Respiração alterada, batimento cardíaco disparado, patas e caudas se remexendo freneticamente a fim de dar vazão à todo o estresse e aflição acumulados.

-Isso não estava previsto. O que vai acontecer agora? Temos que fazer alguma coisa!

-Fique calma, minha cara. - uma delgada e comprida criatura, com brilhantes escamas douradas, tentava tranquilizar ao menos um pouco a companheira.

-A última coisa que você pode me pedir agora, Strom, é pra ficar calma. Não entende a situação?Quem imaginaria que ele iria...ahh.

A testa branca, coberta de penugem que a deixava com uma aparência graciosamente feminina, se vincava sob o peso da preocupação.

-Não entende mesmo, é? E se isso causar uma nova guerra? Os nossos já estão se dividindo mais uma vez!

-A questão aqui... - a voz grave do dragão vermelho chegou aos sensíveis ouvidos deles. - não é "se", é "quando". A guerra é uma realidade, temos apenas que nos preparar para o que está por vir.

-Igneel...

-Agora pare de ficar se lamentando por aí, temos muito no que pensar a partir de agora, e a última coisa de que precisamos de um surto!

Grandine viu lógica no que ele dizia, mas aquilo fora insuficiente pra confortar seu coração.Tempos difíceis se descortinavam bem á sua frente e, pela primeira vez desde que tomara Wendy em seus braços pela primeira vez, ela se arrependia de ter criado uma Dragon Slayer.

Afinal, se alguém sofreria com o que estava por vir mais do que os dragões, seriam as suas crias.

XOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXOXO

Chega, já chega!

Ficar largado num canto pensando feito uma menininha não era pra ele!

Se tinha que fazer alguma coisa, faria logo sem pestanejar. Tinha no mínimo meia dúzia de feitiços protetores ao redor da pequena e dos gatos, eles ficariam bem. Além disso, o perigo estava lá fora, e não ali dentro.

Gajeel fez uma pequena careta quando forçou o seu corpo, ainda dolorido, a se colocar de pé, esticando os músculos e as articulações no processo. Metade do seu corpo doía, e a outra metade estava dormente, causando nele uma desagradável sensação de fragilidade.

Bem, era melhor ir de uma vez.

-Gajeel? Onde vai?

Ou não.

A voz soava sonolenta, e ele duvidava muito que o exceed estivesse totalmente desperto quando o abordou.

-Sair.

-Parece preocupado, o que aconteceu?

-Nada que te interesse. Fica aí com a gata e a pirralha, que eu volto logo.

-Mas...

-Quê, quer mesmo vir e deixá-las sozinho?

Era retórico, claro, Happy jamais deixaria Wendy e Charlie sozinhas e aparentemente desprotegidas enquanto dormiam. Mas mesmo assim estava meio receoso.

Gajeel notou isso, mas estava sem muita paciência pra responder às perguntas dele.

-Magias de proteção na entrada. Bloqueiam sons, cheiros, magia ou qualquer outra coisa que levasse qualquer criatura a localizar um de vocês. Então, mantenha as patas longe da saída até eu voltar e não precisa se preocupar! - disse entre rosnados.

Happy ficou meio surpreso, mas assentiu. Ficou meio segundo pensativo, para logo depois tornar a interromper o caminho do Dragon Slayer.

-Gajeel.

-Quié? - rosnou.

-Desde quando você sabe conjurar magias de proteção?

Ele pareceu um pouco aturdido, sem saber direito como responder.Se Happy enxergasse bem no escuro, teria visto uma sutil existência de rosa brotando em suas bochechas.

-Dorme logo, gato!

Dito isso, saiu dali, deixando para trás o exceed com um sorriso malicioso enquanto tornava a se enroscar nos braços da Wendy, adormecendo gentilmente. Será que o livro estava mesmo bem escondido naquela fresta?

Não era hora pra aquilo!

-Gato enxerido... tinha que ser do Salamander!

Sem mais, saiu

Cada passo enterrava as suas botas na terra úmida da madrugava com uma força além da necessária. Talvez ele estivesse apenas tentando enterrar também aquela odiosa sensação de constrangimento por ter fugido. Sentia, penetrando por seus poros, a mesma sensação que os acuara dentro daquele esconderijo como caças, mas ela enfraquecera a ponto de permitir que ele destravasse.

Como explicar aquilo? Medo, instinto...algo tão primitivo que todas as criaturas vivas carregavam dentro de si, e que muitas vezes as permitia continuar sobrevivendo.

Erra a sombra da morte. E ela ainda não se fora.

-Maldição!

Doze metros à frente, virou à direita. Prosseguiu, evitando obstáculos e se desviando de raízes e outras bobagens que, em momentos normais, ele ignorava, mas que agora só causavam irritação. Apesar da luminosidade, o que o guiava era justamente o aviso de seu copo: dê meia-volta, não vá por aí!

E então, logo após uma muralha particularmente densa de árvores, Gajeel se desequilibrou momentaneamente. Sem nenhum aviso prévio, o chão se abria a seus pés, como se houvesse sido causado por uma grande explosão ou golpe.E de seu interior vinha aquele cheiro súbito e nauseante.

-M-mas o que é isso?

Cobriu o rosto com as costas das mãos. O cheiro de morte recente exalava fortemente. Ele se aproximou bem devagar, ainda em alerta. Mas nada o teria preparado para aquilo.

-Ele está...morto? 

Caído no chão, de costas para ele, estava uma figura que antes deia ter sido um humano, mas que agora ão passava de uma massa sangrenta e desfigurada. O que mais o chocou foram os ferimentos profundos infligidos por algo que parecia mais uma arma afiada porém pouco precisa.

Garras gigantes, talvez?

Além disso, a sua cabeça estava coberta por longos e desalinhados fios claros, loiros...

Alguns passos e a terrível constatação: realmente era o corpo de Sting Eucliffe.

-M-merda!

O que teria feito aquilo? Seu estômago estava embrulhado e a cabeça girou. Ele era forte, não seria morto não facilmente! 

Eles corriam um perigo mortal.

-Háááá, te peguei!

Um chute atingiu sua nuca em cheio, a voz rouca e gritante facilmente reconhecível.

-Salamander! Que diabos...espera, o que faz aqui, idiota? E cadê o Lily? - Ele o agarrou pelo cachecol imundo, aproximando os dois rostos em centímetros.  -Não me diga que o abandonou lá, lagartixa?

-Claro que não, ele está vindo! E ah, foi mal pelo chute, achei que fosse alguém hostil, você emana tanta aura negativa...

Gajeel ignorou o comentário. Notou que ele estava coberto de terra, parecia que não dormia à dois dias, mas ainda tinha a energia de uma criança de três anos que dormira por meio dia e comera dois baldes de doces. O moreno sentiu vontade de revirar os olhos.

-Seu nariz não serve mais pra nada, suponho?

-Tenta ficar horas esmagado embaixo da terra pra ver se seu focinho também não fica inutilizado, palerma! Não sinto o cheiro de nada que esteja a menos de 2 metros de mim, e tenho de admitir, isso é um saco! - resmungou, estregando o nariz com a mão.

-Mas já estão brigando?

Ahhh, como era bom ouvir a voz grave de seu gato mais uma vez! Ele já ia saltar pra agarrá-lo, porém se conteve ao ver algumas ataduras envolvendo seu corpinho negro. Tentou manter a pose máscula.

-Como é que saíram de lá?

-Longa história, te contamos depois.... - Natsu flexionou os ombros, para logo em seguida fazer uma expressão de quem se lembrava subitamente de algo. - Espera, cadê Happy, Wendy e Charles?

Ele apontou a direção com o queixo.

-Estão dormindo, e seguros. Estou mais preocupado com isso.

Os dois dabiam do que ele estava falando, mas evitavam olhar para a imagem grotesca. Sem nenhuma palavra, se afastaram sem olhar pra trás.

-Nós vimos antes de você se aproximar. - Natsu disse em voz baixa.

-Quem poderia ter feito isso? - Lily comentou, parecendo desconfortável?

-Não é óbvio? - os olhos negros se focaram em um ponto logo à frente, determinados, assustados e firmes. - Foi um dragão.

-Teríamos sentido, Salamander.

-Mas eu senti. Você não?

-Aquilo não pode ter sido um dragão! Era monstruoso demais, era...ahh!

-Então, o que era? E o que pode ter matado ele?

Gajeel ficou em silêncio, Lily já empoleirado em seus ombros. Não queria admitir, mas Natsu estava certo.

Não abriram mais a boca durante todo o caminho. Os três estavam mais do que esgotados, e a descoberta de poucos minutos atrás ajudara ainda mais a cansá-los mentalmente. Lily saltou subitamente ao chão.

-Vão na frente, eu alcanço vocês?

-O quê? Você não vai encontrar, o lugar está cheio de feitiços protetores. - Gajeel disse.

-Dou meu jeito. Tem algo que eu realmente preciso fazer.

Ele ia tornar a protestar, mas vui o olhar determinado e solene do exceed. Deu de ombros.

-Faça o que quiser.

Ele assentiu e deu meia-volta, deixando que os dois Dragon Slayers seguissem para um merecido descanso. 

-É aqui. 

-Não vejo nada! - O rosado ainda esfregava o nariz insensível.

-Exatamente. - Gajeel tocou uma aparente parede de pedra, sua mão atravessando a barreira que se liquefez com o toque. - Ande logo, entra!

-Legal! Quem fez isso? A Wendy, não foi?

Gajeel ignorou a pergunta, mas foi salvo de um interrogatório por uma bola peluda e azul que se jogou nos braços do mago de fogo gritando estrondosamente:

-NATSUUUUU, VOCÊ ESTÁ BEM!!!

-Happy!

Os dois rodopiaram empolgados, os gritos de alegria e as lágrimas de emoção jorrando. Tanta gritaria acabou despertando as duas companheiras que ainda descansavam.

-Mas que barulheira é essa, gato idiota? Espero que já tenha amanhecido, senão...

-Charlie, Wendy, olha só, o Natsu voltou!

A pequena se levantou de sobressalto e logo se juntou à algazarra, tendo a cabecinha afagada por um rosado sorridente. Charlie manteve o decoro, mas também estava aliviada.

Três segundos depois, ele desabou, ainda abraçando os dois. Roncos ecoaram pelo ambiente minúsculo.

-Natsu-san? Ele está bem? - Wendy apoiava o rosto com as mãos, nervosa.

-Ele só está cansado. Deixe-o aí. - Charlie fez um discreto, MUITO discreto, carinho no braço de Natsu, que apesar de inconsciente. - Mas onde está o...ei!

Tarde demais. A noite fora longa e complicada, e as forças do mago do metal estavam mais do que exauridas. Fora carregado à força pra um sono fraco e sem sonhos.

-Mas...e o Lily? 

Ao notar que não ia ter uma resposta, ela apenas suspirou. Se eles estavam sorrindo, deva estar tudo bem. Sentou-se à entrada do lugar, a cauda enrolada em seu corpo. Esperando que ele não demorasse muito...