14 de Março de 1643 - Noite

 Pela janela de meu quarto, eu observava completamente hipnotizada a lua. Ela me trazia lembranças...

A doença de meu pai se arrastou por longos dois meses, somente piorando, até que ele não resistindo... Faleceu.

 Lembro-me até hoje de suas últimas palavras, dirigidas a mim especificamente....

 “- Quando se sentir só... Olhe para a lua e sentirá minha presença...”

Fechei a janela e me deitei. Amanhã o dia seria longo, ou não...

 Acordei com o sol batendo em meu rosto. O sol, a única coisa que aquecia meu coração... Meu ser. Levantei-me e fui me arrumar, depois segui em direção a cozinha, minha mãe trabalhava.

 Depois da morte do papai não tínhamos dinheiro nem para nos manter financeiramente, quanto mais para nos dar o luxo de pagar uma empregada. Margareth, minha irmã de apenas cinco anos brincava com a sua sombra em um canto da cozinha... A morte do nosso pai mexeu tanto emocionalmente quanto psicologicamente nela.

 Ela falava que via coisas que eu nem minha mãe víamos, mas ela sempre insistia que estava ali.

 Eu estava encostada na soleira da porta, observando as duas, até que minha mãe, a Sra. Elizabeth Pierce, se virou e me viu.

Ela veio em minha direção, e me abraçou.

 -Bom dia filha.

 -Bom dia mãe - Disse a apertando mais.

 Ela tava com cara de preocupada, com cara de quem queria dizer alguma coisa, resolvi perguntar:

 -Tem algo que a senhora quer me contar?

Por um momento ela me deu as costas se depois se voltou para mim

 -Na verdade filha eu tenho sim, é que você poderia ir no Sr. Drunk e pedir um pouco de pão?

 -O que foi mãe? Acabou o nosso pão?

 De repente a sua fisionomia mudou.

-Não é isso Kath, é que o pão que temos não cai bem com a geléia que eu fiz...

 Eu sabia que ela mentia. Primeiro porque não tinha nada em cima da pia e segundo eu conhecia muito bem a minha mãe para saber que algo estava errado.

 Fui em direção à dispensa, minha mãe percebendo a minha intenção tentou me impedir, segurando meu braço, mas ela estava tão fraquinha que não conseguia me segurar.

 -Não faça isso Katherine. Não vale a pena você também sofrer, deixe isso só para mim.

 Ignorando suas palavras abri a dispensa, e me assustei com que eu vi.

 Só tínhamos um saco de farinha de trigo, alguns tomates e um pouco de mel, mais nada! E eu que pensei que teríamos alguns meses de comida, me enganei, estávamos no fundo do poço.

 Eu não poderia ficar parada, tinha que fazer alguma coisa, tinha que ter algum jeito de ganhar dinheiro.

 -Eu vou nos tirar desta mãe, vou trabalhar na casa dos Salvatores!

 -Não minha filha, não faça isso! – Minha mãe chorava em meu ombro – Você tem apenas 16 anos! Você tem que estudar!

 -Com que dinheiro mãe?

 Para essa pergunta ela não tinha resposta.

 -Eu irei trabalhar na casa dos Salvatores. O Sr. Salvatore era muito amigo do papai, tenho certeza que arranjará algo para mim.

 -Está bem minha filha, está bem – Minha mãe sabia que de nada adiantaria discutir comigo, afinal eu havia herdado a teimosia de meu pai.

 -Amanhã eu vou falar com eles. - Disse secando as lágrimas do rosto de minha mãe. – Ficará tudo bem.

 Eu dizia aquelas palavras não só para consolar a minha mãe, como também para me convencer de que tudo ficaria bem.

Continua...