P. Bailey escrita por CellyLS


Capítulo 5
Trapaceiro




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Às vinte horas, a bela morena estava recebendo Preston na porta do quarto com um sorriso ofuscante. Ele entrou no quarto e foi direto para o frigobar pegar mais gelo para seu nariz. Olhou para os lados, confuso. "Ond'sstá o Podge?"

"Não o chame assim, você sabe que ele odeia isso!" Sydney teve que se conter para não rir. O enorme curativo somado àquela pronúncia grotesca tornavam hilário o fato de ele estar fazendo uma careta tão séria.

"Eu trouxe o ressto da pessquisa, ele presscisacomessçar logo!"

"Nigel já está trabalhando nela desde a hora que você saiu. Provavelmente já está pronta."

"O quêêê? Vosscê o deixou sosszinho com o beutrapalho?"

"Claro que sim, qual o problema?"

"Sssydney, ele sstáfuriosssocobigocertamentch vai dessstruir o que eu fissssszVosscêsape que ele tem resssentchmentos pelo passssado, e tepois do que acontessceu hoje não me atmirassesstiverqueimantototas as páginass agora!"

"Isso é ridículo, ele nunca sabotaria seu trabalho, Nigel não é assim!"

"Oh, sspero que ssteja certa, beu emprego tepentchtissso!"

Sydney apenas balançou a cabeça. Ela reuniu todos os documentos que Preston trouxe do museu e foi para o outro quarto entregar o material a seu assistente enquanto o homem colocava mais gelo no rosto.

Nigel estava sentado à pequena mesa. Do seu lado, a lixeira já estava cheia e havia transbordado pedaços de papel amassados pelo tapete. Ele estava concentrado em algum tipo de mapa. Observou-a de soslaio quando a viu entrar no aposento.

"Mais trabalho para o meu assistente preferido... embora eu ache que deva descansar, você está com a aparência horrível!" Ela completou ao avistar o rosto pálido de seu amigo.

"Obrigado por notar. Já estou encerrando esta parte" e jogou mais uma anotação na lixeira lotada. O papel amassado caiu no chão e rolou até os pés de Sydney. Ela o coletou para depositá-lo junto dos demais quando uma palavra lhe chamou a atenção. Ao desamassar cuidadosamente o documento, uma olhadela foi suficiente para confirmar suas suspeitas.

Aquela era a pesquisa de Preston!

A mulher se ajoelhou e começou a revisar os pedaços de papel rasgados e amassados do chão. A maioria deles continha passagens da pesquisa do Bailey mais velho. "O que está fazendo com o trabalho de seu irmão?"

"Estou descartando o que não é necessário."

"Mas esta é TODA a pesquisa!"

"Não é TODA. Os mapas ainda são úteis. Na verdade, parece que ele trabalhou nestes aqui por muito tempo."

"É, ele levou meses trabalhando duro para coletar todas as informações, Nigel. Como pôde jogar fora tudo o que ele fez? Não pode destruir a chance de encontrar a relíquia só porque está zangado conosco, você nem terá de participar da caçada!"

"Eu não irei junto?"

"É claro que não, você disse que voltaria para Boston amanhã."

"Eu não gosto quando você caça relíquias sozinha, Syd!"

"Não estarei sozinha, estarei com Preston. E o que está tentando fazer não vai adiantar. Pode reunir tudo o que jogou no chão e colocar novamente na pasta!"

Nigel tirou os óculos e a encarou, ofendido. "Eu não sou nenhum tipo de criança para você ordenar assim."

"Então não aja como uma, fazendo birras e pequenas trapaças só porque está frustrado!"

Agora sim ele não estava entendendo a amiga. "Do que você está falando?"

"O que você quer que eu pense ao encontrá-lo jogando no lixo um trabalho que levará meses para ser refeito?"

"Pode pensar que eu estou fazendo o que você me pediu."

"Eu não pedi para destruir a pesquisa. Você sabe que a responsabilidade de encontrar a relíquia é de Preston. Sem aquelas anotações ele vai perder o emprego! Não pensei que fosse capaz disso, Nigel!"

O inglês levantou-se de maneira súbita e caminhou até a cômoda. Pegou um maço de papéis, largou-o sobre a mesa em frente à mulher e ficou esperando. Ela franziu o cenho e folheou algumas das páginas.

As folhas estavam marcadas e organizadas, sendo fácil perceber que esta, sim, era a pesquisa de Preston. Vários fragmentos pertenciam ao irmão mais velho, mas havia inúmeras correções feitas por Nigel. Era espantoso que ele tenha conseguido revisar todas aquelas anotações em apenas algumas horas.

"As traduções eram precárias em inúmeros trechos. Foi por isso que o local da cripta não foi descoberto até hoje. Demorei um pouco, mas consegui descobrir que ela foi guardada no penhasco Ontika, na cachoeira de Valaste. Eu refiz o que foi preciso e agora estava substituindo as partes desnecessárias, como você pôde observar." Disse a última parte apontando para os papéis na lixeira.

Se fosse humanamente possível, Sydney teria morrido de arrependimento e vergonha naquela hora.

"Eu não sou nenhum tipo de trapaceiro. Pensei que me conhecesse o suficiente para saber disso!"

"Eu sei. Me desculpe..."

"E quantas vezes mais vai se desculpar depois de hoje? Admita, Sydney, não há como manter um relacionamento com meu irmão sem que isso afete a nossa amizade."

"Eu vou tomar cuidado, não vou deixar isso acontecer."

"Já está acontecendo. Você nunca assumiria o pior sobre mim sem ao menos confirmar o que estou fazendo! Nem é seu natural beber até perder a noção de que está ligando e assustando seus amigos, ou esconder aonde vai passar suas férias para que eu tenha que contatar a Interpol para encontrá-la. Você não é assim! Ele a está influenciando de alguma maneira, Syd, e não é de uma forma boa!"

Preston abriu a porta, interrompendo os dois. "Temos um proplema!"

Nigel suspirou ruidosamente, aguardando a reação da mulher que parecia atordoada.

"Vamos terminar esta conversa depois, Nigel." E ele estava de novo sozinho no quarto.

Sem qualquer ânimo, o assistente se aproximou da passagem que foi deixada aberta e espiou de relance o que se passava no outro quarto.

Aparentemente, um amigo de Preston estava realizando uma visita inesperada. Do pouco que Nigel captou da conversa, descobriu que ele se chamava Jonathan e que trazia más notícias sobre a relíquia. Como o homem estava de costas, só o que o assistente conseguiu ver foi sua cabeleira loira. Ele estava bem vestido e devia medir quase dois metros de altura. Mais adiante estavam Preston, sempre com aquela insuportável risadinha cínica, e Sydney, com seu olhar firme característico. Ela irradiava confiança. Nem parecia a pessoa que há menos de um minuto estava injustamente acusando o melhor amigo de coisas terríveis.

O jovem inglês fez uma careta. Mais uma vez ela havia lhe dado as costas antes de terminarem uma discussão. Esta era uma qualidade notável em sua amiga. Sempre que os dois iniciavam uma conversa séria sobre assuntos pessoais ela conseguia se safar sem lhe dar qualquer resposta.

Sydney percebeu que ele a estava observando e os olhares dos dois se encontraram. Ela sorriu levemente. Ele arqueou uma das sobrancelhas em um gesto cético e fechou a porta bruscamente.

Já que Nigel não participaria da caçada, como tão eloqüentemente mencionado por sua chefe, não havia por que se preocupar com quaisquer complicações que Jonathan pudesse estar tratando! Resolveu deixar de lado as traduções que ainda restavam e tomar um banho demorado.

Ao menos uma coisa havia lhe agradado naquele hotel: a banheira do quarto era enorme! Nigel passou os últimos trinta minutos mergulhado em um revigorante banho de espumas. Sentia-se relativamente descansado pela primeira vez desde que chegou a Londres.

Vestiu o roupão e saiu do banheiro. Sua mochila, que continha uma muda extra de roupas, estava no chão, no mesmo lugar onde a jogara ao lado da cômoda. Nigel apanhou a valise e a pôs sobre a cama. Ao mesmo tempo, sentiu uma dor aguda no pé direito.

Saltou para trás e viu a besta de mão que Sydney utilizava caída no tapete. Ao seu redor, estavam espalhados o passaporte e vários outros itens da bolsa da caçadora, que agora pendia vazia da beirada da cama. Quando levantou sua mochila, Nigel não havia percebido que as alças das duas valises estavam entrelaçadas e agora todo o conteúdo da bolsa estava caído a seus pés.

O jovem se ajoelhou para recolher os pertences da amiga. Conteve-se ao ver um volume de cartas meticulosamente amarradas com um cordão de couro, igual ao que Sydney usava no pescoço. Devia ter ao menos uma dezena de envelopes ali. Nigel ficou encarando o achado com uma mistura de raiva e preocupação.

Aquelas deviam ser as cartas que Preston enviou!

Esticou o braço e as alcançou. Os envelopes estavam todos virados para o mesmo lado. Nigel leu o nome que estava escrito em todos eles e sentiu seu sangue congelar.

"Isso... isso é impossível!"


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