Quando saí e dei de cara com a rua movimentada, me arrependi como sempre me arrependo de ter comprado um lugar pra morar tão no centro. Que seja, agora tinha que ir correndo para ver se conseguia encontrar James, o cambista que sempre quebra um galho pra mim. Sério, esse James mexe muito comigo... Não sei o que têm nele, mas talvez seja aquele jeito nostálgico de ser. Aquela cara de que nada atinge, mas que algo por dentro está quebrado. Sacudi minha cabeça e me pus a caminhar rapidamente. 

Essas ruas, essas pessoas que me olham esquisito... Esses carros que não param quando quero atravessar a rua. Já não bastava minha consciência estar pesando pelo fato de que não ia comprar meus baseados por um bom tempo, ia gastar todo o dinheiro naqueles ingressos bobos. Mas prefiro pensar que será um investimento. Na minha caminhada em meio à essas pessoas ocupadas e frenéticas comecei a sentir que o dinheiro estava prestes a cair do meu bolso, droga de calças... Mas caminhando rápido e mexendo nos bolsos sem olhar para cima não sei se é uma boa idéia. Que seja! As outras pessoas são tão ligadas em seus horários que vão cuidar para não colidirem em mim, afinal se caírem, grande coisa, é fácil levantar. Mas onde esse dinheiro pôde ter ido?! Levantei a cabeça para olhar, estava perto de onde teria que virar, vi um cara caminhando tão despreocupado, olhando para baixo, mas continuei meu caminho. Voltei a olhar para baixo, teria eu perdido meu dinheiro logo hoje? Logo quando mais preciso dele? E agora como eu ..... trombei com o maluco despreocupado, ah caramba, logo olhei pra cara dele, quando fui falar umas asneiras pra ele, me dei conta de como eram lindos aqueles olhos.... Eram azuis, e me encaravam de um jeito tão misterioso, aquele mesmo ar de nostalgia que podia sentir perto de James... então ele ficou me encarando com cara de desculpas, me precipitei e falei: - Tudo bem? Me desculpe, caminhei olhando para baixo, estava procurando um dinheiro e nem prestei atenção nas pessoas e ... acredita que o cara além de ter aquela cara de súplica teve a coragem de me interromper, disse ele: - Não foi nada, me desculpe, fui eu que bati em você.          
Mas enquanto ele falava não parecia querer mesmo se desculpar, parecia estar tão mergulhado em seus pensamentos, que era como se nem tivesse caído e ainda estivesse no chão. Aliás, ficar olhando naqueles profundos olhos me fez esquecer de levantar. Levantei sozinha, afinal, não seria aquele desligado que iria me levantar. Saí andando e quando olhei para trás ele parecia estar começando a levantar-se. Aqueles olhos, mexeram comigo mesmo. Fiquei tão intrigada. Mas seria melhor esquecer pois era a coisa mais provável de acontecer que não o veria mais, e uma paixão a certas alturas da minha ambição estragaria tudo.

Enfim, encontrei o lugar que tanto procurava. Era uma espécie de beco, as paredes daquele lugar eram vermelhas, mas um vermelho desbotado, sujo, de aparência rústica, ali naquele lugar tinha uma espécie de loja de cd's, na verdade aquilo era só fachada. O lugar era um ponto de drogas, e era lá que eu costumava comprar meus baseados. Já fui chegando, chamando o James e rindo... mas quando olho para o lado logo vejo...