15 de Março de 1643

Já estava de noite e resolvi me recolher. Meu quarto ficava no segundo andar, subi as escadas calmamente, pensando como seria a minha ida à casa dos Salvatore amanhã.

Entrei em meu quarto e fui para a varanda.

Pequenos pontinhos brilhantes iluminavam o céu a minha volta. A Lua era como um guia para mim. Eu admirava a bela noite, vários sentimentos me tomando tais como paz, calma, felicidade, esperança.

Resolvi me deitar, afinal o dia de amanhã seria bem agitado

Acordei eram 5 horas da manhã, me arrumei e desci para a cozinha.

Minha mãe passava um café que cheirava muito bem por sinal, porem uma coisa me intrigava, onde ela conseguiu café?

- Bom dia mãe!

-Bom dia filha! – Ela se surpreendeu com a minha chegada, levando um pequeno susto, o que me fez rir.

- Não esperava te ver fora da cama tão cedo!

- Eu quero chegar logo à casa dos Salvatore e ver o nascer do sol...

- Hum, então tá! Primeiro beba um golinho de café.

Me sentei a mesa e logo minha mãe veio com duas xícaras de café, uma para mim e outra para ela. Margareth ainda dormia.

- Mãe, antes de eu ir, precisamos conversar.

Ela suspirou, era como se já esperasse isso.

- Eu já sei o que você vai perguntar – ela disse baixando os olhos para a sua xícara. – Então por onde você quer que eu comece?

Ela levantou seus olhos, me encarando.

- Mãe, eu quero saber como o papai perdeu todo o seu dinheiro.

- Para que você entenda isso prefiro começar do inicio.

- Pois então comece do inicio!

-Coisas estranhas aconteciam aqui, coisas que ninguém conseguia explicar...

-Você quer dizer coisas sobrenaturais? – arquei as sobrancelhas. Nesse momento me passava pela cabeça contos de terror.

-Isso minha filha, agora me deixe terminar! – continuei a fita-la, ela bebeu um gole de seu café e olhando pro nada, ou melhor, olhando para o passado, disse:

– Ele fazia parte do conselho, que era responsável pela nossa segurança para coisas sobrenaturais, mas teve uma época que todas as coisas estranhas do nada pararam de acontecer. Seu pai não se conformou, e se aprofundou mais no assunto, gastou milhões e milhões para descobrir mais, sua ambição por mais informação foi tanta que ele fez uma longa viagem enquanto você ainda era pequena.

“Ele voltou com uma erva, Verdana... Não me lembro como se fala” – ela franzia os olhos como se buscasse no fundo da sua mente a lembrança.

– Verbena! Sim esse é o nome da erva, ele disse que espantava espíritos malignos, impedia que o demônio controlasse o nosso corpo.Como eu nunca acreditei nisso, disse para ele que eu não beberia, ele insistiu para que eu desse a você, na época com apenas 6 anos, eu neguei, falei que você não tomaria aquilo. Então ele bebeu sozinho, você via claramente que aquilo não fazia bem para ele, ele ia definhando, pouco a pouco, quase imperceptível, mas ia.

“Até que ultimamente ele foi para um estado lastimável, ele disse que sua doença não foi provocada pela erva, mas sim por causas naturais, eu não sei ao certo a causa da morte de seu pai, só sei que aquela erva tinha algo a ver!”

- É só isso?

- Só isso? – ela desabou em uma risada. – Se fosse só isso ainda seria bom, minha filha.

-Então continue, por favor, mãe.

-Onde eu parei? – ela bebeu mais um gole de café e continuou. – Depois da morte do seu pai ainda sobrou um pouco de dinheiro, que foi para pagar as dívidas que seu pai fez pelo caminho.

- E a casa mãe? Nós corremos o risco de perde-la?

- Não, minha filha, a casa está em meu nome, embora tenha pertencido a mãe de seu pai. Ela sabia muito bem que ele não tinha juízo na cabeça, por isso resolveu que seria mais sensato deixar em meu nome.

Minha cabeça estava a mil por hora com as novas informações, eu pensava em tudo ao mesmo tempo, mas algo me incomodava mais...

- O que te perturbas, minha filha? – não sei se estava tão obvio assim, mas ela deu a oportunidade que eu precisava.

- Mãe, uma coisa me intriga, que tipos de coisas sobrenaturais?

Ela olhou para mim, e para a xícara já vazia.

- O seu pai minha filha sabia mais do que qualquer um do conselho, eles me disseram que ele não partilhava com ninguém, só com um caderno, onde tem tudo anotado.

- E onde está esse caderno mãe?

- Isso ninguém sabe minha...

- Que pena, seria interessante descobrir essas coisas.

-Não seria não, minha filha, tudo menos interessante. – ela me olhava com dor, como se visse em mim a mesma ambição do meu pai.

- Bem, eu vou indo, não quero chegar tarde. – disse me levantando, sendo acompanhada por minha mãe.

- Boa sorte, minha filha – Ela disse beijando o topo de minha cabeça.

- Obrigada – disse sorrindo.

E foi com essa mesma expressão no rosto que sai de casa...

(continua)