P. Bailey escrita por CellyLS


Capítulo 3
Hóspede insatisfeito




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Nigel aguardou em frente ao quarto, de braços cruzados. Sydney chegou alguns minutos depois praticamente carregando Preston, que gemia e reclamava.

Ela destrancou a porta e indicou que seu assistente entrasse. Depois de depositar o homem ferido na cama, foi para o banheiro buscar o kit de primeiros socorros.

"Isso foi totalmentchdesnecessálioB... Bodge!"

"Não me chame de PODGE! Ou melhor: não fale comigo, Preston. Não olhe para mim. Não se aproxime. Não fique no mesmo ambiente que eu. Seu nariz não foi nada perto do que eu gostaria de fazer! Estou me perguntando agora por que contenho o impulso de ir até aí mudar o fato de seus quatro membros ainda estarem ligados ao seu corpo!"

Preston engoliu seco.

Sydney trouxe o kit e o entregou ao inglês de nariz quebrado. Ele beijou sua mão, carinhosamente.

A historiadora viu o que se passou no rosto do amigo antes que ele pudesse disfarçar e olhar para o outro lado. Durou apenas um instante antes que ele cruzasse os braços novamente e fizesse uma careta zangada, mas não havia como confundir. Aquilo era definitivamente tristeza.

A raiva que estava descarregando em seu irmão não mudava o fato de que se sentia perdido e machucado, assim como Sydney havia previsto.

Sem dizer nada, ela pegou o braço de Nigel, que agora lançava um olhar insolente para o irmão, e praticamente o empurrou até o outro quarto, fechando a passagem que conectava os dois cômodos e deixando Preston para choramingar sozinho.

No outro quarto, ela pôde sentir o olhar de Nigel queimando suas costas, como se apenas uma força divina o impedisse de voar em seu pescoço naquele momento.

Virou-se para confrontá-lo. Ele jogou a mochila no chão, de maneira displicente, e voltou a encará-la. Ela cruzou os braços. Foi a primeira a falar.

"Agora você vai me odiar?"

Nigel sentou-se na poltrona que decorava o luxuoso quarto e voltou a fitá-la. "Eu não disse nada."

"Mas está me olhando desse jeito!"

"Syd, você já sabe como eu me sinto a respeito de Preston. Não pode esperar que eu esteja satisfeito depois do que vi."

"Eu sei disso, mas precisa entender que não está acontecendo nada entre nós dois!" – Pelo menosAINDA não – completou apenas em pensamento.

"Isso não a impediu de ficar com ele na noite passada!"

"Tudo bem, eu admito: ele me convidou e eu pensei que não haveria mal algum em dividir uma bebida. Mas nós não passamos disso." Nigel a estudou um segundo. "Foi só o que aconteceu, eu juro!" Desta vez ela pôde afirmar com certeza.

"E como ele ficou sabendo que você veio para Londres?" Ela averteu o olhar e Nigel esticou-se na poltrona até que os dois estivessem novamente frente a frente "Desembuche!"

"Ele me mandou algumas cartas e... eu respondi." O assistente agarrou os braços da cadeira e fez menção de se levantar, mas Sydney o impediu. "As cartas eram incríveis, Nige. Eu precisava falar com ele nem que fosse para dizer que não há chance entre nós." A expressão no rosto do jovem não se abrandou. "Não pode culpá-lo por se apaixonar!"

"Eu sei disso!" Nigel entendia melhor do que sua amiga imaginava.

Ele constatava a cada dia que quando o coração escolhe alguém não há qualquer lógica que o faça mudar de idéia. Assim como não existia qualquer justificativa por parte da caçadora que abafasse a dor que estava sentindo.

Quantas foram as vezes que começou a declarar seus sentimentos para a amiga nos últimos meses e foi prontamente interrompido, sob a desculpa de que estava agindo estranho ou de forma inadequada. No entanto ela estava desfilando por Londres com seu odioso irmão por causa de simples cartas!

Que se danem as cartas de Preston! Nigel também já havia escrito dezenas delas!

"Pelo que eu pude testemunhar, ficou claro que você não rejeitou Preston e suas 'propostas de amor' no encontro que tiveram."

Ela entrelaçou os dedos num sinal de nervosismo. "Tente entender, Nige... se ele realmente sente aquilo que escreveu, isso significa que eu não precisaria mais procurar por alguém. Foi isso que vim confirmar em Londres." Nigel estremeceu. Ela continuou "Eu não ficaria mais sozinha em minha casa depois de uma caçada imaginando se um dia encontrarei a pessoa certa."

"Você não tem que ficar sozinha, Syd. Eu estou aqui, não está vendo?"

"Eu sei, Nige. Você é o melhor amigo que eu poderia ter. É por isso que não pode voltar antes de resolvermos isso!"

'Amigo'. Era isso que mais o enraivecia. Esta mulher nunca o consideraria homem o suficiente para ser mais do que isso.

"Não preciso ficar aqui aturando Preston e seu sorriso de triunfo! Ainda nem posso acreditar que esteja teorizando a existência de qualquer tipo de relacionamento com aquele crápula egoísta! Tudo o que ele já me fez não pesou no seu julgamento, Sydney?"

A mulher se irritou. Eles precisavam definir aquela situação sem o jovem inglês esgueirar-se por horas discutindo sobre o passado. Não era como se o estivesse traindo ou abandonando. A maior de suas preocupações quando começou a receber as cartas sempre foi a de tentar manter intacta a amizade com seu T.A. e isso não havia mudado. "Não estamos tratando de sua infância aqui, Nigel. Estamos falando de mim, e se você é realmente meu amigo deveria estar desejando a minha felicidade em vez de colocar seu passado como prioridade em uma situação como essa!" Ele precisava entender que ela não desperdiçaria uma oportunidade assim por ele ainda ter assuntos mal resolvidos com o irmão.

"Não seja injusta! Por que acha que eu vim para esta droga de hotel?"

"Pensei que fosse porque se preocupa comigo. Mas agora que preciso que deixe sua rixa de lado e me apóie em algo maior você fica aí, bufando porque as coisas não aconteceram como você queria!"

Neste ponto, os dois já estavam gritando tão alto que Preston nem precisava mais encostar o ouvido na porta para escutar a conversa.

Nigel cerrou os punhos com raiva. Era a segunda vez no mesmo dia que considerava assassinato, e um cavalheiro não faz isso. Respirou fundo tentando se acalmar. "Por quê?"

Sydney não compreendeu a pergunta.

"Por que Preston? O que ele disse de tão incrível que nem você conseguiu resistir?"

"Nigel, eu não vou discutir isso com você! E não olhe para mim como se eu fosse uma traidora ou algo do tipo. Está na hora de superar seu rancor. Vocês são irmãos!" Ela suavizou a voz. "A única coisa que estou pedindo é que aceite minha escolha. Eu considerei muito depois de conversar com Preston ontem à noite e agora que você já sabe de tudo decidi que devo dar uma chance ao que pode acontecer. Por favor, não me faça perder você com isso. A nossa amizade significa muito para mim!"

Ele teve que fechar os olhos com força. Vê-la falando de seu irmão era quase uma agressão física. "Nem sempre se pode ter tudo, Syd. É o que acontece com pessoas normais."

Ela ficou sem resposta. Nigel pegou sua valise ao lado do sofá e levantou-se.

É isso – pensou Sydney – ele vai me deixar para sempre.

Mas para sua surpresa, o assistente jogou a mochila sobre a cama.

Ainda de costas para a chefe, disse em um tom firme quase incaracterístico de Nigel Bailey "Posso ficar até amanhã. Ainda preciso aplicar e corrigir os exames de suas turmas."

Ela sentiu um doce alívio. Não o perderia!

Murmurou 'obrigada' e saiu pela porta que ligava os dois quartos, contente de ter mais tempo para convencê-lo de que a situação não era tão ruim e que os três entrariam em algum consenso se ela decidisse iniciar um relacionamento sério com Preston.

Ao ouvir o barulho da porta se fechar, o jovem homem despencou aos pés da cama.

Ele caiu de joelhos, próximo aos cacos de seu coração. Escondeu o rosto com as mãos. Ele ficou ali em silêncio, tentando inutilmente impedir que as lágrimas corressem pelo seu rosto. Depois de tantos anos, não iria chorar. Mesmo que seu interior se despedaçasse ao ver Sydney junto de seu irmão. Não iria chorar, enfrentaria isso como um homem. Os laços de amizade entre os dois caçadores de relíquias eram muito mais fortes do que qualquer outro relacionamento que já teve, e não poderiam estar totalmente perdidos. Nem o terrível medo que dilacerava seu peito era justificativa para que chorasse. Um homem não chora!

Mesmo que seja em silêncio.

Mesmo que esteja sozinho, sem ninguém a quem se segurar.

Mesmo que seja pelo grande amor de sua vida...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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