No dia seguinte, acordo atrasada.

- Merda!

Dessa vez, consegui pegar o ônibus na hora. Mas estava toda descabelada. Olheiras até a bochecha. Mais uma noite passada em claro, mais uma noite passada em lágrimas.

Um dia igual a todos os outros. Hoje, volto mais cedo pra casa. Quando estou perto, vejo aquela garota ruiva. Está sentada nas escadas da frente de sua casa... chorando. “Meu Deus! O que será que aconteceu pra lágrimas atingirem o rosto tão perfeito daquela boneca?”. Não é da minha conta. Quando chego mais perto, olho de novo. Ela está olhando pra mim. Aqueles olhos azul-esverdeados molhados. As bochechas sardentas e vermelhas. Dou meia volta e atravesso a rua pra falar com ela. “Merda!”

- Oi... éh... vizinha... Tá tudo bem contigo? - que pergunta idiota. É óbvio que não está nada bem.

- Oi – ela diz. A voz tímida, fraca. - Sim.

- Por que você está chorando então? - “Vai pra casa Caroline. Não é da sua conta” penso.

- É bobagem.

- Bem... hum, ninguém chora por bobagem.

- Ás vezes sim..

Me sento ao seu lado na escada. Acendo um cigarro.

- Você não deveria fumar.

- Eu paro de fumar se você parar de chorar – que coisa estúpida pra se dizer. A verdade é que eu nunca soube o que fazer ou dizer quando vejo alguém chorando.

- Certo – ela seca os olhos. - Pronto.

- Ok – dou uma baforada, jogo meu cigarro no chão e piso em cima. - Pronto.

Ela sorriu.

- Eu não sei seu nome – ela disse.

- Swan. Caroline Swan. E o seu? - estendi a mão.

- Harris. Rachel Harris – riu. Pegou minha mão. Tão delicada a mão dela.

A mãe dela aparece na porta.

- Rach, vem jantar.

- Já vou – Rachel diz.

- Oh, oi. Prazer! Sou Ann Harris.

- Olá – me levanto. - Muito prazer! Hum, Caroline Swan – aperto de mãos.

- Tchau Rachel.

- Tchau Caroline. A gente se vê.

- É – digo. Olho minha casa e atravesso a rua.

De volta a escuridão da minha sala. Fria, vazia. Caminho até a lareira. Olho aquela foto. Helena.

- Eu sinto tanto a sua falta – choro.