Marrying With The Devil escrita por Giihrsouza


Capítulo 22
Epílogo - Endless Love


Notas iniciais do capítulo

Não vou deixá-los esperando mais. Espero que a espera tenha valido a pena.
Boa Leitura. :*



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Epílogo – Endless Love

Bella:

No Matter What – Papa Roach

                Eu estava em um sono pesado. Imagens e cenas desconexas pipocavam por entre meu sonho, me fazendo ficar agitada conforme elas mudavam. Tentei me desconectar delas, buscando uma nova linha de sonhos enquanto sentia meu sono ir embora lentamente. Tentei recuperá-lo.  Rolei na cama enquanto minha mente me alertava sobre algo. Uma consequência em se mexer indiscriminadamente em uma cama de casal que você dividisse com alguém...

                Abri os olhos no momento em que percebi o que estava errado.

                Edward não estava do outro lado. Me mexer desse jeito resultaria em um choque com ele, o que provavelmente o deixaria bravo comigo por alguns instantes.

                Olhei ao meu redor, tentando me localizar. Não demorou nem dois segundos inteiros. Um sorriso brotou em meus lábios enquanto eu me lembrava da cabine do Endless Love, que eu e Edward desenhamos há anos atrás. Suspirei, me sentindo realizada enquanto eu escorregava para fora da cama e botava os pés na madeira de lei que recobria toda cabine do nosso barco. Na minha cabeça, antes lotada de sonhos, agora só tinha um pensamento: havíamos conseguido.

Edward:

                A brisa marítima era, como sempre, um remédio para minha alma. Desde criança fui ensinado a apreciar as águas calmas e imprevisíveis do oceano a saber domá-las, ler informações através delas. Mas eu sabia, que meu amor pelo mar, por barcos e por tudo que o futuro certo me reservou nunca seria completo se não fosse à mulher adormecida na cabine do barco que desenhamos há tanto tempo atrás.

                O tempo foi um aliado para ambos. Agora, Bella tinha trinta e eu trinta e três, possuíamos ruguinhas de expressão, alguns fios brancos que Bella sempre culpava ao stress do nosso início de vida aqui no país tropical, e também experimentamos o nosso amor crescer com o passar do tempo, mesmo com todos dizendo que o relacionamento de longa data tende a esfriar, éramos uma exceção feliz ao caso.

                Enquanto eu ativava o piloto automático, me permiti ser emerso por lembranças.

                Com o dinheiro, primeiro compramos um apartamento no bairro de Botafogo, próximo a Marina da Glória, onde pretendíamos nos instalar de vez.  Bella sugeriu que já ficássemos bem localizados já que não teríamos carro e de onde morávamos, poderíamos usar o metrô.

                Claro que houveram os imprevistos. Mesmo comprando o pequeno escritório na Marina da Glória, mesmo fazendo uma empresa com o nome que escolhemos, tivemos dificuldades com os impostos sobre a empresa.  

                Depois de seis meses de dedicação total na empresa e sem grandes retornos, acumulamos muitas dívidas. Olhávamos-nos já com aquele olhar que perguntava no silêncio “fracassamos?”. Não. Nos reerguemos. Conseguimos empregos a parte da empresa e todo tempo livre dedicávamos ao nosso bebê, fazendo propagandas, comprando barcos para poder alugar para os passeios e principalmente, guardando dinheiro para a construção do nosso barco, o Endless Love.

                Foram tempos difíceis. Bella e eu chegávamos muito cansados para conseguirmos conversar sobre o dia de cada um, e parecia que tudo que falávamos era sobre o barco e a empresa. Não fazíamos mais amor. Estávamos cada vez mais distantes um do outro, completamente drenados de energia se quer para nos beijar por mais tempo do que um beijo amistoso.

                -Chega, Edward! – Bella uma noite disse. – Eu sinto sua falta! Não podemos nos destruir desse jeito só por causa de um objetivo idiota.

                Olhei para ela, desejando que ela fizesse essa discussão no sábado a noite, quando eu poderia escolher entre ficar acordado ou ir dormir. Não em uma quarta-feira, com a metade da semana toda ainda pela frente.

                -Olhe para mim! – Bella exigiu.

                Era difícil manter meus olhos abertos. Me concentrei.

                -Desculpe. Estou muito cansado.

                -É como sempre estamos. Cansados. Poxa, Ed... Eu... Eu... Acho melhor voltarmos para Miami. Sério. Nós tentamos, nós demos tudo para isso... Mas... Não estou pronta para desistir da gente para fazer isso dar certo.

                Abracei-a, puxando-a para meu peito e a deitando do meu lado.

                -Neste sábado a noite vamos ser só nos dois. E vamos fazer assim todos os sábados e caso acharmos mais brechas, dedicaremos a nós também. Não vamos desistir ainda. Ainda podemos tentar mais.

                Bella me beijou com fervor. Eu correspondi imediatamente, meu corpo completamente revigorado e nada cansado, subitamente. Experimentamos o corpo um do outro com cautela, até que, vencidos pelo cansaço, dormimos abraçados.

               

Nossos sábados e brechas do almoço fizeram a diferença. Conversávamos mais. Sabíamos de repente todos os nomes dos colegas de trabalho um do outro e a personalidade de cada um. Falávamos sobre o quanto estávamos gostando do Brasil e o quanto todos eram hospitaleiros e inclinados a nos ajudar com nossos problemas de português, mesmo depois de termos feito curso. Até arriscávamos conversar tudo em português.

                Nesse primeiro ano, houve um sábado do qual eu jamais vou me esquecer.

Save Me - Hanson

                 Saí as pressas do trabalho para pegar o ônibus e o metrô a tempo. Era sábado a final, e isso significava uma noite somente minha e de Bella. Parei para comprar um buquê simples de flores do campo para ela, nada comparado aos que eu costumava pedir para Sam entregar a ela no hospital, mas o que valia era o gesto. A moça balconista me desejou sorte. Sorri agradecendo, mesmo sabendo que eu já não precisava de sorte. Eu já a tinha.

                Claro, isso se aplicado à Bella. Eu realmente poderia usar um pouco de sorte para chegar ao metrô a tempo.

                Retirei o paletó do meu terno e o dobrei junto ao meu braço, mesmo com a camisa mais fina que pude achar e uma Hering por baixo, eu sentia o sol escaldar minha pele alva, fazendo-me sentir como se estivesse com febre. Senti uma gotinha de suor descer do lado do meu rosto assim que desci do ônibus abarrotado, mas não me importei. Corri pelas escadarias e comprei o bilhete rapidamente. O metrô chegara segundos depois. Corri para a estação de embarque e me comprimi contra a massa de pessoas que ali estavam. A porta do metrô não fechou, e eu estava a centímetros dela. O metrô começou a andar e eu comecei a rezar para nenhum engraçadinho me empurrar, caso contrário, eu jamais chegaria em casa com vida.

                Mas antes o metrô aberto tivesse feito seu trabalho. Eu quase morri quando cheguei em casa e me deparei com a surpresinha de Bella.

                O apartamento estava em meia luz. A penumbra das velas e do sol se pondo tornava a visão para a praia parecida com uma pintura. Pus meu paletó e minha pasta na poltrona mais perto e comecei a abrir os botões da minha camisa, tirando-a de dentro da calça, enquanto eu chamava Bella pela casa.

                -Aqui, meu amor. – Ela disse, pela distância, parecia que falava do nosso quarto.

                Me livrei da camisa assim que entrei no pequeno corredor que dava para o nosso quarto, a porta estava entreaberta.

                -O que está aprontando, amor? – Perguntei abrindo a porta. – POR TUDO QUE É SAGRADO O QUE É ISSO? – Perguntei com a mão no coração totalmente acelerado.

                Bella riu, se deliciando com meu susto. Seus lábios estavam vermelhos pelo batom, seu rosto estava esbranquiçado e losangos pretos estavam pintados do alto da sua sobrancelha até a altura da sua maçã do rosto.

                O pior não era a maquiagem. Era a roupa.

                Uma gola arredondada e toda ondulada estava amarrada no seu pescoço. O maio era azul e com pompoms vermelhos nos seios e no umbigo. Suas coxas estavam cobertas por uma meia arrastão vermelha e ela usava botas brancas.

                -Pensei que poderíamos trabalhar no seu medo de palhaços.

                -Ma-mas... Você disse... Que eles eram divertidos... Você está...

                -Divertida de uma forma só para você rir, meu amor. – Ela disse sedutora. E então engatinhou até a ponta da cama lentamente. – Vai me deixar aqui? Depois de toda a minha preparação? Até preparei algumas brincadeiras para a gente montar o circo literalmente...

                Não me ocorria na história que uma palhacinha poderia ser sexy em algum ponto da vida. Mas Bella havia conseguido de alguma forma. Engoli audivelmente, não mais de medo. Na verdade um pouquinho, pois a potência do meu desejo por ela nunca esteve tão alto antes... Peguei-a pela cintura e colei nossos corpos. A partir dali, já não havia mais no que raciocinar.

                Ri sozinho novamente. O sol da manhã já estava despontando no horizonte. Me sentei junto a grade na proa do barco para observá-lo.

Bella:

                -Do que está rindo? – Perguntei a Edward enquanto estendia uma xícara contendo café para ele.

                Edward pegou a xícara e se afastou um pouco da grade para eu me acolher em seu abraço. Eu me aconcheguei ali enquanto ele tomava um gole do café.

                -Estava lembrando do nosso primeiro ano aqui. – Ele comentou. – Principalmente do sábado do circo.

                Olhei para ele e corei de leve, eu mal acreditava que realmente fiz a encomenda daquela fantasia na sexy shop por causa de um artigo em um site feminista que ensinava maneiras de ter uma noite inesquecível com seu amor. O artigo era uma bosta, mas pelo menos eu conseguira curar Edward do medo de palhaços dele. Agora sempre que ele via um palhaço ele dava aquele sorrisinho torto e eu podia até ver seus pensamentos voltando para a nossa noite.

                Ele agora achava palhaços uma coisa muito sexy.

                Enquanto tomávamos nosso café, continuei a lembrar nos nossos primeiros anos aqui no Brasil.

               

Depois de um dia extenuante, o sol já tinha ido, deixando as estrelas no céu em seu lugar, mesmo que elas fossem quase invisíveis sob as luzes da cidade do Rio de Janeiro.

                Mas nem a bela noite estava melhorando meu humor. Desde que um homem me apalpara no ônibus e eu ter tentado denunciá-lo para o motorista sem sucesso, eu deixei de andar de ônibus. Não fora o primeiro incidente comigo. Eu era um ímã para canalhas e desastres.

                Primeiro um bebê simplesmente golfou no meu cabelo e isso justo no dia em que eu e Edward teríamos uma folguinha! Depois uma senhorinha começou a reclamar sobre as hemorroidas que ela tinha e como o sistema de saúde público havia pedido que ela voltasse outro dia, ela praticamente estava deitada no meu colo por não conseguir se sentar e como ela não calava a boca, sua dentadura escorregou de seu devido lugar e foi direto no meu colo.

                A velhinha se limitou a um sorriso completamente banguela e explicou.

                -Fiquei sem corega.

                E ai teve o moço metido o “Classique” e foi a gota d’água.

                Havia um mês mais ou menos que eu agora fazia caminhadas de mais de dois quilômetros para chegar em casa e hoje, graças a TPM, o trabalho escroto, a frustração da empresa e tudo mais, eu estava uma verdadeira bomba relógio. Prontinha para explodir.

                Foi então que, chegando no prédio eu vi Edward saindo da área da garagem que nunca havíamos usado.

                -Oi meu amor! – Ele disse me dando um beijo. – Como foi o dia.

                -Horrível. Mas isso não vem ao caso. Porque estava na garagem?

                -Ah... Eu... Bem, Emmett me ligou há uns dias atrás e eu conversei com ele, acabei soltando que eu estava sem carro aqui e estávamos tendo que nos virar a pé e então... Ele meio que... Me deu um carro de presente. Claro que nada muito caro, eu pedi a ele para ter juízo e escolher um modelo comum, para podermos pagar o IPVA...

                -Quero ver. – Exigi, interrompendo-o.

                Edward deu ombros e voltou à garagem e foi para onde estava nosso local com duas vagas, só que dessa vez, havia um Volvo prateado novinho em folha em uma delas.

                -E então o que acha? – Edward perguntou. – É uma belezinha de carro né? Bem menos chamativo que meu Vanquish...

                -Você chama ISSO de menos chamativo?

                -Olhe a sua volta, Bella. Ali mesmo tem um Porshe de modelo antigo . – Ele apontou para o carro dos vizinhos. – O meu é o mais simples daqui.

                -Esse carro aqui nesse país estelionatário não tem NADA de simples, Edward! Não vê? Não existe fabricação dele aqui. Esse modelo é no mínimo sessenta mil reais.

                Edward pôs a mão na cintura.

                -Não vejo porque isso seria um problema. E daí eu ter um bom carro para os padrões brasileiros?

                -E daí? E daí? – Perguntei furiosa. – Oras! Você nunca teve problemas com o transporte público daqui como eu. Você não foi apalpado. Eu fui! E sou obrigada a andar quilômetros só porque eu não tenho carro!

                -Não vejo novamente o que isso tem a ver no fato de eu agora ter um! Bella, não seja ridícula. Eu posso te dar carona, se é isso que você quer.

                -Não Edward. Não quero carona. Eu quero um carro e amanhã mesmo irei comprar um.

                No dia seguinte eu arrastei Edward pelo braço até uma concessionária que vendia modelos populares. A final eu também tinha direito a um “popular”.

                -Bella, sinceramente você não vai querer fazer isso agora, você está estressada, amor. Decisões como essas devem ser feitas com a cabeça fria... – Edward tentou me dissuadir.

                Nada feito.

                Entramos na concessionária e um atendente muito prestativo veio logo para o nosso lado.

                -Posso ajuda-los? – Ele perguntou.

                -Lógico. – Respondi sem delongas. – Quero um carro bom, com um preço acessível e que seja potente.

                Ele coçou a garganta, como se tivesse acabado de tomar um fora. Não entendi. Usei um tom casual oras. Edward me olhou com reprovação e eu devolvi o olhar do tipo: Não fiz nada de mais, só pedi o carro!

                O atendente me mostrou um modelo que denominou como “Classique”, eu imediatamente o corrigi falando “Classic”.

                -E quanto ta o “cacique” da tribo ai? – Perguntei apontando para o carro sem graça.

                -Está vinte mil, mas completo está trinta e cinco mil.

                -Ta de sacanagem que esse aspirante à carro dos Flintstones que só falta ter lugar para eu por o pé no asfalto e empurrar o carro custa esse absurdo! No meu país eu compraria isso por três mil. E por três mil você compra no máximo aqui um Iphone! Um IPHONE!

                O atendente ficou acuado na hora. Edward então interviu.

                -Me desculpe, ela está na TPM.

                -NÃO ESTOU. – Falei com ele. – Mas que merda. Trinta mil, cara! Não dou nem a pau! Enfie esse “cacique” ai no meio da sua oca, seu projeto de aborígene!

                Nunca mais fomos permitidos entrar naquela concessionária de novo.

                -Vai me dizer o porquê está rindo? – Edward perguntou ao pé do meu ouvido. – Agora é sua vez.

                -Me lembrando daquela vez em que eu estava de mal com a vida e decidi que queria um carro e quase caí no braço com o atendente. – Eu ri de novo.

                Edward não me acompanhou. Ele deu um tremelique.

                -Que foi?

                -Tive medo de você naquele dia.- Edward disse rindo nervoso. – Mas aquela noite... Nossa foi intensa.

                -Você só pensa em sexo, não é mesmo?

                Edward riu.

                -Não, às vezes eu penso em você também. E com roupas.

                Suspirei, saindo do clima de brincadeiras e voltando ao clima de saudosismo. Não no sentido real de “saudades” daqueles tempos. Felizmente Alice logo se mostrou ser uma irmã decente e me dera um carro também, mas é claro que ela tivera de me dar um carro no qual eu entraria todo dia e me lembraria dela... E então ela me deu o Novo Fusca conversível e amarelo canário. Algo do tipo que nem se eu estivesse esclerosada da cabeça eu compraria para mim. Alice acertou em cheio. Todo dia eu entrava no carro e me lembrava dela. E isso me motivava, porque quanto mais cedo minha empresa alçasse voo, mais cedo eu me livraria do carro típico dos seriados americanos das patricinhas.

                Hoje em dia, eu ainda usava o carro que Alice me dera, mesmo não gostando dele nem um pouco. Mas mesmo com dinheiro suficiente para adquirir um Mustang GT aqui no Brasil, com todos os impostos de tirar o rim para vender no mercado negro, eu ainda não havia conseguido me livrar do Amarelão. Eu criara um laço emocional com ele, que nem eu mesma sabia explicar.

                Acariciei, inconscientemente, o chão de madeira de lei envernizado do nosso barco. Fora só depois de conseguirmos construí-lo que nossa empresa realmente entrou para o mercado.

                Todos os clientes que buscavam uma lua de mel náutica amavam ouvir a história do barco Endless Love. A história era sobre um casal que foi obrigado a se casar, e eles se odiavam a principio. Seus pais, decididos a fazer o amor deles florescer, ordenou que os dois construíssem um barco juntos, prometendo que ao final do processo, caso o barco ficasse perfeito, eles não mais obrigariam os jovens a se casar.

                Animados, começaram a projetar. Dias depois, o projeto foi entregue e o barco foi montado de acordo com o que havia desenhado os jovens. O barco fracassou e afundou no segundo em que o puseram na água.

                Os jovens começaram a se culpar e brigar. Passaram dias brigados um com o outro e o dia do casamento se aproximava.

                Foi então, que faltando um mês para o casamento, engoliram o orgulho que ambos tinham, decidiram retomar aos projetos e ver no que tinham errado, se esforçando para ouvir um ao outro, para compreender as ideias um do outro e assim, montar o barco. Porque para se fazer o barco perfeito, era necessário entrosamento, era necessário cooperação.

                Deixando os preconceitos de lado, e passando a serem mais pacientes um com o outro, começaram a se entender e a se conhecerem melhor de verdade. Até que uma noite em que trabalhavam arduamente no projeto, eles descansavam e a conversa intensa os levou ao estranho sentimento de que talvez, eles pudessem deixar a noite de trabalho de lado.

                Passaram a noite conversando e no final, se beijaram.

                Os jovens não entenderam, mas em seus corações, já não havia mais ódio e isso os surpreendeu.  Era um sentimento desconhecido e forte, mais do que qualquer livro já descrevera.

                Eles estavam oficialmente se amando.

                Voltaram ao projeto faltando uma semana para entrega-lo. Não queriam se casar, não obrigados. Com perfeição, refizeram o projeto e no fim da semana, dias para o casamento, entregaram-no para ser construído.

                O casamento foi adiado para que o barco fosse construído. Os pais do jovem já viram a diferença e esperavam que, mesmo com o barco pronto os jovens ainda se cassem e assumissem a empresa de barcos juntos.

                O barco ficou pronto, e com perfeição, flutuou na água.  E antes que os pais os obrigassem a se casar usando o amor deles como desculpa, pegaram o barco que representava o amor deles e partiram para bem longe, onde poderiam ser felizes sem a interferência dos pais de ambos.

               

                Era uma história de amor praticamente impossível, mas era verdade. Era basicamente, claro que com alguns detalhes a mais, a minha história e a de Edward. Conta-la sempre nos dava nostalgia, e também nos fazia ver o quanto éramos especiais por possuir uma história tão poderosa e ainda sim, conseguir mantê-la viva.

                Foi em um dia ensolarado do verão do Rio de Janeiro, com o ar condicionado rugindo quase silenciosamente na parede, que Edward fora ao escritório praticamente quicando de ansiedade para me atualizar das novidades.

                Mas eu estava ocupada contando a nossa história a mais um casal. Eu já finalizava quando vi Edward parado à soleira da porta. Abri um sorriso espontaneamente, sem conseguir me conter. O casal se virou junto e viu Edward parado, com seu sorriso torto de tirar o fôlego.  O tempo havia beneficiado ele. Apesar das leves curvas de expressão que se acentuavam levemente enquanto ele sorria, seu rosto ainda permanecia lindo, mais maduro, mais másculo. Seu cuidado em correr todas as manhãs pela orla da praia também condicionaram a ele um físico excepcional, quando geralmente muitos já teriam se acomodado e engordado. Seus cabelos, antes revoltos, agora estavam mais curtos mas ainda me permitia passar meus dedos por entre os fios sedosos e puxá-los de leve...

                -Boa tarde, meu amor. – Edward me cumprimentou. – Boa tarde, apaixonados. Gostaram da história? – Ele perguntou ao casal. Sempre o chamávamos de apaixonados. Como nos referíamos ao casal da história.

                -Boa tarde. – Eles cumprimentaram junto. Então a mulher prosseguiu. – Sim, estamos gostando muito. A Bella acabou de nos contar sobre o casal do Endless Love.

                -Eu também amo essa história. – Edward comentou, indo até mim e afagando meu ombro, em sinal de companheirismo. Eu sabia que se estivéssemos sozinhos, ele me beijaria imediatamente, mas era necessário compostura no ambiente profissional.

                -Mas não é verdade, Ana. – O noivo disse a noiva. – Coisas assim só acontecem nos livros.

                -Mas o que importa é a magia, Marcos. – Ela retrucou.

                -Na verdade... – Edward os interrompeu casualmente. – É verdade a história.

                Olhei para ele, imediatamente sem entender. Nunca contávamos que éramos nós o casal da história.

                -Edward... – Eu tentei interrompê-lo.

                -Vamos contar a eles, meu amor. – Ele me disse afagando meu ombro mais uma vez. E depois olhou para o casal. – Fora alguns detalhes que acrescentamos para a história ficar mais “bonita” – Edward fez as aspas com os dedos. – Essa história é minha e da minha amada aqui.

                O casal se entreolhou, confuso. Sem saber se acreditava em nós.

                -Nossos pais são donos de uma das maiores firmas de transporte marítimo dos Estados Unidos da América. Porém, ambos queriam uma empresa forte e que não houvesse concorrência para batê-los... Então, eles decidiram casar seus filhos, ou seja, casar a Bella a mim.

                Ana, a noiva olhou para Marcos, seu noivo e novamente para nós dois.

                -Construíram o barco do nada?

                Foi minha vez de falar.

                -Não exatamente do nada. Montamos essa empresa, juntamos dinheiro, e entregamos o projeto que fizemos juntos para uma montadora nacional. Mas inspecionamos todo processo. Não é muito fácil montar um barco da qualidade do Endless Love sem a tecnologia das montadoras. – Falei casualmente. – Mas tudo o que contamos é verdade, o projeto foi feito por nós, quando já estávamos muito apaixonados. Mas já estávamos casados na época. O que muda da história real para a que contamos, é que para não nos casarmos, tentamos um infernizar a vida do outro. Mas não deu certo.

                Os noivos riram.

                -Deveriam contar a história de vocês sem edições então. Aposto que ficaria menos melosa. – O noivo comentou.

                Edward e eu nunca tínhamos cogitado isso, mas anotei mentalmente discutir isso mais tarde com ele.

                -Iremos ver isso. Então, ficam com o pacote? – Perguntei.

                -Sim, ficamos e gostaríamos... – O noivo disse animado, pela primeira vez desde que entraram na sala.

                Depois do casal deixar a sala com tudo acertado, Edward sentou-se na mesa e me chamou. Eu fui aconchegada no seu colo com carinho e ele beijou meu nariz, minha maçã do rosto, meu queixo e finalmente, minha boca.

                Nosso beijo foi breve. Edward o terminou cedo demais, e antes de eu reclamar, ele pôs um dedo entre meus lábios, me impedindo de falar.

                -Tenho uma notícia.

                -Diga. – Eu disse.

                Edward pegou a pasta que outrora segurara e que eu não havia reparado e retirou de lá um envelope pardo.

                -Fui a uma empresa hoje, discutir sobre o plano de uma possível parceria para montarmos nossa fábrica... E adivinha a resposta?

                Meu coração parou por dois segundos enquanto eu absorvia a novidade.

                -Ta falando que...

                -Eles aceitaram e a partir de hoje, a nossa empresa alcançou outro nível. Bella, nós CONSEGUIMOS!

                Não reagi imediatamente, Edward me abraçou e me sacudiu, e então eu gritei de alegria, uma alegria libertadora. Depois de anos de ralação, havíamos finalmente conseguido chegar ao estágio que sonhávamos.

Between Us – Peter Bradley Adams

                -Bella. – Edward me chamou.

                -Hm. – Respondi saindo do meu devaneio.

                As ondas batiam levemente contra o casco do Endless Love, o céu já estava vermelho com os últimos raios do sol. Edward estava como eu sempre o acostumei a vê-lo, os cabelos mais curtos, mas indomáveis, a pele morena de sol e com gosto de sal por causa da maresia do tempo que passamos no mar. Tive vontade de beijá-lo, mas me contive para ouvir o que ele queria.

                -Quer casar comigo?

                Olhei para ele, pega de surpresa, sem saber como responder por um momento.

                -Já somos casados.

                -Não, quer dizer... – Edward me puxou para mais perto, me aconchegando em seu peito, mas com uma distância pequena, para que eu pudesse observá-lo. – Sei que somos casados, mas de alguma forma, ainda não parece oficial para mim. Para mim, eu ainda sinto como se você fosse minha namorada. Quando nos “casamos”, era uma outra situação, outra vida... Meus sentimentos mudaram, eu mudei...

                Edward não falou mais, deixando suas palavras no ar. Eu estava feliz que ele pensasse assim, pois também me sentia assim, em partes... O casamento que tivemos no passado praticamente só era representado pelas alianças que nunca tiramos. Girei ela no meu dedo anelar esquerdo.

                -Não podemos nos casar duas vezes. É contra a lei.

                -Mas se pudéssemos, alias, se se quer fossemos casados. Casaria comigo?

                -Claro que casaria. – Respondi. – Que ideia.

                Permaneci em silêncio, esperando que Edward finalmente explicasse o que ele tinha em mente, mas ele permanecia quieto. Segui seu olhar. Estava direcionado à Copacabana que já se enchia de pessoas em branco empunhando engradados de cerveja, garrafas de champanhe e vodca. O ano novo era um evento especial, o palco no extremo da praia, as barcas de fogos e as embarcações que já se amontoavam, buscando um espaço privilegiado para seus passageiros poderem ver o espetáculo de quinze minutos de fogos prometidos para esse ano.

                -Porque da pergunta? – Perguntei, pressionando-o.

                Edward sorriu torto e olhou em meus olhos. Por um instante, me perdi nas orbes azuis, em suas duas pintinhas mais escuras na sua íris direita que tanto me hipnotizavam.... Foi necessário que eu escolhesse outra parte do seu rosto para olhar para manter meus pensamentos coerentes.

                -Só divagando.

                Esperei por uma resposta esclarecedora que não prosseguiu. Já ia abrir a boca e cobrá-lo quando Edward se levantou e estendeu a mão para mim.

All I Ever Wanted – Brian Mello

                -Você me ama? – Edward perguntou.

                -Você sabe que sim.

                -Acima da razão?

                -Acima da razão.  Edward quer me explicar...

                -Pegue a minha mão. – Ele me interrompeu, ordenando.

                Peguei-a e ele me puxou para que eu me levantasse.

                -E se pudéssemos nos casar agora, aqui, no meio do mar, no meio de Copacabana, você casaria?

                -Já disse que sim! Agora me explica...

                Edward me ignorou novamente e foi até a grade metálica e assobiou alto usando uma das mãos, uma habilidade que eu desconhecia dele. Olhei ao redor, os barcos pareciam mais perto no nosso do que antes, já ia comentar o fato com Edward mas fui interrompida pelo choque.

                Dos barcos próximos, Alice e Jasper, Emmmett, Rosalie e a pequena Lilly saíram todos vestidos de branco e com sorrisos no rosto. De outro barco, Renée e Charlie, Carlisle e Esme e um padre apareceram na popa do barco.

                Foi só então que liguei o que estava acontecendo.

                -Edward... – Falei sem fôlego.

                -Meu amor,  -Edward começou. – Quisera eu poder me casar com você do jeito certo. Mas como você mesma me disse, é contra a lei. Por isso, chamei o padre e nossos familiares hoje aqui para testemunharem o quanto meu amor por você evoluiu. Para a lei, será uma renovação de votos, mas para nós, será a promessa verdadeira. O que acha?

                Balancei a cabeça, acenando positivamente, sem conseguir fazer mais nada do que isso.

                Edward sorriu e fez sinal para que começasse a cerimônia.

                -Bella – Alice me gritou de seu barco. – Não esqueça seu buquê!

                Sorri e fui até a grade e Alice me jogou o buquê. Graças a pouca distância eu o peguei perfeitamente.

                - Estamos aqui hoje para celebrar o amor de Edward e Bella... – O padre celebrava em inglês perfeito.

                Mas eu não entendia ou assimilava suas palavras. Eu não compreendia o ato cerimonial, ainda perdida no fato de estar realmente me casando com Edward e não em um sonho, como dos tantos que tive sobre um dia poder fazer algo assim.

                Só me despertei quando Edward começou a falar seus votos.

                -Isabella – Ele disse.  – Me lembro de no primeiro dia que nos vimos no Resort ter achado você sem graça e sem sal, com olhos castanhos comuns, pele translúcida... Como se você fosse como qualquer outra garota. Mas eu me enganei. Seus olhos, meu amor, são o contrário do comum. São de um chocolate ardente, que parece ser o espelho da sua alma. Tudo que você é e sente, está neles. Sua pele continua branca como a lua, mas eu não conhecia a complexidade de sua extensão e no quanto eu um dia amaria tê-la junto a minha... Bella, nosso amor pode não ter sido como num conto de fadas de “Era uma vez”, mas tenha certeza, de que teremos o melhor dos melhores “viveram felizes para sempre”. Eu te amo.

                -Decorou isso né? – perguntei emocionada.

                -Claro. – Edward piscou um olho. – Sua vez. Me surpreenda.

                -Com prazer.

                Cocei a garganta antes de começar.

                -Caríssimo cabeçudo, - Disse sorrindo. – até hoje me pergunto como Dona Esme aguentou passar por um parto normal para te ter, e tenho medo só de pensar na recuperação necessária... – Todos riram, Edward me olhava incrédulo. – Mas sabe? Eu te amo tanto... Sei que te amo antes mesmo de saber que era possível sentir esse amor. Te odiei, mas meu amor por você é infinitamente maior do que o ódio. E é por isso que quando falo em futuro, eu só penso em um contanto que você esteja comigo para me amar e me respeitar. Meu amor é tão grande, que eu até mesmo ignoro o fato do nosso filho poder vir a ter um cabeção e o fato de eu talvez ter de usar cadeira de rodas pelo parto... Eu só sei que quero ter uma parte nossa dentro de mim, quero ter uma família com você e... Nossa, eu te amo e sim, Edward, eu aceito ser sua. Nessa vida e na outra que teremos no céu. Eu te amo.

                E antes mesmo do padre proferir sua ultima frase e mandar que nos beijássemos, a minha atração e a de Edward nos venceu e ambos nos atracamos em um beijo longo, apaixonado e demorado. Que selava o compromisso que havíamos assumido antes mesmo de sabermos que nos amávamos.

                O compromisso de que ficaríamos juntos. Enquanto nós dois vivêssemos.

                


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Notas finais do capítulo

Nem sei direito o que dizer, só sei que sou PÉSSIMA em despedidas.
Estou como sempre fico. Feliz e triste ao mesmo tempo em terminar uma história. Feliz pelo óbvio: consegui chegar ao final, consegui cumprir a meta fazendo mais de 20 capítulos e chegando a um resultado que considero ótimo e reconhecido.
Estou triste pela despedida.
Escrever sempre será uma parte de mim que não conseguirei abandonar nunca, nem pela Medicina. E talvez a pior parte desse ano, fora os estudos enlouquecidos, esteja na abdicação do tempo que antes era reservado para minha escrita.
Mas quero que saibam, que mesmo quando eu abria o notebook só para a MWTD e não conseguia escrever, que nunca pensei em abandonar a fic. Como sempre disse, que tenha apenas um leitor. Mas esse leitor será agraciado com toda história.
Se vocês tem um sonho, como o meu de escrever, e tem que fazer dele coisas secundárias, por favor, não desistam, assim como eu não desistirei nunca de escrever.
Mas só serei Médica, porque sei que tem milhares em hospitais que precisam de mim nessa função.
Obrigada a todos de verdade por terem acompanhado a história. De boa, eu nem sei direito como, mas de alguma forma, vocês gostam do que eu escrevo e me incentivaram sempre para que eu buscasse a perfeição e desse tudo de mim para fazê-los ao menos desejar em uma linha mais capítulos.
Obrigada pelo carinho imenso.
Conto com as orações e os dedinhos cruzados por mim nesse estágio de vestibular. Dia dois de junho é a minha primeira prova. Por favor, me apoiem em mais esse projeto.
E em retorno, prometo voltar com novas histórias, ainda que não Fanfics, mas nas livrarias [tomara a Deus].
Eu amo vocês de paixão meeeeeesmo por terem ficado comigo por mais de um ano aguentando essa Fanfic louca que criei.
E também, como forma de demonstrar o quão fodas vocês são, criei um extra com Curiosidades sobre a Fic. Vale a pena ler. É hilário o processo de formação dessa Fanfic.
Amo vocês.
Obrigada
E obrigada.
Deus os abençoe sempre. E até loguinho.
Beijs,
Giihrsouza.