Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 34
Aflição.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Espero que me perdoem por não ter postado o capítulo na data que eu prometi, mas é que eu voltei da viagem e a minha net estava cortada e daí eu fiquei na casa da minha avó e como vocês devem saber lá não tem internet. Mas não se preocupem que agora está saindo do forno o antepenúltimo capítulo de Bleeding.



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Foi como se o mundo tivesse perdido todas as cores quando Logan acordou naquela manhã de sexta-feira. O dia anterior havia sido tão horrível que a coisa a qual menos queria era se lembrar de todos os momentos de angústia vividos, os segundos que passara pensando em todas as brutalidades pelas quais Sophia poderia estar sendo submetida. Era desesperador saber que a sua namorada estava desaparecida e que ele não poderia fazer nada.

Tommy havia levantado a hipótese de Kofuf ter sequestrado a menina, mas ele não queria acreditar naquilo. O zumbi poderia querer todos eles mortos, mas Logan tinha certeza de que ele seria o primeiro da lista. Ele havia prometido que o mataria caso descumprisse a chantagem e já havia tentado cumprir a promessa uma vez quando invadiu o dormitório dos amigos no meio da madrugada. Por que ele não tinha o sequestrado? Por que tinha que envolver Sophia em toda essa sujeira? Logan preferia mil vezes ter sido morto a passar por essa agonia sem saber o paradeiro da sua namorada. Era tão desesperador que ele chegava ao ponto de ter leves dores de cabeça simplesmente por não conseguir parar de pensar.

Por mais que ele quisesse ficar dormindo eternamente, Logan sabia que a vida tinha que seguir. Ainda havia de enfrentar muita coisa até conseguir ter paz em sua vida. Levantou rapidamente do colchão macio o qual se encontrava apenas para dirigir o olhar até a cama vazia de Sophia e sentir novamente toda aquela angústia.

— Ela faz muita falta, não é mesmo? — uma voz conhecida percorreu seus ouvidos e ele olhou para a cama de Helena. A menina ruiva estava com os cabelos desgrenhados olhando para Logan como se estivesse com pena dele — Por mais que eu não conseguisse passar um dia da minha vida sem atazanar a paciência daquela loirinha, eu tenho que confessar que estou sentindo muito a falta dela.

Logan não respondeu e não fez nenhum sinal com a cabeça. Seu olhar se manteve vazio o suficiente para que ninguém conseguisse constatar para onde ele estava olhando. A única coisa que ele desejava naquele momento era que Sophia abrisse a porta daquele dormitório com um sorriso no rosto e dissesse a todo mundo que aquilo não passava de uma brincadeira de mau gosto; que ela não havia desaparecido e muito menos sido sequestrada por Kofuf. Quanta ilusão. Talvez vê-la fosse a coisa mais distante a qual ele tinha. Talvez a última vez que a vira fora naquele estado de devaneio...

Ele logo sentiu a cabeça balançando na tentativa de afastar aqueles pensamentos. Sophia não estava morta, ele podia sentir isso. Ele sabia que ela estava por perto e ele estava decidido a encontrá-la. Ele tinha que fazer alguma coisa.

Um clique na porta do banheiro e Tommy apareceu completamente vestido. Os cabelos negros provavelmente não haviam sido penteados e ele estava usando uma camiseta preta sem mangas que deixavam os músculos rígidos dos seus braços à mostra e uma calça jeans. De certo modo, Logan ainda não havia se acostumado com a mudança de Tommy. Ainda o via como aquele menino emo que usava cabelos jogados sobre o ombro e roupas apertadas.

— Nenhuma novidade sobre a Sophia? — ele perguntou e logo em seguida torceu a boca quando percebeu a cara dos amigos.

Helena levantou da cama e se aproximou de Logan, afagando o ombro do amigo.

— Não se preocupe. — um sorriso se formou nos lábios da garota — Eu prometo para você que iremos encontrá-la. Se as suposições do Tommy estiverem certas, já sabemos onde devemos ir.

Logan queria falar alguma coisa, talvez devesse agradecer pelo apoio que Helena estava lhe dando, mas as palavras não conseguiam vir à sua boca. A única coisa que fez foi assentir, enquanto Helena pegava uma troca de roupa e se dirigia ao banheiro.

— Estamos um pouco atrasados. — disse Tommy — Acho melhor você não esperar a Helena sair do banheiro para começar a trocar de roupa.

Logan franziu o cenho.

— Quer me ver pelado?

Com um sorriso mínimo no rosto, ele se dirigiu ao armário e pegou uma camiseta preta com algumas manchas vermelhas, uma calça jeans e um tênis ligeiramente velho.

— Para que eu vou querer ver você pelado sendo que você tem a mesma coisa que eu entre as suas pernas?

— Aposto que são diferentes. — respondeu Logan enquanto tirava a camiseta e a calça do pijama e substituía pelas roupas que havia escolhido — Se é que você me entende.

Tommy deu uma risada irônica.

— Você está muito engraçadinho para alguém cuja namorada está desaparecida.

— Minha namorada não estará mais desaparecida hoje depois do período de aulas. — a expressão no rosto de Logan havia se tornado sombria — E também não haverá mais zumbi para contar história.

— O que você está pensando em fazer?

— Agora que descobrimos como matá-lo, acha mesmo que eu vou desperdiçar essa chance? Acha que vou permitir que ele continue vivo? Matarei Kofuf com as minhas próprias mãos e ele pagará por ter arrancado a vida de tanta gente inocente.

— Será que simplesmente atear fogo nele será suficiente? Estou com medo de que isso não seja verdade.

— Não é uma questão de ser verdade ou mentira. — disse Logan — Temos que usar a única arma que temos. Sabemos que devemos consumir a sua essência e, de acordo com o meu sonho, fogo consome a essência de zumbis antropomórficos.

— Como atearemos fogo nele? — perguntou Tommy com urgência em sua voz.

— Agora não temos que pensar nisso. — respondeu rapidamente Helena depois de abrir a porta do banheiro e sair do cômodo com o pijama substituído por uma blusa vermelha sem mangas e um shorts jeans que não chegava nem aos seus joelhos — A principal coisa com a qual temos que nos concentrar é encontrar Sophia.

— Helena tem razão. — disse Logan — Chega de ficar parado. Está na hora de agir!



Provavelmente a ação que Logan falara não incluía estar dentro da sala de biologia. Todos sabiam muito bem que depois que uma mente insana havia tomado conta da diretoria do colégio, os horários de aula haviam mudado tão drasticamente que os quatro amigos agora estavam juntos em todas as classes.

Logan estava sentado no fundo da sala, enquanto Tommy ocupava a carteira do seu lado direito e Helena a do lado esquerdo.

A professora estava escrevendo as características do DNA no quadro-negro e a caneta de Logan escorregava da sua mão à medida que ia avançando na escrita. Aquela até seria uma aula agradável para ele, caso todo seu entusiasmo não tivesse sido arrancado de dentro dele depois do desaparecimento de Sophia. Ele ainda arriscava olhar para os cantos esperando acordar de um pesadelo e encontrar a menina ali, sã e salva.

— Essa era a sua concepção de “agir”, Logan? — perguntou Helena.

O garoto deu de ombros.

— É melhor esperarmos as aulas acabarem. Se matarmos aula será mais um motivo para que Janeth queira nos comer vivos.

— Não precisa falar Janeth. — advertiu Tommy — Todo mundo agora já sabe que ela é um zumbi.

Helena mordeu a tampa da caneta.

— A propósito, aquela reunião não serviu absolutamente para nada, Tommy. A maioria dos alunos nem sequer nos levou a sério. Se eu não estou enganada, menos de dez pessoas vieram nos dizer que estavam do nosso lado. Estamos praticamente sozinhos nessa novamente.

— Pelo menos poderemos dizer “bem que eu te avisei” quando um deles for drasticamente morto por Kofuf — disse Logan.

— Ele não vai mais matar ninguém! — exclamou Tommy — Acho que já está de bom tamanho o estrago que ele causou.

Logan tinha que concordar com o amigo. O zumbi havia sido responsável pela morte de quatro pessoas inocentes e toda vez que pensava que fora amigo daquela criatura, sentia raiva de si mesmo por não ter conseguido perceber que, na verdade, nunca vira Mark na vida e quem estava bem debaixo do seu nariz era um zumbi sanguinário.

— É tão estranho o fato de nunca termos conhecido Mark. — disse Helena como se estivesse lendo os pensamentos de Logan.

— De certo modo, nós o conhecemos, sim. — disse Tommy — Aquele livro dizia que o zumbi absorve as características físicas e psicológicas da vítima.

— Então Mark deveria ser exatamente daquele jeito que o zumbi demonstrava quando estava metamorfoseado. — Helena completou o pensamento balançando a cabeça afirmativamente.

Mas aquilo não era a mesma coisa e nada do que eles dissessem poderia fazer com que se sentisse menos culpado. Imaginava como deveria estar a família do verdadeiro Mark, sem nem ao menos saber o que realmente havia acontecido com o garoto. Logan gostaria de um dia poder avisá-los.

A imagem de Mark em sua mente logo se dissipou e se transformou em uma figura frágil e branca como a neve. Onde estaria Sophia naquele momento? Apesar de tudo, ele podia sentir que ela ainda conseguia pensar no garoto. Ele sentia uma energia muito forte inundando seu coração toda vez que seu pensamento era preenchido com imagens dela e isso era a única coisa que ainda dava forças para que seguisse em frente.

— Como eu queria que você estivesse aqui... — ele não percebeu de imediato, mas seus pensamentos logo se transformaram em palavras e um pequeno rubor preencheu suas bochechas.

Os amigos olharam profundamente para ele, mas pareciam não saber o que falar. Era difícil consolar alguém nesses momentos, ainda mais com a pessoa amada desaparecida e com a suspeita de estar sob as garras de um zumbi.

O silêncio logo era a única coisa dentro daquela sala. A professora ainda passava as coisas no quadro-negro e todos os alunos estavam compenetrados se preocupando apenas em copiar. Vez ou outra, uma pequena conversa entre sussurros se iniciava, mas Logan, Tommy e Helena se mantiveram calados, cada um absorto em seus próprios pensamentos.

A vontade de copiar já não existia mais e Logan começou a folhear o caderno. As páginas em branco completamente vazias se assemelhavam ao seu coração cuja única função naquele momento era bombear o sangue para todas as partes do seu corpo; ele já não mais servia para acelerar quando Sophia estava por perto ou para fazer como que ele sentisse as vibrações dela. Ela estava longe demais para isso...

Um toque na porta fez com que ele voltasse a atenção para a sala de aula e recomeçasse a escrever. A professora abriu a porta e a figura enrugada de Janeth ficou visível. Logan percebeu que alguns alunos se retesaram e olharam para trás como se perguntassem para os garotos o que deveriam fazer agora que havia um zumbi dentro da sala.

As duas mulheres que estavam em pé trocaram algumas rápidas palavras e a professora logo voltou a escrever no quadro-negro. Janeth, com um sorriso no rosto, apontou para Logan, Helena e Tommy e pediu para que eles a acompanhassem.

Os olhares dos amigos se encontraram e eles levantaram relutantemente das carteiras. Logan reconheceu a menina loira com o cabelo preso em um rabo de cavalo lhe desejando boa sorte apenas com o movimento dos lábios. Sorte não era uma coisa a qual ele precisaria, não naquele momento.

Janeth repousou a mão sobre o ombro de cada um deles quando passaram diante à diretora e saíram da sala de aula. Ela desejou “boa aula” para os alunos que ainda restaram e saiu do ambiente com um sorriso no rosto, que logo foi substituído por uma usual expressão de fúria quando fechou a porta e fez um sinal para que os garotos caminhassem até o final do corredor.

— É uma pena que o quarteto não esteja completo. — disse Janeth quando eles alcançaram o lugar desejado.

— O que você fez com Sophia? — Logan gritou tão alto que se assustou por nenhum professor ter aberto a porta da sala pedindo por silêncio.

— Onde estão os modos, garoto? — Janeth começou a andar em círculos — Deveria saber que não se pode gritar com uma diretora.

— Você não é diretora! — Logan cuspia as palavras como se elas queimassem sua boca — Você é apenas um zumbi que morrerá pelas minhas mãos!

Uma risada maligna escapou das bocas de Janeth e ela se aproximou de Logan. Segurou o menino pelo cabelo e forçou seu rosto para trás até que ele começasse a sentir a dor se apoderando do seu pescoço.

— Meça suas palavras, seu débil mental metido a heroizinho. — ela empurrou a cabeça de Logan que cambaleou para trás com a vista levemente turva.

Helena deu um passo a frente e respirou fundo antes de começar a falar.

— Acho que há um motivo para você ter nos retirado da sala de aula.

Janeth assentiu.

— Sim, é claro que há. Mas, antes, eu queria dizer algumas coisas que estão entaladas na minha garganta. — ela olhou para os meninos como se eles fossem algo repugnante e logo em seguida retornou a falar: — Por um acaso o nome Brent é familiar a vocês?

Logan tentou puxar pela memória qualquer coisa que o fizesse se lembrar de alguém com esse nome, mas ele logo percebeu que nunca havia conhecido ninguém nomeado Brent.

— Não. — disse Tommy — Deveríamos conhecê-lo?

Janeth sorriu.

— Pois saibam que o Brent me foi muito útil vindo até mim apenas para contar que vocês estavam fazendo fofocas maldosas sobre a minha humilde pessoa para o colégio inteiro.

Logan imediatamente lembrou quando entrara na cantina no dia anterior e vira o olhar maldoso do menino de touca, o qual havia ficado contra os amigos ao saber de toda a verdade que apavorava o colégio. Brent estava apenas tentando lhe informar que havia feito o serviço que todos eles temiam.

— Foi por isso que você sequestrou a Sophia, seu desgraçado! — Logan gritou e tentou avançar até o zumbi, mas Tommy segurou a gola da sua camiseta.

— Calma, Logan! — ele pediu e logo em seguida transportou o olhar para Janeth — E do que é que você está falando?

— E quem é Brent? — perguntou Helena completamente confusa.

Inspirando e expirando repetidas vezes para tentar controlar o fluxo de ar que entrava em seus pulmões e se sentir mais calmo, Logan disse:

— Aquele menino com touca que você quase bateu, lembra? Ele contou tudo para Janeth que havíamos informado ao colégio inteiro o que estava acontecendo.

O olhar de triunfo de Janeth era mais do que evidente e a vontade de arrebentar a cara daquele zumbi ia ficando cada vez mais intensa.

— Vocês realmente são o grupo de pessoas mais burro que eu já conheci em toda a minha vida. — uma risada sarcástica — Vocês acharam mesmo que eu não ia perceber que a foto de Janeth morta havia sumido? Além do mais, vocês não tiveram nem a capacidade de voltar à minha sala para devolvê-la. E ainda tiveram a coragem de contar para o colégio todo que eu na verdade sou um zumbi! Realmente é de se questionar a sanidade mental de vocês.

— Estávamos desesperados! — disse Helena — Precisávamos de mais pessoas pensando em um modo de destruir você.

— E todas essas pessoas lhes traíram pelas costas. — Janeth novamente riu — E eu gostaria de saber onde vocês tiraram a ideia de que podem me destruir. Eu sou um zumbi e vocês são apenas crianças.

Eles não encontraram palavras suficientes para responderem àquilo e se mantiveram calados até que a voz de Janeth novamente voltasse a inundar o corredor.

— Vocês estão mexendo em colmeia de abelha perigosa e mortal. Ainda há tempo de cederem a mim. Vocês sabem que não há como escapar. O destino de todos vocês já foi traçado.

— Você está achando que é o dono do mundo. — disse Helena — O que está esperando para parar de assumir a forma de outras pessoas e mostrar de uma vez por todas sua verdadeira face para todo o colégio?

— Um exército de zumbis antropomórficos está por vir. — disse Janeth sombriamente — Em breve entrarei em contato com outros zumbis que vivem pelas redondezas e os trarei até aqui para que possam se deliciar assim como eu me deliciei. Mas antes, eu faço questão de matar todos vocês. Um por um, causando muita dor e sofrimento. Quero ver vocês implorando para que eu lhes mate.

— A nossa união é mais forte do que tudo isso. — disse Logan com os dentes cerrados — Nossa amizade será a única coisa capaz de destruir uma criatura tão nojenta como você.

— Amizade? — a voz rouca de Janeth era um misto de sarcasmo e deboche e Logan não sabia qual das duas coisas prevalecia — Que tipo de amizade é essa na qual nenhum de vocês se preocupou em saber o estado emocional de Sophia? Será que ela está bem? Será que está comendo direito? Será que está sentindo dor? — Janeth riu alto demais — Poupem-me. Vocês não sabem o que é uma amizade.

— O que você fez com ela? — perguntou Logan — Exijo que me fale agora.

Janeth torceu o nariz numa expressão de nojo.

— Você não está na posição de exigir nada, mas como hoje eu estou de bom-humor, direi que ainda não fiz nada com a loirinha de voz irritante.

O ódio que percorreu o interior de Logan foi tão grande que a única coisa que fez naquele momento foi gritar inúmeros palavrões e cuspi-los sobre o zumbi, que olhava àquela cena completamente imerso em diversão.

— É lastimável o quão ridículos são vocês. — disse Janeth balançando a cabeça numa expressão de desgosto.

— Diga onde está Sophia de uma vez por todas. — pediu Tommy.

Janeth suspirou.

— Sosseguem. Sugiro a vocês irem até a minha sala dentro de duas horas caso queiram descobrir.

Com um sorriso no rosto, Janeth virou o corpo e andou até o primeiro lance de escadas, descendo o primeiro andar do colégio e sumindo da vista de todos.

Os amigos se entreolharam com o nervosismo escorrendo de cada poro da pele.

— E agora? — perguntou Helena.

Logan inflou o peito e olhou para os amigos com uma determinação assustadora no rosto.

— Agora chegou a hora da verdade. Teremos Sophia de volta e a justiça finalmente será feita.



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