Olívia: A História escrita por Anonymous, Just Mithaly


Capítulo 19
O Drama de Vitória


Notas iniciais do capítulo

Esse deu trabalho, mas tá aí. História de Vitória Grandson parte 1.



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Vitória Grandson passava seus dias, como sempre, isolada em algum canto do presídio sonhando com o dia que sairia daquela prisão e se vingaria da assassina de sua irmã.

– A Olívia vai pagar por isso. Ah, se vai. Como eu me arrependo de ter deixado a minha irmãzinha em um momento como aquele. Eu não podia ter perdido. Não podia...

–----Flashback: ON-----

Uma menininha que aparentava ter cerca de cinco ou seis anos de idade, com longos cabelos ruivos e secos caminhava pelo lixão, à procura de alimentos. A busca foi interrompida por uma jovem de longos cabelos louros, que corria em sua direção. Ambas as meninas utilizavam roupas sujas e rasgadas.

– Melissa, vamos para casa. Você não precisa passar por toda essa humilhação! – reclamava a jovem, puxando a garotinha pelo braço.

– Mas Vitória, a gente precisa. Não temos comida em casa. – suplicava Melissa.

– Foi a mamãe que te pediu isso, não foi?

Melissa, inocentemente, assentiu, confirmando a pergunta.

– Vem comigo.

As duas, depois de uma longa caminhada, chegaram à uma cabana também situada na cidade de Estranhópolis, que ficava ao fim de uma ladeira.

– Mamãe. Quero conversar com a senhora.

– Claro, minha filha. Pode falar. – respondia a mãe, que estava cochilando no simples sofá do casebre.

– Levanta que é sério. Melissa, vai brincar agora. Que história é essa de fazer a garota ir lá no lixão roubar comida, mamãe? Já te disse que com a Melissa não se faz nada. Ela vai estudar e vai ser alguém na vida. Diferentemente das inúteis que nós duas somos.

Carlota, a mãe das meninas, levantou-se e sentou-se no sofá.

– Vitória, a mãe dela sou eu. Você já tá grandinha o suficiente pra perceber que eu estou doente e fraca e precisava dos favores de alguém. Como você mesma disse, você é uma inútil, diferentemente da sua irmã, que sempre se ofereceu com dedicação para nos ajudar.

– Não já basta o meu trabalho pra ajudar vocês? Vocês ainda precisam explorar a garota? ISSO NÃO É JUSTO! – berrava Vitória, que nunca concordou com a atitude dos pais diante da situação financeira. Nenhum dos dois pensava no futuro das filhas.

– A sua profissão? Faxineira de porta em porta? É pra rir, não é? A única coisa que você saberia fazer direito é arrancar dinheiro de homem, e muito mal. Não sabe fazer nada que preste.

Após ditas estas palavras, Vitória, raivosamente, esbofeteou a mãe, que levantou, surpresa.

– Me desrespeitar eu já tô acostumada. Você faz isso desde pequenininha. Agora bater em mim é a primeira vez. Minha casa, minhas regras. Quem manda aqui sou eu. Se não tá te agradando, a porta da rua é a serventia da casa.

– Sendo assim...

Vitória caminhou até o quarto que divide com Melissa, onde a pequena garotinha estava, com sua boneca de pano, que também havia sido encontrada no lixão.

– Melissinha, a maninha vai precisar ir embora... Eu te juro que queria te levar junto comigo, mas não tem como. Por enquanto você precisa aguentar esse inferno, porque não tem outro lugar pra ir.

Deu um beijo no rosto da irmã, retirou todas as roupas do armário, colocou em uma antiga mala e retirou-se da cabana, ignorando os berros de Carlota. Melissa, ao lado da mãe, na porta da cabana, olhava a irmã partindo, chorando.

Vitória Grandson olhou pela última vez para trás, soltando uma lágrima. E partiu.

Caminhando vagamente pelas ruas de Estranhópolis, Vitória chorava muito. Não tolerava o modo como os pais tratavam a ela e a irmã, como escravas. Havia sido Vitória também que cuidava da pequena Melissa enquanto os pais trabalhavam, quando eram apenas criancinhas. Com o passar do tempo, Carlota e Roberto tornavam-se cada vez mais exigentes, fazendo com que Vitória trabalhasse em dobro. E começavam a fazer o mesmo com Melissa, porém, a irmã mais velha sempre lutava contra isso.

– Eu tenho que esquecer esses dois e arrumar um jeito de tirar a Melissa daquele lugar.

O dia chegava ao fim. A noite estava fria e Vitória não havia encontrado nenhum lugar que pudesse passar a noite. Extremamente exausta, arremessou a grande mala no chão e se jogou em uma das desérticas calçadas da cidade. Utilizando a mala como travesseiro, deitou nesta e tentou cochilar.

Seu cochilo foi interrompido por um carro que corria em disparada pela rua. O homem que o dirigia, ao reparar a presença de Vitória na calçada, estacionou rispidamente. Abrindo a porta do carro e se retirando deste, caminhou até a jovem, que cochilava trêmula.

– Está com frio? – cochichava o homem, aproximando-se lentamente do ouvido de Vitória, se abaixando. Assustada, se levantou. Os olhos do homem aparentavam bondade e simplicidade, o que acalmou Vitória.

– S-Sim. Eu não tenho pra onde ir, moço. Acabei de deixar minha casa...

– Venha comigo. Já sei o lugar ideal para uma menina como você, sem lar. – falava o homem, estendendo a mão para a jovem, esboçando um pequeno sorriso.

Vitória Grandson, sem alternativa, apertou a mão do homem e assentiu. Ele a levantou e a conduziu ao carro. Os dois partiram.

A trajetória foi enorme. Apesar de ter sido muito longe, ainda estavam na interminável e gigante cidade de Estranhópolis. Em uma das únicas ruas cheias do local, havia uma grande casa rosa, com um letreiro:

“Bordel da Mafalda”

Ao ler as palavras, um frio na barriga percorreu por Vitória. Ela jamais havia se prostituído em toda a sua vida e teria que fazer isso para sobreviver. Engolindo em seco, saiu do carro, cuja porta havia sido aberta pelo homem.

– Sou Sérgio Delarosa, filho da Mafalda, a dona daqui... Ela é simpática, você vai gostar dela. E não vamos te obrigar a nada que você não queira. Entre e conversaremos.

– Melissinha, um dia você vai morar comigo. E a gente vai sair sair dessa cidade juntas. – pensava Vitória, adentrando o local.

Sérgio a conduziu diretamente para o quarto da mãe. Passaram pela longa e sempre lotada recepção, subiram a escadaria e caminharam até o fim do corredor, onde se situava o quarto.

Era decorado com flores de todos os tipos e cores e suas paredes eram rosa-choque. O quarto era enorme, maior do que a cabana dos Grandson.

Havia uma mulher sentada de costas para a porta, em frente a um grande espelho. Utilizava um exuberante e longo vestido vermelho e aparentava ter a idade de Clotilde, porém, sua aparência era sedutora, com seus olhos verdes e os cabelos loiros e cacheados longos.

– Mamãe?

– Ah, meu filho. Você está ai! – surpreendeu-se a mulher, levantando-se rapidamente. – E quem é essa linda menina? Não me diga é sua... – Mafalda ria, quando foi interrompida pelo filho.

As bochechas de Vitória se avermelharam e esta arregalou os olhos ao compreender o que havia sido dito pela mãe de Sérgio.

– Não, não. Não é nada disso. Essa aqui é a Vitória e precisa de uma ajuda nossa.

– Ah, sendo assim. Sente-se aqui, minha filha. – Retirando a cadeira de perto do espelho, aproximou-a da cama, jogando-se no colchão.

Vitória assim o fez. Caminhou lentamente em direção da cadeira e delicadamente, sentou-se.

– Vou deixar as duas a sós. Vão precisar. – afirmava Sérgio, já se retirando, enquanto Vitória ficava cada vez mais aflita.

A jovem, aos poucos, foi se sentindo mais à vontade com a mulher e contou toda a sua história em questão de minutos. A bondosa e compreensiva Mafalda escutava tudo calmamente. Após terminada a história, Mafalda teve sua conclusão.

– Então você não quer ser uma “mulher da vida” como chamam vocês, não é mesmo?

– Não é desrespeito com elas, Dona Mafalda. A gente só acostumou a usar esse termo.

– Certo, certo. Olha... Com esse rostinho lindo e esse seu corpo você renderia muito. Você conseguiria inalcançável sucesso, mas como meu próprio filho te disse, nós não vamos obrigar você a nada. E temos uma vaga de garçonete nas noites. Se não for problema...

– Mas é claro que não, Dona Mafalda. Posso começar quando a senhora quiser.

– Hm... Então, amanhã à noite, pode ser? – perguntava a cafetina, alegre com a nova funcionária.

– Pode sim. – Vitória esboçava o seu primeiro sorriso diante da nova vida que possuiria dali para frente.

– Então... Amigas? – Mafalda estendeu a mão à Vitória, que a apertou sem hesitar.

– Amigas! Posso conhecer as pessoas que trabalham aqui, então?

– Mas é claro. Faça o que quiser. Mas acho que você precisa dormir agora. SÉRGIO! – berrava Mafalda, chamando atenção do filho, que escutava tudo na porta.

– Sim, mamãe?

– Leva a Vitória prum quarto vazio!

O homem a levou para o quarto, carregando a sua mala. Abriu a porta e entregou a chave à jovem.

– Agora vai dormir, Sérgio. Obrigada por tudo. Você é um anjo de pessoa.

Sérgio assentiu, sorriu e fechou a porta, se retirando do quarto. O quarto era simples, porém, o colchão da cama era extremamente aconchegante. As paredes, diferentemente do quarto de Mafalda, eram brancas e havia uma grande janela decorada com uma cortina vermelha. O guarda-roupa era também branco e tinha três portas e três gravetas.

– Sinto que não vai ser tão ruim essa vida... – afirmava Vitória, se arremessando na cama e cochilando no mesmo instante.

Dias se passaram e Vitória havia iniciado seu trabalho como garçonete durante todas as noites no bordel. Havia conhecido também duas garotas de programa: Stéfany e Penélope. Stéfany era uma jovem um pouco mais velha que Vitória e tinha longos cabelos pretos. Seus olhos eram castanhos e usava vestidos verdes. Já Penélope, que possuía a mesma idade de Sérgio, tinha os cabelos escorridos e uma grande franja castanhos. Seus olhos eram verdes e esta apelava para as vestimentas rosa-choque. Ambas haviam desistido de tentar subir na vida em carreiras e acabaram aceitando o que o bordel às proporcionava. Penélope havia sido abandonada pelo marido e ficado à beira da amargura, enquanto os pais de Stéfany faleceram e esta ficou sem ter para onde ir. Pensando em pessoas como estas duas, Mafalda resolveu fundar o bordel.

– Nossa, eu nunca imaginava que todas vocês tinham uma triste história pra contar. E é difícil ver como aceitam uma vida assim...

– Vitória... Vamos ser sinceras. Vai ter alguma diferença se a gente aceitar ou não? Não vai, querida. Por isso que eu e Penélope pensamos que você, enquanto ainda pode, deveria utilizar o seu corpo para conseguir uma boa renda. Pelo que você nos contou, não tem uma irmãzinha esperando por você lá fora? Não deseja lutar pela guarda dela? – suplicava Stéfany, pensando na felicidade da mais nova amiga.

– Quer saber? Vocês tem razão! Eu vou lutar pela guarda da Melissa e vou ter muito dinheiro para cuidar da minha irmãzinha ainda. Vocês vão ver.

– É assim que se fala, Vi! Aceita o que a vida tem pra te oferecer. – Penélope batia palmas com a conclusão de Vitória.

– A minha mãe disse que eu nem pra arrancar dinheiro de homem servia. Ela vai se arrepender por ter feito aquilo comigo.

Observando tudo de longe, Sérgio sorria ao ver que Vitória estava alegre, mesmo sem saber do que se tratava o assunto. Ele ficava feliz somente ao ver um sorriso da jovem. Estava apaixonado.

Em sua primeira noite como garota de programa, Vitória havia recebido um vestido vermelho deslumbrante de Mafalda, que desejou boa sorte à jovem. Esta desceu a escada aflita e, com a ajuda de Sérgio, chegou ao local onde todas as pessoas estavam.

Mafalda já estava lá e segurava um microfone, exclamando:

– Hoje teremos uma nova amiga. Quanto cada um oferece? Lembrando que o maior valor terá uma noite com ela. Com Vitória Grandson!

Vários homens ofereceram grandes preços por Vitória, que, negando todos, aumentou seu preço cada vez mais. O maior dos preços havia sido cem mil simoleons.

Em seu quarto, naquele momento já decorado com rosas e pintado de vermelho, Vitória havia conduzido o homem que a pagaria uma grande fortuna. Aquela noite havia sido a primeira de muitas em que sofria cada vez mais ao entregar seu corpo a um homem que não ama. Perder a virgindade daquele modo era uma coisa horrível, porém, lucrativa. E não podia pensar em honra, precisava conseguir a guarda de Melissa.

–----Flashback: OFF-----

– E foi assim que eu me tornei aquilo. – contava Vitória para as colegas de prisão, que haviam se tornado, de um jeito ou de outro, suas principais escudeiras e amigas.

– Conta mais, Vitória. Conta o que aconteceu depois.

– Agora não, gente... Tá na hora de dormir e eu estou com muito sono. Conto o resto da história amanhã.



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Notas finais do capítulo

Gostaram? A História está boa? Ruim? Sejam sinceros, quero reviews.