I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 15
Capítulo 15 - Todos Escondem Algo, Afinal


Notas iniciais do capítulo

Bom, primeiramente, agradeço à todos que deixaram aqui o seu comentário e sua opinião. Estamos quase chegando aos três dígitos de reviews e eu só tenho a agradecer à vocês por terem me acompanhado até aqui.
Capítulo dedicado à Ashley Radke, Plosh, A_Revolution, PandaDoIero e Killjoys que me acompanham desde o início desta empreitada até o presente momento. E à você que começou a ler agora também! Vocês são a parte mais importante dessa história toda!
Bom, curtam o capítulo como se não houvesse amanhã!
Até às notas finais! ♥



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Capítulo 15 – Todos Escondem Algo, Afinal



Cheguei em casa bem agitado naquele dia. Carregava Mikey de forma desajeitada, um braço dele sobre meus ombros, o outro sobre os ombros de Ray. Frank até quis ajudar, mas por ser bem mais baixo, não conseguia sustentar bem o peso de outro corpo (bem maior, diga-se de passagem) sobre o dele, e assim coube a ele levar os materiais do meu irmão, e algumas coisas minhas e do Ray também. Mikey estava inchado, um pouco mole devido a toda aquela confusão e a quantidade de analgésicos que Jack havia dado a ele para amenizar as dores e eu nunca me senti tão mal em olhar seu rosto. Ele estava horrível, em todos os sentidos.


Fomos dispensados mais uma vez graças a Jack. Pedimos que ele não dissesse nada sobre Mikey ter apanhado para ninguém, usando como desculpa para nossa dispensa seu ataque de asma. Se ele falasse algo eu acabaria bem fodido. Minha vontade era de chegar à direção do colégio com meu irmão e dizer a eles que Gregory havia feito aquilo. E dizer também que se aquele era o tipo de animal que eles estavam tentando formar, eles estavam tendo muito sucesso! Mas então Gregory apareceria com o rosto completamente deformado e choramingaria meia dúzia de mentiras, dizendo que na realidade o animal era eu, que havia batido nele desumanamente e todas essas baboseiras que qualquer um engoliria. Olha pra mim! Eu sei que pareço o tipo de maluco que não tem nada a perder e por isso sai por aí arrumando confusão. Eu não tenho nenhum mérito naquela escola, ninguém sairia a meu favor.


Mas, por hora eu estava satisfeito apenas com a imagem de Gregory sangrando e chorando no chão sem ter ninguém para ajudá-lo. Eu sei que, no fim, acabei me tornando como ele. Ele já havia feito isso comigo tantas vezes que eu já nem conseguia mais contar... Mas a raiva era tanta que eu não queria fazer mais nada além de socá-lo até ele vomitar os rins.


Tudo bem, eu acho que preciso respirar fundo agora e engolir toda essa raiva. “O que passou, passou.”, não posso fazer mais nada a respeito.


Com um pouco de dificuldade conseguimos levar Mikey até o quarto e deitá-lo. Ele parecia lutar para se manter acordado, mas não deu dois minutos e ele já dormia largado na cama, a boca entreaberta, o rosto e os lábios inchados e roxos em alguns pontos. Retirei o casaco e a gravata dele e abri os primeiros botões da camisa que ele usava – que, aliás, estava com uma mancha enorme de sangue no colarinho – e ele nem se mexeu. Observei-o bem naquele estado. Eu ainda nem tinha pensado no que diria aos nossos pais. Eu não queria que eles interpretassem a situação de forma errada e pensassem que Mikey estava brigando por aí, mas também não queria que eles fossem à escola e descobrissem o que realmente havia acontecido. Eu estava em um impasse. Mas esperaria Mikey se sentir melhor para conversar sobre isso com ele. Eu diria o que ele achasse melhor, e isso era o mínimo que eu podia fazer.


Logo descemos, deixando a porta do quarto de Mikey entreaberta, de forma que pudéssemos ouvir caso ele chamasse por algum de nós pedindo ajuda. Fomos para a cozinha, e lá eu tentei preparar algo para nós comermos. Sem muito sucesso, devo ressaltar. Então acabamos optando pelo óbvio: comida congelada. Esquentei tudo no microondas, sem prestar muita atenção no que estava fazendo. O silêncio entre nós era estranho, mas ao mesmo tempo natural. Como se todos estivessem cansados demais para se pronunciar. Ray brincava com uma mecha do próprio cabelo – que, eu acabei de notar, nunca esteve tão grande. – e Frank tinha a testa apoiada sobre as mãos e os cotovelos sobre a bancada da cozinha.


Ouvi o barulho do microondas.


– Pronto. – eu disse, retirando duas lasanhas grandes de lá.


Ray pegou os pratos e talheres e eu, depois de deixar nossa comida sobre a bancada da cozinha, me apressei em pegar os copos. Frank ainda não conhecia bem a casa, então ficou apenas nos observando, com o olhar curioso, andar para lá e para cá de armário em armário.


Comemos em silêncio. Frank levantava a cabeça às vezes para olhar para mim ou para Ray. Parecia que ele queria dizer algo, mas não estava disposto a ser o primeiro a quebrar o silêncio entre nós.


Enquanto isso, eu pensava no quanto aquele sentimento dentro de mim era estranho. Não a raiva, não mesmo... Eu me refiro à vontade que eu tinha de mudar as coisas. Apesar dos problemas surgindo por todos os lados, acho que pela primeira vez em toda a minha vida eu apresentava vontade e disposição para lutar contra eles até o fim. Não queria mais desistir de coisas, muito menos de pessoas importantes. Não queria mais desistir de viver a minha vida.


Naquele momento eu vi que, acima de tudo, o que eu queria era conseguir solucionar meus problemas, para que eles nunca mais pudessem tentar me atingir através de outras pessoas. Por que não importa o quão durão eu consiga me tornar, tentar me atingir através de Mikey, Ray ou Frank sempre irá funcionar.


Quando terminamos e colocamos a louça na pia, ouvimos um barulho estranho vindo do quarto de Mikey. E eu, claro, não pensei duas vezes e corri escada acima, dois degraus de cada vez. Com Ray e Frank em meu encalço.


Chegando à porta do quarto de Mikey, ofegante e estabanado, o vi de pé, de forma um tanto desajeitada, enquanto encarava a própria imagem no espelho pendurado em uma das paredes. Ele tocava o rosto com a ponta dos dedos, como se estivesse fazendo uma análise dos destroços. Parecia não acreditar que aquele era seu próprio rosto. Quando percebeu minha presença na porta – e a de Ray e Frank também – ele virou-se para nós devagar e disse:


– Gee... Posso falar com você? – e eu, obviamente, não neguei. Vi Ray e Frank descerem novamente. Provavelmente acharam melhor deixar nós dois nos resolvermos sozinhos. Aquelas famosas “conversas de irmãos”.


Vi que ele abandonou sua imagem no espelho, rumando novamente para a cama. Parecia cansado, abatido, talvez triste. Mas eu ainda torcia para que fosse apenas um efeito dos remédios.


– Senta. – ele pediu, indicando um espaço ao lado dele na cama. Me sentei e esperei que ele prosseguisse. – Gerard... Obrigado por hoje. – ele disse, com um sorriso meio torto, por causa de seus lábios inchados. – Eu sinceramente não esperava que você me defendesse daquela forma.


Mikey, sempre sincero.


– Acho que já estava na hora de eu cumprir meu papel de irmão mais velho, não? – permiti-me o gracejo, mas logo me arrependi, ao vê-lo rir e fazer uma careta de dor logo em seguida.


– Alguém ficou sabendo? – Mikey olhava para baixo. Passou a mão pela ponte do nariz e logo notou que estava sem seus óculos, encontrando-os na cômoda e logo os ajeitando no rosto.


– Todos e ninguém. – me pronunciei. E ele me encarou, questionador. – Todos os alunos, nenhum professor. Pelo menos até onde eu sei.


– O que vocês fizeram com o Gregory depois que me levaram para a enfermaria? – ele perguntou, mas eu sabia que a última coisa que Mikey estava sentindo naquele momento era preocupação.


– Bom... nada. Deixamos ele lá. – eu disse, despreocupado, e logo seu olhar de reprovação me atingiu em cheio. – Que foi?


– Se alguém se dispôs a ajudar ele, o que eu acho muito difícil, mas ainda há uma possibilidade... – ele ponderou. – E se esse alguém foi um professor... Você está muito ferrado! – e eu não consegui segurar o riso. – Está rindo de que? – ele perguntou, agora aparentando estar bravo.


– Quem diria! Michael Way torcendo para que eu, que de acordo com sua corretíssima postura mereceria uma punição exemplar, não sofra nenhum tipo de represália por ter espancado um colega! – eu continuei a rir e logo ouvi sua risada baixa me acompanhar. – Isso é fantástico!


– Você não é qualquer espancador. É meu irmão espancador. E estava me defendendo, nada mais justo que eu pelo menos tente livrar a sua cara, não? – ele argumentou, e eu concordei com a cabeça, ainda sorrindo abertamente.


Porém logo o sorriso sumiu do meu rosto quando, como um estalo, lembrei-me de uma pergunta:


– O que vamos dizer para os nossos pais a respeito? – olhei para Mikey, imaginando que ele cairia no mesmo impasse que eu, porém, para minha surpresa, ele respondeu rapidamente, como se houvesse uma resposta óbvia para aquela pergunta.


– Não diremos nada. – ele disse calmo e simples.


– Mikey, você quase perdeu um dente hoje, e sabe-se lá quantas partes do corpo mais... Eles podem não passar tanto tempo assim em casa, mas uma hora ou outra eles vão acabar notando! – confesso que me agitei um pouco com toda aquela calma com a qual ele tratava a situação, apesar de parecer que ele tinha um plano. Aliás, Mikey sempre tinha um plano.


– Não, não vão. – ele disse, e esticou a mão para alcançar a gaveta de sua cômoda, abrindo-a e retirando de lá uma sacola plástica. Ele virou-a na cama no espaço entre nós para expor o conteúdo. – Maquiagem. – ele disse, meio sem graça. Pude ver que os produtos estavam bem usados, e aquilo só podia significar uma coisa...


– Então essa não foi a primeira vez que...


– Não. – ele disse, e começou a recolher os pequenos potes de cima da cama.


E eu só conseguia me perguntar: como eu nunca percebi? Será que eu estava tão afundado assim nos meus próprios problemas que não pude parar de me lamentar por um maldito segundo para dar atenção ao meu irmão? Será que eu fui tão egoísta a esse ponto? E quanto Mikey deveria me odiar agora? Com certeza isso seria algo difícil de medir...


– Desde quando? – eu perguntei, seco.


– Desde que nos mudamos. Por isso eu virei monitor... Eu notei que isso dava algum tipo de status, então logo me inscrevi. Era só eu fazer vista grossa com certas pessoas... Mas às vezes eu gostava de dar uma de “o incorruptível” e acabava levando um soco ou dois. – ele sorriu triste, abrindo a gaveta da cômoda novamente para guardar suas coisas. E minha vontade de me socar só aumentava a cada palavra dele. A vida escolar de Mikey havia sido, até hoje, tão ruim quanto a minha afinal...


E quando ele mais precisou do meu suporte, do meu apoio... Eu não estava lá e ele teve que encontrar outros meios de “sobreviver”.


– Por que você nunca me disse? – confesso que foi impossível eu não transparecer nem um pouco de tristeza ou constrangimento com essa frase.


– Você parecia sempre em outro mundo, pensando em tantas outras coisas... E eu não sabia exatamente como você estava. Por causa das drogas, entende? Na minha cabeça eu não tinha o direito de te contar os meus problemas, sendo que os seus eram muito maiores. – ele deu de ombros, quando notou minhas feições reagindo a cada palavra sua, demonstrando o quão ofendido eu estava me sentindo. – Que foi? Lembre-se de que você passou três anos com os seus segredos. Nada mais justo do que eu passar três anos com os meus.


E Mikey estava certo. Eu não podia nem sonhar em lhe dar nenhum tipo de lição de moral. Eu não era nada para falar de alguém afinal, havia feito tudo da mesma forma que ele. E com isso eu notei que talvez meu problema de comunicação fosse de família... E eu até riria disso, se ainda não estivesse tão enojado de mim mesmo.


– Mas... – Mikey se pronunciou novamente, chamando minha atenção. – O que você fez hoje... Acredite, valeu por todas as vezes em que você não esteve por perto. – ele sorriu e eu senti meus olhos começarem a arder, mas tentei disfarçar. – Nós dois tivemos problemas. É bom saber que conseguimos mudar e hoje podemos contar um com o outro, como você mesmo disse.


Ele tocou meu ombro, e eu sorri triste. Por fim, como eu já havia ponderado a princípio, era tudo passado. A melhor forma de acabar com a culpa contida nele era reformular o presente e se concentrar em fazer tudo certo.


E por falar em fazer tudo certo, não demorou quase nada para Mikey mudar de assunto, tocando em outro que eu ainda não sabia se gostaria de falar ou não:


– Gee... O que vai fazer a respeito das denuncias e da Lindsey? – ele se mostrava sério, ajeitando a postura e os óculos que lhe escorregavam pela ponte do nariz. É, aquele era o velho Mikey.


– Eu ainda não pensei muito bem sobre isso. Eu quero ajudá-la, de verdade! Mas ainda não sei se eu posso convencer uma corte inteira de que não sou mais um drogado maluco e delirante só com o que eu tenho para contar. E mais, eu não tenho um advogado nem grana para pagar um. E pelo que eu sei, Lindsey também não tem. – olhei para ele, que me devolvia o olhar, intenso e sério. Seus olhos brilhavam em direção aos meus, me empurrando para a conclusão à qual eu não queria chegar.


– Você sabe o que isso significa, não é? – seu olhar permanecia, penetrante, sobre mim. Eu fiz-me de desentendido. – Vai ter que conversar com os nossos pais.



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Notas finais do capítulo

Bom, gente, estou bem emocionada aqui!
Obrigada, de verdade, por todos que estão acompanhando, obrigada por aparecerem sempre aqui e... eu não sei nem como agradecer! Se a história chegou até aqui, foi graças à cada um de vocês, que me incentivou a por todo o meu coração nessa história que eu escrevi sem pretensão de, um dia, ganhar tantos amigos e aliados assim.
Obrigada por todas as conversas via review (Ashley Radke), por todas as palavras de apoio (Killjoys), por todas as teorias (Plosh), por todos os reviews sinceros (PandaDoIero), por todos os elogios (A_Revolution) e por estarem sempre aqui, de verdade, vocês são uns amores! ♥
E, para quem fica, um feliz natal! Espero postar mais algo aqui até o dia 24, e depois talvez eu dê uma sumidinha até o dia 26, mas continuarei aqui esperando por vocês, firme e forte, até o fim das férias! :)
Muito obrigada por tudo!
Vejo vocês nos comentários! ♥♥♥