Intrusa escrita por Carola
_ Steph, você observou a janela? – Eu disse enquanto saíamos do restaurante.
_ Que janela e por quê?
_ A segunda janela à esquerda da porta. Tinha algo lá.
_ Algo, o quê?
_ Não sei, algo.
_ Deve ser impressão sua, não?
_ Tenho certeza que não era uma impressão, mas deixa para lá. – Eu disse contendo a raiva.
Como ele podia duvidar assim? Eu não estava louca, e tinha certeza disso.
_ Nossa! Esquecemos que hoje tem aula de educação física à tarde!
_ Ai droga! É mesmo. Depois nós olhamos o seu terno então. - Eu estava contrariada.
_ Temos que passar em casa e trocar de roupa.
_ Ta.
Eu evitei render assuntos durante a volta para casa, eu ainda estava "pê da vida" com Steph. Era incoerente ele não ter acreditado em mim, já que era o primeiro a se preocupar com a minha segurança, e isso e aquilo. Steph sabia que eu não inventaria algo para ganhar sua atenção, principalmente com a gravidade do assunto.
Interrompi meu blábláblá interno quando Stephan, parado do lado de dentro da casa e com a porta aberta, me perguntou:
_ Não vai entrar?
Eu passei pela porta sem dizer nada e subi para o quarto do mesmo jeito, sem abrir a boca para falar com meu namorado.
_ Já está pronta?
_ Quase. - Eu respondi secamente.
Acho que Stephan não tinha percebido que eu estava bastante irritada com ele, e se percebeu, fingiu não se importar e continuou como se nada tivesse acontecido.
Fiquei mais irritada ainda com esse seu lado de deboche que peguei minha mochila, coloquei nas costas e quando fui passar por Stephan e pela porta, ignorei o seu movimento inclinado com a intenção de conseguir um beijo e passei direto, mas vi por cima do ombro, a cara de incógnita que o garoto fez.
Apesar do acontecido, Steph não comentou nada, e também não puxou mais assunto. E assim nós fomos até a escola, em silêncio absoluto.
Quando entrávamos no campo de futebol americano, fiz questão de olhar para Jimmy, dar uma acenadinha e um sorrisinho, e obviamente a intenção era irritar Steph.
Quando meu namorado viu que eu já ia em direção ao garoto que ele mais odiava do colégio, ele me segurou pelo braço e disse:
_ Car, por que você está fazendo isso?
O rosto de Steph ficou indecifrável; Cheio de sentimentos simultâneos. Eu não sabia se aquilo era raiva, tristeza ou vontade de chorar. Eu senti pena e por um momento pensei estar sendo enérgica demais, porem não dei o braço a torcer.
_ Isso o quê? – Dei uma de desentendida.
_ Para de fingir que não sabe do que eu estou falando! – Steph aumentou a voz e segurou meu braço com mais força.
_ Me solta Stephan.
_ Me responde droga! – Ele estava ficando cada vez mais irritado e arrogante. Stephan estava completamente brutal.
_ Me larga Stephan, você está me machucando! – Eu gritei com a voz trêmula e tentando engolir o choro que começava a se formar.
Stephan estava pegando exatamente em cima de uma das feridas que já deveria ser cicatriz; E ele apertava com uma força que eu não sabia que tinha. Seus dedos pareciam perfurar a minha pele no lugar exato, e doía insuportavelmente.
_ Eu te fiz uma pergunta, me responde! – Ele praticamente cuspia as palavras embebedadas de ódio.
_ Para, inferno! – Aproveitei para puxar o meu braço da atitude possessiva de Stephan, e não sei como consegui, já que era muito mais fraca que ele.
Eu estava realmente arrasada; Stephan nunca tinha sido arrogante comigo e isso me assustou; Além de ter me machucado externamente também.
_ Eu esperava tudo de qualquer pessoa... Mas não esperava isso de você. – Eu disse passando a mão pela ferida que ardia e que estava vermelha.
Ao terminar de dizer, virei as costas e saí correndo; Chorando. Já não conseguia segurar as lágrimas quentes que formaram uma poça em meus olhos e caíram freneticamente. Mas consegui ver por cima dos ombros, o soco que Stephan deu na grade e o grito que deu:
_ Droga!
Passei correndo por Jimmy que não pensou duas vezes e saiu me seguindo e me gritando:
_ Carol, espera!
Eu só parei de correr quando cheguei à porta do vestiário feminino. Encostei-me à parede e coloquei a mão no rosto, sentindo as bochechas e lágrimas quentes que caiam.
_ Carol! Ei Carol acalme-se!
Jimmy chegou e me abraçou. Claro que retribuí o abraço porque foi completamente acolhedor.
_ Ei, está tudo bem... Ele só está irritado. – Ele falava e me fazia um cafuné na cabeça e aos poucos eu fui parando de chorar.
_ E-eu não entendo... – Minha voz falhou.
_ Todo mundo tem dias ruins... – Ele disse se afastando de mim. – Mas agora, aproveita que está aqui, e lava o rosto. Depois você vai lá e fala com ele.
_ Tudo bem. Você me espera?
_ Estarei aqui.
Entrei no vestiário e me olhei no espelho. Eu estava com o rosto vermelho e molhado, o cabelo bagunçado e as mãos trêmulas.
_ Tudo bem, vai passar. Foi só uma crise... – Eu disse para meu reflexo no espelho e abaixei a cabeça para deixar a água, que havia pegado com as mãos em formato de conchinha, esfriasse meus nervos e me fizesse melhorar.
Levantei a cabeça e vagarosamente abri os olhos.
Entrei em pânico. O mesmo homem velho que havia aparecido no quarto de Stephan estava atrás de mim.
_ O-o quê você quer? – Tentei mostrar firmeza e esconder o medo, mas a falha em minha voz não permitiu.
_ Adivinha... – Ele dizia sem tirar o sorriso maléfico do rosto.
_ Não sei, me diga. – Eu fui recuando em direção à parede, até que minhas costas encontraram a mesma e vi que não tinha para onde fugir.
_ Sua hora está chegando minha querida... – Ele praticamente colou em mim, e, enquanto dizia, passava o dedo em meu queixo.
_ Minha hora de quê? Como assim? – Eu estava assustada.
O homem me pegou pelo pescoço, me levantou e começou a cuspir as palavras:
_ Não se faça de sonsa. Dessa vez eu não vou te deixar escapar igual Anne fez.
_ Você está me enforcando! – Eu sussurrei.
_ Você está entendendo garotinha estúpida? É bom você não colocar ninguém no meu caminho e se entregar logo; Isso não é um jogo.
_ E-eu não consigo respirar. – As palavras saíram inaudíveis e minha vista começou à escurecer, mas antes que eu acabasse desmaiando ou o que for que pudesse acontecer, comecei a chutar a porta de um dos boxes do banheiro e isso chamou a atenção de Jimmy.
_ Carol, tudo bem? – Jimmy gritou do lado de fora e como viu que eu não respondi e o barulho continuou, ele entrou.
No momento em que Jimmy entrou, o homem velho se assustou e sumiu, do nada. Eu caí com força e apaguei.
Jimmy correu até o meu corpo desmaiado e tentou me acordar com leves sacudidas.
_ Carol, Carol acorda!
E quando o garoto viu que em um dos meus braços tinha uma mancha de sangue que só crescia e que eu não acordaria, saiu correndo e foi procurar ajuda.
Como era aula de educação física, ele logo entrou no campo, gritando e correndo.
_ Gente, ajuda, ajuda! Cadê o professor?
Todo mundo prestou atenção e correu ao encontro do menino. E o campo se tornou em uma mistura de “Hã?”, “O que houve?”; Até que o professor de educação física chegou junto com Stephan e perguntou a Jimmy:
_ O que foi Sr. Strokes?
_ É a Carollyne, algo aconteceu com ela! Está lá no vestiário, desmaiada.
Todos entraram em pânico.
_ E não é só isso...
_ O que foi Jimmy? – Stephan interrompeu com devida preocupação na voz antes que o garoto terminasse a frase.
_ O braço direito dela não para de sangrar.
Foi aí que Stephan se ligou de que era exatamente o braço no qual ele havia apertado minutos antes, e se sentindo completamente culpado, saiu correndo na frente do professor e de Jimmy, em direção ao vestiário feminino, temendo não ser muito tarde para reparar a real merda que tinha feito.
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