Intrusa escrita por Carola


Capítulo 13
A carta




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Voltamos devagar, batendo um papo. Meu pai fazia suas piadinhas de sempre e eu e minha mãe só podiamos rir das palhaçadas. Há 2 meses eu não dava essa risada gostosa com meus pais.

_ Ai ai... Senti saudades.

_ Nós também morremos de saudades meu amor. Logo logo nós vamos parar de ter que viajar e vamos estar mais presentes. – Disse minha mãe.

_ Sério? – Abri um sorriso contagiante.

_ Sim filha, já estamos providenciando isso. – Disse meu pai.

Chegamos em casa e eu fui direto para o quarto, precisava ler a carta. Meus pais ficaram na sala para ver um pouco de TV mas logo subiram para o quarto e foram dormir.

Coloquei o pijama e sentei em minha cama. Fiquei olhando a carta e tentando adivinhar o que poderia estar ali dentro.

_ Será uma carta de amor? – Disse em voz alta, com a intenção de descobrir, mas achei melhor olhar logo.

Abri a carta com cuidado para não danificá-la. Comecei a ler calmamente:

"Stephy, que saudades! Quanta falta você me faz... Desde que você se foi, as coisas não são as mesmas. Jason continua me seguindo, e Carl ainda quer que eu una sua alma com a de Gregory. Você sabe que não posso fazer isso, é perigoso demais, além disso, acho que ele quer algo mais. 

Não vai dar para fugir mais e eu só vejo uma solução; Morrer. Não se assuste, por favor! Eu vou voltar, mas não como Anne Waste. Minha alma será juntada com a de uma garota chamada Carollyne Williams. Vai ser um pouco doloroso para ela. Carol precisará quase morrer para que minha alma salve a dela. Vou ter que empurrá-la através de uma rajada forte de vento no Monte Fibs e jogá-la contra os espinhos. Só assim vou conseguir me salvar.

Fico chateada de precisar "condenar" alguém que não tem nada a ver com isso, mas não consegui encontrar outra solução.

Vou te explicando tudo que vai acontecer daqui para frente através de cartas. Logo que terminar essa, procure meu tio Phill e ele lhe entregará o resto, em seu devido momento.

Saiba que te amo muito e que não vou te esquecer nunca!

                                   Beijos, Ann."

Quando terminei de ler aquilo, não pude conter as lágrimas. Eu sentia raiva, angústia e até nojo de mim mesma. Essa garota havia destruído meu futuro, me condenou sem me dar escolhas.

Joguei a carta longe e disparei a chorar mais ainda. E o ódio que eu sentia de Stephan? Ele sabia de tudo e me esconderia isso para sempre. Como eu consegui confiar nesse canalha? Ele me enganou, traiu minha confiança e brincou com meus sentimentos. Estava na cara que ele estava comigo por causa da estúpida da Anne. Queria ela de volta, e o único jeito era estando comigo. Eu estava sendo usada de um jeito absurdo e imperdoável. Preferia ter morrido do que ter que passar por essa situação ridícula.

Como ia ser agora? Eu precisava de muitas respostas, mais do que antes. Quem as me daria? Eu não aguentaria olhar na cara daquele idiota. E sim, eu ia tirar tudo a limpo no dia seguinte. Ele acha que eu sou trouxa não é? Pois é, só acha.  

Não consegui dormir. Ora chorava, ora queria gritar de raiva. Eu precisava que Lauren viesse para minha casa, mas só depois que meus pais fossem embora, às 7 da manhã.

Eis que não tardou muito a amanhecer. Logo ouvi os barulhos de meus pais se levantando e indo tomar café. Levantei da cama e logo desci para tomar café também.

_ Ué Carol, acordada essa hora? – Meu pai perguntou encabulado.

_ É pai, não ia deixar de me despedir de vocês.

_ Que olheiras são essas?

_ Ah nada, só um problema de insônia.

Não cheguei nem a tocar no café. Eu tava literalmente sem vontade de viver, e nem tinha forças também. Meus pais não notaram, ficaram discutindo sobre trabalho durante to o café.

Eles foram se trocar e eu deitei no sofá e liguei a TV. Para variar, fui ver desenho. 

Meus pais não demoraram a descer e ir embora. Esperei uns 5 minutos e liguei para Lauren.

_ Oi Lau.

_ Por que você está me ligando essa hora?

_ Preciso muito da sua ajuda, vem aqui? – Minha voz ficou com jeito de quem ia desabar e ela percebeu e ficou um pouco preocupada.

_ Ta bom, eu já vou. Beijo. – E desligou o telefone.

Sentei no sofá. Disparei a chorar de novo. Eu me sentia traída, e mais tarde, isso me faria sofrer mais ainda. Stephan parecia ser diferente dos outros garotos. Com ele eu realmente me sentia segura. Era horrível ver que essa imagem dele tinha se desmanchado em segundos, e por um motivo tão estúpido. Eu já não sabia em quem confiar, justamente quando tanta coisa esquisita vinha acontecendo comigo.

A campainha tocou. Lauren havia chegado. Saí correndo para atender, precisava urgentemente da minha amiga.

_ Carol, o que foi? O quê que aconteceu amiga? – Ela ficou surpresa ao ver que eu estava chorando.

_ É uma longa história.

Ela me abraçou e disse:

_ Conta tudo.

Fomos para o meu quarto. Ela sentou de um lado da cama e eu do outro. Comecei a falar.

_ Na terça, eu estava andando lá no Monte Fibs, como eu sempre faço. Não me lembro o horário. Eu estava lá, perto da pedra que é usada como mirante. O chão estava molhado e escorregava muito e por isso tentei descer devagar. – Ela me ouvia atentamente. – e apesar do esforço, acabei escorregando. Não dava para parar e acabei chocando com a barreira de espinho das pedras duas vezes. – Quando eu terminei a última frase, ela arregalou os olhos.

_ Quer dizer que essas feridas são por isso? - Lauren perguntou espantada.

_ É, mas não é só isso. Eu perdi muito sangue e acabei desmaiando. Dois homens que moram la no monte me encontraram e não sei como fizeram uma junção de almas. Eu não sabia que isso existia e muito menos acreditava. Mas o que interessa é que agora tenho duas almas e ainda posso sofrer rejeição.

_ Que coisa sinistra! Mas, você sabe de quem era a alma que agora também é sua?

_ Era de uma tal de Anne Waste. Nunca ouvi falar.

_ Nem eu. - Lauren disse. – Mas, é por isso que você está chorando? Isso já não tem um tempinho? Você ainda não superou?

_ Superar, não superei, mas não é esse o problema.

_ Então qual é?

Peguei a carta e apontei.

_ Isso é o problema.

_ O que tem nessa carta?

_ Essa carta é da Anne Waste, para o Stephan.

_ Como é que é? - Ela fez cara de interrogação.

_ Anne conhecia Stephan. Ele já morou aqui. E claro, os dois pareciam íntimos. Ela já sabia de tudo que ia acontecer, por que ela planejou tudo. Anne que me empurrou misteriosamente morro abaixo, por que já sabia que sua alma seria misturada com a minha. E na carta, a garota diz que não queria me colocar nessa história e que um tal de Jason perseguia ela. Tem muita coisa estranha e não sei o que eu devo e posso fazer.

_ Já conversou com Stephan sobre isso?

_ Não, ainda não vi aquele idiota.

_ Então como pegou essa carta?

_ Ontem eu e meus pais fomos jantar na casa de Stephan, e ai acabei pegando a carta escondido.

_ Que esperta você!

_ Só tem um problema.

_ Qual?

_ Nós estamos namorando.

_ O que? – Lau berrou, expressando todo o seu espanto.

_ Pois é.

_ Agora não sei o que você pode fazer.

_ Você não é a única.

Levantei da cama e saí andando de um lado para o outro. Eu estava nervosa porque não sabia como agir. Não sabia se fingia que não tinha lido a carta e deixava tudo com antes, ou se eu jogava tudo na cara dele.

Enquanto eu andava de um lado para o outro igual uma tonta, Lauren me olhava calada. O celular tocou. Saí correndo, olhei o visor e gritei:

_ É ele! Eu atendo?

_ Atende.

_ Oi amor. – Eu disse forçando a voz.

_ Ei minha linda. Como você está?

_ To bem, e você?

_ Também. Posso passar ai?

_ Pode sim, você vem agora? – Olhei para Lau com uma cara de "vai embora rápido!". Ela entendeu e já foi saindo. – Estou esperando, beijos.

Lauren foi embora e eu fiquei lá em meu quarto, tentando pensar em como agir. Eu estava nervosa por não saber qual atitude tomar. Fui até o banheiro, olhei minha aparência e tomei um susto. Eu estava péssima! Minhas olheiras estavam muito fundas e eu estava pálida. Minhas feridas tinham tomado um tom escarlate e estavam muito visíveis, como quando eu havia acabado de machucar. Lavei o rosto. A água que escorreu pelo meu braço fez as feridas arderem como fogo.

_ Ai! – Gritei.

Sentei no chão do banheiro, e mais uma vez tentei evitar as lágrimas. Precisava ser forte agora. Eu ia separar da pessoa que eu mais amei na vida.

A campainha tocou. Cheguei à ponta da escada e fiquei olhando para a porta com uma cara de assombro. A campainha tocou de novo. Desci devagar, ainda com cara de medo. Mas uma vez apertaram a campainha impacientemente.

_ Já vai! – Gritei.

Eu estava sentindo uma sensação de perigo. Mas quando abri a porta, vi Stephan lá. Para o meu alívio, ou não.

_ Ei meu amor – Ele entrou e veio me beijar. Desviei.

_ Oi. – Eu disse friamente.

_ Ei, vem cá. – Ele abriu os braços tentando desfazer o clima estranho.

Continuei parada.

_ O que houve Carol? – Ele tentou se aproximar e eu recuei.

_ Você deve mesmo achar que eu sou uma idiota né?

_ Em? – Ele fez cara de incógnita.

_ Claro, a Carollyne nunca ia descobrir nada, ela é uma bobinha. – Eu sentia uma voz me gritando para parar. Eu não entendia o porquê, mas com certeza era Anne. E eu iria fazer de tudo para contrariá-la.

_ Do quê que você está falando Carol?

_ Para de se fazer de idiota Stephan! Você sabe que me enganou. Foi falso esse tempo todo. Brincou com os meus sentimentos e me fez de palhaça.

Ele permaneceu em silêncio, e sem entender.

_ Ah, então você não sabe do quê eu estou falando é? Então vou refrescar sua memória. Anne Waste te lembra algo?

Ele arregalou os olhos.

_ Co-como você sabe?

_ Através disso. – Balancei a carta na sua frente.

Ele ficou paralisado.

_ E-eu posso explicar.

_ Quem eu sou para você Stephan? – Eu disse com os olhos cheios de água. – Quem?

_ Carol, me escuta... – Ele se aproximou e mais uma vez eu recuei e encostei na mesa.

_ Não Stephan. Você me usou esse tempo todo. Sabia o que havia acontecido e fingiu não ter o mínimo conhecimento da situação.

_ Carol... – Ele disse, mas eu fiz um sinal com a mão interrompendo-o.

_ E sabe o que mais dói? – Eu engasguei com as lágrimas. – Saber que a pessoa que eu mais amo, ama uma outra garota que faz parte de mim mas não sou eu.

_ Não, Carol! Pelo amor de Deus! Isso é mentira!

Eu levantei a cabeça e disse enquanto a primeira lágrima caia:

_ Stephan, só vá embora. Não fala mais nada. Não quero te ouvir, nem te ver. Nunca. Nunca mais.

Ele ficou chocado e seus olhos brilharam cheios de lágrimas.

_ Mas...

_ Vai Stephan, some! – Eu gritei tentando parecer forte, mesmo que as lágrimas não ajudassem a passar essa impressão.

Fui até a porta, a abri e fiz um sinal com a mão, mostrando que era para ele sair.

Ele chegou até mim e quando pensou em abrir a boca para dizer algo, eu balancei a cabeça em sinal de negação. Stephan saiu em silêncio e eu bati a porta.

Sentei encostada na porta e soltei todas as lágrimas que tentei segurar. Me surpreendi quando percebi que Stephan estava sentado do outro lado, chorando. Mesmo assim, a porta continuou fechada. Eu tinha vontade de correr lá e abraçá-lo, dizer que o perdôo. Mas não podia ser fraca, então eu iria ignorar.

Me levantei, subi lentamente para o meu quarto. Pela janela vi Stephan indo embora. Deitei e uma súbita dor de cabeça tomou conta de mim. E não foi apenas isso. Todas as minhas feridas absorveram uma dor insuportável, como a que senti na hora que retornei ao meu corpo. Senti e vi; As feridas tinham reaberto.

Entrei em desespero. O sangue escorria pelos meus braços, pernas e costas e sujava todo o lençol. Saia muito sangue mesmo. Mais uma vez senti ser meu fim. Eu não conseguia sair do lugar. Era como se algo me prendesse na cama. Por sorte meu celular estava em uma das mãos e consegui discar para Lauren. Coloquei no viva voz.

_ Oi Carol.

_ Lau, por favor, vem aqui, rápido! Ahhhh, ai! Está doendo! – Eu gritava.

_ Carol, o quê que está havendo?

_ Lauren, pelo amor de Deus, vem logo. – Disse e soltei um grito de dor.

Desliguei o telefone e fiquei ali, agonizando.

Minha amiga não demorou a chegar, e como eu não havia trancado a porta principal, ela entrou facilmente. Subiu as escadas correndo e me viu deitada, toda ensanguentada.

_ Carol, Carol, meu Deus o que houve com você?

_ Lau... - Eu arfava de dor. – Eu... Briguei com... Stephan... E... Quando deitei... – Dei uma pausa. – Senti uma dor horrível... E as feridas abriram de novo. – Eu chorava demais.

_ Calma amiga, eu vou te ajudar.

_ Não sei quanto tempo mais eu vou aguentar.

     Eu sentia que a qualquer momento iria desmaiar.

_ Amiga, isso só pode ser uma coisa... – Eu disse com a voz fraca.

_ O quê? – Lauren disse contendo o choro.

_ Re... Jei... Çã... – Não terminei de falar e apaguei.

Lauren ficou tão desesperada porque mesmo sem eu ter dito tudo, ela entendeu que aquilo podia ser uma Rejeição e que isso significava que eu poderia morrer. E então minha amiga só encontrou uma solução; Ligar para Stephan.


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