P. Bailey escrita por CellyLS


Capítulo 4
Com Preston




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Foi necessário um bom tempo para que as teimosas lágrimas cessassem. Tempo suficiente para Nigel refletir sobre suas ações e a maneira como sua amiga estava se comportando.

Ele afastou as mãos do rosto e finalmente já não havia mais tristeza em seus olhos.

Agora, eles ardiam com determinação.

Estava decidido! Ele ficaria naquele hotel e observaria seu irmão de perto até desvendar como havia iludido Sydney daquela maneira. Era verdade o que pensou enquanto chorava: Sydney É o grande amor de sua vida. Ele a ama mais que tudo, e Preston não vai se apoderar dela tão fácil.

"Não mesmo!"

Havia se passado quase uma hora desde que Sydney deixara Nigel no quarto, que ele assumiu ser de Preston. Algumas roupas de seu irmão estavam espalhadas pela cama, mas Nigel pôde reconhecer a bolsa da caçadora ao lado da cômoda.

Depois de lavar o rosto na tentativa de aliviar a vermelhidão de seus olhos, pretendia ter uma conversa séria com seu irmão. Iria espremê-lo até descobrir todas as artimanhas que estava usando para manipular sua inocente amiga!

Ao colocar as mãos na maçaneta, contudo, o rosto de Nigel ficou da cor de um tomate! O que significavam os sons que estava ouvindo?

A delicada divisória entre os dois quartos era cruelmente ineficaz na tarefa de abafar o tom de contentamento na voz de Sydney, enquanto ela fazia sabe-se lá o que com Preston.

Eu não preciso ouvir isso!

O reflexo de Nigel seria o de escancarar aquela porta e acabar com a festinha que certamente estava em andamento por ali. Mas encontrou-se imóvel. Estava mortificado pela idéia do que poderia ver se entrasse no outro quarto.

Ele não conseguiria conviver com a imagem de seu irmão em alguma posição depravada realizando qualquer tipo de performance em sua amiga.

Só o rosto de Preston já era suficiente para deixá-lo enojado, ele não precisava conhecer também o resto, ainda mais com a possibilidade de Sydney surgindo de algum lugar escabroso.

Nigel estava se concentrando para não pensar especificamente nesta última parte, quando seu celular tocou.

Ele abandonou a porta esperando ter mais coragem para abri-la depois de atender ao telefone, já com sua mochila nas costas e pronto para voltar para Boston!

Pegou o celular que estava na mochila e sentou-se na cama para atendê-lo. Não imaginou que algum dia isso fosse possível, mas ouvir a voz de Cláudia o acalmou.

"HoneyBun, encontrou Syd?"

"Sim. Está tudo bem. Aquela ligação foi apenas um mal entendido."

"Nossa! Você parece cansado! Deve ter sido um mal entendido enoooorme!"

"..."

"Nigel, ainda está aí?"

"Eu já disse que está tudo bem, Cláudia. Agora eu preciso desligar!"

"Nigel Bailey! Se soltar esse telefone antes de me contar o que está acontecendo vai se arrepender!"

Tudo bem, ele retirava o que pensou sobre Cláudia o acalmar. "Não foi nada. Ela bebeu algumas taças a mais e acabou mexendo no telefone por engano." Desta vez foi a secretária quem ficou em silêncio. "Cláudia, se não vai responder eu vou desligar."

"Minha intuição diz que ela não estava bebendo sozinha, estou certa?"

"..."

"Apenas responda sim ou não."

"...Sim."

"E você ainda não voltou para casa porque...?"

Nigel odiava isso. Por que as mulheres desvendavam qualquer segredo que você tentasse esconder, mas quando você quisesse que descobrissem algo elas se tornavam as criaturas mais apáticas do planeta?

"Ela precisava conversar." Respondeu secamente.

"E o que aconteceu durante as férias de Syd que ela precisa da sua opinião?"

Ele nunca foi um bom mentiroso, e pensando nos anos de sua vida que seriam encurtados só pelo estresse de ficar negando à Cláudia o que aconteceu, achou melhor contar tudo. Ela descobriria cedo ou tarde, afinal. "Ela estava com Preston!"

"Como assim 'com Preston'?"

"Cláudia, você sabe o que 'com Preston' quer dizer!"

"Mas o que aconteceu ontem à noite? Quando me ligou ela não parecia estar bem!"

"É claro que ela estava bem, ainda mais depois de os dois acabarem com todo o estoque de Don Perignon."

"Eu até entendo ela estar com esse tal de 'DonDondon', mas ela não estaria 'com Preston'! Deve haver outra explicação!"

"Ela atendeu a porta praticamente nua, e Preston estava na cama do mesmo jeito, dessa forma eu suponho que ela estava 'com Preston'!"

"Na cama... na cama dela?"

"É, Cláudia!"

"Oh, HoneyBun, eu sinto muito!" Cláudia já havia reparado na aversão entre os dois irmãos. Em uma tarde, depois de Nigel e Sydney conversarem sobre isso, ela o forçou a contar os motivos de os dois não se acertarem. E há muito já havia notado o brilho no olhar do assistente quando estava com a chefe. Suas cartas de Tarô também diziam o mesmo, e elas nunca mentiam.

Sydney surgiu pela divisória interrompendo a conversa e sua voz ecoou dentro do quarto. "Nigel, você deve estar com fome, nós pedimos o almoço!"

A loira ouviu a voz da chefe. "Nigel, a olhe bem nos olhos e a mande ir para..." Ele já fazia idéia de para onde Cláudia estava mandando Syd, então cortou a ligação. Colocou o celular na mochila e jogou esta ao lado da cômoda. Esparramou-se na cama e fechou os olhos.

"Eu não estou com fome, obrigado."

"Não se faça de difícil. Quando foi a última vez que dormiu ou se alimentou?" Ela não esperou a resposta. Debruçou-se sobre ele e o puxou pelas mãos até a mesa no outro aposento.

Nigel debateu-se, tentando poupar seus olhos de registrarem as evidências da devassidão que deveria ter acontecido naquele quarto um minuto atrás. Justo quando aceitou suas desculpas e estava disposto a desvendar as tramóias de seu irmão ela havia se trancado alegremente no quarto com Preston. Agora, vinha chamá-lo como se nada tivesse acontecido. O que ela estava fazendo? Tentando testar sua sanidade?

Sydney ignorou seus protestos e o empurrou pela porta. Ele entreabriu os olhos e espiou ao redor de forma desconfiada.

Nigel suspirou de alívio e quase se jogou ao chão em agradecimento por verificar que o lugar não possuía quaisquer sinais de 'atividade'. O ambiente estava totalmente imaculado. Ele ficaria eternamente grato por todas as cenas que haviam se formado em sua mente há alguns momentos não terem passado de sua imaginação. Se Sydney não tinha realizado nenhuma daquelas coisas absurdas com seu irmão, ainda havia esperanças de resgatá-la das garras de Preston!

Mas de onde vinham os ruídos estranhos que havia escutado? Nigel ouviu um gemido igual aos anteriores e olhou para o lado. Viu o irmão sofregamente tomar o prato de sopa que estava na mesa. O nariz estava inchado e fazia um barulho estranho quando ele respirava, e devia estar doendo, porque o Bailey choramingava a cada cinco segundos.

Nigel sentiu seu mau humor começar a diminuir. Deve ter sido a imagem ridícula de seu irmão, ou talvez o delicioso aroma que vinha da refeição que ele tentava devorar... Humm! A sopa parece muito apetitosa... Grrr! Sua amiga sabia que ele nunca negaria uma boa refeição!

Nigel pensou que aquilo era um golpe baixo, mas cedeu. Não havia motivos para desperdiçar comida. Sentou-se na mesa de quatro lugares, do lado oposto ao irmão. A bela mulher tomou seu lugar entre os dois, satisfeita.

Sydney conseguiu manter o ambiente relativamente agradável durante o almoço, pois começou a falar da relíquia que estava ajudando não oficialmente a procurar para o museu de Preston.

Ela decidiu que já que Nigel estava ali, não haveria mal em pedir ajuda com os enigmas. Era embaraçoso ter que assumir em voz alta, mas confiava muito mais nas traduções e na intuição do próprio assistente, quando se tratava de desvendar pistas para encontrar uma relíquia.

Os dois conversaram sobre a pesquisa e decidiram em quais trechos Nigel precisava trabalhar. Fosse pela bela ameaça de seu irmão mais novo, ou por ordem de Sydney, Preston estava sendo inteligente o suficiente para permanecer calado.

Terminada a refeição, Nigel foi para 'seu' quarto trabalhar e Preston saiu para buscar o resto dos documentos necessários que estavam com seu amigo no museu. Sydney resolveu ficar e se deitar um instante. Ela estava com uma leve dor de cabeça. Eu exagerei ontem à noite. Há tempos não bebia tanto!

Alcançou o criado-mudo e tirou um envelope da gaveta. Passou os dedos com ternura sobre as letras que formavam o nome do remetente. Um sorriso surgiu em seus lábios enquanto pronunciava o que estava escrito.

"P. Bailey..."

Algumas horas se passaram até Nigel terminar as traduções. Ele esfregou os olhos para afastar o sono. Trabalhar o ajudou a sossegar a mente e ele sentia que agora conseguiria dormir sem ficar horas discorrendo sobre as maneiras como Preston estava lhe passando para trás mais uma vez.

Mas antes, precisava dos demais documentos para terminar a segunda parte da pesquisa.

Aproximou o rosto da porta e não ouviu nenhum ruído do irmão. Aqueles dois estavam muito quietos. Bateu levemente, mas ninguém respondeu. Nigel relaxou, imaginando que o quarto estivesse vazio ou Sydney estivesse dormindo. Abriu a porta.

Sydney estava sentada à beira da janela. O sol se despedia no horizonte alaranjado tingindo seus cabelos e clareando seu rosto em uma visão de tirar o fôlego. Como um anjo, ele pensou. Ela segurava um pedaço de papel e mantinha uma expressão sonhadora. Ele reconheceu aquele olhar como o mesmo que ele tinha quando ficava pensando nela. Sydney despertou do devaneio e sorriu.

"Nige, eu não vi que estava aqui."

Nos vários anos que trabalharam juntos ele nunca a tinha visto tão distraída. Seu coração se entristeceu por não ser ele o motivo de ela estar assim. "Eu vim buscar o resto da pesquisa."

"Preston ainda não chegou com ela."

Nigel não disse nada, mas não fez menção de sair do quarto. Ela continuou.

"Você deve estar pensando que eu sou uma terrível egoísta, mas... ele me mostrou um lado que eu não pensei que pudesse encontrar em qualquer pessoa" ela apontou para a folha de papel que estava segurando "Eu não dei importância no início, então ele começou a me mandar estas cartas. As declarações eram tão doces! Me fizeram sentir... completa".

Nigel baixou o rosto um instante e cerrou os olhos, com força. Isso doía. Ela continuou, da janela, "Eu não planejei que isso acontecesse. Talvez se tivesse sido mais cuidadosa não teria me deixado levar pelos galanteios de Preston na noite passada, mas o que ele disse me fez querer conhecê-lo melhor." Então Sydney o mirou com a mesma determinação de quando iniciavam a busca por uma relíquia "Eu quero aproveitar esta chance e sinto muito por estar te magoando com isso."

Ela parecia sincera ao dizer que sentia muito. O que ele poderia dizer depois de ouvir tudo isso? "Você está se enganando, Preston é um cretino!" ou "Ele deve ter copiado as cartas de amor de algum site de poesia"? De repente Nigel sentiu-se o vilão da história. Ninguém deveria pedir desculpas por tentar ser feliz, ainda mais se esse alguém fosse Sydney. A culpa não era dela por seu irmão tê-la iludindo.

Sim. Se alguém agiu errado e merecia ser punido, este alguém era Preston!

"Não se preocupe, Syd. Tudo vai ficar bem." Acenou com a cabeça, confiante, e voltou para o outro quarto. Depois que eu terminar com Preston não sobrarão nem cinzas! – pensou.

O assistente fechou a porta, deixando Sydney com seus pensamentos. Ele definitivamente não está agindo como eu esperava – ela constatou, sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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