Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 35
Labaredas.


Notas iniciais do capítulo

Trabalhei muito para que o penúltimo capítulo ficasse o mais perfeito possível e acho que consegui obter um bom resultado. Talvez esse tenha sido o capítulo que mais sofreu alterações até ficar plenamente pronto. Enfim, aproveitem.



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— O que faremos agora? — perguntou Helena completamente aflita, andando em círculos dentro do dormitório e roendo cada pedaço da sua unha recém-pintada de roxo.

Logan e Tommy também estavam no dormitório, ambos sentados sobre o beliche das meninas. A expressão tensa no rosto dos garotos era mais do que perceptível e, apesar disso, também havia certa reflexão dentro de seus olhos.

A ideia de voltar para a sala de aula depois que tiveram a conversa com Kofuf metamorfoseado na diretora do colégio e esperar que as duas horas pedidas passassem não foi nem cogitada. A vontade de livrar Sophia das garras daquele zumbi monstruoso era mil vezes maior do que a vontade de aprender biologia. Algo tinha que ser feito e a garota não podia mais esperar.

— O que deveríamos ter feito exatamente no momento em que percebemos que Sophia havia sido sequestrada — a voz de Logan era tão sombria, que Helena arregalou os olhos como se estivesse com medo do amigo.

— Você fala tão sinistramente que eu juro que quero morrer sendo sua amiga.

A cabeça de Logan estava fervendo e seus pensamentos mais do que inquietos. Era como se eles tivessem asas e permanecessem voando dentro do seu cérebro, às vezes esbarrando-se uns aos outros. Mas a única ideia que prevalecia dentro dessa balbúrdia mental era a morte de Kofuf. Aquele zumbi morreria depois que salvasse sua namorada e isso era uma certeza que já crescera dentro de sua cabeça.

— Então... — Tommy começou a dizer quando percebeu que Logan estava calado — Qual vai ser? Vamos vestir fantasias de super-heróis e ir até o cativeiro de Sophia para salvá-la?

Helena tentou dar uma risadinha, mas ela imediatamente se calou quando viu que a face de Logan se manteve imóvel.

— Retire a parte de vestir fantasias, acrescente a parte de que iremos preparados para matar Kofuf e obterá a resposta.

Logan esfregou a palmas das duas mãos e levantou da cama. Uma estranha animação preenchia seu rosto e estava predestinado a seguir em frente com a tentativa de fazer justiça com as próprias mãos.

— Nós agradeceríamos se você pudesse ser um pouco mais claro. — pediu Helena — Eu não sei, você está sombrio demais.

Logan pigarreou antes de começar a falar.

— Bom, precisamos de instrumentos inflamáveis de quisermos acabar com a raça daquele zumbi. A essência dele precisa ser consumida pelo fogo.

— Está querendo dizer que vamos derrotá-lo com uma embalagem de álcool e uma caixa de palito de fósforos? — disse Tommy em um tom de voz irônico.

Logan deu um sorriso que poderia ser classificado como maníaco.

— Um lança-chamas seria mais apropriado, mas creio que não há um instrumento desse porte aqui no colégio. — Helena e Tommy o olharam como se ele fosse maluco — Mas, provavelmente, deve haver um galão de querosene no porão.

Matar Kofuf com uma embalagem de álcool não parecia tão maquiavélico. O querosene soava mais destruidor para Logan, como se ele fosse capaz de deixar o corpo do zumbi ainda mais torrado.

Um olhar penetrante à Helena fez a garota bufar.

— Aposto que agora vem a parte que você nos manda ir atrás dessas coisas enquanto você fica aqui no quarto esperando.

Logan ainda precisava de um tempo sozinho antes de invadir a sala de Kofuf. Não conseguia parar de pensar em Sophia e queria tentar fazer outra conexão mental para poder vê-la pela última vez caso as coisas não dessem certo. Ele não queria pensar nessa possibilidade, mas, infelizmente, era algo que ele não poderia descartar.

— Bem... é isso mesmo. — Logan deu um sorriso amarelo — Vocês precisam ser rápidos! Acho que vai ser melhor se não esperarmos as duas horas que ele pediu.

Helena revirou os olhos.

— Qualquer dia ainda me vingarei por você nos fazer de escravos. — ela reclamou, indo na direção de Tommy e o puxando para que ele pudesse levantar da cama e acompanhá-la na busca por um galão de querosene.

— Não se esqueçam da caixa de fósforos.

Helena e Tommy resmungaram alguma coisa que Logan não conseguiu entender e saíram do dormitório deixando o garoto sozinho.

Ele agradeceu mentalmente por aquele momento de solidão e se dirigiu até o parapeito da janela. O sol estava brilhando e as ondas luminosas que vinham até os seus olhos faziam com que tivesse que apertá-los para conseguir enxergar a linha do horizonte. Havia tantas montanhas verdejantes ao fundo que ele desejava estar em uma delas, sentado no cume e observando a cidade como se ela fosse uma miniatura. Mary havia ensinado ao garoto que as coisas simples da vida eram as que tinham mais significado. Ele tinha aprendido a dar valor a uma simples brisa batendo no rosto e a parar tudo o que estava fazendo apenas para ver um pôr do sol. Nada podia pagar isso.

E assim ele fechou os olhos. Agora ele podia estar no lugar que seu corpo mais desejava apenas com a força da sua imaginação. Sentia algo fofo o envolvendo e quando abriu os olhos percebeu que estava sentado sobre a areia de uma praia. Ele olhou para o céu e havia algumas nuvens em forma de algodão pairando sobre a imensidão azulada. O barulho das ondas quebrando sobre o mar era a única coisa que ele conseguia ouvir e apesar de estar em um lugar mais do que lindo, ele não estava plenamente satisfeito. A falta da pessoa mais importante na sua vida estava o incomodando.

— Por que eu não consigo te ver? — Logan perguntou baixinho.

A leve brisa sobre a praia foi ficando mais forte aos poucos, as ondas mais altas e barulhentas e o céu cinzento e escuro. Logo as nuvens brancas foram substituídas por outras violentas e furiosas que emitiam clarões barulhentos. Um deles atingiu a água salgada e logo em seguida ouviu um barulho ensurdecedor que apenas serviu para abafar uma voz que soprou em seus ouvidos.

— Você não deveria insistir com isso.

Um arrepio fez com que todos os pelos do seu corpo se eriçassem.

— Sophia, é você?

— Eu não sou mais ninguém. — a voz metálica permaneceu indiferente e Logan não conseguiu enxergar nenhum sentimento nela, nem mesmo melancolia — Minha vida foi arrancada de mim e espero que isso também não aconteça a você.

Ele tentou responder, mas as palavras pareciam ter sido arrancadas de dentro dele. Sua boca se abria e nenhum som saía. Era como se ele estivesse mudo.

— Salve-se enquanto ainda é tempo. Fuja. Você não tem a menor chance.

Logan tapou os ouvidos e cerrou os olhos. Não queria mais ouvir aquela voz dentro da sua mente lhe dizendo para desistir. Queria sair daquele ambiente que havia se tornado assustador e voltar para o dormitório. Aquele era o momento perfeito para começar a se achar estranho e desejar nunca mais ter esses estados de devaneios tão realistas.

— Não! — ele gritou — Me deixe em paz!

Sentiu uma mão tocando seu ombro e seu corpo todo tremeu. Afastou-a violentamente e virou o corpo para correr até o lugar onde a areia da praia terminava e se transformava em uma calçada, mas a única coisa que viu foi o beliche do dormitório e isso foi o suficiente para que ele se jogasse sobre o colchão macio.

— Logan, o que é isso? — perguntou Tommy ao perceber que o garoto estava ofegante e com gotas de suor preenchendo todas as partes do seu rosto — Por que pediu para que o deixássemos em paz?

As imagens estavam ficando levemente nítidas e percebeu que Helena e Tommy haviam voltado e estavam diante dele. O menino estava segurando o galão de querosene preenchido até a metade, enquanto Helena segurava um pacote com várias caixas de fósforos.

— Me desculpem. — disse Logan com o rosto ruborizado — Que droga, eu estava sonhando acordado novamente.

Ele já se arrependera de, por um momento, querer que aquele sonho acontecesse. Estar longe de Sophia estava destroçando seu coração e a única coisa que desejava era tê-la de volta, mesmo que fosse apenas em sonhos.

Helena se aproximou do garoto e a compaixão em seu rosto era mais do que evidente.

— Sei que estava tentando ver Sophia. Seus olhos estão dizendo isso, mas não se preocupe. Hoje tudo isso passará e você a terá de volta. Eu prometo.

Logan não poderia descrever o quão incrível era Helena. Ela podia ter aquele jeito displicente, nunca se preocupando com as regras e transgredindo-as sempre quando fosse possível, fazendo piadas em momentos indevidos e rindo de situações que mereciam ser choradas, mas ela era uma amiga espetacular. Sempre disposta a ajudar os amigos, quaisquer fossem as circunstâncias. Diante dela, a única coisa que ele conseguiu fazer foi sorrir sem qualquer entusiasmo evidente.

— Você deu sorte. — disse Tommy — Esse era o último galão de querosene lá no porão. Eu realmente não sei por que pode haver a necessidade de ter esse tipo de combustível no porão de um colégio.

— Pare com isso, Tommy. Você ficou o caminho todo resmungando esse discurso, mas que coisa!

Logan fechou e abriu os olhos por alguns segundos e deu um último suspiro antes de levantar da cama e encher o peito de coragem.

— Vamos! Temos um zumbi para transformar em cinzas.



O sinal para o almoço havia tocado enquanto eles estavam descendo o último lance de escadas. Fome era a última coisa que Logan poderia estar sentindo naquele momento.

A voz que ouvira dentro do devaneio ainda estava quente dentro do seu cérebro e ele ainda não sabia o que ela significava. Talvez fosse apenas uma indicação de que jamais conseguiria derrotar um zumbi com as próprias mãos, mas aquilo era o mínimo que ele podia fazer. Era quase que uma obrigação para si mesmo.

Tentou ignorar esses pensamentos e continuou seguindo em frente. Nada iria impedi-lo de fazer a justiça necessária porque, afinal, aquilo era o que ele mais desejava naquele momento.

Olhou para Helena e Tommy e ambos estavam aparentemente nervosos. A menina ruiva estava segurando a mão dele e talvez estivesse apertando-a. Logan quase nunca presenciava momentos que evidenciassem que eles eram namorados e talvez nunca se acostumasse com isso, mas sempre haveria uma ocasião na qual deixariam escapar algum tipo de sentimento.

Alguns segundos de tensão depois e eles finalmente avistaram a sala de Kofuf. As luzes do corredor estavam apagadas e um ar sombrio pairava sobre a cabeça de todos. Os amigos se entreolharam antes de apressar o passo em direção à porta da sala. Ela estava entreaberta e a única luz visível era a fraca faixa amarela que passava pelo vão entre a parede e a porta.

— Logan, você tem certeza de que quer continuar com isso? — perguntou Helena em um tom de voz quase inaudível.

— Agora que estamos aqui vamos até o fim. — respondeu o garoto com determinação.

Eles assentiram e adentraram na sala obscura. As fracas luzes provinham de velas acesas dentro de castiçais presos às paredes negras que deixavam o ambiente ainda mais sombrio. A coleção sanguinária de Kofuf reluzia sobre a mesa central e Logan agradeceu mentalmente por não haver mais um pote em meio aos outros que já existiam ali.

Tudo estava tão silencioso e escuro que Logan franziu o cenho. Parecia não haver nada dentro daquela sala e ele logo se perguntou se não havia sido enganado pelo zumbi.

Helena emitiu um ruído e rapidamente segurou na mão do garoto. Ela apontou para o canto da sala, diante às cabeças de acrílico, e Logan viu algo que o deixou aparentemente perturbado: cordas grossas e repletas de farpas estavam prendendo o corpo de Sophia a uma cadeira. A boca da garota estava tapada com uma fita prateada e os cabelos ensebados e desgrenhados pareciam ser feitos de um material extremamente pesado. Não havia quase nenhum resquício de roupa preenchendo seu corpo e vários cortes em forma de X podiam ser vistos nos pedaços de pele que estavam à mostra. Seus braços estavam repletos de marcas roxas e rastros de sangue seco escorriam do seu ferimento na barriga. Seus olhos estavam cerrados como se estivesse tentando não enxergar as coisas que estavam bem diante do seu campo de visão. Ela estava realmente horrível e Logan não a teria reconhecido se ela não fosse sua namorada e não pudesse sentir o quanto ela estava desesperada.

— Sophia! — ele foi correndo até ela e segurou em suas mãos — O que fizeram com você?

Ela abriu os olhos e sinais de que havia chorado muito ficaram visíveis. Veias vermelhas se destacavam em meio ao branco dos seus olhos e ela parecia pedir por ajuda apenas com o olhar.

Sophia se mexeu em meio às cordas que amarravam o seu corpo e fechou os olhos fortemente como se estivesse sentindo dor. Resmungou alguma coisa, mas as palavras foram abafadas pela fita que cobria seus lábios.

— Eu estou aqui. — Logan falou fracamente — Vim te salvar, meu amor.

Helena e Tommy assistiam à cena à distância, mas se aproximaram e Sophia emitiu um pequeno sorriso por detrás da fita.

— O que está acontecendo? — perguntou Helena com a voz chorosa. Ela agachou e segurou na mão que estava livre.

Sophia novamente tentou resmungar e Logan arrancou a fita da boca dela.

— Ai, obrigada. — a voz dela estava tão fraca que um murmúrio seria mais audível — Vocês não deveriam estar aqui. É o fim.

— Não diga isso, Sophia. — disse Tommy — Descobrimos uma maneira de acabar com Kofuf e viemos aqui para livrá-la de todo esse pesadelo.

— Não há nada que vocês possam fazer. — ela fechou os olhos e tentou conter as lágrimas que estavam querendo escapar — Vão embora se ainda quiserem viver por mais alguns dias. Ele vai matar todo mundo e esse colégio será dele. Por favor, não quero ver vocês sendo destruídos do mesmo modo que eu fui.

Logan apertou a mão de Sophia.

— Você sabe que nada disso é verdade. Você ainda está viva!

— Viva? — perguntou Sophia — Olhe para mim. Ele me destruiu por completo e me transformou em um monte de farrapos. — Logan nunca tinha ouvido Sophia falar de uma maneira tão mórbida. Lembrava-se de que a coisa que mais gostara quando a conheceu foi o fato de estar sempre sorrindo e ultimamente sorriso era a última coisa que se formava nos lábios da garota — Só ainda não me matou porque queria que vocês viessem aqui para que pudesse matar a todos nós de uma vez. Ele armou uma arapuca!

Um barulho na porta entreaberta e ela se fechou com um estrondo. O interruptor foi tocado e a sala foi imersa por uma luz profunda. Todos desviaram o olhar e viram Kofuf parado diante à porta, com um sorriso disfarçado por entre seus dentes pontiagudos. Ele não estava assumindo a forma de nenhuma de suas vítimas e seu rosto asqueroso e sangrento podia ser visto com facilidade.

— E vocês caíram direitinho. — a voz rouca do zumbi entrou raspando pelos ouvidos de Logan como se pudesse machucá-los — Atrair vocês para o encontro final foi realmente muito fácil.

— Solte-a agora, seu verme assassino nojento! — Logan gritou e isso apenas fez com que Kofuf emitisse uma gargalhada sombria.

— Que lindos elogios, garoto. Estou realmente lisonjeado.

Kofuf colocou as mãos atrás do corpo e adentrou pela sala. Olhou para a mesa de centro e parecia conter o desejo de pegar alguma coisa por lá.

— Interessante o fato de vocês terem trazido um galão de querosene. — disse Kofuf de repente e Tommy repousou-o sobre o chão atrás do seu corpo — Só não sei como isso vai ajudá-los.

— É claro que você sabe. — desafiou Helena — Você sabe a única maneira possível de te destruir e tenho certeza de que está se borrando de medo.

— Tão bonita e tão ingênua. — ele olhou para Helena de uma maneira que fez os músculos do corpo de Tommy tremer — Eu não sou um zumbi comum e não posso ser destruído ao se cortar a minha cabeça ou arrancar o meu coração como a maioria dos meus parceiros genéticos. Sou muito mais forte do que vocês podem imaginar e com certeza querosene não será o responsável pela minha morte.

Helena suspirou tediosamente.

— Por que repete sempre esse mesmo discurso? Sabemos que você é “invencível” e estamos realmente cansados de ouvir você falando.

— Você está muito respondona para alguém que está prestes a morrer pelas minhas garras.

— Vai nos matar então? Devo dar adeus para os meus amiguinhos porque você vai enfiar suas garras no meu peito e devorar o meu coração?

Logan olhou para Helena.

— Pare com isso. — ele balançou a cabeça e se aproximou o suficiente para que Kofuf levantasse uma sobrancelha. — É a mim que ele quer e então vamos resolver isso um olhando no olho do outro.

Uma expressão de surpresa percorreu o rosto do zumbi.

— Acha que eu dialogo com as minhas vítimas? — Kofuf abriu a gaveta da mesa de centro e pegou a faca prateada. Um sorriso maléfico escapou dos seus lábios e ele apontou a ponta da faca para o peito de Logan — Não tem conversa, Logan. Aceite que o seu fim está mais próximo do que você imagina.

— Eu só quero dizer uma coisa antes do meu fim. Quando eu cheguei aqui, eu estava completamente desorientado e achava que as pessoas que agora eu chamo de amigos eram estranhos que nunca mereceriam a minha confiança. Minha primeira aparência não foi legal e quando eu conheci Mark, eu percebi que tudo isso poderia ser diferente e que a amizade seria uma coisa essencial para que eu pudesse seguir em frente sem ficar louco. Eu sei que você não sabe o significado dessa palavra e talvez tudo o que eu esteja falando não faça o menor sentido para você, mas eu gostaria que você se lembrasse de que eu fui seu amigo. Era com você que eu desabafava a respeito dos meus sentimentos, era você quem eu sempre zoava, era você quem eu sempre tinha como o meu melhor amigo.

Logan não sabia por que estava dizendo todas aquelas coisas e também estava achando estranho o fato de estar admitindo que fora amigo de um zumbi esse tempo todo, mas ele sentia como se precisasse dizer isso antes de morrer. Era como um simples desabafo.

— Cale a boca, seu imbecil! — berrou Kofuf — Não quero ouvir esse seu discurso melodramático!

Logan assentiu e cerrou os punhos.

— Então me mate.

Um sorriso desafiador escapou da boca de Kofuf e ele ajeitou a faca para que apontasse exatamente para o peito de Logan. O zumbi começou a caminhar lentamente, enquanto Logan se mantinha parado, apenas observando Kofuf ir ficando cada vez mais próximo. A faca brilhava intensamente e mais alguns centímetros ela encontraria o peito do garoto.

Foi quando Logan começou a se mexer e rapidamente abaixou o corpo, rolando para o lado direito e desviando do golpe fatal de Kofuf.

— Pensei que quisesse que eu te matasse de uma vez por todas. — resmungou o zumbi.

Logan sorriu sarcasticamente.

— Deveria saber que a única criatura que vai morrer dentro dessa sala é você.

O garoto levantou-se do chão antes que Kofuf pudesse pensar em respirar e correu para atacá-lo. Um soco acertou em cheio o rosto gosmento do zumbi e ele emitiu um grito de dor. Depois de afagar o local que havia sido atingido e desferir vários palavrões contra o garoto, Kofuf mostrou as unhas que se destacavam na sua mão cinzenta e as transferiu para o ombro de Logan. Enfiou-as com todo a sua força e o garoto apenas teve tempo de tentar dar outro soco no rosto do zumbi, o que foi impedido com a mão que segurava a faca. Logan gritou quando a lâmina provocou uma extensa linha vermelha que se prolongou por todos os seus dedos. Com as unhas ainda enterradas no ombro do garoto, Kofuf forçou o seu corpo para trás, até que perdesse o equilíbrio e caísse sobre o chão gelado.

O ombro e a mão doíam de uma maneira que Logan não conseguia descrever e já não tinha forças para tentar se levantar ou se defender do golpe que Kofuf daria em seguida. Não havia nada que conseguisse fazer para impedir que a morte viesse lhe buscar a fim de levá-lo juntamente com as outras vítimas de Kofuf. A voz odiosa que havia ouvido durante o seu estado de devaneio realmente tinha razão. Não tinha a menor chance de vencer um zumbi e aquele seria o seu fim. Havia lutado tanto para achar um modo de derrotá-lo e, no fim, morrera na praia.

Os olhos de Logan se arregalaram quando percebeu que o zumbi havia parado centímetros antes de enfiar as garras dentro do seu peito. Tommy aparecera atrás do zumbi, com os braços envolvendo o seu pescoço. Kofuf se remexia desesperadamente enquanto Tommy o forçava a andar para o outro lado da sala.

— Levante-se e vá desamarrar Sophia. — disse Tommy — Eu vou distrai-lo para que possamos ganhar tempo.

Logan assentiu, esquecendo-se da dor, e levantou instantaneamente, indo em direção à cadeira na qual Sophia estava amarrada e encontrando uma Helena perdida, olhando para todos os cantos como se não soubesse o que deveria fazer.

— O que está fazendo? — ela perguntou com a sobrancelha franzida.

— Ajude-o. — disse Logan apontando para Tommy — Mas não faça nada com o galão de querosene. Quero ter as honras.

Helena parecia estar disposta a sair correndo daquele ambiente o mais rápido que pudesse. Ela olhou para Logan como se ele estivesse fazendo a coisa mais absurda do mundo.

— Você está maluco? — ela perguntou desesperada — Pelo amor de Deus, ele vai matar o Tommy!

— Não vai. — Logan disse tranquilamente — Tommy sabe lutar melhor que eu. Mas faça alguma coisa ao invés de ficar aqui parada. Ajude o seu namorado a distrair Kofuf enquanto desamarro Sophia e a solto desse pesadelo.

Helena estava aturdida e parecia querer protestar, mas finalmente assentiu e correu na direção de Tommy e Kofuf. O menino havia acabado de dar um soco na barriga do zumbi, o que fez com que ele soltasse a faca que estava segurando. Helena rapidamente pegou o objeto cortante e o apontou para Kofuf, fazendo ameaças.

Logan sabia que eles conseguiriam distrair o zumbi enquanto ganhava algum tempo sozinho com Sophia. Ele correu até a cadeira na qual ela estava amarrada e a primeira coisa que fez foi olhar no fundo dos olhos dela e saber que ela estava bem, apesar de tudo.

— Não acredito que deixou Helena e Tommy lutando com um zumbi apenas para ter tempo de me desamarrar. Vá ajudá-los e me desamarre quando tudo terminar.

Logan já havia agachado e estava desatando os nós que prendiam os pulsos da namorada.

— Eu não posso te deixar aqui. Essa sala estará em chamas dentro de alguns minutos.

— Em chamas? — Sophia perguntou com a curiosidade de uma criança. — Por quê?

Os nós estavam realmente fortes, mas a vontade de desamarrar Sophia fazia com que ele os desatasse como se fosse um marinheiro experiente. Logan deu um sorriso quando desatou o último.

— Lembra-se do trecho da carta do tal estudioso que achamos na internet? Eu descobri que o que consome a essência do zumbi é o fogo. Bem, na verdade, foi um sonho que eu tive e não é nenhuma certeza, mas é a única arma que temos!

Sophia estava finalmente solta e esticou os braços, mexendo as duas mãos para os lados e fazendo com que os ossos se estralassem. Fez o mesmo movimento com as pernas e logo em seguida com o pescoço. Todas as partes do corpo da garota pareciam estar se atrofiando, pedindo desesperadamente para que ela se movimentasse.

— Nem acredito que posso mexer meu corpo novamente. Obrigada, Logan.

— Não me agradeça. — disse o menino, levantando e aproximando-se ainda mais de Sophia — Apenas me abrace.

A garota levantou da cadeira com certa dificuldade e permitiu que seu corpo fosse envolvido pelo de Logan. As vibrações dela finalmente puderam ser sentidas novamente e era disso que ele precisava para que pudesse se sentir completo. Aquele abraço caloroso que fazia do seu cérebro entorpecido, sensação que se assimilava a quando ela o beijava. Ele a amava tanto e não havia como esconder esse sentimento tão bonito.

— Como eu precisava disso... — ele disse depois que se desvencilharam.

— Não há tempo para romantismo agora. — afirmou Sophia seriamente — Temos um zumbi para derrotar.

Logan assentiu e ambos voltaram a atenção para a luta que estava acontecendo do outro lado da sala. O rosto de Tommy estava completamente suado e fios de cabelo estavam grudados na testa. As garras de Kofuf haviam rasgado vários pontos de sua camiseta e marcas sangrentas podiam ser vistas sobre a pele. Apesar disso, o garoto parecia estar dominando a luta e desferia golpes que deixavam Kofuf desorientado. Mas o zumbi também era esperto e provinha de garras afiadas para rasgar a pele de Tommy e lhe presentear com machucados profundos. A faca não estava mais na mão de nenhum dos lutadores e Logan logo percebeu que ela estava caída ao lado da mesa de centro.

— Helena está ferida! — Tommy gritou desesperadamente depois que desviou de um soco de Kofuf.

Logan olhou para o chão e percebeu que Helena jazia sobre ele, em um canto da sala que estava ligeiramente escuro. A camisa da menina estava rasgada no peito, onde a garra de Kofuf havia feito um corte ligeiramente profundo.

O garoto abaixou ao lado do seu corpo e afagou o seu rosto suado e quente.

— Você está bem? — ele perguntou.

Helena enrugou o rosto numa expressão de dor profunda e tentou levantar a cabeça, mas a única coisa que conseguiu foi gemer.

— Apenas um corte que me deixou quase desacordada.

— Ela precisa ir para a enfermaria. — disse Sophia — Eu me encarrego disso enquanto você e o Tommy ficam aqui para cuidar do zumbi.

— Mas você está fraca. — disse Helena — Acabou de ser resgatada de um sequestro. Acho que consigo ir sozinha.

— Você não pode! — insistiu a menina loira, segurando na mão da amiga e a puxando para que pudesse ficar em pé. — Apoie-se em mim.

Helena assentiu e seus braços envolveram o pescoço de Sophia. As meninas olharam nervosamente para Logan como se pedissem para que tivesse sucesso na missão de destruir o zumbi e saíram da sala.

Kofuf parecia não ter percebido toda essa movimentação. Sua atenção estava movida exclusivamente para a luta com Tommy e aquele seria o momento perfeito.

Logan passou ao lado da atracação e percebeu que Tommy estava bastante ferido. As garras do zumbi se enfiaram sobre a bochecha dele e gotas de sangue pingaram na camiseta do garoto.

Ele respirou fundo e foi na direção do galão de querosene posicionado ao lado da cadeira. Lembrou-se de que os palitos de fósforo estavam com Helena, mas respirou aliviado quando notou que ela os deixara ao lado do galão. Abriu a tampa e um cheiro forte de gasolina de posto de abastecimento preencheu suas narinas. Às cegas, despejou o líquido sobre o chão da sala e esperou até que a última gota saísse do galão e deixasse o chão inteiramente molhado.

— Saia daí, Tommy! — ele gritou — Rápido!

Apertando os olhos, Logan viu que Tommy empurrara Kofuf antes que ele pudesse enfiar as garras no seu peito. O zumbi caiu de costas no chão e demorou alguns segundos para se levantar e agarrar a perna de Tommy antes que ele pudesse alcançar Logan.

— Vocês não podem atear fogo à sala. — disse o zumbi depois de cuspir sangue preto no chão — Isso não vai me destruir.

Com a perna livre, Tommy deu um chute na cabeça de Kofuf e um ruído de dor escapou dos lábios da criatura sanguinária.

Logan aproveitou a deixa e acendeu um palito de fósforo. Olhou para o rosto aterrorizado de Kofuf, que estava tentando se levantar para desesperadamente impedir que o garoto acendesse-o. Com um pequeno sorriso nos lábios, Logan passou-o sobre a lixa da caixa e uma chama emanou da cabeça do pequeno pedaço de madeira.

— Adeus, Kofuf.

Logan jogou o palito sobre o chão da sala e as chamas começaram a nascer. Uma trilha de querosene havia se formado no chão e as labaredas alaranjadas iam seguindo-a, até que a sala inteira fosse dominada por um calor ardente que fez com que gotas de suor começassem a escorrer da testa de Logan. As chamas rapidamente terminaram o caminho e Kofuf foi envolvido por uma roda de fogo. Ele olhou para todos os lados procurando por uma fresta, por um mínimo vão pelo qual pudesse passar e sair de lá com vida, mas pareceu perceber que não havia mais saída. Seus olhos vazios evidenciavam que o seu fim havia chegado. Uma ruga de desespero cresceu na sua face cinzenta e, sem mais forças, os joelhos do zumbi cederam e ele desabou.

— Isso não acabou! — ele gritou com a voz rouca e abafada pela fumaça que já estava escapando por entre o incêndio — Não acabou!

Labaredas incandescentes tomaram conta do corpo do zumbi e a cada ruído que ele emitia, Logan sentia um prazer descomunal. Era incrível ver aquela criatura nojenta gritando de dor, sabendo que a morte estava se aproximando. Talvez agora ele soubesse como Mark, Brian, Ashley e Janeth se sentiram quando ele os matou. Talvez agora ele sentisse a dor agonizante de ter sua vida arrancada de um modo brutal. A dor aterrorizante de estar sendo consumido por chamas.

O fogo estava tão alto que não dava mais para ver Kofuf. A essa altura, ele já tinha se transformado em cinzas e Logan estava se sentindo completamente realizado.

— Vamos sair daqui. — pediu Tommy — Helena está precisando de ajuda!

Uma fumaça preta estava se formando e o ar tornara-se praticamente irrespirável. Os olhos de Logan estavam ardendo e ele logo começou a tossir.

— Não há risco de desabamento? — perguntou Logan.

— Eu não sei. O fogo está muito alto e provavelmente teremos que chamar os bombeiros.

Os garotos saíram correndo da sala ardente e procuraram pelo telefone de emergência que ficava incrustado na parede do primeiro corredor do colégio. Logan tirou-o do gancho e digitou o número do bombeiro às pressas. Alguns toques depois e uma voz grave afirmou que já estariam a caminho.

Encostou as costas na parede ao lado do telefone e parecia que um peso havia sido arrancado de suas costas. Suspirou aliviado e transportou o olhar para o telhado do colégio. O único sentimento que preenchia o seu corpo depois da morte de Kofuf era o alívio. Era bom demais saber que nunca mais teria o desprazer de ver um corpo morto completamente aberto e sangrento. Apesar disso, sabia que as imagens das vítimas mortas sempre lhe atormentariam e fariam com que tivesse algumas noites de insônia.

Entretanto, tudo havia acabado e dias de sossego estavam se aproximando. Ninguém nunca mais sentiria medo da própria sombra e nem precisaria andar em grupos como se a qualquer instante uma ameaça assassina fosse aparecer por entre as paredes de pedra do colégio. Nunca mais precisariam investigar um ao outro, como se tentassem descobrir se eram assassinos ou não. A amizade finalmente poderia seguir em frente, sem cobranças e desconfianças.

Agora tudo estava em paz.



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Notas finais do capítulo

Preparem os corações que o último capítulo está chegando!



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