Peguei o carro de Annie sem muito pensar deixando apenas um bilhete avisando do pequeno e temporário furto. Não aguentava mais essa dúvida,uma parte de mim gritava por Cameron; gritava que aquela criança era filha dele e que havia uma chance pequena de o “nós” um dia existir. Devido a proximidade das cidades bastou apenas meia hora para eu chegar lá.

Estacionei o carro , e, de longe, observei minha própria casa; lembrando-me de cada momento com Cameron, minha mãe e afins.Situações que me fizeram ser quem eu sou hoje.

Chorando, esperava que eu me sentisse melhor,que me sentisse corajosa o suficiente para enfrentar Lindsay. Perguntar a ela o que a conversa com Cameron tinha deixado entalado. Acabar com todas as dúvidas existentes, para que eu finalmente pudesse ser livre. Livre dessa dor, dessa saudade que desde sempre me persegue.

Quando as lágrimas foram cessadas e meus olhos finalmente não estavam tão vermelhos, eu saí do carro andando com atitude; enganando a todos que passavam, fazendo-os acreditar que eu era uma coisa que estava longe de ser: forte.

Bati a porta com força, lutando para não chorar. Tentando esquecer o que eu assumi apenas hoje, ainda amo Cameron.

– Katherine, sua mãe não está. Aconteceu alguma coisa?-Falou Lindsay, assim que abriu a porta parecendo realmente estar preocupada.

– Não é com ela que eu quero falar.

– Quer falar comigo?

– Com quem mais poderia ser? - Eu estava sendo grossa,mas talvez essa fosse a única maneira de fazê-la falar a verdade.

Lindsay me convidou a entrar, porém, esse não era o tipo de conversa para se ter em casa. Não queria que minha mãe ouvisse.

Por isso a convidei para sair, sem informar para aonde iriamos começamos a andar ,e, sem nada dizer; nos encaminhamos para uma pequena praça da cidade. Ela era longe de ser a mais popular,porém com toda certeza era a minha favorita.

Cameron e eu a descobrimos juntos. Foi o lugar onde demos o nosso primeiro beijo.

Olhando bem para ela, pude perceber as mudanças. Há alguns anos ela fora reformada retirando um pouco o ar de intocada que a mesma possuía, mas dentro de mim não importava quanto tempo passasse aquele lugar permaneceria sendo para sempre "o" lugar. O local onde eu vivi os meus melhores e piores momentos,onde a minha vida realmente começou.

– Para que me chamou aqui? Não acho que seja para observar as crianças brincando.– Disse Lindsay,enquanto olhava para as crianças na nossa frente que incoscientes sobre o mundo que viviam brincavam alegremente ,nos igorando completamente.

– Te chamei aqui para conversar sobre algo.

– Diga, então. Não quero deixar sua mãe preocupada.

– Eu amo o Cameron, Lindsay.

– E o que há de errado nisso? Ele é seu primo! Eu também amo meus primos.

– Você, não está entendendo... Eu o amo mesmo. Não como um amigo, ou como um primo. O amo como homem.

– Mas e o Ian? Pensei que vocês estivessem noivos!
– E estamos!..Ou melhor, estávamos... . terminei com ele, por causa disso. Eu amo Cameron desde criança e eu realmente acreditava que o havia esquecido,mas eu estava enganada.

– Por que está falando sobre isso comigo?

– Por que preciso que você seja sincera quando eu te perguntar uma coisa. Toda a minha vida está em jogo por conta disso.

– Do que precisa saber?

– Eu liguei para Cameron hoje e fiz essa mesma pergunta. Confio nele, e certa parte de mim sabe que ele fala a verdade, mas eu quero que seja mentira Lindsay, porque se for, existe uma chance. E tudo isso que eu sinto pode um dia fazer sentido, e é somente isso que eu quero ouvir. Dói pensar que eu nunca vou poder tocá-lo da maneira que eu quero. Dói saber que eu posso ter estragado hoje a amizade que criamos por toda a nossa vida. Dói ter certeza que nunca vou tê-lo. - Falei ignorando completamente o questionamento dela e começando a chorar, esquecendo todo o resto , me focando apenas na minha dor.

Senti um abraço vindo da parte dela e a abracei de volta, pensando em cada lágrima, em todos os dias da minha vida; todos em que eu passei pensando nele ou presa a ele.

Após algum tempo, minha respiração se tranqüilizou, e assim que Lindsay notou, me perguntou:

– O que quer saber? Prometo que serei sincera, pois entendo sua dor. Passei por algo semelhante, sei como é viver sempre na fila de espera, aguardando que, como um milagre, ele comece a te amar.

– Esse filho que você espera é do Cameron?

– Não!

– Não existe nenhuma chance?

– Nenhuma . Cameron nunca ficaria comigo, ele ama Macey demais para traí-la.

– Perguntei isso a ele, mas o mesmo disse que não cabia a ele responder: Se não é Cameron, quem é o pai dessa criança?

– Damian.

– Damian, o duende?

– É, o duende mais fofo e lindo que já surgiu. - Disse com um brilho no olhar. Ela falava a verdade, eu sabia disso.

– Você, o ama, né?

– Muito.

– Pelo seu sorriso me parece que é correspondido.

– Acertou.

– Porque está aqui, então? Minha mãe disse que estava com problemas com o pai da criança.

– Foi tudo um mal entendido. A ex dele arrumou uma confusão e eu acreditei em tudo que a mesma me disse.Cheguei a pensar que Damian era o maior canalha que já existiu.

– Porque ainda não foi embora? Acho que já estaria lá, se fosse você.

– Resolvi esperar até amanhã. Tive medo de que outra longa viagem pudesse fazer mal ao bebê.

– Ah, entendo.

– Como se sente, Katherine? Depois de tudo isso...

– Por incrível que pareça, sinto-me bem. Acho que desabafar com você foi algo bom.

– Cameron sabe disso tudo?

– Do que sinto por ele?

– Sim.

– Não sei. Me declarei quando tinha catorze anos, mas depois fingi que nada havia acontecido. Talvez ele nem se lembre.

– Você, deveria contar.

– Para quê? Para nunca mais ter coragem de olhar nos olhos dele?

– Não, para ser realmente livre.

– Agora eu sou.

– Por quanto tempo? Você, precisa falar tudo isso pra ele e depois simplesmente encarar o que vier. Eu tive medo de ligar para o Damian hoje, de ouvir tudo o que Jenna disse de sua boca, mas no final foi tudo um mau entendido. Talvez Cameron sinta o mesmo por você, só não queira admitir.

– Acha mesmo que isso é possível?

– Tudo é possível. Se quiser você pode vir comigo amanhã e conversar melhor com ele sobre isso. O que acha?

– Por incrível que pareça, eu concordo. Chegou à hora dele saber.

– Posso te fazer uma pergunta, Katherine?

– Claro.

– Você, namorou Ian todo esse tempo... Tem certeza de que não sentia nada por ele?

– Eu o amo, Lindsay. É por isso que tudo é tão difícil. Eu amo os dois de maneiras distintas, mas não posso apenas ignorar o que eu sinto pelo Cameron não seria justo com o Ian casar com uma garota que não está totalmente entregue a ele.

– Fico feliz que tenha tomado essa decisão. Sua mãe se orgulharia de saber disso.