infernos particulares para sempre.


– Eu sei. Mas alguém vai ter que enfrentá-lo algum dia, e eu não me importo de ser o primeiro. – eu disse simples e ele apenas me encarou. Talvez surpreso, mas o mais provável é que ele não soubesse como rebater o que eu havia dito. – Preciso ir.


E, dito isso, dei as costas a Bob, entrando apressado no elevador e apertando o botão para o térreo. Olhei para ele uma última vez antes que a porta do elevador se fechasse, e senti como se ele me desejasse boa sorte. E aquilo me deixava apenas mais confuso. Não entendia o que ele queria, de onde toda aquela conversa havia saído... Não tinha nem certeza se ele estava falando sério ou se estava só tentando me intimidar.


Mas em uma coisa ele estava certo. Max não é um ser dotado de escrúpulos. Provavelmente ficaria louco quando recebesse a intimação, e a partir desse momento, eu não tinha mais certeza de nada que pudesse vir dele.


Quando entrei no carro, meu pai e eu fomos silenciosamente para casa. Bom, pelo menos até metade do caminho.


– Pai... Como faremos com a Lindsey? – perguntei um tanto incerto, tentando formular as perguntas e procurando as respostas na minha cabeça ao mesmo tempo. – Steven disse que queria falar com ela pessoalmente, mas não acho que ela tenha dinheiro para vir para cá, muito menos um lugar para ficar por aqui.


– Gerard... – ele me olhou rapidamente e eu o olhei de volta. Ele já sabia onde eu queria chegar com aquela conversa. – Eu sei que ela está passando por momentos difíceis, mas ela não pode simplesmente morar na nossa casa.


– Eu não estou falando de morar. – defendi-me rapidamente. – Talvez só alguns dias, para ela poder conversar com o Steven. – meu pai me lançou um olhar desconfiado. – É sério! O senhor mesmo ouviu quando ele disse que, sem isso, dificilmente teria argumentos o bastante para conversar com o futuro advogado da família do Max.


Observei-o durante alguns instantes e ele parecia ponderar sobre o que eu havia dito. E eu só torcia para que a resposta dele fosse um sim, ou pelo menos um talvez.


– Eu posso tentar conversar com a sua mãe, mas não te garanto nada, ok? Você sabe o que ela pensa dessa menina. – meu pai disse simples, mas aquilo foi o bastante para me fazer sorrir.


Bom, já era um problema a menos para eu pensar, não? Com Lindsey em nossa casa, mesmo que apenas por alguns dias, ajudaria muito no processo, e auxiliaria o trabalho de Steven, fazendo com que ele tivesse mais detalhes da história toda e, assim, mais argumentos e mais armas a nosso favor.


E quem sabe com um pouco de convivência minha mãe não mudasse sua opinião a respeito de Lindsey? Eu acharia ótimo se isso acontecesse.

Quando chegamos em casa, fomos recepcionados por um Mikey extremamente curioso. Em cada cinco frases que ele completava, quatro eram perguntas sobre como havia sido nosso encontro com Steven. Meu pai apenas riu da ansiedade dele e disse que estava atrasado para o trabalho, saindo e prometendo estar de volta para o jantar. Eu, porém, fiquei lá, sendo bombardeado por perguntas que eu mal conseguia distinguir umas das outras. Michael parecia um interrogador!


– Calma, calma! Uma pergunta de cada vez, ok? – eu disse, interrompendo-o de seu monólogo bruscamente enquanto tirava os sapatos e os deixava próximos a porta. Rumei para a cozinha, e ele veio em meu encalço. – Agora fala. – falei, enquanto buscava no armário algo interessante para comer. Achei um pacote de bolachas e não tardei em abri-lo.


– Ele aceitou o caso? – ele parecia impaciente e ansioso ao mesmo tempo. E eu, ainda achando um pouco de graça, me limitei a assentir, colocando uma bolacha inteira na boca de uma vez. – Não sei, pensei na possibilidade de ele não ter aceitado, já que o filho dele era grudado no Max.


E eu quase me engasguei com a bolacha.


– Como assim? Você sabia? – perguntei indignado enquanto ainda tossia um pouco.


– Pensei que também soubesse. – ele deu de ombros, simplesmente. – O nome dele está na nossa agenda telefônica, e lá está escrito Steven Bryar. – olhei para ele incrédulo.


Agora eu me lembrava perfeitamente do nome. Steven Bryar. Ele e meu pai sempre foram amigos próximos e Bob havia freqüentado nossa antiga casa algumas vezes, apesar de insistirmos em não trocar nenhuma palavra devido ao que geralmente acontecia entre nós na escola. Os anos se passaram e meu pai e o pai de Bob acabaram perdendo um pouco do contado, então acho que acabei me esquecendo dele.


Uma peça comum pregada pela memória.


– Mas e aí? Ele falou alguma coisa sobre o processo? – Mikey continuou com a mesma curiosidade de antes. – Eu andei pesquisando um pouco, mas não achei muita coisa sobre processos criminais.


– Pelo que ele me disse, os processos podem ser um pouco demorados, e geralmente são divididos em algumas etapas. A primeira é tentar resolver o problema extrajudicialmente, o que provavelmente significa, para os pais de Max, uma oportunidade para nos oferecer uma indenização por danos morais e qualquer outra besteira e acabar com isso tudo de uma vez. – suspirei pesadamente. Aquilo era só formalidade, era óbvio que um caso daquele porte não seria resolvido apenas com uma indenização.


– Isso eu achei na internet. Eu não certeza é sobre o que acontece depois. – ele falou, tentando me apressar.


– Então... – fiz uma pequena pausa para comer outra bolacha. – Depois dessa primeira etapa, caso um acordo não seja feito, vem a segunda etapa, que é entrar com a ação, que imagino que seja o que faremos daqui a algumas semanas. Depois que entrarmos com o processo vai ter toda aquela coisa de recolher provas, depoimentos, documentos... E depois eles ainda podem tentar mais um acordo durante os preparativos de um possível julgamento... Como eu disse, são várias etapas, várias formalidades, e o processo pode durar algum tempo.


Mikey ouvia atento, pendurado em cada palavra que eu dizia, e era engraçado vê-lo assim tão interessado. No geral era ele quem sabia de curiosidades ou sobre matérias avançadas que não víamos na escola. Ele sempre leu muito, além de adorar ficar na frente do computador, então sempre foi “bem informado”, por assim dizer.


– Vou procurar na biblioteca depois sobre isso, parece ser interessante. – ele disse, com um sorriso, enquanto roubava o pacote de bolachas da minha mão e se servia de algumas. – Além do mais quero saber o quão falsas são essas séries de TV.


– Você fala como se não soubesse. – eu ri, pegando o pacote de bolachas de volta e me servindo de algumas também e ele logo fez coro às minhas risadas.


– Mas, bem... Agora está tudo certo, não está? Lindsey já fez a denúncia, ele já aceitou o caso. O mais difícil já foi! – ele exclamou alegre.


Mas eu logo me lembrei das palavras que Bob me disse um pouco mais cedo.


– Não, o mais difícil vem agora. – falei sério chamando a atenção de Mikey que logo parou de sorrir. – Mas eu não estou tão preocupado. Eu sei que Lindsey e eu estamos certos. O único jeito de o Max ser absolvido é se ele conseguir dinheiro com os pais para subornar o tribunal inteiro e mais algumas pessoas.


Mikey me encarou durante algum tempo enquanto eu me ocupava com as últimas bolachas naquele pacote, decidido a pensar nesses assuntos apenas quando chegasse a hora. No momento, eu não tinha a real necessidade de ficar remoendo tudo aquilo. Seria puro masoquismo.


– Vai dar tudo certo. – Mikey disse baixo, enquanto saia da cozinha.


– Eu sei que vai. – respondi alto o suficiente para que ele ouvisse e sorri involuntariamente.


Essa autoconfiança que eu havia recuperado... Às vezes ainda não acredito que vivi sem isso durante tanto tempo, me submetendo a pessoas e coisas, me julgando pior que elas. Hoje eu sei que não sou pior do que ninguém. Até porque ninguém é igual a mim, portanto “não há como comparar duas grandezas diferentes”, como diz a matemática.


Joguei os restos do pacote de bolacha no lixo e olhei para o relógio pendurado na cozinha. Ainda eram quatro da tarde e minha casa estava completamente parada, completamente monótona.


Pois é, não pensei duas vezes antes de gritar qualquer coisa à Mikey avisando que ia sair e perguntando se ele queria vir comigo. Recebi um “não”, como o imaginado, vindo do escritório do nosso pai. Imagino que ele estivesse por lá remexendo as enciclopédias na esperança de achar algo sobre advocacia ou que explicasse melhor os processos criminais. E eu poderia chamar quantas vezes fosse, ele não sairia de lá até encontrar o que procurava. Mikey era assim, sedento por informação. É um hobby estranho, mas quem sou eu para chamar alguém de estranho?


Saí de casa um pouco sem rumo, parando alguns segundos na soleira imaginando se Ray estaria em casa. Eu até ligaria para ele se já não tivesse incorporado aquele péssimo habito de aparecer na casa dele sem avisar. Afinal de contas, ele mesmo aparecia aqui sem avisar, então, nada mais justo. Minha mãe costuma falar que esse tipo de coisa é “falta de educação”, mas quando eu digo que Ray chegou, independente do horário, ela sempre abre um sorriso e pede para ele entrar. Digamos que ele já seja da família.


Quando me virei, enquanto colocava as chaves no bolso e apertava os olhos contra o sol, avistei na casa da frente uma figura baixa e aparentemente mal humorada manobrando de uma forma extremamente inabilidosa um cortador de grama. Fiquei parado durante um tempo apenas observando aquela cena de braços cruzados, as costas agora apoiadas na porta trancada da minha própria casa e tentando controlar o riso, mas era inevitável. Estava dez a zero para o cortador de grama e aquela disputa não parecia que ia acabar tão cedo.


Eu sentia falta de conversar com Frank. Queria me aproximar, talvez fazer uma piada sobre como ele era um ótimo jardineiro e conversar com ele, qualquer coisa, qualquer assunto. Mas eu não tinha nenhum assunto, realmente. Ele andava um pouco distante, o que me fazia pensar se toda aquela conversa de algumas noites atrás havia valido realmente a pena. Eu tentava não pensar nisso, mas ele acabou se tornando um ótimo amigo apesar de tudo, então nada mais natural que eu sentir falta da companhia dele.


Sem muitas opções, comecei a caminhar em direção à casa de Ray, quando eu ouço um barulho alto e alguém me chamando. Olhei para trás e lá encontrei Frank, um tanto descabelado e vermelho ao lado do cortador de grama, agora jogado em um ângulo muito estranho no chão. Ele acenava para mim, então eu fui até ele.


– Não sabia que você gostava de jardinagem. – permiti-me a piada notando o clima um pouco estranho entre nós.


– Gosto sim, é ela que não gosta de mim. – ele disse, rindo um pouco. – Mas também, olha só o que a minha mãe me deu para cortar a grama? – e ele apontou para o cortador esquecido ao seu lado. – Essa porcaria ficou tanto tempo guardada na garagem que está toda enferrujada.


Ficamos um tempo em silêncio, ambos exibindo sorrisos amarelos e encarando o cortador de grama decrépito aos nossos pés, e parecia que nenhum de nós dois tinha muito que falar.


Mas eu não queria ficar naquele silêncio o resto da vida.


– Eu... não tenho te visto mais na escola. Aconteceu alguma coisa? – levantei os olhos do cortador para olhá-lo, arqueando as sobrancelhas, questionador. Ele parecia não saber exatamente o que responder.


– Não, eu só... – e ele levou a nuca, coçando-a em sinal de nervosismo. – Tenho preferido passar um tempo sozinho, sabe. Para pensar em umas coisas...


– Ah...


E o assunto morria mais uma vez entre nós, aquele clima estranho de vergonha e de não saber como iniciar uma despedida. Eu só queria saber quando foi que isso tudo começou. É aquele tipo de situação na qualquer você jamais gostaria de estar. Quando você não sabe o que falar, como agir... e tudo se torna mecânico e estranho.


– Bom eu... Eu acho que já vou... – tentei iniciar uma despedida qualquer, mas Frank começou a falar.


– Gerard eu... – e ele fez uma pausa, suspirando pesadamente. Encarou novamente o cortador de grama por alguns segundos, e logo voltou seu olhar a mim. – Ok, eu queria perguntar de outra forma, mas eu realmente não sei como, então vou perguntar desse jeito mesmo...


– Pergunte.


– Nós... sei lá... Já nos beijamos algumas vezes e... – nesse ponto ele deu de ombros, coçando a nuca mais uma vez. – Não sei, eu gosto de você... Você é legal... – meu coração batia de um jeito estranho e eu já podia sentir minhas mãos molhadas de suor. Olhei melhor para Frank e vi seu rosto começando a ficar vermelho. – Mas eu não sei o que isso nos torna... Entende?


Notei que ele me encarava com o olhar um tanto apreensivo, então parei para refletir sobre aquilo... Realmente era uma boa pergunta.


Eu nunca havia parado para, realmente, pensar sobre Frank e eu. Sobre o que nos tornamos um para o outro com o passar do tempo. Sem dúvidas ele era uma pessoa de extrema importância na minha vida agora e eu o queria sempre por perto... Mas eu ainda não sabia que papel eu queria que ele assumisse. Apesar de que, para qualquer outro que visse nossa história de fora, a resposta já fosse mais do que óbvia.


Hesitei.


– Eu... não sei? – respondi, minha voz saindo em um tom de pergunta. Eu realmente não sabia o que responder.


– Eu... Bom... Eu sei que você está passando por um momento complicado agora, então talvez não seja a melhor hora para isso, mas queria conversar você. – ele tentou um meio sorriso ao fim da frase, mas devo dizer que não deu muito certo. – Pensei que talvez pudéssemos tentar alguma coisa... Juntos.


Seus olhos não desgrudavam de mim enquanto aguardava por uma resposta ou uma reação minha e eu tentava não demonstrar, mas por dentro estava nervoso.


– O que é isso? Um pedido de... namoro? – tentei agir normalmente como se aquilo fosse uma piada, mas imagino que meu riso nervoso tenha me denunciado.


– Bom... é. – ele disse simples, o rosto mais vermelho agora do que em qualquer outro ponto da nossa conversa. Ele me encarava e sorria, nervoso. E eu à sua frente, parado como uma estátua de cera.


Aquilo era estranho. Chegava a ser surreal.


– Eu... Frank, eu... – imagino que eu tenha travado nesse pedaço feito um disco arranhado, encarando-o com os olhos arregalados. Mas eu precisava responder algo. Eu queria responder. – Eu acho que podemos tentar então... – e então foi a minha vez de coçar a nuca, nervoso.


A boca seca, o estômago pesado, a total falta de certeza do que eu estava fazendo... Mas alguma coisa me dizia que eu estava indo pelo caminho certo.


E ele olhou para mim e sorriu. Aquele mesmo sorriso infantil de sempre, e que dessa vez parecia bem mais aliviado e sincero que os últimos que eu havia visto. E eu sorri também, sem ter outra opção. Ele tinha um sorriso contagiante, de fato, e isso é algo raro hoje em dia.


– Quer entrar? – ele tocou meu ombro já com seu habitual tom brincalhão. Não sei se vejo a definição “namorados” como um bom nome para o que nós éramos. Seríamos eternos amigos no fim das contas... Só que éramos amigos com alguns... privilégios um com o outro, se é que podemos dizer assim. – Minha mãe já deve ter feito café.


– Você disse café? – eu sorri e ele riu alto do que eu acabara de falar. E pouco depois já estávamos sentados em sua cozinha tomando café e conversando como há um tempo não fazíamos.


Namorados, amigos, o que quer que fosse. Eu só sabia que queria Frank sempre por perto.



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Notas finais do capítulo

Bom, galera, primeiramente hoje, dia 27/01, saiu o resultado do meu vestibular, e, para aquelas que pediram que eu avisasse o resultado, eu infelizmente não passei. Fiquei chateada, lógico, mas tenho consciência de que não sou nenhuma burra. Se eu me empenhar para o vestibular que vai acontecer no meio desse ano, quem sabe ainda não da tempo de eu pegar esse bonde, mesmo que ele já esteja andando? :)
E, bom, tenho aqui mais um agradecimento especial à Bia Way, que fez uma adaptação do texto do caderno do Gerard do capítulo 18 e postou no tumblr. Aqui vai o link para quem quiser dar uma conferida http://bury-the-killer.tumblr.com/post/16544061609/voce-ja-parou-para-pensar-em-como-as-pessoas-te
Bom, é isso então. Obrigada por acompanharem sempre!
E, bem, sei que é feio ficar mendigando comentários, mas queria que todos os leitores estivessem sempre marcando presença por aqui.
Acreditem, é um incentivo e tanto!
Beijos e vejo vocês na seção de reviews!