E aqui estou eu, acordando para mais um dia do meu inferno particular. Me levantei da cama, e fui até o banheiro, tirei o meu pijama e tomei um banho bem demorada, afinal, me apressar para chegar no inferno para que né.

            Fui até o closet, vesti uma blusa preta um pouco grande para mim, escrita “What The Hell” na frente, coloquei um short jeans curto, e um All Star preto de cano alto. Coloquei várias pulseiras para esconder as cicatrizes no meu pulso.

Eu não me orgulhava de fazer aquilo, eu sentia vergonha, mas era o único jeito de eu me livrar das dores emocionais, ou pelo menos esconde-las, cicatriza-las.

Prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo meio bagunçado. Passei uma maquiagem leve, só para tentar esconder o meu rosto inchado, que entregaria as minhas várias horas de choro ontem a noite. Peguei a minha mochila e sai do quarto.

             Desci as escadas silenciosamente, afinal, não queria a minha mãe fingindo se importar com o porquê de eu ter me atrasado. O meu pai eu até entendo, ele tenta ser um pai presente, tenta resolver os meus problemas, tenta me proteger, mas a minha mãe não, ela só pensa nela, e no que as amigas dela irão pensar. Ela torna as poucas conversas que nós temos completamente repulsivas.

            Quando cheguei na escola todos já estavam lá, e para o meu azar, a Selena e o grupinho dela também. Fui direto para o meu armário. Quando cheguei lá o Nick já estava me esperando.

            - Oi Nicky – eu disse lhe dando um beijo na bochecha.

            - Oi My – ele disse me observando mexer no meu armário. Só que ele não estava me observando, e sim observando o meu pulso, quando percebi, logo ajeitei as pulseiras, de modo que escondessem completamente os cortes.

            - Nick, eu ... – ele me interrompeu.

            - Porque você faz isso Smiley, por causa da Selena e dos amiguinhos dela? Eles não merecem que você sofra por eles. Você sabe disso, e se cortando você só vai provar para eles que você cede as provocações. My, você é mais forte que isso. Prove para eles que você não é fraca. Seja a Miles que eu conheço, a Miles que eu admiro. Seja a minha Miles. – ele disse segurando na minha mão.

            - Não é assim tão fácil Nicky! – eu disse deixando ele me abraçar, enquanto as lágrimas insistiam em cair.

            - Calma Miles – ele disse fechando o meu armário, mas ainda me abraçando.

            - Não quero ficar aqui – eu disse enquanto olhava para a Selena que estava entrando na sala, mas me encarando.

            - Vem, eu te levo para casa – ele disse puxando a minha mão.

            - Nick, melhor não. Você já faltou a escola várias vezes por minha causa, assim você vai acabar repetindo de ano – eu disse puxando a minha mão.

            - Quieta, você é a minha melhor amiga. Não vou deixar você sair nesse estado – ele disse abraçando a minha cintura, e me guiando até a saída da escola.

            - Vou parar porque, é praticamente inútil discutir com você! – eu disse me agarrando mais a ele.

            - Bom, vamos para a sua casa. Vou ficar lá com você, essa escola é uma droga mesmo – ele disse bagunçando o meu cabelo.

            Quando chegamos na minha casa, eu subi para o meu quarto, e ele veio atrás de mim.

            - E então, seus pais saíram de novo? – ele perguntou se sentando na minha cama.

            - Me diz um dia que eles não saem. E ainda deixaram a Noah para eu cuidar. – eu disse indo para o banheiro trocar de roupa.

            Quando sai do banheiro, ele estava com o meu caderninho na mão. O caderninho aonde eu desabafava.

            - Não sabia que você se sentia assim – ele disse olhando para mim, supostamente esperando a minha reação.

            - Pelo menos agora você sabe – eu disse me encostando na parede, chegar perto dele agora, só faria com que eu chorasse.

            - Você sabe que não precisa ser assim – ele disse enquanto me abraçava. Eu me sentia segura nos braços dele, como nunca me senti com os meu pais.

            - Na verdade, eu não sei mais de nada – eu disse me soltando dele, e indo me sentar na minha cama.

            - Desabafa comigo – ele disse vindo se sentar ao meu lado, e colocando a minha cabeça em seu colo.

            - Eu não aguento mais Nick, não aguento – eu estava chorando – Os meus pais, que deveriam me apoiar, me ajudar, não estão nem aí para mim, só pensam neles mesmos. Meu pai até tenta, mas a minha mãe, ela só pensa no que os amigos dela irão pensar de mim. E na escola, é um inferno. A Selena e aqueles amiguinhos dela só sabem me envergonhar, me xingar, me humilhar. Não aguento mais aquilo. Ninguém liga para o que eu penso, ou o que eu faço, todos estão tão concentrados em suas vidas, que não prestam atenção em mim – eu disse, não conseguindo mais conter as minhas lágrimas.

            - My, você sabe que não é assim. Seus pais te amam, e você sempre vai poder contar comigo, e também tem a Emy – ele disse fazendo carinho no meu cabelo.

            - Você não entende. Eu preciso de carinho Nick, carinho dos meus pais. Da ajuda deles, dos conselhos, mas eles estão tão absortos nas vidinhas inúteis deles, que não veem que a filha deles está com problemas – eu disse quase gritando.

            - My, você tem a mim, você sempre vai poder contar comigo, ok?! – ele disse olhando para mim.

            - Uma hora você não vai mais estar aqui. Vai para a faculdade, vai arrumar uma namorada, e vai me esquecer Nick. Nada é para sempre – eu disse olhando em seus olhos.

            - My, nós somos amigos desde quando éramos pequenos. Você não acha que isso é para sempre? Olha, você sempre vai poder confiar em mim, eu sempre vou estar aqui para você, entendeu? – ele disse segurando os meus pulsos, me impedindo de levantar.

            - Promete? Promete que nunca vai me abandonar? – eu pedi, já estava chorando novamente.

            - Claro que eu prometo minha bebê – ele disse me colocando em seu colo, enquanto me abraçava.

            - Eu adoro quando você me chama de sua bebê – eu disse me agarrando mais ainda a ele.

            - Ok, você sempre foi, e sempre vai ser a MINHA bebê – ele disse fazendo cosquinha em mim.

            - Não Nick ... para ... para por favor- eu disse rindo, ele me jogou na cama e continuou fazendo cosquinha em mim.

            - Eu paro, só se você parar de chorar – ele disse parando de fazer cosquinha em mim.

            - Tudo bem, eu paro de chorar. Bem, vamos comer alguma coisa, eu estou com fome – eu disse saindo do quarto, com ele atrás de mim.

            - Miley o que você está fazendo aqui a essa hora? ...

"E o que fomos e o que somos está escondido nas cicatrizes" 

                                       - Scars