Marrying With The Devil escrita por Giihrsouza


Capítulo 21
Capítulo 20 - Pontas Soltas


Notas iniciais do capítulo

Tipo assim... Faz um milênio eu sei. Mas sofri para conseguir tempo e consegui terminar!! kkk, vamos lá, carinho e sentem-se com um a fome de ler redobrada. O Capítulo está imenso.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/172704/chapter/21

Capítulo 20 – Pontas Soltas.

Edward:

                O bater do martelo tornou tudo definitivo. Olhei para Bella sentindo-me completamente leve e livre. Como se tudo que antes nos prendia e nos atrapalhava em nossa história de amor de repente fosse quebrado, fosse deixado ali, naquele tribunal.

                Beijei-a sem me importar com as câmeras que de repente pipocaram em flashes e as câmeras apontadas para nós. Beijei-a sentindo-me aliviado porque havíamos sobrevivido, havíamos resistido. Nosso amor era mais forte.

                Fomos retirados da sala escoltados e descobrimos que um pequeno sistema de segurança havia sido organizado para tirar a todos os participantes do julgamento do tribunal. Renée havia sido retirada, mas ninguém sabia para que hotel ela fora. Não encontramos Chotas no meio da confusão para perguntar. Saímos pela lateral do tribunal e entramos em um carro preto.

                Dentro do carro eu continuei a beijar Bella. Beijei seu pescoço, mãos, cabelo... Bella estava de olhos fechados, e parecia distante. Beijei-a nos lábios e não fui recepcionado com um beijo de volta. Acariciei sua têmpora.

                -O que houve? Porque está tão quieta? – Perguntei baixinho, só para ela.

                Bella suspirou.

                -Apenas pensando.

                -Algo errado?

                -Não. Não se preocupe. Estou bem.

                Sem querer pressiona-la, me contive mordendo meu lábio e esperando ansiosamente para chegar em casa.

[...]

                Assim que atravessei a porta e entrei na casa tão familiar senti a brisa da maresia banhar toda sala com seu cheiro fresco, como se o mar estivesse nos recepcionando com as boas notícias. Atravessei o espaço que tinha a sala de TV, a pequena mesa de jantar e adentrei na cozinha, onde achei na geladeira duas long neck Heineken.

                -Quer uma cerveja? – Perguntei alto o suficiente para Bella me ouvir.

                -Pode ser.

                Peguei-as e as abri, joguei as tampinhas fora e fui me juntar a Bella. Pelo som da sua voz, presumi corretamente que ela estaria na sala de TV.

                -Aqui. Vamos brindar em homenagem a você. – Disse lhe entregando a garrafa.

                Bella bateu levemente sua garrafa na minha e se sentou, a espelhei e depois de dar um gole na minha cerveja resolvi pressioná-la.

                -Porque está com essa cara de quem comeu e não gostou?

                -Não estou com cara de quem comeu e não gostou. – Defendeu-se e tomou um gole da sua cerveja.

                -Está sim. Você deveria estar feliz. – Falei exasperado. – Ganhamos o caso, você ainda saiu por cima com uma grana preta de indenização!  O que mais está te segurando? É o fato de não termos achado Renée? Quer que eu ligue para Chotas e descubra o hotel em que ela está?

                Bella balançou a cabeça negativamente.

                -Então me responda o que há de errado.

                -Não tem nada de errado, já te disse. – Bella disse e olhou para mim. – Só estava pensando no dinheiro da indenização e em tudo que ouvi hoje.

                Esperei que ela concluísse seu pensamento e depois de mais um gole na cerveja, Bella se recostou no sofá.

                -Não quero mais depender de Charlie e nem da empresa da família como vim fazendo minha vida toda. Sempre achei que exigindo cartões de crédito e dinheiro seria uma forma de fazê-lo pagar pelo amor que não recebi. Só que amor não se compra, e eu percebo isso agora. Tardiamente.  –Bella suspirou. – Tenho dezoito anos, e a raiva que senti pelo meu pai sempre me prendeu. E eu não quero viver desse jeito mais.

                -E o que você quer fazer?

                -Eu vou precisar de você.

                -Sabe que sempre estarei com você.

                Bella mordeu o lábio.

                -Quero usar o dinheiro para abrir um negócio. Só meu e seu. Um negócio que a inicio pode ser de aluguel de lanchas e escunas, sabe? Para passeios e para datas especiais. Mais tarde, quando fizermos uma grana melhor, poderíamos quem sabe montar uma construtora de barcos e daí seguiríamos sempre crescendo.

                -Só tem uma coisa... –Eu disse não querendo desestimulá-la, mas precisando frisar aquele ponto. – Não somos graduados. Sabe, para um negócio dessa proporção de montar barcos precisaríamos no mínimo ser administradores, melhor ainda se fossemos engenheiros e designers especializados em barcos... Não haveria muito do capital para ser usado depois que pagássemos todos esses cursos. Não são nada baratos.

                -Pensei em uma solução para isso também. – Bella tomou mais da cerveja, eu a imitei. – Não abriríamos o negócio aqui.

                -E onde iríamos abri-lo?

                -No Brasil.

Bella:

                Ter Edward ao meu lado e concordando com meus planos era simplesmente muito bom para ser verdade. Tive medo a princípio de ele não querer se separar tanto de sua família, a final seus dramas familiares eram mínimos e não havia motivos o suficiente para que ele odiasse ou desgostasse de alguém de lá. Porém ele me disse que o lugar dele sempre seria ao meu lado e a distância seria algo que ele e a família lidariam em prol de sua própria felicidade.

                Mesmo depois de termos esclarecido tudo da nossa nova meta, não conseguimos ir mais a fundo, pois havíamos adiado muito nossa comemoração. Tomei a liberdade de abrir o champanhe que tinha no armário e servir-nos. Edward tomou a sua em um gole e eu o espelhei, enquanto sentia minhas pernas deixarem o chão e seus braços me tomarem para si, me levando para nosso “ninho de amor”.

[...]

                Ergui meu corpo apoiando-me no cotovelo para observar o rosto de Edward melhor. Ele estava de olhos fechados, parecia dormir profundamente. Havia alguns traços de suor na lateral da sua cabeça ainda, resultado da nossa intensa noite.

                Era incrível como a saudade tornava tudo mais intenso. Me vi desejosa novamente por seus lábios e o beijei de leve, fazendo Edward gemer, arrastei meus lábios até seu lobo da orelha e o mordisquei.

                -Eu preciso descansar. – Edward disse ainda de olhos fechados. – Preciso me alimentar... Não sou uma máquina de sexo.

                Havíamos tido diversos ápices na outra noite, eu entendia que por causa disso, Edward estava um caco. Mas ainda sim...

                -Eu sei, meu querido. Nem todos são como Christian Gray.

                Edward abriu imediatamente os olhos e me encarou.

                -Quer começar apanhar agora enquanto fazemos sexo?

                Revirei os olhos.

                -Não me refiro a isso. Quero dizer que ele consegue ter mais de seis orgasmos e ainda pedir mais.

                Edward revirou os olhos.

                -Nenhum homem consegue fazer isso de verdade.  – Ele contra argumentou.

                -O Mister Gray consegue... Mas se você quiser bater ele na cama, pode tomar uns azuizinhos para te ajudar. Eu não me importaria. – Falei segurando o riso ao máximo enquanto me referia ao famoso Viagra.

                Edward fechou os olhos.

                -Isso vai ter troco, assim que eu restaurar minhas forças você vai ter desejado nunca ter me chamado de inválido na cama.

                -Sei. – Eu finalmente ri um pouco. – Vai querer o que para café da manhã?

                -Você não sabe cozinhar. – Ele disse.

                -Mas sou capaz de encher uma vasilha com cereal e leite. Aceita?

                -Só porque eu realmente estou inválido agora. Aceito.

                Levantei-me da cama e fui buscar nosso café da manhã ainda com um sorriso nos lábios, sabendo que nada do que eu disse era verdade. Edward não precisava ser em nada como Christian Gray. Ele só precisava continuar me amando além da razão e já seria mais do que uma benção. Mas ainda sim, provoca-lo sempre era engraçado demais para resistir.

                Preparei duas vasilhas com cereal e piquei alguns morangos também, adicionando leite por ultimo e voltei para o quarto.

[...]

                No dia seguinte cuidamos da parte prática do nosso plano, como por exemplo a faculdade que estudaríamos. A outra parte da grana que era destinada aos negócios foi depositada em uma poupança e descobrimos que no final dos quatro anos de curso ainda teríamos um pequeno lucro.

                À noite, Alice me ligou finalmente dando o ar da graça e pedindo para que eu me juntasse em um jantar somente de mulheres com nossa mãe. Alice também queria saber exatamente o que houve, mas para me desviar do assunto pesado ao telefone pedi a ela que tivesse paciência e esperasse até o jantar para discutirmos melhor.

                Edward imediatamente concordou com meus planos e me vesti sob os olhares gulosos dele. Para que ele não ficasse sozinho, sugeri que ele fosse visitar sua família e quem sabe tentar entender o que houve para seu pai ter feito o que fez. Eu sabia que aquilo ainda o incomodava e queria que no meio tempo em que estivéssemos aqui cursando nossas faculdades pelo menos deixássemos tudo em pratos limpos.

                Peguei minha BMW e fui ao encontro da minha irmã e da minha mãe, já me sentindo animada a cada milha que avançava, a final quantas vezes eu havia confabulado noites como essa? Mas ainda sim, em minha mente, havia um espaço que se preocupava com Edward.

Edward:

                Não havia planejado passar a noite sozinho, mas tirar de Bella a oportunidade única de se reunir com sua irmã e mãe era egoísmo demais da minha parte. Por outro lado, o conselho de Bella sobre ir ver minha família girava pela sala, tentadoramente, a espera apenas que eu o agarrasse.

                A minha família e eu sempre fomos muito unidos e raros eram os momentos em que não conseguíamos resolver tudo com uma reunião de familiar. Uma das poucas confusões que não houve muito acordo foi quando meu pai me comunicou que eu precisaria me casar com Bella. Movido mais por conta do bom histórico em resolução de problemas que minha família tinha e somado à minha curiosidade, peguei as chaves do Aston Martin e dirigi atravessando Miami até chegar ao bairro em que morávamos. Demoraria vinte minutos, mas não me importei. Era o necessário para por minha cabeça no lugar.

[...]

                Assim que estacionei meu carro próximo à entrada, onde geralmente os visitantes estacionavam, fui recepcionado pela minha mãe que me abraçou demoradamente.

                -Parece até que esqueceu a família. – Ela falou saudosa.

                -Me desculpe. Muito a resolver.

                Ela mordeu o lábio.

                -Está tudo bem no seu casamento?

                Sorri e a abracei.

                -Sim. – Respondi sorrindo - Senti sua falta. – A verdade das palavras tingiu cada letra do que disse.

                -Eu também, meu querido.

                Esme finalmente me conduziu até a sala onde ela pediu a empregada para fazer o meu suco favorito e que só mesmo ela conseguia fazer: abacaxi com hortelã.

                -Emmett está em Londres ainda? – Perguntei para puxar papo.

                -Sim, ele está começando a se ajeitar para morar por lá, junto com a família de Rosalie. Vocês estão me deixando! Essa casa fica vazia sem vocês.

                Suspirei.

                -Virei sempre que der, eu prometo.

                -Porque diz sempre que puder? Pretende se mudar?

                Mordi o lábio e enquanto o meu suco era servido, contei a Esme meus planos junto com Bella de morar no Brasil depois de nos formamos montando nossa própria empresa. Os olhos da minha mãe ficaram marejados imediatamente.

                -Não acredito que irá me deixar também.

                -Mãe, não fale assim. Eu preciso dessa independência tanto quanto Bella. Sério, prometo escrever sempre, falar com você pelo Skype... Mas não posso continuar dependente pra sempre do dinheiro de meu pai. Quero crescer com meu próprio suor. Não sente orgulho disso?

                -Claro que sinto. Mas ainda sim... Vou sentir sua falta.

                -Eu também vou sentir sua falta.

                O momento com minha mãe foi encerrado com um abraço apertado e que foi interrompido minutos depois com a chegada do meu pai.

                -Estava te esperando. – Ele disse. – Meu amor, se nos der licença, Edward e eu precisamos conversar.

[...]

                No escritório do meu pai, ele pediu que eu me sentasse em uma das duas cadeiras acolchoadas que tinham em frente a sua mesa onde atrás dela ficava a cadeira preta de couro e encosto alto. Estar ali me lembrava de quando Emmett e eu nos metíamos em encrencas.

                Carlisle se sentou e suspirou.

                -Sei que está chateado por ter me visto no tribunal depondo contra Bella.

                Esperei que ele continuasse. Mas meu pai não prosseguiu.

                -Só quero entender o motivo de você ter feito o depoimento contra ela. – Respondi tentando mascarar a raiva que isso me causava sem muito sucesso.

                -Não fiz porque desaprovo o casamento de vocês, se é isso que você pensa. Fui eu quem o pedi para fazê-lo e seria hipocrisia fazer isso.

                -Então por quê?

                Meu pai fechou os olhos e entrelaçou os dedos em cima da mesa.

                -Foi muito difícil decidir agir daquele jeito, a final eu te pedi, implorei que casasse com Bella por interesse e seria hipocrisia minha ir lá e simplesmente dizer o quão errada ela era para você. Na verdade, eu sabia que vocês estavam juntos de verdade e temia que, se eu prosseguisse, talvez você nunca mais fosse falar comigo.

                Carlisle abriu os olhos e me olhou.

                -Mas eu estava enganado, felizmente. Estou muito feliz que você tenha vindo até aqui.

                -Porque não foi até mim se explicar? Preferia correr o risco de talvez me perder para sempre? E porque você fez isso? – Joguei para ele todas as perguntas que me atormentavam.

                -Houve um rebuliço na empresa desde que Charlie fora baleado. Todos começaram a especular com quem deveria ficar sua porcentagem em ações e como agiriam para tirar Jannet  de se quer pensar em assumir alguma parte da empresa. Queriam dar a ela uma boa quantia de dinheiro para que ela sumisse e não nos incomodasse. Só que Charlie não morreu. E seu coma deixou tudo desestabilizado.

                “Mas eu não estava complacente com nada daquilo. A final, Charlie tinha Bella e Alice e eu sabia que de acordo com seu testamento, seria Alice quem levaria parte majoritária da empresa e não Jannet. Alice veio me procurar no dia seguinte para conversar.”

                -Alice? – O interrompi pasmo.

                -Sim. – Meu pai respondeu. – Também estranhei. Achei se tratar do testamento e das investidas que o conselho coordenador das indústrias estava tentando orquestrar. Mas não. Alice tinha um plano maior e ousado para que Bella pudesse ganhar nos tribunais contra Charlie e seus advogados.

                “Posso confiar em você, Carlisle?”, Alice perguntou.

                “Claro”, Carlisle respondeu, hesitante.

                -E então ela me pediu para depor contra Bella no tribunal. Eu imediatamente a repreendi, a final, eu não faria nada para prejudicar Bella, pois sabia que isso viria logo a te atingir e também a disse que você nunca permitiria.

                “Tire ele do estado se possível, mas precisamos fazer tudo ficar ruim antes de tudo melhorar.”, Alice respondeu, “É importante que tudo fique pior antes de melhorar...”

                “E se não der certo? E se sua irmã acabar na cadeia feminina estadual por causa do seu plano?”, Não pude deixar de perguntar.

                “Vai dar certo”, Alice simplesmente respondeu.

                -Comprei sua passagem para Maryland no dia seguinte e pedi que fosse mandada sua carta de admissão o mais cedo possível. Alice conseguiu dar a Emmett o número de Chotas e o informamos do nosso plano. Ele pareceu incrivelmente surpreso com nossa audácia, a final dependeríamos de apenas uma pessoa e caso Alice não conseguisse localizar Renée a tempo, tudo estaria em cheque e entregue de bandeja para toda corja de advogados de Charlie.

                Precisei de dois segundos para voltar a respirar.

                -Como pode ver – Carlise continuou. – tudo deu certo e ocorreu segundo o plano de Alice. Agora vocês estão livres e é isso que importa no final das contas.

                -Como Alice sabia de Renée o tempo todo? Digo, sua localização.

                -Ao que parece, elas vinham trocando cartas...

                -Cartas?

                -Sim. Alice e Renée nunca deixaram de se falar e é por isso que Renée finalmente conseguiu voltar para o seu passado negro, que no caso era Bella, porque Alice sempre a encorajou contando o quanto Bella era guerreira e maravilhosa... Filho, não me olhe assim.

                Como não olharia? Minha Bella havia sofrido a vida inteira pela falta de uma presença materna e Alice vira isso a vida toda também e nunca se quer pensou em contar a Bella que Renée nunca as abandonara?

                -Estou tentando entender até onde Alice é capaz de ir... Como... Como ela manteve isso por todos esses anos vendo o sofrimento de Bella? Como... Como vou contar isso a Bella?

                Carlisle se levantou e pôs a mão no meu ombro.

                -Certas coisas não são para serem contadas. Se contar isso a Bella, irá destruir o único laço que ela manteve durante toda uma vida. Ela nunca entenderia o esforço de Alice por trás das cartas. Foram elas quem as salvaram no fim das contas... Deixe isso para lá, Edward. Não se meta nessa história.

                Olhei para minhas mãos, completamente paralisado e sem reação. Porque mesmo que eu tentasse me convencer de que Bella era diferente, que ela conseguiria ver tudo de um jeito melhor do que meu pai estava lhe dando crédito, eu sabia que isso não seria tão simples. Eu a destruiria antes de conseguir que tudo ficasse bem...

                E por isso eu sabia, bem no fundo do meu ser, que eu jamais contaria a Bella sobre Alice.

Bella:

                Quando cheguei em casa, todas as luzes estavam apagadas. Presumi que Edward havia realmente feito o que lhe aconselhei e me senti um pouco melhor por isso. A final eu não poderia pedir para ele mudar radicalmente comigo sabendo que seu laço familiar, que ele tanto amava, estava danificado de alguma forma.

                Havia algo bom em acender as luzes e saber que eu em breve não faria aquilo nessa casa por algum tempo. Não que eu não gostasse da nossa casa, as lembranças que ela carregava, desde as ruins até as realmente boas, eram com certeza relíquias que eu carregaria comigo para sempre. Mas só do fato de saber que eu me libertaria de Charlie e de toda sua corja já me fazia feliz.

                Peguei uma calculadora e um caderno aleatório e comecei a fazer alguns cálculos de alguns detalhes como onde morar no Brasil e etc. Eram coisas que tínhamos que ter tudo planejado antes de ir. Na verdade eu sabia que só queria matar tempo enquanto Edward não chegava...

                Enquanto eu mexia no laptop, me peguei indo para a pasta de fotos e nela, havia uma pasta reservada só com as fotos do Resort em Orlando.  Eu ri quando em uma das fotos fazíamos caretas um para o outro e outra onde eu estava encharcada e completamente irada e Edward ria muito... Olhei para o caderno com os cálculos do nosso dinheiro e de repente tive uma ideia.

                Peguei na internet um número de um classificado de um famoso jornal da cidade e disquei.

                -Alô, me chamo Isabella Swan e gostaria anunciar a venda de um carro.

[...]

                Ouvi o estalar leve do cascalho quando Edward manobrou na rua para estacionar o carro na garagem. Me senti imediatamente acesa só de prever que logo estaríamos juntos novamente. Não havia reparado que eu estava com tanta saudade dele desde então.

                Risquei um fósforo sabendo que faltavam apenas alguns segundos até que ele entrasse dentro de casa e que a surpresa ainda não estava totalmente pronta. Acendi todas as velas aromatizantes que faziam um pequeno caminho até o deque e peguei a garrafa de vinho que tínhamos restante e duas taças e corri para o deque.

                O vento com a maresia melou minha pele exposta imediatamente. O robe preto que eu vestia era curto e transparente, deixando aparecer toda minha lingerie de renda também preta. Acrescentei na coxa uma liga de renda também. A porta destrancou. Senti minha pele arrepiar.

                -O que é isso? – Edward perguntou aparecendo na porta do deque com uma vela que tinha escrito “me siga”.

                Virei um pouco do meu corpo, a luz da vela misturado ao prateado da lua me deixava branca como a areia do mar, e destacava o meu corpo pouco coberto.

                -Uma pequena comemoração pelas boas novas. – Respondi. – Quer se juntar a mim?

                Edward sorriu do seu jeito torto que acabava comigo e caminhou  até mim, sentando-se ao meu lado.

                -Você é impossível. Como quer que comemoremos com uma garrafa de vinho quando não consigo se quer desviar meus olhos dos seus seios?

                Eu ri, me deliciando em saber que sim, eu estava vestida daquele jeito para provoca-lo ao máximo.

                -Você pode tudo, meu amor. E não comemoraremos aqui por muito tempo. Só quero lhe dizer uma boa nova.

                -E qual é?

                -Vamos para Orlando.

                -E o que vamos fazer em Orlando?

                -Ter uma verdadeira Lua de Mel. No nosso Resort.

                Edward arqueou a sobrancelha.

                -Está tudo combinado já. E nem toquei no nosso dinheiro para o futuro. Vendi a BMW.

                -Mas Bella...

                -Não, sem mais. Ela não significava muito para mim. E não precisaremos dela no Brasil. Temos seu Aston Martin e poderemos usá-lo como transporte.

                Edward riu dessa vez, balançando a cabeça, parecendo descrente.

                -Eu já te disse que sinto sua falta ?

                Franzi o cenho.

                -Sente?

                -Não dessa forma... É saudade, sabe? É quando você se afasta um pouquinho e sente falta da pessoa ao seu lado... No Brasil é um sentimento, e se chama saudade. Só na língua lusitana é que essa palavra existe.

                Acariciei seu rosto, sentindo a barba por fazer espetar meus dedos.

                -Eu te amo, esse é o maior sentimento que eu tenho. E ele é seu.

                -Eu também te amo. – Edward respondeu me beijando.

                E eu sabia que depois daquele beijo, não tomaríamos mais vinho nenhum. Porque nenhum de nós conseguiria se libertar da atração que um exercia no outro, com isso, nos amamos sob o vento da maresia e com a lua como testemunha do nosso amor.

[...]

Edward:

Live Like We’re Dying – Kris Allen

               

                Com os planos decididos, Bella e eu planejamos uma modesta lua de mel, a final todo dinheiro que Bella ganhou da indenização já estava contabilizado para nosso futuro juntos, por isso, vendemos a BMW que eu “dera” a Bella no dia do paint ball e pegamos o dinheiro para viajar para Orlando.

                Ver novamente os portões dourados do Resort era simplesmente hilariante, principalmente se comparado à primeira vez que eu o atravessei praticamente obrigado, para conhecer Bella e me casar com ela forçadamente. Agora aqui estávamos agarradinhos dentro do meu Aston Martin e voltando às origens. Chegamos à recepção e lá reconheci a mulher que nos recebera no inicio do verão.

                -Dios mio! – Ouvi ela dizer, apesar do meu espanhol ser rudimentar eu entendi que ela não estava nada feliz em nos ver, principalmente depois de fazer duas vezes o sinal da cruz. – No que posso ajuda-los? – Ela disse, forçando sua educação a passar por cima do seu desgosto.

                -Viemos passar o fim da temporada de verão.  – Respondi sorrindo.

                Bella pelo visto estava se divertindo com a cara assustada da recepcionista e se inclinou no balcão.

                -Devia ter aceitado aquele carro que eu te ofereci, queridinha. Voltei pra te infernizar.

                A mulher simplesmente saiu correndo e Bella riu de roncar, a acompanhei completamente descrente do que ela havia feito.

                -Como vamos nos hospedar agora que você espantou a moça?

                -Vamos ameaçar de fazer sexo aqui mesmo na recepção se não deixarem a gente em um quarto. A final, estamos em lua de mel e nosso libido está alto depois de anos de namoro e privação.

                Ri alto.

                -Você é um monstro ninfomaníaco. Estou ferrado.

                -Eu trouxe o “remedinho” pra você aguentar o tranco. – Bella me disse mostrando a cartela de Viagra que trazia no bolso.

                Apertei os olhos e em um acesso de testosterona, puxei Bella contra meu peito violentamente, puxando-a pelo short. Vi seus olhos brilharem de excitação.

                -Você vai realmente se arrepender tanto de dizer isso... – Peguei a cartela e tirei um e engoli. – Agora vamos “brincar” até o meu libido e o efeito dessa coisa passar. Você vai sair arrombada.

                -Hmm, que medo.

                Nos registramos assim que o gerente assumiu a recepcionista fujona e assim que a porta do nosso quarto se fechou nas minhas costas eu a tranquei e avancei para Bella.

[...]

                Depois de um dia no quarto, saímos a noite para um passeio noturno pelo tão conhecido Resort. Havia uma tenda destinada a boates ainda montada e movidos pelo dejavú compramos as pulseirinhas que nos davam acesso ao open bar e entramos. Para nossa maior surpresa, haviam dançarinos no teto, que deslizavam por entre os lenços que se estendiam até o chão. Havia algo de mágico com toda a arrumação e isso me fez ficar animado imediatamente.

                -Edward, olhe! – Bella puxou a manga da minha camisa e apontou para o alto, onde um dançarino caía por entre os lenços, dando a impressão de que iria cair e se espatifar no chão, quando subitamente ele agarrava-se pelos pés e ficava de ponta cabeça. Mas não era isso o mais impressionante, era a cabeleira ruiva cacheada, e os olhos azuis que ficavam fantasmagóricos ao canhão de luz azul que o banhava. Demorei dois segundos para perceber o que havia nele que chamou a atenção de Bella.

                -TA DE SACANAGEM! – Eu ri. – É o Chucky!!

                Bella riu junto comigo. Atravessamos a multidão indo até o lenço que ele caía e assim que ele chegou próximo a nossas cabeças o gritamos. Chucky instantaneamente, depois de nos reconhecer, deixou um pé escapar e eu puxei Bella para perto de mim como reflexo, enquanto Chucky dava uma cambalhota e terminava de pé.

                -Isabella Swan e Edward Cullen? – Ele perguntou nos olhando de cima em baixo.

                -Isso ai. – Bella disse sorrindo. – E ai, boneco assassino? Ainda fazendo casais odiáveis passarem o dia juntos?

                Chucky riu.

                -Depois de vocês dois eu abandonei meu emprego de recreador. Bem por uma parte. E segui o meu sonho de dançar.

                Olhei para Chucky completamente pasmo e podia apostar que Bella sentia o mesmo que eu. Ele agora era mais musculoso, o colan estava tão apertado que parte do seu peito estava exposto e seus cabelos do peito ruivos vazavam para fora em um decote bizarro.

                -Parem de me olhar desse jeito e me paguem uma bebida pelo sufoco que me fizeram passar no inicio do verão passado. – Chucky disse puxando a Bella e a mim nos arrastando até o bar.

Bella:

                O balcão do bar estava impossivelmente cheio. O que mais se viam eram pessoas azarando umas as outras, alguns casais se pegavam furiosamente e pareciam que já estavam consumando o ato ali mesmo no banquinho, sem se quer levar a garota para o quarto e fazer algo mais privado. Me enojei com isso.

                Chucky se infiltrou em um espaço que havia acabado de vagar como um vírus que se infiltra em uma célula. Acenou para nos juntarmos a ele, e eu e Edward tivemos de ficar praticamente de conchinha para poder caber ali, eu podia sentir toda extensão do corpo do meu amado contra minhas costas. Tive de controlar meus pensamentos que insistiam em ir para o lado ruim e pervertido.

                Nosso estimado recriador contou-nos minuciosamente o quanto havíamos infernizado sua vida, depois contou-nos sobre seus outros tipos de bico: segurança, atendente do McDonald’s, frentista e até que finalmente após ter se desviado de uma forma “graciosa” de um esguicho de uma mangueira, uma coreografa o convidou para um teste.

                -Não dei certo em nenhuma das outras carreiras fora essa. Diziam que eu assustava as pessoas.

                Eu ri um pouco enquanto tomava uma dose de cuba libre. Claro que não era só a semelhança bizarra com o real boneco assassino que fazia com que Chucky fosse meio assustador, suas ações também eram um pouco polêmicas...

                -Então, estão finalmente juntos? – Chucky perguntou.

                -Sim. – Edward respondeu, acariciando minha cintura.

                -Como isso aconteceu? Achei que se odiassem.

                -A linha entre o ódio e o amor é mais tênue do que você possa imaginar. – Respondi simplesmente. Eu havia provado dessa linha tantas vezes... Mas provaria tudo de novo se todas elas me trouxessem para onde eu estava agora.

                -Inacreditável. – Chucky disse nos olhando ainda pasmos.

                Edward e eu nos olhamos ao mesmo tempo e acabamos rindo juntos, era tão inacreditável para nós mesmo, imagina para Chucky que sofreu para “cuidar” de nós e nossa agenda?

                -Deixa eu ir trabalhar porque nem todo mundo é sentado no dinheiro igual vocês dois. – Chucky disse batendo o copo no balcão e voltando para seu lenço esvoaçante.

                -Acha que ele é gay? – Perguntei.

                Edward riu.

                -Se for, será sempre o gay mais medonho que já conheci.

                -Vamos sair daqui.

[...]

               

Edward:

                Acordei com um pressentimento sobre o dia de hoje. E não sabia se era bom ou ruim.

                Bella ainda dormia com o cabelo espalhado pelo travesseiro e com o rosto imerso, sua respiração era tão regular quanto um pêndulo de um relógio e eu sabia que ela estava em sono profundo.  Mas ainda sim, o pressentimento continuava forte em minha mente. Pensei sem permissão novamente sobre o que Alice fizera.

                Foi quando o telefone tocou. Era o de Bella.

                -Alô – Atendi.

                “Edward? Onde você e Bella estão?” – Alice perguntou, soando urgente.

                -Estamos de férias, Alice. – Respondi rudemente.

                Isso a pegou de surpresa e ela demorou um pouco para se recuperar.

                “Desculpe ter te acordado ou atrapalhado algo... Mas posso falar com minha irmã?”

                Me levantei com cuidado da cama, Bella não acordou com a mudança de peso do colchão. Andei para longe dela.

                -Ela está dormindo.

                “Tem alguma coisa acontecendo, Edward?”

                -Me diga você.

                “Só preciso que, seja onde estiverem, que voltem para Miami para ontem.”

                -E o que aconteceu de tão urgente? – Pensei sobre meu pressentimento e logo levei par ao lado pessimista.

                “Papai acordou”. – Alice disse – “Quer falar com Bella”.

                -E o que te faz pensar que Bella irá querer falar com ele?

                “É o pai que a criou, e Bella pode usar um pouco de paz de espírito. De qualquer jeito, não é você quem decide isso. Acorde-a, quero falar com ela.” – Alice respondeu na mesma moeda de rudeza.

                Olhei para trás e Bella estava lá, me olhando curiosa, trajando apenas a minha camisa que caía em seus ombros, ficando como um camisolão.

                -Pode deixar que eu atendo, Edward. – Bella disse, estendendo a mão para o celular.

                Entreguei a ela o aparelho e me sentei na poltrona do quarto, sem querer tirar meus olhos dela.

                -Alice. – Ela atendeu ao telefone.

                Passou algum tempo e Bella apenas escutou, seu rosto estava vazio de emoções.

                -Em qual hospital? – Ela perguntou por fim. Esperou um pouco Alice responder. – Tudo bem, eu estou indo.

                Bella desligou e olhou para mim.

                -Charlie acordou.

                -Alice me contou. – Respondi, me levantando e indo até minha amada. – Tem certeza que quer ir falar com ele? Mesmo depois de tudo?

                Bella suspirou.

                -Acho que com tudo que está acontecendo... Sabe nossa vida se ajeitando, nossos planos, minha mãe... Tudo dando tão certo... Acho que eu poderia usar essa brecha de coisas boas na minha vida para acertar as contas com meu passado.

[...]

                Não trocamos muitas palavras no caminho de volta à Miami, tecnicamente eu rompia o silêncio de tempo em tempo para perguntar se ela estava mesmo bem com isso e se queria algo. Mas a resposta era sempre a mesma e mecânica: “Estou bem, e não obrigada”. Não era necessário perguntar se ela estava nervosa com o reencontro com o seu “pai”, Bella sem falar nada já era um mau sinal.

                Só fomos em casa deixar as malas e Bella trocou de roupa. Logo estávamos no hospital, sentados em cadeiras plásticas, aguardando a liberação da visita de Bella. Ela já usava touca higiênica, botas para os pés. Foi aconselhada a não estressa-lo e tudo mais de praxe.

                Alice não olhou para mim.

                Ela conversava com Bella, e Bella lhe contava detalhes sobre nossos planos no Brasil, ela parecia animada e ter esquecido o real motivo pelo qual estava no hospital. A irmã lhe fazia bem, e isso eu tinha que admitir. Alice a acalmara e fora o suficiente para no momento em que a enfermeira chamou Bella, que ela conseguisse respirar fundo e caminhar até o quarto de Charlie.

                Olhei para Alice e ela estava de olhos fechados. Fiquei a me debater se iria confrontá-la ou não. Os ponteiros do relógio acima de nós giraram, e eu não sei exatamente quanto tempo se passou até que decidi me levantar e confrontá-la.

Bella:

Angel – Sarah McLahlan (Boyce Avenue Cover)

                Charlie tinha o rosto liso, algo que nunca achei que fosse viver para ver. Seus cabelos estavam penteados para trás e ele me olhava com aqueles olhos pretos como a noite, engoli com dificuldade, o seu olhar ainda me afetava, como sempre afetou. Tentei pensar em Alice e Edward próximos de mim, apenas uma parede separávamos. Eu precisava de um momento com Charlie, mas ainda movida pela mágoa, tudo que eu queria era um outro momento com Renée e sua risada rouca e a conversa fácil...

                O silêncio entre nós era algo do qual eu havia me acostumado, a final sempre que eu o pressionava a falar ele vinha com duas dúzias de pedras nas mãos. Mas eu sabia que eu teria de quebra-los.

                -Charlie eu... – Comecei e engasguei sem saber como prosseguir.

                A final o que eu diria? Que eu lamento por ele estar ali? Charlie ainda me olhava, esperando. Desviei meu olhar dos seus olhos escuros e me concentrei na bolsa de soro que pingava com intervalos exatos.

                -Eu descobri tudo. – Consegui dizer.

                -Então você me odeia. – Não era uma pergunta.

                O olhei dessa vez, precisava ver sua reação.

                -Por mais incrível que possa parecer, eu não te odeio. Já experimentei o suficiente do ódio para saber que ele não é nada do que apenas uma arma voltada para quem o sente.

                Charlie balançou a cabeça e fez aquela cara de “nada mal”.

                -Quem diria...

                -E é por isso que eu vim aqui. Para te dizer que não te odeio. E também te dizer que não preciso mais da sua mesada. Edward e eu iremos nos virar de agora em diante.

                -Quem te contou? – Charlie perguntou, ignorando minha fala anterior.

                -Renée.

                Seus olhos faiscaram em mim novamente, o nome de Renée reascendeu algo que nunca havia visto naqueles olhos que agora eram inflamados e a noite por trás deles de repente ardeu em mim.

                -Renée?

                -Sim, ela esteve no tribunal. Testemunhou ao meu favor.

                Ele suspirou, de repente nem mesmo o bigode raspado lhe devolveu os anos joviais. Charlie parecia cansado, exausto na verdade.

                -Sabe qual foi o pior, Isabella? – Ele perguntou, ainda de olhos fechados.

                Não respondi. Ele prosseguiu.

                -O pior foi ter confiado em Renée cegamente. Eu era apenas um universitário quando Alice nasceu, e estava destinado a querer fazer grandes projetos. Prometi a mim mesmo que um bebê e uma esposa não me atrapalhariam. E não atrapalharam. Elas me impulsionavam, e quando terminei a faculdade, eu já tinha a ideia da Swan’s Boats pronta.

                “Peguei sua mãe e sua irmã e mudei-me para um apartamento médio que meus pais haviam alugado para nós em L.A. Eu sabia que L.A não seria o meu destino, a final os portos promissores para o tipo de negócio que eu planejava não ficavam se quer naquele estado. Eu viajei, deixei sua irmã e sua mãe com os amparos de uma empregada que contratei mesmo não podendo pagar direito, e fui para a Flórida firmar minha empresa.”

                “Quando voltei, sua mãe estava saudosa e nos deitamos. Eu a amava tanto que nem percebi o quanto seus toques pareciam aflorados e o quanto seu corpo às vezes se retraía e depois relaxava ao meu toque...”

                Charlie suspirou.

                -Quando você nasceu eu te amei. Tanto quanto Alice. Você tinha os cabelos tão escuros quanto os meus. Os olhos também. Pensei em você como uma herdeira do meu patrimônio, planejei te dar todo meu mundo, te fazer uma verdadeira Swan, que seria forte, inflexível e acima de tudo, vencedora.

                “Descobri da traição de Renée tardiamente. Você já tinha dado seus primeiros passos e eu sempre que estava em casa eu percebia uma fina diferença no jeito que Renée tratou Alice e te tratava. Alice tinha tudo documentado em vídeos, fotos e cartas apaixonadas escritas por Renée. Você, por mais que ela se esforçasse para demonstrar o mesmo afeto, acabava sendo lesada. Com um ano de idade, você completou seu primeiro álbum de vinte páginas.”

                “Por fim, decidi investigar o porque disso. Sempre que tocava no assunto Renée desviava. E a dúvida me corroía. Porque ela está fazendo isso com a minha herdeira? Eu me perguntava. E eu descobri depois de te levar para tomar sorvete e depois passar na clínica para fazer o exame de paternidade. Quando deu negativo, tudo que eu tive foi ódio. Ódio por ter amado uma mulher adúltera. Por ter amado uma filha bastarda... Eu fui cego por esse ódio e então eu desejei que Renée pagasse pelo que fez com o pior dos arrependimentos. Eu tirei a liberdade dela de ver a você e a Alice.”

                Meu estômago girava com o teor daquela conversa. Charlie nunca havia mencionado absolutamente nada. E eu me perguntava o que mais faltava eu descobrir sobre meu próprio passado. Charlie abriu os olhos, fitando o teto.

                -O ódio é realmente exaustivo, Isabella. Eu sei porque eu venho à 18 anos tentando cultivá-lo cuidadosamente e tenho falhado. Porque esse ódio nunca existiu. Eu sempre amei Renée e, por mais estranho que possa ser, eu sempre te amei também. De alguma forma, está em mim que eu sou seu pai. Mas esse ódio me transformou. Me fez trata-la com frieza de uma geladeira. Por não suportá-lo, passei a me ausentar cada vez mais, e acabei fazendo Alice que não tinha e nunca teve nenhuma culpa sofrer também.

                O silêncio que se formou me fez imaginar se Charlie estaria tentando pedir desculpas. Pisquei, desviando a esperança para longe de mim e me concentrando em informa-lo sobre alguns pontos da história que ele não sabia.

                -Charlie eu... Minha mãe ela não o traiu. Não propositalmente. Ela foi... Abusada pelo diretor de elenco.

                -Ela me contou. – Ele disse.

                -Mas você disse...

                -O ódio, Isabella, nos faz acreditar nas piores coisas. E tudo porque ainda amamos a quem machucou nosso coração. Você mais do que ninguém deve entender. – Ele disse se referindo a mim e a Edward.

                Essa era uma daquelas coisas na vida que temos que decidir para que estrada vamos. Em uma, havia o caminho de ignorar todas aquelas coisas, a final nada daquelas palavras amenizavam o passado terrível que eu tive e por isso, eu devia manter Charlie longe da minha vida para sempre.

                Mas havia o outro caminho. E foi esse que escolhi.

                Peguei a mão de Charlie, a que estava sem o tubo intravenoso e ele me olhou pela primeira vez depois de confessar tudo. Naqueles olhos que me encaravam, eu vi que não conhecia o homem que me criou.

                -Charlie, podemos ter uma trégua, que tal? – Perguntei. – Um soltar de armas. Chega de ódio, chega de rancor. Vamos  recomeçar, vamos nos dar uma chance de sermos uma família novamente...

                -Não é tão fácil...

                -Não, não é. Mas você pode tentar. Você pode tentar e verá que é o melhor caminho que você jamais tomou. O perdão é o dom mais difícil de ser adquirido. Mas podemos tentar praticá-lo, juntos. O ódio é uma mão dupla, Charlie. Ele também pode nos levar a amar também.

                E, pela primeira vez na vida, eu vi Charlie chorar.

[...]

                Abri a porta com um sorriso nos lábios que nunca tinha tido antes. Era um sorriso de alívio, de que tudo acabara finalmente bem. Acelerei meus passos, doida para voltar para o aconchego dos braços familiares de Alice e de dar beijos no rosto de Edward. Estava tudo acabado. Finalmente, não havia mais ódio na minha vida e nenhuma ponta solta pendente.

                Edward e Alice estavam um de frente para o outro, minha atmosfera feliz foi levemente abalada pelo clima pesado que pairava deles. Meu sorriso murchou um pouco.

                -Alice, preciso saber o que... – Edward começou.

                -Tem alguma coisa errada? – Perguntei interrompendo-os.

                Edward se virou para mim, o rosto meio pálido. Alice tinha o olhar confuso e assim que me olhou, receoso.

                -Como foi com o papai? – Ela perguntou com sua preocupação familiar de irmã mais velha.

                Sorri aliviada pela facilidade como de repente eu fora tola o suficiente para pensar que Edward e Alice estavam brigando.

                -Foi tudo ótimo. Vamos sair desse hospital, quero contar tudo a vocês dois!

                -Finalmente acabou, não é mesmo? – Edward perguntou, eu já sabia que se tratava dos últimos elos que me prendiam ao passado tenebroso.

                Abracei-o com força e intensidade, me sentindo imediatamente completa.

                -Sim meu amor, finalmente acabou.

                


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Juro, mas juro mesmo que não gostei muito de por uma música tão apelativamente emocional na conversa mais importante de toda história!! Mas achei que foi a que melhor se encaixou.
Gente, quero antes de mais nada dizer que este, mesmo parecendo, não é o último capítulo postado. Ele é sim, o último. Mas farei um epílogo bem bonito para fecharmos com chave de ouro ok? E ainda vai ter um especial. Algumas curiosidades sobre a Fic. Acredite, tem umas coisas meio bizarras e até mesmo minhas que vocês descobrirão.
Bom, antes de terminar, gostaria de agradecer antecipadamente quem acompanhou e deu seu review positivo e incentivos para que eu continuasse. Se eu contasse as poucas e boas que estão acontecendo, juro que vocês pensariam: pooorra e ela ainda escreve?? Sim, escrevo. Mesmo estudando das 7:30 às 18:30 [quando saio cedo, tem dia que vai até as 21]. Caindo de sono, com copo de café do lado... Que se dane. Eu escrevo porque, além de ter imensa consideração por vocês, é o que eu verdadeiramente amo fazer.
Peço que não me abandonem, já adianto que o epílogo pode vir a demorar um cadinho também, mas ele está todo montado na minha cabeça. Eu juro. Se demorar, vai ser pela infeliz falta de tempo que eu sofro. T.T
Comentem sobre o que acharam, se riram, se choraram, que emoções viveram... [ok, abafe o R.C aqui], mas comentem. De verdade. Estou insegura com esse capítulo e por pouco não o reescrevo.
Eu amo vocês. De boa, amo mesmo. kkk. Então retribuam meu amor COMENTANDO. Podem até me xingar. eu deixo. kkk. Tentarei respondê-los nessa reta final, ok?
Beijundas a todos.
OBRIGADA POR ESTAREEM CMG e até o EPÍLOGO PQ AINDA NAO ACABOU!!
Deus esteja com vocês,
Giihrsouza.