Ele separou o rosto da menina de seu peito, segurando-a pelas bochechas, olhando em seus abatidos olhos.

-Você comeu alguma coisa hoje?

  Ela negou com a cabeça, largando-o, dando um passo para trás, a fim de dar-lhe algum espaço. Zacky assentiu com a cabeça, apalpando os bolsos, certificando-se de que sua carteira estava ali.

-Vou te levar para almoçar, ok?

  Taylor permaneceu quieta, vendo-o mexer em seu armário a procura de alguma roupa. Tirou de lá uma calça jeans escura e uma blusa branca lisa, de mangas longas, tacando na cama e gesticulando para que ela as vestisse. Saiu do quarto e se apoiou na porta, colocando o rosto entre as mãos, puxando o ar como se o que tivesse dentro do quarto fosse intragável.

  Alguns segundos depois Taylor abriu a porta do quarto, vestida com as roupas e calçando um All Star simples.

-É melhor pegar um casaco que esquente. Está muito frio lá fora.

-Eu estou bem.

  Zacky já estava farto de escutar esse falso ‘estou bem’ de Taylor. Bufou, visivelmente irritado, e foi dentro do quarto buscar um casaco. Abriu seu armário e depois de um tempo perguntou:

-Onde estão seus casacos?

-Eu tenho que passar na casa da mamãe pra pegar o resto das roupas. Eu emprestei o meu único para Lola, e ela saiu.

  Zacky sentiu um arrepio na espinha com as palavras da menina. Assentiu com a cabeça, pensando para si mesmo que devia manter a calma. Abriu seu armário e pegou um de seus próprios casacos, entregando-lhe para Taylor e fechando a porta do quarto.

-Quer comer o que?

  Ambos saíram do lugar, descendo as escadas e entrando no carro.

-Pode escolher.

-Comida japonesa?

-Não sei comer com pauzinhos.

  Zacky sorriu, acelerando o carro e manobrando. Suas mãos agarravam o volante com toda sua força e nervosismo. Queria contar logo, não sabia mentir ou então omitir. Mas precisava pensar um jeito delicado de dizer.

  Pararam em um restaurante italiano depois de um tempo discutindo qual restaurante iriam.

  Ainda se sentiam desconfortáveis a voltar a se falarem de repente.

  Assim que se sentaram-se à mesa, Zacky percebeu como a menina estava vulnerável. As enormes olheiras, e sua magreza instantânea... Era triste.

-Zacky, você fez alguma coisa?

  Ele franziu a testa, assim que acabou de falar seus pedidos ao garçom.

-Que? Não. Por quê?

-O que você ia falar antes de ver os cortes?

  Disparou, olhando-o nos olhos, um tanto sonolenta. Zacky respirou fundo, olhando por uma fração de segundo para baixo, falando:

-Podemos falar sobre isso depois que você comer.

-Eu não vou comer até você me contar.

-Você não tem muitas escolhas aqui. Do jeito que você está, se demorar um pouco mais para comer, desmaia.

  Apenas falou, desviando os olhos para as pessoas que estavam no lugar. Taylor respirou fundo, de certa forma concordando, se encostando com sua má postura no banco confortável.

  Zacky por diversas vezes olhou para a morena, procurando ver se ela ainda estava lá. Bom, de certa forma estava; mas, como sempre, sua mente estava longe. Essa era uma das características de Taylor. Desde criança ela era assim; sempre e nunca presente ali.

  Seu celular tocou. Enfiou a mão no bolso, pegando-o e lendo THE REV escrito em caixa alta. Engoliu a seco e atendeu, saudando-o:

-Oi, Rev. Está tudo bem aí?

-Os polícias já chegaram, a ambulância também. Zacky, você precisa vir agora, cara.

-O que aconteceu?

  Franziu a testa, e sua pergunta chamou a atenção da morena, que desviou seus olhos para as enormes orbitas verdes do rapaz.

-Ela acordou, mas está por um fio de vida. A bala está alojada na cabeça, se tivéssemos chegado alguns minutos depois, ela morreria de hemorragia. Ela vai ter que fazer uma cirurgia... É caso sério, rapaz.

  Escutar que Clarisse estava viva – mesmo que por um fio – era a melhor coisa que lhe podia acontecer nesse exato momento. Respirou fundo, aliviado, coçando a testa.

-Eu estou almoçando com Taylor... Quando acabarmos, nós iremos encontrá-lo.

-Engula essa comida.

  Rev desligou em seguida. Zacky guardou o celular no bolso do casaco, vendo uma garçonete entregando os pratos com o que pediram a sua frente. Taylor encarou a comida como se fosse lavagem, exatamente como uma criança encarando um prato com verduras, mas depois de uns segundos pegou o garfo e começou a comer.

  Quando enfim ambos acabaram de comer, Taylor já parecia melhor.

-Nós temos mesmo que conversar. Sobre... Nós.

-Não precisamos. Na verdade, temos que falar sobre outra coisa.

  Taylor franziu a testa, limpando a boca com um guardanapo. Zacky se levantou, sendo acompanhado por Taylor.

-O que?

  A garota perguntou, fungando, cruzando os braços envoltos do casaco de Zacky, muito maior que a mesma, embora ela não ligasse de sentir seu perfume conforme se mexesse.

-Vamos encontrar o Rev primeiro, okay?

  Zacky forçou um sorriso, gesticulando para que saíssem do restaurante. Entraram no carro novamente, e Zacky parecia cada vez mais tenso. Apoiou as mãos no volante, respirando fundo, sem dar a partida.

-Zacky, você está me deixando nervosa desse jeito.

-Relaxa.

  Rumava agora o hospital. Taylor estava encolhida de seu lado, com frio, provavelmente.

  E ele se sentia ainda pior por só conseguir pensar em como queria acabar com o espaço entre eles e envolvê-la em seus braços, mesmo em uma situação tão delicada. Ele só queria tê-la novamente.

  Quando Zacky virou na esquina do Hospital onde eles estavam, Taylor ficara ainda mais nervosa.

-Zacky, o que aconteceu? Jimmy está bem? Ah, meu Deus, ele está em coma alcoólico?

  Zacky estacionou e desligou o carro, se virando para Taylor.

-Não é o Jimmy.

  Taylor soltou o ar contido nos pulmões. Graças a Deus, Jimmy era como seu irmão mais velho.

-Ah, então o que é?

  Zacky pegou uma de suas mãos geladas, fazendo círculos com o polegar na palma da mesma, sem parar de olhar seus olhos, e começou a falar:

-Taylor... Sua mãe foi baleada.

  Taylor arregalou os olhos, e Zacky conseguiu ver o tom de sua pele clareando aos poucos, até ficar pálida.

-Ela... morreu?

-Não. Por pouco. A bala está alojada na cabeça.

-Zacky, por que você não me contou isso antes?

  Taylor tremia, e sua voz já apresentava aquele som de choramingo. Puxou sua mão da de Zacky, passando-a nos cabelos, nervosa.

  Taylor se silenciou por um tempo, fitando o nada, os olhos marejados.

-Você quer vê-la?

  Perguntou, cauteloso. Taylor desapoiou a mão da boca, fungando, tirando os cabelos da cara, falando apenas:

-Quero ir pra casa.

-Taylor, eu sei que ela não foi muito boa pra você, mas ela ainda é a sua mãe...

-Eu quero ir pra casa! E você não quiser, ótimo, que fique. Eu vou a pé.

-Cala a boca!

  Zacky berrou, ficando verdadeiramente vermelho e nervoso. Taylor franziu os lábios, desviando os olhos.

-Ela é sua mãe, Taylor! Para de ser teimosa, pode ser a ultima vez que você vá vê-la!

-EU NÃO TIVE MÃE. ELA É SÓ UMA DESCONHECIDA, ZACKY. VOCÊ É MAIS MINHA MÃE DO QUE ELA, PORRA!

  Taylor berrou, altamente exaltada.

-É isso, você não vai vê-la?

-Não.

  Zacky assentiu com a cabeça, se acalmando aos poucos. Pegou o celular, discando o numero de Rev.

-Rev, oi, sou eu.

-Já chegou?

-Já, mas ela não quer vê-la. Eu vou levá-la para cara e depois volto pra ajudar você, ok?

-Não, pode ficar por lá mesmo. Tome conte dela para que não faça nenhuma besteira.

  Zacky assentiu, desligando o telefone, saindo do estacionamento do hospital.

                        ...

  Já tinha chegado em casa faia meia hora. Taylor tinha tomado banho e se enfiado no quarto de Brian e não saiu de lá para mais nada.

  Zacky se levantou do sofá, atravessando o corredor e batendo na porta do quarto. Não obteve resposta, mas entrou mesmo assim. Lá, Taylor dormia.

  Ia encostando a porta devagar, numa tentativa vã de não fazer barulho, ao vê-la. Com o barulho, Taylor abriu os olhos, cansada.

-Volte a dormir, só vim falar pra você... Hm... Brian voltou com a Michelle, então eles vão precisar do quarto.

  Taylor encarou-o ainda grogue de sono.

-As porta do meu quarto estão abertas.

  Zacky forçou um sorriso simpático. Taylor retribuiu-o, levantando-se da cama e andando até Zacky, se apoiando nas pontas do pé e abraçando seu pescoço.

  O rapaz envolveu o magro corpo da morena com os braços, apertando-a contra si, sentindo cada curva de seu corpo, cada aroma de seu cabelo e de sua pele... Se sentia tão feliz e completo, agora, que poderia até esquecer que tinha uma mulher quase morta para agüentar.

  Taylor desencostou-se de Zacky, que, por sua vez, ruborizado e sem jeito, enfiou uma das mãos no bolso do casaco enquanto a outra bagunçava o cabelo de sua amada.

  As horas de passaram. Ninguém havia chegado, e Rev não ligava desde que saíram do Hospital.

  Essas horas serviram para que os dois se aproximassem mais novamente. Não fizeram muita coisa além de conversar e conversar.

  Zacky agora estava sentado em sua cama à frente da moça.

-Acha que ela vai morrer?
-Vaso ruim não quebra cedo.

  Taylor fez piada, respondendo o rapaz, que revirou os olhos. Fizeram silencio em seguida.

  Taylor chegou para mais perto dele, olhando fundo em seus olhos, segurando seu rosto e passando o polegar em seu lábio inferior, seus olhos mostrando muito bem o que queria.

-Taylor...

  Zacky disse, com um sorriso cômico da falta de noção da garota. Isso a fez sorrir também, falando, eu seu ouvido:

-Estou com saudade de você.

  As mãos da morena desceram até a barra de sua camisa.

-O momento não é apropriado.

-Pára de ser bicha.

  Taylor se sentou em seu colo, fitando seus olhos.

  Zacky ergueu uma sobrancelha, particularmente ofendido com a declaração da moça.

  Taylor deu de ombros, saindo de cima do rapaz.

-Tudo bem, então.

  Saiu da cama, se apoiando na janela, olhando para o nada, cruzando os braços.

  Quando suas mãos percorreram o perímetro de sua cintura e a viraram para si, Zacky a colocou em cima da mesma, segurando-a pelos cabelos da nuca, beijando sua boca; afinal, havia se convencido de que merecia um tempo com ela.