I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 19
Capítulo 19 - Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Galera, mil perdões. Sei que esse atraso de exatos 13 dias foi péssimo e que ninguém gostou, mas, acreditem, eu gostei menos que vocês. Um bloqueio criativo me atingiu em cheio, mas, por sorte, passou, e aqui estou eu de volta, como sempre!
Espero que me perdoem! D:
Bom, agradecimento especial à Bia Way pela maravilhosa recomendação que me fez saltar de alegria e à todas vocês pela paciência infinita!
Boa leitura! ♥



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Capítulo 19 – Reecontro

   E a semana se passou como se nunca tivesse havido problemas na minha vida. E era estranho pensar assim e até mesmo viver assim, tão descomplicadamente. Era como se eu finalmente conseguisse enxergar que a vida era, de fato, algo simples. Só não é simples quando nós mesmos a complicamos.

   Foi uma boa semana afinal, portanto, como tudo o que é bom, passou depressa.

   Na escola tudo estava normal, na medida do possível. As pessoas passaram a, simplesmente, me ignorar, e fazer o mesmo com todos que andavam comigo. Mikey às vezes ainda se mostrava meio esquivo quando encontrava com algum cara do qual costumava apanhar, mas com o passar dos dias sua segurança em seu bracelete de monitor foi voltando e ele retomou sua antiga postura de “o incorruptível nerd dos corredores” – e eu sempre rio pensando nele dessa forma! –. Ray, por sua vez, se mostrou o melhor amigo que eu poderia ter arranjado! Passávamos os intervalos juntos, sempre no mesmo ponto do pátio e conversávamos de tudo um pouco, desde música à HQs, assim como eu costumava fazer com meu irmão. E às vezes nossas vidas pessoais acabavam entrando na conversa e sinceramente, eu nunca consegui conversar tão abertamente com Ray como agora.  E Frank... bom, eu não havia tido muito contato com ele nos últimos dias. Ele parecia calado, mas agia normalmente comigo, então decidi deixar tudo como estava. Se ele quisesse me dizer algo, ele viria até mim e diria.

   Já era sexta-feira, no segundo intervalo. Ray e eu estávamos sentados na grama à sombra de uma árvore enquanto conversávamos sobre banalidades quando eu avistei uma cena estranha.

- Hey, Ray. – eu o interrompi. – Olha lá. – eu sinalizei discretamente com a cabeça, fazendo com que logo sua atenção estivesse focada na direção que eu havia indicado. Ele pareceu não entender muito bem o que eu estava indicando, olhando para mim em confusão. – O Gregory. – eu disse apenas, e ele direcionou o olhar novamente para o ponto que eu havia indicado (de forma um pouco menos discreta agora) e permaneceu a encará-lo, quieto. Imagino que agora ele tenha percebido.

   Era de fato uma cena estranha de se ver. Eu e Ray olhávamos para o mesmo ponto agora, e em nossas cabeças eu imagino que se passassem os mesmos pensamentos. Gregory estava, como sempre, com sua costumeira turma de amigos. Porém dessa vez ele parecia estranhamente deslocado. Enquanto os outros conversavam e riam, era possível ver que ele estava desconfortável, os braços cruzados, o corpo tenso, o olhar carrancudo, e seu nariz – agora torto e inchado – não ajudava em sua aparência. Não parecia realmente participar do assunto do grupo e, na realidade, não parecia realmente que eles o queriam por perto. Ele estava sendo ignorado.

- Eu acho que eu já vi esse filme antes. – eu disse, deixando que um sorriso amargo se instalasse em meus lábios e olhando rapidamente para Ray ao meu lado. Ele parecia envergonhado. – Duas vezes.

- É... – ele fez uma pausa, mas logo voltou a falar, atraindo novamente minha atenção. – Mas para ele deve estar sendo mais difícil que para nós.

- Como assim?

- Nós nunca tivemos popularidade ou o perfil de quem é descolado e convidado para as festas. Nós sempre fomos os esquisitos excluídos e, um belo dia, tentamos ter isso tudo, mas não conseguimos. Já ele não, ele tinha tudo isso, e perdeu tudo porque comprou uma briga que ele não pode ganhar. E o pior, contra um dos excluídos que ele tanto abomina. – ele me encarou, ainda um pouco envergonhado, apenas para ter certeza de que eu estava entendendo o que ele queria dizer. – Nós três erramos, isso é fato, mas a queda dele está sendo bem mais alta. – ele finalizou, voltando a encarar Gregory que agora se distanciava cada vez mais no nosso campo de visão, seguindo o pequeno grupo de brutamontes e líderes de torcida que insistiam em lhe ignorar.

- Nossa... Falando assim, dá a impressão de que eu destruí a vida dele... – comentei pensativo, ainda encarando as costas de Gregory, até que ele sumisse junto daquele pequeno grupo.

- E se você for parar para pensar, você acabou mesmo. – Ray continuou, agora olhando para mim diretamente. Encarei-o de volta. – O que mais ele tem além disso aqui? – e ele fez um gesto amplo com as mãos, o que me fez correr os olhos por todo o pátio. – Cara, ele só tem a fama de mau dele. Tinha. – ele se corrigiu rápido, com um sorriso nos lábios. – Fora daqui ele não é nada, ninguém conhece ele.

- Pois é... Mas ele mereceu. – rebati, como se me defendesse, e Ray apenas riu de mim. – Só espero que ele aprenda algo nisso tudo.

- O Gregory? Você está falando sério mesmo? – ele olhava para mim incrédulo enquanto quase deitava no chão de tanto rir.

- Ah, muito engraçado, Raymond! As pessoas podem sim mudar! – eu apontava o dedo para ele, tentando defender a minha tese da melhor maneira possível, mas Ray ria tão alto que imagino que ele nem tenha me ouvido.

   O sinal soou alto atrás de nós.

- Ah, pequeno padawan! Tão ingênuo! Ainda tem muito que aprender sobre a vida! – ele disse enquanto se levantava, ainda rindo, e estendia a mão para mim no intuito de me ajudar a levantar.

   E dessa forma fomos para a aula – que acabamos por não prestar atenção de qualquer forma. – que passou incrivelmente depressa, e, de lá, nos encontramos com Mikey e Frank na saída, rumando diretamente para casa.

   Outra coisa que ocorreu nesta semana foi uma ligação de Lindsey dizendo que já havia feito a denuncia. Me mandou todos os protocolos, números e informações que eu precisaria saber para conversar com o advogado futuramente, inclusive uma pilha de papéis e cópias que ela me enviou pelo fax do meu pai. Perguntei a ela como estava Arthur, e ela disse que bem, apesar de passar o dia todo em casa, já que ela não conseguira vaga em uma creche paga pelo governo. Engoli em seco ao receber essa informação, mas de qualquer forma, eu mesmo estava mais tranqüilo e confiante com relação a isso. Contei a ela sobre minha conversa com os meus pais nos mínimos detalhes, para que ela ficasse a par de tudo o que acontecia e ela apenas me agradeceu pelo esforço e disse estar feliz por tudo estar dando certo.

   Na verdade, acho que todos que sabiam o que estava acontecendo estavam felizes por tudo estar dando certo.

    Quando cheguei em casa, surpreendi-me – e isso era algo que, aliás, estava se tornando freqüente na minha vida: a sensação de surpresa. – com meu pai pendurado ao telefone e um barulho de panelas e louças caindo no chão.

- Acho que a mãe está na cozinha. – Mikey sussurrou para mim assim que parou ao meu lado, e eu ri baixo de seu comentário, sendo logo acompanhado por ele.

   Quando nosso pai nos viu, parados lado a lado olhando para ele com as mochilas ainda nas costas, fez um sinal com a mão para que esperássemos e murmurou um “já falo com vocês”, logo voltando a responder algo para a pessoa do outro lado da linha com um sorriso no rosto. Aparentemente falava com algum amigo, parecia bem descontraído.

   Assim sendo, meu irmão e eu subimos para nossos quartos com o intuito de trocarmos os uniformes por roupas mais confortáveis e, quando descemos novamente, encontramos nossa mãe, com os cabelos um tanto desalinhados, tentando arrumar a mesa para o almoço e nosso pai sentado no sofá, ainda no telefone.

   Deixando nosso pai na sala, seguimos o barulho dos cacos de vidro até a cozinha segurando o riso.

- Oi meninos! – ela disse bastante animada, com aquela energia toda que lhe era peculiar. Logo ela se aproximou de nós e colou seus lábios em nossos rostos, nos deixando com marcas de batom vermelhas e idênticas nas bochechas.

   Esperamos ela se virar e aproveitamos o momento para limpar a marca do rosto enquanto ríamos um do outro. Parecíamos duas crianças, e isso era o mais engraçado.

   Decidimos ajudá-la a por a mesa, já que se continuasse sozinha, no dia seguinte não teríamos mais pratos em casa. Na cozinha nossa mãe não se da bem com nada, nem com a louça!

   Quando tudo estava pronto, ajudei-a com o microondas, que ela alegava ser “moderno demais” para ela e “com muitos botões e opções” e que tinha medo de acabar “quebrando”. Esquentamos o almoço, que dessa vez era comida italiana, e colocamos tudo sobre a mesa. Sorri ao ver Mikey já sentado em seu lugar, o garfo e a faca em mãos e os olhos fixos na grande lasanha à sua frente, mas o sorriso logo desapareceu quando ouvi minha própria barriga roncar alto.

- Querido! Larga desse telefone e vem almoçar! – nossa mãe sussurrou, mas foi alto o bastante para que nós também ouvíssemos e, enquanto Mikey murmurava um “até que enfim!”, meu estômago agradecia a atitude dela, emocionado.

- Ah, tudo bem então, de tarde eu vou aí e conversamos melhor sobre, ok? – ouvi meu pai dizer, em meio a mais risadas. Nesse meio tempo, minha mãe e eu nos aproveitamos para sentar à mesa também. – Pois é, ele já está um homem! Irei levá-lo também, daí aproveitamos e discutimos esse assunto. Ótimo, até mais! Obrigado!

   E logo pudemos ver a figura de nosso pai adentrar a cozinha com um sorriso satisfeito no rosto.

- Quem era, meu bem? – minha mãe perguntou carinhosa, enquanto pegava o prato posto á frente do único lugar vago á mesa e começava a servi-lo.

- Estava falando com o Steven. – ele respondeu, ainda sorrindo, sentando-se por fim e pegando o prato que minha mãe lhe estendia, agradecido. Vendo isso, Mikey e eu não tardamos a nos servir também, com toda a educação e calma que dois adolescentes mortos de fome poderiam ter.

- Nossa! Vão com calma, vocês dois!  - minha mãe comentou risonha, enquanto nos olhava.

- Desculpa. – murmuramos em uníssono, rindo logo em seguida e voltando nossa atenção novamente para a lasanha, dessa vez tentando ter um pouco mais de calma.

- E como vai o Steven? – minha mãe começou, e eu me desliguei da conversa quase que automaticamente. Já, já, eles estariam conversando sobre o emprego do Steven, a mulher do Steven, os filhos do Steven... o de sempre. O protocolo das conversas deles é sempre o mesmo, independente da pessoa.

- Un... – meu pai murmurou, enquanto mastigava e depois engolia. – Lembra-se do advogado que eu falei? – e meus ouvidos voltaram a se sintonizar na conversa. – Então, é ele.

- Oh! – minha mãe exclamou em entendimento.

- Aliás, Gerard, espero que esteja livre hoje de tarde, pois disse ao Steven que passaríamos no escritório dele hoje para ver como ficaria a denúncia e aproveitar para tratar de toda essa papelada que Lindsey te enviou. – ele disse, dando uma garfada generosa em seu pedaço de lasanha e levando-o a boca, enquanto ainda me olhava, esperando uma resposta.

- Ah... Ok. Por mim, sem problemas. – respondi um tanto vagamente, voltando a desligar-me da conversa que meus pais levavam e concentrando-me exclusivamente em meu almoço.

   Havia ficado um pouco ansioso com aquela notícia, isso é fato, mas era uma ansiedade boa. Não sei explicar exatamente, mas, como Ray costumava dizer, era como se eu tivesse o pressentimento de que algo bom iria acontecer naquele escritório. E, bem, só o fato de eu ter arranjado um advogado já era uma coisa muito, muito boa. Não imagino o que possa acontecer de melhor no escritório dele que já não tenha acontecido!

   O almoço foi uma das melhores surpresas que eu tive nos últimos dias. Não sei exatamente o porquê de meus pais, depois daquela conversa que tivemos, estarem aparentemente fazendo um pouco mais de esforço para se mostrarem mais presentes. Imagino que seja, em parte, pelas coisas que eu disse. Por outro lado, talvez eles tenham finalmente notado que já está na hora de eles tirarem uma folga.

   Imagino que eles uniram uma coisa à outra, e aqui estamos nós. E era bom ter a família reunida novamente. Mikey parecia o mais animado com isso, já que falou animadamente o almoço inteiro, sorrindo o tempo todo. De nós dois, foi Mikey quem passou menos tempo com nossos pais, então imagino que esse retorno, mesmo que lento deles, à nossa convivência, esteja sendo um pouco mais significante para ele do que para mim.

   E os momentos de descontração vieram e se foram, e quando dei por mim novamente, já estava dentro do carro do meu pai, apenas ele e eu, como há muito não fazíamos. Estava me dando bem com meu pai de uma forma que nunca imaginei que pudesse acontecer. Encontrei nele um apoio que anos atrás eu não conseguia enxergar, e isso me fazia seguro para conversar com ele de forma sincera, sem as máscaras que eu usava no passado.

   Não era mais uma relação mecânica. Éramos pai e filho de verdade.

   Estacionamos em frente a um prédio de escritórios. Fomos à recepção e logo nos informamos sobre o andar desejado. Meu pai já havia estado lá antes, mas eu não. Fiquei um pouco bobo com o tamanho de tudo aquilo. Era um verdadeiro complexo! Era um prédio bonito, uma construção moderna e imponente, e toda a hora dois ou três homens de terno passavam por nós carregando suas pastas de couro e falando em seus celulares. Chegava a ser engraçado, todos tão iguais.

   Quando alcançamos o décimo terceiro andar - se eu acreditasse tanto assim em sorte, acredito que esse seria o meu número. – encontramos uma pequena sala mobiliada discretamente, exatamente como um escritório deve ser. Na única mesa que havia lá avistamos uma senhora pequena e gordinha com os cabelos ruivos presos em um coque. Digitava rapidamente, os dedos ágeis fazendo o silêncio no lugar ser preenchido pelo barulho das teclas contra as quais suas unhas batiam repetidamente.

- Rose? – meu pai chamou a atenção da moça, adentrando um pouco mais naquela sala. Ao ver meu pai, ela logo sorriu.

- Oh, senhor Donnald! Quanto tempo! Como vai? – ela sorria largamente, o batom de um vermelho extravagante fazendo seu sorriso parecer ainda maior e mais cheio. Porém logo seus olhos recaíram sobre mim. Encolhi-me no mesmo lugar. – Oh, quem é esse rapaz com você?

- Ah, ele é meu filho mais velho. Gerard. – meu pai respondeu, pondo uma mão em meu ombro de forma firme e me puxando para mais perto, logo passando o braço sobre os meus ombros.

   Respondi um “oi” tímido apenas e sorri sem graça de volta. E fiquei lá. Quieto, parado na mesma posição de forma desconfortável e com medo de me mexer bruscamente demais e ter minha presença notada novamente. Eu sempre ficava tímido nesse tipo de situação. Ainda mais quando se tratava de meus pais me apresentando para alguém. Era como se eles soubessem que eu estava desconfortável e tímido e quisessem que eu fizesse um discurso. Além de me tratarem feito criança, dizendo coisas como “conta para eles, filho!”.

   Isso quando não eram mulheres, porque geralmente elas eram as que mais me envergonhavam, com coisas como “oh, Donna, como ele é bonito!”, “vou apresentar a minha filha para ele” ou ainda “esse vai dar trabalho quando crescer, não é?”.

   Mas, bem, passados esses momentos de constrangimento, Rose anunciou nossa entrada, e logo estávamos dentro da sala de Steven. A sala dele, com certeza, era bem maior que a ante-sala onde conversamos com Rose, além de ser muito mais bem decorada. Os móveis eram todos em madeira maciça, e atrás da mesa onde supus que Steven costumava trabalhar, uma grande estante repleta de grossos livros se erguia do chão até o teto. Fora as janelas enormes que nos proporcionava uma bela visão da cidade abaixo de nós.

   Steven era um homem alto e grande. Ele e meu pai se cumprimentaram como velhos amigos e começaram aqueles assuntos rotineiros como família, as esposas, os filhos. E imagino que tenha sido nesse ponto que meu pai se lembrou de mim e me apresentou a Steven.

   Quando ele se sentou em sua cadeira e fez um gesto para que sentássemos também, pude ler o que dizia a placa de inox sobre sua mesa com seu nome gravado. Steven C. N. Bryar. Bryar. Eu conhecia aquele sobrenome.

- E o seu filho, Steven, o que ele anda fazendo?

- Ah, ele está me ajudando com o escritório, sabe, estágio. Está fazendo direito em uma ótima... – e o barulho da porta aberta foi ouvido atrás de nós. Me virei e arregalei os olhos com o que vi. A figura à minha frente exibindo a mesma cara de surpresa a me ver. – Venha cá, Bob! Quero lhe apresentar umas pessoas.

   Bob Bryar.

   Acho que eu dispensaria as apresentações.


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Notas finais do capítulo

Bom, passando aqui apenas para pedir desculpas mais uma vez! Espero que tenha conseguido fazer a espera pelo capítulo valer a pena e que vocês tenham gostado.
Foi uma semana difícil e corrida, mas, mesmo assim, veni o bloqueio criativo e a falta de tempo e retornei!
E aliás, quem sabe até semana que vem eu não poste uma longfic nova? Estou trabalhando nela neste exato momento. :3
Bom, espero mesmo que tenham gostado!
Espero vocês nos comentários! ♥